JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
Educação
espírita
O Espiritismo
veio ao mundo
através da
Ciência. Kardec,
ao se debruçar
sobre os
fenômenos que
lhe foram
apresentados,
não o fez com
unção religiosa,
prejudicada por
qualquer visão
sectária.
Examinou os
fenômenos como
pesquisador,
valendo-se de
critério
científico,
aplicando o
método
experimental com
clareza de
raciocínio, a
fim de não se
perder no
deslumbramento
do novo mundo
que se lhe
revelava através
dos diálogos
extraordinários
que mantinha com
os Espíritos.
Entretanto,
depois de
constatada
cientificamente
a veracidade da
existência e da
comunicabilidade
dos Espíritos,
teve o
Missionário o
discernimento
que lhe permitiu
não se deter
apenas no campo
experimental.
Entendeu, desde
logo, que a
Revelação
Espírita tinha
finalidade mais
ampla e mais
nobre do que a
simples
comprovação da
imortalidade e a
comunicabilidade
dos Espíritos.
Deixando o campo
científico para
outros Espíritos
que vieram em
sua equipe,
deteve-se no
campo
filosófico, onde
dialogou com os
Espíritos,
propondo-lhes
questões a
respeito de
Deus, da
Criação, da
Criatura, dos
problemas do
ser, do destino
e da dor.
Poderia Kardec
ter-se projetado
como teólogo e
ter-se perdido,
como tantos
outros, nos
sinuosos
caminhos das
intermináveis
discussões a
respeito de
cosmogonia,
cristologia,
exegese bíblica
e tantos outros
temas tão a
gosto de muitos
filósofos e
teólogos.
Mas o
Missionário não
se reencarnara
para enriquecer,
dessa forma, a
galeria dos
filósofos, nem
dos teólogos,
limitando sua
atuação apenas
ao campo da
teoria. Não.
Antes mesmo de
os Espíritos lhe
revelarem o
caráter da sua
missão, ele já
agia em função
do compromisso
assumido com
Jesus, no
sentido de
trazer de volta
o Evangelho, na
sua feição de
obra
libertadora,
logo, educadora.
Embora não
filiado a nenhum
grupo religioso,
era
profundamente
cristão,
repartindo com o
próximo aquilo
que tinha – o
saber –,
ministrando,
gratuitamente,
aulas noturnas a
grupos de jovens
que se
preparavam para
a universidade.
É de notar que o
Espiritismo veio
tirar o halo de
misticismo
inoperante,
extático, que
fora imposto à
mensagem cristã,
devolvendo-lhe a
simplicidade
encantadora, o
dinamismo
profundamente
atuante na vida
diária da
criatura
humana.
Já houve quem
questionasse o
caráter
religioso do
Espiritismo pelo
fato de não ter
lugares
considerados
sagrados, como
templos,
santuários, de
não ter culto
externo, de não
ter sacerdócio
organizado, nem
ministrar
sacramentos. Em
verdade, o
Espiritismo não
tem nada disso,
mas nem por isso
deixa de ser
religião. Se,
para que uma
religião se
legitime como
tal, é
necessário que
inclua essas
práticas e
possua templos,
então Jesus não
trouxe mensagem
religiosa
alguma.
Considerando-se
Jesus a maior
expressão
religiosa de
todos os tempos,
e analisando-se
a Sua atuação,
diante daquilo
que foi
apresentado como
religião nos
séculos
subsequentes,
chega-se a uma
pergunta: o que
é religião? Será
um conjunto de
práticas
desenvolvidas no
interior dos
templos, ou uma
prática de vida,
capaz de fazer a
criatura crescer
espiritualmente,
pela educação?
Que é educação?
Será algo a ser
imposto ao
Espírito? Ou
será incentivo
para que ele
revele a luz que
traz em si por
herança divina?
O verbo educar,
na sua origem,
significa
tirar para fora.
Jesus,
dialogando com
seus
contemporâneos,
ensinando a
origem divina
comum a todos,
perguntou-lhes:
“Não está
escrito na vossa
lei: eu disse:
sois deuses?”
(1) No Sermão do
Monte,
recomenda:
“Assim
resplandeça a
vossa luz diante
dos homens”.
(2)
Toda a mensagem
religiosa de
Jesus se
fundamenta no
esforço da
criatura no
sentido de
revelar essa
herança divina
que todos
trazemos. Nada
de graças, além
da graça da
vida. Nada de
privilégios.
“... e então
dará cada um
segundo as suas
obras.” (3)
A educação
religiosa que
Jesus propicia
ao homem leva-o
a
conscientizar-se
de que não será
através de
orações
repetidas que
estaremos
agradando a
Deus: “E,
orando, não
useis de vãs
repetições, como
os gentios, que
pensam que por
muito falarem
serão ouvidos”.
(4) Nem através
de oferendas ou
bajulações:
“Portanto, se
trouxeres a tua
oferta ao altar
e aí te
lembrares de que
teu irmão tem
alguma coisa
contra ti, deixa
ali diante do
altar a tua
oferta, e vai
reconciliar-te
primeiro com teu
irmão, e depois
vem e apresenta
a tua oferta”.
(5)
“O corpo procede
do corpo, mas o
Espírito não
procede do
Espírito,
porquanto o
Espírito já
existia antes da
formação do
corpo. Não é o
pai quem cria o
Espírito de seu
filho; ele mais
não faz do que
fornecer-lhe o
invólucro
corpóreo,
cumprindo-lhe,
no entanto,
auxiliar o
desenvolvimento
intelectual e
moral do filho,
para fazê-lo
progredir.” (6)
Por essa
citação, vê-se
que o enfoque
educacional da
Doutrina
Espírita é
diferente, por
considerar a
criança não como
um ser, cuja
vida começou no
ventre materno,
mas um Espírito
imortal, dotado
de bagagem
própria,
individual, que
se irá
manifestando à
medida que o
corpo o permita.
Por isso é que,
conscientes de
que o Espírito
está com o seu
passado
amortecido,
beneficiado pelo
esquecimento,
aqueles que
procuram educar
a criança à luz
dos ensinamentos
espíritas buscam
não perder
tempo,
aproveitando
essa fase de
aceitação de
novas
informações, a
fim de
sensibilizá-lo
em relação às
verdades e à
noção de valores
trazida pelo
Evangelho, para
que, mais tarde,
quando as
tendências de
sua bagagem
aflorarem, o
espaço já esteja
ocupado, pelo
menos
parcialmente,
pelas ideias
renovadoras,
conforme nos
ensinam os
Espíritos
Superiores, em
resposta a
Kardec:
“Encarnando, com
o objetivo de se
aperfeiçoar, o
Espírito,
durante esse
período, é mais
sensível às
impressões que
recebe, capazes
de lhe
auxiliarem o
adiantamento,
para o que devem
contribuir os
incumbidos de
educá-lo”. (7)
Educadores
modernos
valorizam a
educação desde o
nascimento. A
educação, à luz
do Espiritismo,
reconhece isso e
vai um passo
além, lembrando
à mãe que ela
deve dialogar
com o nascituro
desde que se
percebeu
grávida, pois
esse novo ser é,
em verdade, um
Espírito
imortal, antigo
aluno da escola
da Terra,
rematriculado
agora,
envergando um
novo uniforme. A
noção de
imortalidade que
o Espiritismo
faculta ao homem
abre-lhe a
possibilidade de
desenvolver um
estado de
consciência que
se poderia
chamar de
cidadania
espiritual. Esse
estado de
consciência
leva-o a
aprender, desde
cedo, que o
túmulo não
representa nem
uma desgraça,
nem a solução de
problemas
internos do
Espírito.
Representa
apenas uma
mudança de
estado, de
encarnado para o
de desencarnado,
uma mudança de
residência, para
onde o Espírito
leva o produto
dos seus
trabalhos
evolutivos, seus
méritos e
deméritos.
A educação
espírita nos
ensina que Deus
é justo e, como
tal, cria todos
os seus filhos
dotados da mesma
capacidade de
progredir. Não
há privilégios.
Em princípio
somos todos
iguais. As
diferenças
individuais
correm por conta
do degrau
evolutivo em que
o Espírito se
encontra.
A educação
espírita é
voltada no
sentido de
derrubar as
fronteiras
milenares que
separam o
sagrado do
profano, o
celeste do
terrestre,
levando o homem
à aplicação dos
princípios
ético-morais do
Evangelho em
todas as
situações da
vida, conforme
Jesus ensinou e
exemplificou.
Moralmente, não
há diferença nem
mesmo entre o
material e o
espiritual. A
vida material e
a
espiritual são
vão vistas
apenas como
oportunidades
distintas,
deferidas ao
Espírito
imortal, mas não
como situações
capazes de
legitimar
posturas
ético-morais
diferentes.
Referências:
(1) João, 10:34.
(2) Mateus,
5:16.
(3) Mateus,
16:27.
(4) Mateus, 6:7.
(5) Mateus, 5:23
e 24.
(6) O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
cap. 18, item 8.
(7) O Livro dos
Espíritos, item
383.