LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Ouvidos
de ouvir
Irmão X, através da
psicografia de Francisco
Cândido Xavier, narra um
fato ao qual deu o
título de Os
Três Crivos.
Conta-nos ele que certo
homem aproximou-se de
Sócrates, dizendo ter
algo grave a lhe contar.
O prudente sábio
perguntou ao
interlocutor se já havia
passado o assunto pelos
três crivos. “Quais
crivos?”, perguntou
espantado o homem.
“Primeiro”, disse o
filósofo, “o crivo
da verdade: tem
certeza da veracidade do
quer comunicar?” O
interlocutor disse que
não, pois só ouvira
dizer. Sócrates
continuou perguntando se
ele já havia passado o
assunto pelo crivo da
bondade e
o homem negou
argumentando que de bom
nada havia. Diante
disso, o sábio recorreu
ao terceiro crivo, o da
utilidade e,
prontamente, o
interlocutor disse que
de útil, também, nada
havia. “Bem, rematou o
filósofo num sorriso, se
o que tens a confiar não
é verdadeiro, nem bom e
nem útil, esqueçamos o
problema e não te
preocupes com ele, já que
nada valem casos sem
edificação para nós”...
Nessa pequena história,
parece-nos muito claro o
ensinamento de Jesus:
“Quem tem ouvidos de
ouvir, ouça”. Todos,
indistintamente,
aguardamos ouvir os
chamamentos de Jesus.
Esperamos que vozes
celestiais nos cheguem
aos ouvidos
convocando-nos para, em
nome do Mestre, realizarmos grandes
obras. É justo esperar,
mas será que não
precisaríamos antes
melhorar nossa audição
para ouvir os
chamamentos?
Emmanuel, na lição 72 do
livro Palavras
de Vida Eterna, nos
lembra que analisar, refletir
e ponderar são
modalidades do ato de
ouvir, pois que
necessitamos estar
atentos e dispostos a
identificar o sentimento
das vozes, bem como as
sugestões e situações
que as rodeiam. Mas, por
que precisamos ter esse
cuidado? Porque somente
após aprendermos a ouvir
com atenção, analisar o
que se ouviu, a refletir
sobre as palavras ditas,
os sentimentos que as
moveram e a ponderar
sobre a sua utilidade -
para o nosso crescimento
e o dos outros - é que
poderemos falar de modo
edificante na estrada
evolutiva que ora
trilhamos.
O Orientador Espiritual
nos lembra que quem
ouve, aprende, e quem fala, doutrina. O
primeiro, retém, e
o segundo, espalha, e
somente aquele que
guarda, na experiência
que renova, pode
espalhar com êxito.
Todos nós, em
experiência planetária,
nascemos com uma função
definida, pouco importando que
seja simples ou
complexa. Para Deus,
qualquer que seja sua
importância, estará
sempre ligada à nossa
necessidade individual
de aprimoramento. Nós,
por não entendermos os
desígnios divinos, é que
não aceitamos essa
condição. Julgamo-nos
merecedores de tarefas
mais importantes, de
maior destaque, sem nos
atermos ao fato de que,
muitas vezes, sequer
conseguimos realizar as
pequenas tarefas diárias
que nos são confiadas,
ou pelas quais nos
responsabilizamos.
Apenas falando pode ser
que abandonemos o
trabalho no meio.
Entretanto, se
começarmos realmente a
ouvir sempre e mais, com
certeza, atingiremos,
e de forma serena, os
fins aos quais nos
destinamos.
Quando falamos em ouvir
os chamamentos de Jesus
é necessário nos
lembrarmos do seguinte:
no Cristianismo, o
chamamento do Mestre tem
um significado bem
específico, ou seja, o
apelo do Cristo ao
ministério religioso.
Todavia, à luz do
Espiritismo, ele é muito
mais amplo, pois que, em
cada situação da nossa
existência, estejamos
encarnados ou
desencarnados, podemos
registrá-los. Senão,
vejamos: no
seio familiar ele
surge através dos
problemas difíceis que
necessitamos solucionar,
após ouvir, com
serenidade e isenção de
ânimos, as partes
envolvidas; diante
do companheiro
desconhecido que
nos solicita cooperação; à
frente do adversário que
pede tolerância e
entendimento, nos
conclamando ao perdão
com o esquecimento do
ato ofensivo; junto
ao enfermo a
nos solicitar a
assistência amorosa,
seja no trato das
feridas físicas ou
espirituais; e na
atitude de bondade e
compreensão que nos roga
a criança, exigindo
de nós cuidados maiores
diante da fragilidade
dessa planta que
necessita das mãos
fortes do adulto para
não fenecer.
Somos todos discípulos
de Jesus, precisando
ouvi-Lo, dando
testemunhos da nossa
fidelidade aos
ensinamentos que
deixou, procurando
segui-Lo onde estejamos
e como estejamos, na
certeza de que, somente
através do exercício
constante no bem,
estaremos atendendo ao
chamamento do Divino
Amigo, porque teremos
então ouvidos de ouvir.
Referências:
Emmanuel
(Espírito). Palavras
de Vida Eterna –
[psicografado por]
Francisco Cândido Xavier
– 20ª ed., Edição CEC –
UBERABA/MG - lições
72,87 e 95.
Fonte
Viva –
[psicografado por]
F.C.Xavier – 16ª ed.,
FEB – RIO DE JANEIRO/RJ
- lições 32 e 153.
Caminho,
Verdade e Vida –
[psicografado por]
F.C.Xavier – 17ª ed.,
FEB – RIO DE JANEIRO/RJ
- lição 77.