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Crônicas e Artigos
Ano 4 - N° 160 - 30 de Maio de 2010

CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
 

Rastros de vidas passadas


Nalgum lugar, um renomado autor segredou que é vital para quem escreve profissionalmente manter acesa a paixão pelo que faz. Noutro momento, uma fábula infantil narra a história de duas crianças que deixam rastros de migalhas de pão pela estrada, para que na volta se recordem do caminho para casa.

No caso do escritor da área espírita, com ênfase para o das obras psicografadas, penso que estas migalhas de pão se constituem naqueles indícios claros, funcionando como rastros revelados por mil e uma formas surpreendentes ao médium, de modo a oferecer-lhe a constatação inequívoca da autenticidade daquilo que os autores desencarnados vão delineando através de suas mãos e do mecanismo da psicografia. E são justo estas particularidades que para nós, médiuns atuantes na área da literatura espírita, mantêm acesa uma paixão toda especial e inexpugnável pelo que nos comprometemos a realizar neste mundo.

Neste momento, em que iniciamos há poucos dias um trabalho psicográfico com vistas à publicação no ano vindouro – este de autoria inédita de novo amigo das paragens da invisibilidade, apresentado por meu mentor para renovada jornada conjunta de esclarecimentos das maravilhas da vida espiritual –, voltou-me à recordação a ocasião em que, por desprendimento noturno do corpo físico, há muitos e muitos anos atrás, me foi dado visitar e contemplar com clareza de detalhes impressionante um prédio de alguns poucos andares, situado de esquina adiante de um largo, ao qual comparecia com uma presença amiga da qual na época não pude fixar a fisionomia.

Os detalhes da paisagem, no entanto, e espantosamente, com o decorrer dos anos, não esmaeceram da memória, como ocorre normalmente nos sonhos comuns. Ao contrário, conservaram a vivacidade de suas particularidades mínimas na retina de meu espírito, apenas que mantida a sensação de desconhecimento momentâneo daqueles cenários até ao dia em que, empreendendo pesquisas sobre a antiguidade romana após a publicação de nossa primeira obra psicografada, O Pretoriano, cujo conteúdo se passava justamente na Roma Antiga de Júlio César, deparei, ao acaso, com fotografias obtidas numa pesquisa do Google – justamente do prédio entrevisto no aludido desprendimento de tantos anos antes! E descobri então, com grande espanto e maravilha íntima, tratar-se, o edifício, do Teatro de Marcelo, construído exatamente à época do enredo narrado na nossa obra que tratava de uma de nossas muitas reencarnações no período da antiguidade italiana!

Para arremate, com o passar dos anos e de novos trabalhos vindos a público, encontrou maior sentido ainda aquele cenário quando da publicação da trama de Entre Jesus e a Espada, na qual os protagonistas vivenciam grande parte de seus dramas pretéritos exatamente tendo como palco, dentre outras visões da Roma de Nero, o Templo de Apolo - que recentemente revelou-se à nossa percepção mais acurada fronteiriço ao dito Teatro de Marcelo, nas fotos de suas ruínas guardadas em meus arquivos pessoais de pesquisas regressivas!

São estes detalhes importantes, leitores amigos, que para o escritor de obras psicografadas nos são ofertados como preciosos rastros de pão - só que de uma espécie de pão do espírito, que já nos alimentou a alma em tempos recuadíssimos no pretérito, na forma de cenários, cenas, imagens arquivadas no nosso vasto laboratório de lembranças apagadas por detrás de nosso subconsciente. Lembranças apagadas, mas a qualquer tempo redivivas, bastando para tanto que venham à tona sob a ação do gatilho poderoso do trabalho conjunto mediúnico, em que amigos da vida invisível operam diligentemente com os que se situam sob os véus das vestes carnais para resgatar, aos olhos destes que se demoram na materialidade, as provas e indícios vivos de que não comparecemos neste mundo fugaz de aprendizado apenas uma vez, mas muitas! Deixando para trás estas trilhas, à primeira vista perdidas, porém tão vívidas quanto o menor dos detalhes que nos cerca agora, neste mesmo momento, bastando para tanto que tenhamos a nossa memória reavivada para a multiplicidade de detalhes que nos compuseram a trajetória até o presente momento de nossas jornadas evolutivas!

Atualmente o laboratório é outro. Vimos perambulando nos últimos dias por outros rastros de pão, e gradativamente descerrando cenários valiosos, banhados de luz e de intensa significação, como se contidos pelos contornos restritos de ínfima fechadura – visto ser o autor de nossa próxima obra um artista, tanto nas paragens invisíveis, quanto no seu repertório secular na materialidade.

Assim, conforme nos vão chegando as páginas pelas mãos inefáveis deste amigo querido, junto, quase em compasso, como em carismática quão irresistível dança a dois, deságuam nas praias de nossas percepções e iniciativas conjuntas nomes esparsos, cenários desvendados, referências coincidentes, dramas emocionantes..., compondo o mosaico de um novo testemunho destinado, sob os auspícios dos melhores sentimentos dos nossos amigos da invisibilidade, a revelar aos leitores de boa vontade e interessados nas verdades maiores da Vida mais particularidades das Leis universais que nos regem os destinos: as causas primeiras de dramas por vezes obscuros e incompreensíveis encenados no cotidiano terreno; os porquês de presenças, de fraquezas à primeira vista invencíveis; as raízes de conflitos, de amizades ou inimizades, de conquistas, ou de aparentes quão dolorosos fracassos...

Se Jesus assim o permitir, veremos aonde a próxima trilha encantada de migalhas de pão vai nos situar – em que lar pretérito, em que trama inaudita! – através das novidades que nos chegam incessantemente da parte desses que nos visitam e nos instruem por amor, e por sob os véus das paisagens magníficas situadas para além dos véus da invisibilidade.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita