Rebeldia
Neio Lúcio
O
pequeno rebelde
amava a Mãezinha
viúva com
entranhado amor;
entretanto,
iludido pela
indisciplina,
dava ouvido aos
conselhos
perversos.
Estimava a
leitura de
episódios
sensacionais, em
que homens
revoltados
formam
quadrilhas de
malfeitores, nas
cidades grandes,
e, a qualquer
página
edificante,
preferia o
folhetim com
aventuras
desagradáveis ou
criminosas.
Engolfou-se em
tantas
histórias de
gente má que,
embora a palavra
materna o
convidasse ao
trabalho digno,
trazia sempre
respostas
negativas e
rudes na ponta
da língua.
—
Filho —
exclamava a
senhora paciente
—, homem de bem
acomoda-se no
serviço.
—
Eu não! —
replicava,
zombeteiro.
—
Vamos à oficina.
O chefe prometeu
ceder-te um
lugar.
—
Não vou! não
vou!...
—
Mas já deixaste
a escola, meu
filho. É tempo
de crescer e
progredir nos
deveres bem
cumpridos.
—
Não fui à
escola, a fim de
escravizar-me.
Tenho
inteligência.
Ganharei com
menor esforço.
E
enquanto a
genitora
costurava, até
tarde, de modo a
manter a casa
modesta, o
filho, já rapaz,
vivia
habitualmente na
rua movimentada.
Tomava
alcoólicos em
excesso e
entregava-se a
companhias
perigosas que,
pouco a pouco,
lhe degradaram o
caráter.
Chegava a casa,
embriagado,
altas horas da
noite, muita vez
conduzido por
guardas
policiais.
Vinha a devotada
Mãe com o
socorro de todos
os instantes e
rogava-lhe, no
outro dia:
—
Filho,
trabalhemos
dignamente. Todo
tempo é adequado
à retificação
dos nossos
erros.
Atrevido e
ingrato,
resmungava:
—
A senhora não me
entende.
Cale-se. Só fala
em dever, dever,
dever...
A
pobre costureira
pedia-lhe calma,
juízo e chorava,
depois, em
preces.
Avançando no
vício, o rapaz
começou a agir
às escondidas.
Assaltava
instituições
comerciais, onde
sabia fácil o
acesso ao
dinheiro; e
quando a
Mãezinha,
adivinhando-lhe
as faltas,
tentou
aconselhá-lo,
gritou:
—
Mãe, não preciso
de suas
observações!
Deixá-la-ei em
paz e voltarei,
mais tarde, com
grande fortuna.
Dar-lhe-ei casa,
roupa e
bem-estar com
fartura. A
senhora tem o
pensamento preso
a obrigações
porque, desde
cedo, vem
atravessando
vida miserável.
Assim dizendo,
fugiu para a via
pública e não
regressou ao
lar.
Ninguém mais
soube dele.
Ausentara-se,
definitivamente,
em direção a
importante
metrópole,
alimentando o
propósito de
furtar recursos
alheios, de
maneira a voltar
muito rico ao
convívio
maternal.
Passou o tempo.
Um, dois, três,
quatro, cinco
anos...
A
Mãezinha,
contudo, não
perdeu a
esperança de
reencontrá-lo.
Certo dia, a
imprensa
estampou nos
jornais o
retrato de um
ladrão que se
tornara famoso
pela audácia e
inteligência.
A
costureira
reconheceu nele
o filho e tocou
para a cidade
que o abrigava.
A
policia não lhe
conhecia o
endereço e,
porque fosse
difícil
localizá-lo
rapidamente, a
senhora tomou
quarto num
hotel, a fim de
esperar.
Na terceira
noite em que aí
se encontrava,
notou que um
homem embuçado
lhe penetrava o
aposento às
escuras.
Aproximou-se
apressado para
surripiar-lhe a
bolsa. Ela
tossiu e ia
gritar por
socorro, quando
o ladrão,
temendo as
consequências,
lhe agarrou a
garganta e
estrangulou-a.
Nos estertores
da morte, a
costureira
reconheceu a
presença do
filho e
murmurou,
debilmente:
—
Meu... meu...
filho...
Alucinado, o
rapaz fez luz,
identificou a
Mãezinha já
morta e caiu de
joelhos,
gritando de dor
selvagem.
A
desobediência
conduzira-o,
progressivamente,
ao crime e à
loucura.
Do cap. 6 do
livro
Alvorada Cristã,
de Neio Lúcio,
obra
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.