“Os jovens representam a
esperança”, diz
Divaldo Franco
Citando as palavras de um poeta argentino, o
conhecido confrade afirmou que jovem “é todo
aquele que pode olhar para trás sem ter amarras
com o passado”
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Diante de aproximadamente 250 jovens inscritos no
3º Congresso Espírita Brasileiro, Divaldo Pereira
Franco destacou o papel da juventude no trabalho
espírita. Lembrou que a atuação dos jovens nos
trabalhos cristãos e religiosos não é algo
propriamente novo. “Ser jovem nos grandes ideais
de humanidade não é notícia nova. Vamos encontrar
Jesus, nos |
Evangelhos, abençoando as criancinhas e a
juventude, com seus espíritos novos.” |
Completamente à vontade diante da plateia, Divaldo
afirmou que estava vivendo ali o encontro de duas
gerações, aquela “que retorna á Pátria Espiritual
e a outra que vai conduzir a divulgação do
Espiritismo no porvir da Humanidade”. Lembrou que
o apóstolo Paulo dedicou três de suas famosas
epístolas aos jovens, como Tiago e Timóteo,
estimulando-os ao trabalho e demonstrando toda a
ternura que sentia por eles. “Os jovens
representam a esperança. É preciso enfrentar a
tarefa da transição que se desenvolve no Planeta
Terra, que deixará de ser de provas e expiações
para ser regeneração”, reforçando que o próprio
Espiritismo nasceu com uma contribuição
inestimável dos jovens, por intermédio das irmãs
Fox e os fenômenos de Hydesville.
Tentando minimizar o tom professoral pelo qual
muitos jovens encaram as palavras alheias, Divaldo
disse que “nunca olvides que nós, que aconselhamos
os outros, já trilhamos os caminhos do sofrimento
e da dificuldade”. “E a juventude é um período
preparatório para as grandes dificuldades.”
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É possível, na opinião
de Divaldo, viver o Evangelho cristão sem
deixar de viver
integralmente o
período glorioso da juventude. “Ser jovem não é
apenas ter alguns anos, é ter alma aberta às
grandes construções do futuro.” O expositor
admitiu que o mundo experimenta dias tumultuosos,
de “tantas licenças morais, desequilíbrios éticos,
desrespeito a si mesmo e ao próximo, culto à sexolatria, à embriaguez, ao tabagismo, à
vulgaridade” que parece difícil para os jovens
conciliar os diversos valores com a prática
doutrinária.
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Citando as palavras de um poeta argentino, Divaldo
afirmou que jovem “é todo aquele que pode
olhar para trás sem ter amarras com o
passado”. Para ele, a adolescência é o momento
de afirmação da personalidade, quando surgem
velhos hábitos, conflitos, que precisam ser
disciplinados pela pedagogia do Espiritismo.
“Podemos viver de maneira saudável
sem nos corromper- |
permos, mantermos
postura saudável sem nos comprometermos com esses
vícios para atender ao status quo, gerando novos
valores.” |
Repetindo as palavras de Emmanuel, mentor
espiritual de Chico Xavier, Divaldo declarou que
“os jovens têm força, mas não têm experiência; têm
idealismo, mas ainda não vivenciaram as
estranhezas do cotidiano; mantêm o espírito aberto
a todas as coisas novas, mas não sabem discernir
as que são positivas das que são perniciosas”,
declarou.
Em
seguida, após a pequena introdução, Divaldo abriu
a palavra para as perguntas dos jovens presentes.
Os interessados escreveram seus questionamentos em
um papel e os encaminharam para os organizadores
do evento.
Seguem as perguntas com as respostas dadas pelo
médium, divididas por temas:
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Os jovens e a unificação
Como a juventude pode auxiliar no trabalho de
unificação do Espiritismo?
A
unificação dos espíritas é algo essencial.
Estarmos reunidos em torno da mesma bandeira é
importante para a boa divulgação dos postulados
espíritas. A melhor maneira é amar, para que haja
a real unificação, como asseverou Bezerra de
Menezes. A palavra do jovem deve ser voltada para
manter as balizas da doutrina espírita
irretocáveis, sem os modismos e novidades comuns à
humanidade. Além disso, ser disciplinado,
participar das atividades do Centro, e amar, sem
se deixar envolver pelas condições negativas que
sempre nos cercam.
Aborto
O
que dizer da legalização do aborto de anencéfalos?
A descriminalização pode ajudar as mulheres?
O
anencéfalo é um ser com vida. Não tem cérebro,
mas o Espírito está no processo doloroso de
reencarnação. Trata-se de alguém que atentou
contra a vida, que se atirou das montanhas,
pontes, esfacelou a caixa craniana, destruiu não
apenas a massa encefálica, mas o perispírito.
Programaram, então, uma reencarnação sem cérebro
para vida breve. Não é lícito matar em
circunstância nenhuma. Não somos autores da vida,
não temos o direito de destruir. Aborto, pena de
morte, eutanásia são crimes. Existem vários
exemplos de anencéfalos que chegaram a prolongar
seus dias de vida amados pelos seus pais, vindo a
desencarnar de forma natural.
No
caso da mulher que abortou por várias razões, não
temos o direito de criminalizá-la, porque muitos
de nós poderíamos praticar o aborto na mesma
situação. A hipocrisia e o preconceito sempre
pesaram muito sobre a mulher. Mas ela pode
refazer-se do crime praticado pelo bem que fizer.
A lei divina não é punitiva. Socorram as crianças
desvalidas, ajudem a criança que caiu. Estaremos
conquistando pontos que anulam aquele débito. Nós
somos responsáveis por tudo que fizermos de
positivo ou negativo. Fazer com que a mulher pague
o ônus, com prisão e julgamento, daquilo que já
está em sua alma é fazer com que sofra duas vezes.
Mediunidade
Qual o momento para começar a educação da
mediunidade?
O
jovem deve dedicar-se quando tiver lido a
codificação. Nascemos médiuns, ostensivos ou não.
Vamos ampliar a faculdade através do exercício da
meditação. Hora própria é quando tiver condições
de lutar contra as ciladas dos adversários. Se a
mediunidade acontecer na infância, deve ser
acompanhada do tratamento espiritual, com passe e
água fluidificada, e da psicoterapia.
Não há pressa para apresentar mediunidade. Através
da educação, reflexão, desenvolvimento de um
comportamento moral, atrairemos os Espíritos
nobres e respeitáveis e não nos transformaremos em
joguetes de Espíritos frívolos.
Os
jovens podem e devem estudar, para exercer a
mediunidade quando tiverem condições de exercê-la
com Jesus, no bem, tendo uma vida ética e evitando
os vícios sociais.
Sexo e homossexualidade
Como o jovem pode trabalhar suas energias
genésicas, que são muitas vezes mal utilizadas?
Qual é a visão do Espiritismo sobre
homossexualidade? Como tratar o sexo com base na
doutrina?
Sexo como departamento do corpo é algo tão
importante, que é nosso dever atender-lhe as
funções com o mesmo respeito que atendemos o
estômago, o fígado, os rins. O problema do sexo
não é do aparelho, é do Espírito reencarnado.
Devemos ter profundo respeito e higiene moral para
termos uma vida saudável.
O
sexo é uma função biológica voltada para a
reprodução. Mas, para que ele seja dignificado,
foi concebido para envolver sensações e emoções.
Por isso é que o intercurso sexual deve ser feito
com amor, para que as sensações sejam prazerosas e
agradáveis, proporcionando o bem-estar e o desejo
de repetição.
O
Espiritismo respeita toda e qualquer opção sexual.
O indivíduo tem o direito, sim, de procurar alguém
com a mesma função anatômica, desde que haja amor
ou respeito. Não se permite nem ao hetero nem ao
homo a vulgaridade do sexo, ter mais de um
parceiro, desrespeitar o indivíduo. Se o indivíduo
não lhe corresponde, separe-se e parta para um
novo relacionamento. Não podemos agir para agredir
os outros.
A
vida sexual deve ser iniciada quando a pessoa
tiver maturidade para exercer o sexo com
responsabilidade. Quando possamos assumir as
consequências de nossos atos e ser capaz de
controlar nossos impulsos. Vivemos a época da
libido sexual, mas o sexo merece o nosso maior
carinho, respeito e responsabilidade para
assumirmos o nosso papel diante da vida.
Guia espiritual
Como seu deu a descoberta do seu mentor
espiritual?
Foi um dos meus pontos nevrálgicos desde que
comecei a estudar o Espiritismo. Sempre via um ser
ao meu lado como se fosse uma claridade. Na
primeira noite que dormi na casa de Chico Xavier,
minha ânsia era perguntar quem era meu guia. Ele
me respondeu, mineiramente, que via uma claridade
e não identificou quem era.
Um
dia exigi e ele (o Espírito) me disse: Seu guia é
JESUS. “Eu não quero, ele é guia de todos.” O
Espírito sorriu.
Recebemos, já em Salvador, uma visita de uma
pessoa do Rio de Janeiro que apareceu do nada.
Mal chegou, levou as crianças à praia. Ficamos
aterrados, não pudemos dizer nada. Uma das
crianças nos disse: “Essa senhora é tão alegre
que colocamos o nome dela de Lambretinha”.
A
mesma mulher me perguntou: Divaldo, você é
médium? Quem é o seu guia? Eu não sabia, ela disse
que eu era atrasado. Ela me falou que tinha como
guia São Francisco, Santa Rita de Cássia e onze
mil virgens. Perguntei para o Espírito: Eu sou tão
bom, não fumo, não bebo, e não tenho guia. E essa
mulher louca tem São Francisco, Santa Rita de
Cássia e onze mil virgens.
O
Espírito sorriu e disse: “Para poder conduzir um
trem desses descarrilado, é preciso mais de um
guia. Você não, basta seguir a locomotiva”. Eu me
conformei, mas não me convenci.
Na
década de 60, me disse que era Joana. Decepção.
Mulher! Queria um guia com nome europeu. Ela disse
que se chamava Joanna de Ângelis. “Melhorou!” Se
Emmanuel recomendou disciplina a Chico, Joanna me
colocou na clausura. Mas até hoje agradeço a
presença desse anjo tutelar ao meu lado.
Personalismo
Quais as práticas indispensáveis para que os
personalismos sejam devidamente afastados?
A
primeira emoção que temos é o medo, depois somos
acoimados por uma segunda emoção, que é a ira e,
mais tarde, pelo amor. Nesse processo de evolução,
chega o momento que a psique humana se divide e
surgem o ego e o self; é o momento em que surge o
discernimento. O homem primitivo era sensação. O
Espírito passa a utilizar-se das paixões
primárias. Depois surgem as variantes do ego, vem
o egocentrismo, a pessoa se acredita o sol de
primeira grandeza, e o egoísmo como faculdade
soberana.
Para poder sobreviver em sociedade, o homem
mascara esse ego e a essa máscara, que os gregos
chamam de persona e nós denominamos personalidade.
Ocultamos nossos defeitos para disfarçar quem
somos a fim de conquistarmos a quem nos interessa.
Temos que trabalhar o ego, dar-nos conta de que
somos animais gregários, que ninguém é tão
completo que não precise de outro.
Jesus reunia todos os arquétipos da perfeição. Nós
temos nossos defeitos, fruto de nossas paixões
soberanas, de nosso medo, disfarçado em angústia,
timidez, ressentimento, desejo de vingança.
Devemos dispor das armas extraordinárias que Jesus
nos deu: Vigiai e orai, para não cairdes em
tentação. Estar atentos às nossas deficiências,
nosso pontos nevrálgicos, nosso calcanhar de
Aquiles e trabalhar sem desânimo, sem cessar de
aprimorar-nos, e cultivar as lições preciosas da
oração e da fraternidade. Lutar contra a nossa
natureza animal. O Livro dos Espíritos é claro:
Por que existe a guerra? “Pela predominância da
natureza animal e das paixões humanas.”
Nota do autor:
Colaborou nesta reportagem Larissa Nascimento. O
autor das fotos é Eiji
Iwamoto. Ambos integram a equipe
do Jornal Brasília Espírita.