ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
5)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Quem são os homens de
gênio?
Homens de gênio são
Espíritos que viveram
mais tempo e, por isso,
progrediram mais que os
indivíduos menos
adiantados. O que eles
sabem é fruto de um
trabalho anterior e não
o resultado de um
privilégio. Os homens
progridem por si mesmos,
mas esse progresso
torna-se muito lento, se
não forem ajudados por
homens mais adiantados.
Eis por que todos os
povos têm tido os seus
homens de gênio, que
vieram em diversas
épocas dar-lhes um
impulso e tirá-los da
inércia. As coisas novas
que eles ensinam, seja
na ordem física, seja na
ordem moral, são
revelações.
(Revue Spirite de 1866,
pp. 99 a 101.)
B. Quais, segundo
Kardec, foram os dois
grandes reveladores que
surgiram em nosso mundo?
Jesus Cristo e Moisés,
esses foram os dois
grandes reveladores que
mudaram a face do mundo,
fato que constitui, por
si só, a prova de sua
missão divina, visto que
uma obra puramente
humana não teria tal
poder.
(Obra citada, pp. 102 a
106.)
C. Que disse Kardec a
respeito do movimento
simbolizado na frase
Nada de comunicações dos
Espíritos?
O que esse movimento
propunha, disse Kardec,
era a separação do
Espiritismo do ensino
dos Espíritos, sob o
argumento de que as
instruções destes
últimos estariam abaixo
do que pode a
inteligência dos homens.
O Codificador opôs-lhe,
no entanto, as seguintes
observações: I – Sem os
Espíritos, ainda
estaríamos – nós, os
homens, – na crença de
que os anjos são
criaturas privilegiadas
e os demônios,
indivíduos predestinados
ao mal. II – Sendo o
Espiritismo o resultado
do ensinamento dos
Espíritos, sem as
comunicações destes não
haveria Espiritismo. III
– Se a doutrina espírita
fosse uma simples teoria
nascida no cérebro de um
homem, não teria senão o
valor de uma opinião
pessoal; saída da
universalidade do ensino
dos Espíritos, tem o
valor de uma obra
coletiva e essa é a
razão de haver-se
propagado rapidamente
por toda a Terra. IV –
Não se nega que existam
comunicações espíritas
boas e más. Façamos,
então, o que se faz com
as obras em geral:
aproveitemos o que há de
bom e rejeitemos o que é
mau. V – O Espiritismo
tende para a reforma da
humanidade pela via da
caridade. É por isso que
os Espíritos pregam sem
cessar a prática dessa
virtude fundamental e a
pregarão por muito tempo
ainda, enquanto não se
houver desgarrado o
egoísmo do coração
humano. VI – Repelir as
comunicações dos
Espíritos depois de as
haver aclamado é querer
sapar o Espiritismo pela
base, é tirar-lhe o
alicerce e tal não pode
ser o pensamento dos
espíritas sérios e
devotados.
(Obra citada, pp. 107 a
112.)
Texto para leitura
53. A impressão
agradável ou penosa que
por vezes se sente à
vista de alguém, o
pressentimento da
aproximação de uma
pessoa, a transmissão e
a penetração do
pensamento são, segundo
Kardec, outros tantos
efeitos devidos à mesma
causa e que constituem
uma espécie de
mediunidade, que se pode
dizer universal.
(Pág. 88.)
54. Levado o assunto a
discussão na Sociedade
Espírita de Paris,
quatro Espíritos se
manifestaram e
transmitiram, entre
outras informações, os
ensinamentos que se
seguem: I – É possível
desenvolver o sentido
espiritual por um
trabalho constante.
Aliás, constante é
também a comunicação do
mundo incorpóreo com os
sentidos humanos; ela se
dá a cada hora, a cada
minuto, pela lei das
relações espirituais. II
– Os Espíritos se veem e
se visitam uns aos
outros durante o sono e
também durante a
vigília. Eles não têm
noite e constantemente
estão ao nosso lado,
vigiando, inspirando,
guiando e suscitando
pensamentos. III – Esse
gênero de comunicação
espiritual é, assim, uma
mediunidade; é uma
espécie de estado
cataléptico, muito
agradável para quem o
experimenta. IV – Essa
faculdade existe no
estado inconsciente em
muitas pessoas, pois há
sempre perto de nós um
amigo sincero, pronto a
sustentar e encorajar
aquele cuja direção lhe
é confiada pelo Criador.
V – Seu apoio jamais
falta aos homens;
cabe-lhes apenas
distinguir as boas
inspirações entre todas
as que se chocam no
labirinto de suas
consciências. VI – A
mediunidade mental
(como a designou Kardec)
está bem chamada. É o
primeiro degrau da
mediunidade vidente e
falante. O médium
mental, se for bem
formado, pode dirigir
perguntas e receber
respostas mais
facilmente que o médium
intuitivo, porque seu
Espírito, estando mais
desprendido, é um
intérprete mais fiel.
Para isto é necessário
um ardente desejo de ser
útil e trabalhar com um
sentimento puro, isento
de todo pensamento de
amor próprio e de
interesse. VII – De
todas as faculdades
mediúnicas, ela é a mais
sutil e a mais delicada,
e o menor sopro impuro
basta para manchá-la.
VIII – A mediunidade que
consiste em conversar
com os Espíritos, como
se conversa com os
encarnados,
desenvolver-se-á mais, à
medida que o
desprendimento do
Espírito se efetuar com
mais facilidade, pelo
hábito do recolhimento.
Quanto mais avançados
moralmente forem os
Espíritos encarnados,
maior será a facilidade
de comunicação. IX – O
recolhimento e a prece
são os dois elementos da
vida espiritual; são
eles que derramam na
alma esse orvalho
celeste que ajuda o
desenvolvimento das
faculdades que aí estão
em estado latente.
Infelizes os que dizem
que a prece é inútil
porque não modifica os
desígnios de Deus! X –
Todos se revoltam quando
se pensa nos vícios da
sociedade pagã, ao tempo
em que o Cristo veio
trazer a boa-nova, mas
em nossos dias os vícios
não existem menos. XI –
Não é, pois, sem razão
que os Espíritos vieram
lembrar os ensinamentos
dados nos tempos
apostólicos. Todos os
que forem chamados a
cooperar nessa obra de
redenção do mundo, devem
agradecer por isto ao
Senhor, e que o seu
desinteresse e a sua
caridade jamais
enfraqueçam, porque é
nisto que se conhecerão,
entre os homens, os
verdadeiros espíritas.
(Págs. 89 a 92.)
55. Na seção de livros,
a Revue destaca
três obras:
“Espírita”, romance
agora publicado em forma
de livro, por Théophile
Gautier; “A Mulher do
Espírita”, de Ange
de Kéraniou, e
“Forças Naturais
Desconhecidas”, de
Hermès. A imprensa
laica, diz Kardec, foi
parcimoniosa com relação
ao romance de Gautier.
Ninguém sabia se devia
louvá-lo ou censurá-lo.
O romance, traduzido
para o português com o
nome de “O Ignorado
Amor”, foi
considerado por Kardec a
primeira obra de
destaque escrita por um
grande escritor onde a
ideia espírita aparece
seguramente afirmada.
Segundo os jornais da
época, a obra do Sr.
Gautier obteve grande
repercussão em toda a
Europa. (Págs.
92 a 98.)
56. O número de abril de
1866 é aberto com um
longo artigo de Kardec
sobre a revelação e seus
requisitos, o qual foi
posteriormente
aproveitado pelo
Codificador na feitura
do cap. I de “A
Gênese”. Eis, de
forma resumida, as
principais informações
que nele se contêm: I –
Revelar é dar a conhecer
uma coisa desconhecida,
é ensinar a alguém
aquilo que não sabe. O
papel do professor
perante seus alunos é o
de um revelador, mas ele
só ensina o que
aprendeu: é um revelador
de segunda ordem. II – O
homem de gênio ensina o
que ele próprio achou: é
o revelador primitivo.
III – O homem de gênio é
um Espírito que viveu
mais tempo e tem, por
isso, progredido mais
que os indivíduos menos
adiantados. O que ele
sabe é fruto de um
trabalho anterior e não
o resultado de um
privilégio. IV – Os
homens progridem por si
mesmos, mas esse
progresso torna-se muito
lento, se não forem
ajudados por homens mais
adiantados. Eis por que
todos os povos têm tido
os seus homens de gênio,
que vieram em diversas
épocas dar-lhes um
impulso e tirá-los da
inércia. V – As coisas
novas que eles ensinam,
seja na ordem física,
seja na ordem moral, são
revelações. VI – No
sentido especial da fé
religiosa, os
reveladores são
geralmente designados
sob os nomes de profetas
ou messias. VII - Todas
as religiões têm tido,
assim, os seus
reveladores, conquanto
muitos falsos profetas
tenham surgido no seio
delas e explorado a
credulidade dos fiéis,
em proveito de seu
orgulho, de sua cupidez,
ou de sua preguiça.
(Págs. 99 a 101.)
57. Na sequência, após
afirmar que a religião
cristã não esteve ao
abrigo desses parasitas,
Kardec adverte: “Apenas
constatamos as duas
grandes revelações sobre
as quais se apoia o
cristianismo: a de
Moisés e a de Jesus,
porque tiveram uma
influência decisiva na
humanidade”. “O
islamismo pode ser
considerado como um
derivado de concepção
humana do mosaísmo e do
cristianismo. Para
acreditar a religião que
queria fundar, Maomé
teve que se apoiar sobre
uma suposta revelação
divina.” (Págs. 101 e
102.)
58. Deus pode revelar-se
diretamente aos homens?
Kardec não diz que sim
nem que não, embora
reconheça que o fato não
é radicalmente
impossível. Diz mais o
Codificador: I – Os
reveladores encarnados,
conforme a ordem
hierárquica a que
pertençam e o grau de
seu saber pessoal, podem
colher suas instruções
em seus próprios
conhecimentos ou
recebê-los de Espíritos
mais elevados, até mesmo
de mensageiros diretos
de Deus. II – Estes,
quando falam em nome de
Deus, podem ter sido,
por vezes, tomados pelo
próprio Deus. III – As
instruções podem ser
transmitidas aos homens
por diversos meios: pela
inspiração pura e
simples, pela audição,
pela visão, quer no
sonho, quer no estado de
vigília. É, assim,
rigorosamente exato
dizer que a maior parte
dos reveladores são
médiuns inspirados,
auditivos ou videntes.
IV – Pode haver
revelações sérias e
verdadeiras, como as há
apócrifas e mentirosas.
O caráter essencial da
revelação divina é o da
eterna verdade. V – A
lei do Decálogo possui
todos os caracteres de
sua origem divina, ao
passo que as outras leis
mosaicas, essencialmente
transitórias e por vezes
em contradição com a lei
do Sinai, são obra
pessoal e política do
legislador hebreu. VI –
O Cristo e Moisés são os
dois grandes reveladores
que mudaram a face do
mundo. Eis aí a prova de
sua missão divina,
porquanto uma obra
puramente humana não
teria tal poder. VII –
Uma nova e importante
revelação se realiza na
época presente. É a que
nos mostra a
possibilidade de
comunicação com os seres
do mundo espiritual.
Deus quis que esse
ensino fosse dado pelos
próprios Espíritos, e
não pelos encarnados, a
fim de convencer a todos
quanto à sua existência.
VIII – Os Espíritos não
vêm libertar o homem do
trabalho, do estudo e
das pesquisas. Eles se
abstêm de nos dar o que
podemos adquirir pelo
trabalho, e há coisas
que não lhes é permitido
revelar, porque nosso
grau de adiantamento não
o comporta. IX – As
manifestações espíritas
serviram para nos dar a
conhecer o mundo
invisível que nos rodeia
e de que não
suspeitávamos. Só esse
conhecimento seria de
capital importância,
ainda que nada nos
pudessem ensinar. X – As
manifestações nada têm,
portanto, de
extra-humano. É a
humanidade espiritual
que vem conversar com a
humanidade corporal e
lhe dizer que os
Espíritos existem, que a
vida terrena não é tudo
e que a fraternidade e a
caridade se assentam
numa lei da natureza. XI
– A revelação espírita
tem, assim, por objetivo
pôr o homem na posse de
certas verdades que ele
não podia adquirir por
si mesmo, visando desse
modo ativar o progresso.
Essas verdades
limitam-se, em geral, a
princípios fundamentais;
são as balizas que lhe
mostram o objetivo. Cabe
ao homem a tarefa de as
estudar e deduzir-lhes
as aplicações. (Págs.
102 a 106.)
59. Dois movimentos
surgidos no meio
espírita são destacados
por Kardec. O primeiro,
tendo por bandeira:
A negação da prece,
repelido pelos
homens e pelos
Espíritos, nem chegou a
prosperar. Seguiu-se-lhe
outro tendo por divisa:
Nada de
comunicações dos
Espíritos. O
ponto central dessa
proposta é que caberia
ao homem sondar os
grandes mistérios da
natureza e decidir os
princípios que devem ser
aceitos ou rejeitados,
sem recorrer ao
assentimento dos
Espíritos. (Pág.
107.)
60. O que nisso se
propõe, adverte Kardec,
é a separação do
Espiritismo do ensino
dos Espíritos, sob o
argumento de que as
instruções destes
últimos estariam abaixo
do que pode a
inteligência dos homens.
O Codificador opõe-lhe,
no entanto, as seguintes
observações: I – Sem os
Espíritos, ainda
estaríamos – nós, os
homens, – na crença de
que os anjos são
criaturas privilegiadas
e os demônios,
indivíduos predestinados
ao mal. II – Sendo o
Espiritismo o resultado
do ensinamento dos
Espíritos, sem as
comunicações destes não
haveria Espiritismo. III
– Se a doutrina espírita
fosse uma simples teoria
nascida no cérebro de um
homem, não teria senão o
valor de uma opinião
pessoal; saída da
universalidade do ensino
dos Espíritos, tem o
valor de uma obra
coletiva e essa é a
razão de haver-se
propagado rapidamente
por toda a Terra. IV –
Não se nega que existam
comunicações espíritas
boas e más. Façamos,
então, o que se faz com
as obras em geral:
aproveitemos o que há de
bom e rejeitemos o que é
mau. V – O Espiritismo
tende para a reforma da
humanidade pela via da
caridade. É por isso que
os Espíritos pregam sem
cessar a prática dessa
virtude fundamental e a
pregarão por muito tempo
ainda, enquanto não se
houver desgarrado o
egoísmo do coração
humano. VI – Repelir as
comunicações dos
Espíritos depois de as
haver aclamado é querer
sapar o Espiritismo pela
base, é tirar-lhe o
alicerce e tal não pode
ser o pensamento dos
espíritas sérios e
devotados. (Págs. 107
a 112.)
61. Concluindo o artigo,
Kardec adverte: “Se o
Espiritismo deve ganhar
em influência, é
aumentando a soma de
satisfação moral que
proporciona. Que os que
o acham insuficiente tal
qual é se esforcem por
dar mais que ele; mas
não será dando menos,
tirando o que faz o seu
encanto, a força e a
popularidade que o
suplantarão”. (Pág.
112.)
62. No artigo seguinte,
Kardec examina o tema
“Espiritismo
independente”, ideia
que, evidentemente, era
o corolário da proposta
Espiritismo sem
Espíritos.
“Espiritismo
independente” seria,
segundo uma carta
recebida por Kardec, o
Espiritismo liberto não
só da tutela dos
Espíritos, mas de toda
direção ou supremacia
pessoal, de toda
subordinação às
instruções de um chefe.
(Págs. 112 e 113.)
63. Kardec fez a
propósito do assunto
inúmeras considerações,
culminando por
considerar a proposta
uma insensatez, visto
que a independência já
existia de fato e de
direito e não havia, no
movimento espírita,
disciplina imposta a
quem quer que fosse. O
Espiritismo não estava –
observou o Codificador –
enfeudado num indivíduo,
nem num círculo de
pessoas. A bandeira
“Fora da caridade não há
salvação”, por ele
posta no frontispício do
Espiritismo, não surgiu
por ato de sua
autoridade, mas dos
ensinos dos Espíritos,
que a colheram nas
palavras do Cristo, em
que ela se encontra com
todas as letras, como
pedra angular do
edifício cristão.
(Págs. 114 a 116.)
64. Kardec tornou claro
em seu comentário que
suas instruções eram
aceitas livremente e sem
constrangimento. Nenhum
poder lhe fora conferido
e nenhum título ele
reivindicava, exceto o
de irmão em crença. “Se
nos consideram como seu
chefe – explicou –, é
por força da posição que
nos dão os nossos
trabalhos, e não em
virtude de uma decisão
qualquer.” Por isso, não
havendo poder
constituído nem
hierarquia alguma
fechando a porta a quem
desejasse entrar, não
existia razão nem objeto
para semelhantes ideias.
(Págs. 115 e 116.)
65. A Revue
transcreveu um relato
feito pelo Journal de
Chartres a 11 de
março de 1866, segundo o
qual dois alunos
simularam um debate
sobre o Espiritismo em
tertúlia promovida pelo
Colégio de Chartres. Um
aluno fez o papel do
detrator; o outro se
incumbiu de defender a
doutrina espírita. Não
se soube que propósito
teve o colégio ao
patrocinar o debate;
certamente não foi por
simpatia que isso se
deu. O fato não deixou,
porém, de ter
importância, visto que o
Espiritismo pôde
penetrar de forma
oficial, não mais
clandestinamente, o
ambiente de um
importante colégio.
(Págs. 117 a 119.)(Continua
no próximo número.)