ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
6)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Qual foi a primeira
faculdade mediúnica
concedida aos homens?
Segundo mensagem
transmitida na Sociedade
Espírita de Paris, a
mediunidade de vidência
foi a primeira de todas
as faculdades dadas ao
homem para se
corresponder com o mundo
invisível. Em todos os
tempos e em todos os
povos, as crenças
religiosas se
estabeleceram sobre
revelações de
visionários ou médiuns
videntes.
(Revue Spirite de 1866,
pp. 120 a 123.)
B. Veremos Deus ao
deixarmos a Terra?
Esta questão foi
examinada por Kardec na
Revista Espírita. Eis,
em resumo, o que ele
escreveu: 1. As coisas
de essência espiritual
não podem ser percebidas
pelos órgãos materiais:
só pela visão espiritual
é que podemos ver os
Espíritos e o mundo
imaterial. 2. Dessa
forma, só a nossa alma
pode ter a percepção de
Deus, mas sua visão
constitui privilégio das
almas mais depuradas. 3.
Sendo Deus a essência
divina por excelência,
não pode ser percebido
em todo o seu brilho
senão pelos Espíritos
chegados ao mais alto
grau de
desmaterialização.
(Obra citada, pp. 132 a
134.)
C. Tantas vezes
mencionada nas
Escrituras, a
ressurreição é possível?
Segundo Kardec, a
ressurreição não é
possível. Todas as vezes
em que ocorre volta à
vida é que não houve
morte na acepção
patológica do termo.
“Quando a morte é
completa, essas voltas
são impossíveis, pois a
isto se opõem as leis
fisiológicas.”
(Obra citada, pp. 134 a
136.)
Texto para leitura
66. Tudo indica que o
czar Paulo I, da Rússia,
viu efetivamente em São
Petersburgo o Espírito
de seu avô Pedro, o
Grande. Pelo menos foi
isso que o czar relatou
a alguns amigos, segundo
reportagem publicada a 3
de março de 1866 pelo
Grand Journal. Tendo
o assunto sido levado à
Sociedade Espírita de
Paris, um dos médiuns
recebeu espontaneamente
uma comunicação que
confirmou o fato e
acrescentou as
informações que se
seguem: I – A existência
da mediunidade de
vidência foi a primeira
de todas as faculdades
dadas ao homem para se
corresponder com o mundo
invisível. II – Em todos
os tempos e em todos os
povos, as crenças
religiosas se
estabeleceram sobre
revelações de
visionários ou médiuns
videntes. III – Desde o
instante em que o czar
Paulo I viu seu avô, a
mediunidade foi nele
permanente, mas o medo
do ridículo o impediu de
relatar suas visões aos
amigos. IV – A vidência
não era a única
faculdade que possuía,
pois Paulo fora também
dotado da audição e da
intuição. Aliás, foi
pela audição que ele
teve a revelação do seu
fim trágico. (Págs.
120 a 123.)
67. Em Corrèze, o Sr.
Leymarie, colega de
Kardec na Sociedade
Espírita de Paris,
recebeu uma comunicação
assinada por um ex-bispo
de nome De Cosnac,
que informou ter estado
até então, por dois
séculos e meio,
inconsciente de sua
verdadeira posição de
Espírito desencarnado.
Bispo e conselheiro do
rei, orgulhoso de seus
títulos, ele só dera
valor na última
existência às fugidias
ilusões da vida, não
constituindo surpresa o
longo período de
perturbação a que se
reportou na mencionada
mensagem. (Págs. 123
a 125.)
68. Em um poema
transcrito pela Revue,
Eugène Nus, dirigindo-se
aos amigos que já
partiram para o mundo
espiritual,
pergunta-lhes: “Onde
viveis, mortos amados?”
O poema contém ideias
claras sobre a
influência dos Espíritos
em nossa vida e à
possibilidade do seu
retorno à vida terrena.
(Págs. 125 e 126.)
69. Alguns espíritas não
se conformaram com as
críticas feitas a eles
pela imprensa por
ocasião do episódio
protagonizado pelos
irmãos Davenport.
Florentin Blanchard,
livreiro em Marennes,
foi um deles, como
mostra carta publicada
pela Revue, na
qual, escrevendo ao
jornal La Liberté,
o confrade refuta as
críticas e avisa que sua
assinatura não mais será
renovada. (Págs. 126
e 127.)
70. Cinco obras são
citadas pela Revue
na seção de livros.
Uma delas, intitulada:
“Sou Espírita?”,
de Sylvain Alquié, de
Toulouse, foi um dos
frutos da polêmica
causada pelos irmãos
Davenport. As críticas
levaram o autor a
conhecer e a admitir,
desde então, o
Espiritismo. As demais
obras intitulam-se:
“Carta aos Srs.
Diretores e Redatores
dos Jornais
Antispíritas”, de A.
Grelez, de Sétif,
Argélia; “Filosofia
Espírita”, “O Guia da
Felicidade” e
“Noções de Astronomia”,
todos os três de
autoria de Augustin
Babin, espírita de longa
data que, segundo
Kardec, levava a
doutrina a sério.
(Págs. 127 e 128.)
71. O número de maio de
1866 inicia-se com um
artigo sobre Deus, no
qual o Codificador faz
as seguintes
observações: I – Como é
que Deus, tão grande e
poderoso, pode
imiscuir-se em
pormenores ínfimos e
preocupar-se com os
menores atos praticados
pelos indivíduos? II –
As propriedades dos
fluidos podem dar-nos
uma ideia de como o
Criador age nesses
casos. III – Os fluidos
não têm inteligência,
mas são o veículo do
pensamento, das
sensações e das
percepções dos
Espíritos, e é em
consequência da sutileza
deles que os Espíritos
penetram por toda a
parte, perscrutam os
nossos pensamentos, veem
e agem a distância. IV –
O que os Espíritos podem
realizar, embora em
estreitos limites, Deus
o faz em proporções
indefinidas. Ora, a
natureza inteira está
mergulhada no fluido
divino. Assim, tudo está
submetido à sua ação, à
sua previdência, à sua
solicitude. V – Estamos,
portanto, constantemente
em presença da
Divindade; não existe
uma só de nossas ações
que possamos subtrair ao
seu olhar; nosso
pensamento está em
contato com o seu
pensamento e é por isso
que se diz que Deus vê
os mais profundos
refolhos do nosso
coração. VI – O Criador
não tem, pois,
necessidade de mergulhar
seu olhar nem de deixar
o repouso de sua
glória, para
estender a nós a sua
solicitude. VII – Para
serem ouvidas por Ele,
nossas preces não
precisam transpor o
espaço nem ser ditas com
voz retumbante, porque,
incessantemente
penetrados pelo fluido
divino, nossos
pensamentos nele
repercutem. (Págs.
129 a 131.)
72. Concluindo o artigo,
Kardec assevera: “Diante
desses problemas
insondáveis, nossa razão
deve humilhar-se; Deus
existe: não poderíamos
duvidá-lo; é
infinitamente justo e
bom; é sua essência; sua
solicitude se estende a
tudo; nós o
compreendemos agora;
incessantemente em
contacto com ele,
podemos orar a ele com a
certeza de ser ouvidos;
ele não pode querer
senão o nosso bem; por
isso devemos ter
confiança nele. Eis o
essencial; para o resto,
esperemos que sejamos
dignos de o
compreender”. (Pág.
132.)
73. No artigo seguinte
Kardec explica por que,
estando Deus em toda a
parte, não o vemos.
Vê-lo-emos ao deixar a
Terra? Eis os
ensinamentos
transmitidos pelo
Codificador: I – As
coisas de essência
espiritual não podem ser
percebidas pelos órgãos
materiais: só pela visão
espiritual é que podemos
ver os Espíritos e o
mundo imaterial. Dessa
forma, só a nossa alma
pode ter a percepção de
Deus, mas sua visão
constitui privilégio das
almas mais depuradas. II
– O envoltório
perispiritual, embora
invisível e impalpável
para nós, é para a alma
uma verdadeira matéria,
muito grosseira para
certas percepções, mas
que se espiritualiza à
medida que a alma se
eleva em moralidade. III
– As imperfeições da
alma são como véus que
obscurecem sua visão;
cada imperfeição de que
ela se desfaz é um véu a
menos. IV – Sendo Deus a
essência divina por
excelência, não pode ser
percebido em todo o seu
brilho senão pelos
Espíritos chegados ao
mais alto grau de
desmaterialização. V – O
Espírito só se depura
lentamente, e à medida
que se depura tem de
Deus uma intuição mais
perfeita. Se não o vê,
compreende-o melhor.
Quando eles dizem que
Deus lhes proíbe de
responder ou fazer algo,
não é que Deus lhes
aparece, mas sim que o
sentem e recebem o
eflúvio de seu
pensamento, como
acontece ao homem com
relação aos Espíritos
que o envolvem com seu
fluido, embora não os
veja. VI – Nenhum homem
pode, pois, ver a Deus
com os olhos da carne.
Se esse favor fosse
concedido a alguém, só
poderia sê-lo no estado
de êxtase. VII - Como os
Espíritos da mais
elevada ordem
resplandecem com um
brilho deslumbrante,
pode ser que Espíritos
menos elevados,
encarnados ou não,
feridos por tal
esplendor, julgassem ter
visto o próprio Deus,
tal como se vê, por
vezes, um ministro
tomado por seu soberano.
(Págs. 132 a 134.)
74. Segundo o jornal
Concorde, de
Versalhes, edição de 22
de fevereiro de 1866,
teria ocorrido na
Córsega um curioso fato
de ressurreição, no qual
uma mulher, momentos
depois de morrer, teria
voltado a viver para
transmitir um recado à
sua sobrinha Savéria. A
ressurreição é possível?
Kardec diz que não e
explica: todas as vezes
que houver volta à vida
é que não houve morte na
acepção patológica do
termo. “Quando a morte é
completa, essas voltas
são impossíveis, pois a
isto se opõem as leis
fisiológicas.”
(Págs. 134 e 135.)
75. O assunto foi levado
à Sociedade Espírita de
Paris, onde o Espírito
de Ebelman explicou o
episódio referido. A tia
estava realmente morta,
mas não houve
ressurreição. A sobrinha
teve, na verdade, uma
visão do Espírito da
falecida, que, graças à
permissão do Pai, pôde
falar-lhe. Sua vontade
não pôde fazer reviver o
seu corpo físico, mas
pôde dar ao seu
invólucro fluídico as
aparências dele.
(Págs. 135 e 136.)
76. Morto em Paris em
novembro de 1865, o
padre Laverdet,
atendendo a evocação
feita por Kardec,
comunicou-se na
Sociedade Espírita de
Paris em janeiro
seguinte, ocasião em
que, além de manifestar
seu respeito pela
doutrina espírita,
lamentou os equívocos
cometidos por seu colega
padre Châtel, que
procurou auferir
vantagens financeiras à
frente da Igreja.
(Págs. 136 a 139.)
77. Outra comunicação
espírita transcrita pela
Revue diz
respeito a um pai que,
dado à embriaguez desde
a juventude, nenhuma
preocupação teve quanto
à educação dos filhos.
Um destes seguiu-lhe os
passos e, mudando-se
para a África, não mais
deu notícias. O outro,
de natureza diferente,
tornou-se espírita
fervoroso e devotado. Na
comunicação,
Charles-Emmanuel, o pai
descuidado, fala das
consequências de seus
erros e da tarefa que
agora, como Espírito,
Deus lhe atribuíra:
velar pelo filho Jean, a
quem deveria preservar
de qualquer acidente.
(Págs. 139 e 140.)
78. Duas informações
importantes constam da
comunicação citada: I –
Charles-Emmanuel demorou
a perceber que
desencarnara e bebia sem
cessar. II – A dor que o
filho experimentava nos
acidentes de que o pai o
salvou, era este quem
suportava. (Págs. 140
e 141.) (Continua no próximo
número.)