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Estudando as obras de Kardec
Ano 4 - N° 165 - 4 de Julho de 2010

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1866

Allan Kardec 

(Parte 8)

Continuamos a apresentar o estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1866. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 16 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. No momento do sono podemos reunir-nos a outros companheiros ainda encarnados?

Sim. Foi o que o Espírito do Dr. Demeure disse a Kardec ao explicar-lhe um sonho que o Codificador tivera. O sonho fora, na verdade, a imagem de uma reunião havida entre pessoas que ali discutiam um assunto relacionado com invenções. O assunto nenhuma relação tinha com o Espiritismo: os Espíritos quiseram somente mostrar-lhe um fato comum, que é o encontro, no momento do sono, de pessoas que se dedicam na Terra a um mesmo objetivo. (Revue Spirite de 1866, pp. 171 a 173.) 

B. O acaso existe?

Não. Segundo explicação dada pelo Espírito do Dr. Demeure, as coisas que nos parecem as mais fortuitas têm sua razão de ser, pois há inumeráveis inteligências ocultas que presidem a todas as partes do conjunto. Chegado, por exemplo, o momento de uma descoberta, os elementos são postos à luz por essas mesmas inteligências. “Não há acaso: tudo é inteligente na natureza”, afirmou o médico. (Obra citada, pp. 173 e 174.)  

C. Que virtudes devem crescer no caminho do espírita verdadeiro?

Instruir os ignorantes, assistir os fracos, ter compaixão dos aflitos, defender os inocentes, lamentar os que estão no erro, perdoar aos inimigos – eis as virtudes que devem crescer em abundância no caminho do verdadeiro espírita. (Obra citada, pp. 187 e 188.)  

Texto para leitura 

91. Em uma sessão espírita realizada na casa de uma família russa residente em Paris, o Espírito de Moki, por meio do Sr. Desliens, afirmou que mesmo na existência do mais ínfimo dos seres nada é deixado ao acaso: os principais acontecimentos de sua vida são determinados por sua provação; os detalhes, influenciados por seu livre-arbítrio. Mas o conjunto da situação foi previsto e combinado antecipadamente por ele próprio e por aqueles que Deus predispôs à sua guarda. A escolha do jovem Kommissaroff fora uma recompensa à sua atitude de devotamento desinteressado. As honrarias e a fortuna que ele, em consequência de seu gesto, recebeu do czar, constituíam, no entanto, não apenas um prêmio, mas também uma prova – prova que, segundo Kardec, é cem vezes mais perigosa que as desgraças materiais, às quais a gente se resigna por força, ao passo que é bem mais difícil resistir às tentações do orgulho e da opulência. (Págs. 169 a 171.)

92. Durante uma doença que enfrentou em abril de 1866, Kardec teve um sonho bem estranho. Consultado por ele, o Espírito do Dr. Demeure fez a respeito do assunto observações muito interessantes, adiante resumidas: I – Há sonhos que resultam do próprio sofrimento experimentado pelos enfermos. Todas as vezes que há enfraquecimento do corpo, há tendência para o desprendimento do Espírito; mas, quando o corpo sofre, o desprendimento não se opera de maneira regular e normal; incessantemente o Espírito é chamado a seu posto; daí as interrupções e misturas que tornam confusas as imagens e as lembranças. II – O caráter do sonho se liga, portanto, mais do que se pensa, à natureza da doença, porque se o estado do Espírito influi sobre a saúde, o estado do corpo reage sobre o Espírito. III – O sonho de Kardec fora, na verdade, a imagem de uma reunião havida entre pessoas que ali discutiam um assunto relacionado com invenções. O assunto nenhuma relação tinha com o Espiritismo: os Espíritos quiseram somente mostrar-lhe um fato comum, que é o encontro, no momento do sono, de pessoas que se dedicam na Terra a um mesmo objetivo. (Págs. 171 a 173.)

93. Dr. Demeure acrescentou que não existem descobertas por acaso. As coisas que nos parecem as mais fortuitas têm sua razão de ser, pois há inumeráveis inteligências ocultas que presidem a todas as partes do conjunto. Chegado, por exemplo, o momento de uma descoberta, os elementos são postos à luz por essas mesmas inteligências. “Não”, afirmou Demeure com toda a ênfase. “Não há acaso: tudo é inteligente na natureza.” (Págs. 173 e 174.)

94. A 11 de maio de 1866 o Espírito do Dr. Cailleux disse ter, dias atrás, entrado numa espécie de torpor, após o que, conservando a consciência de si próprio, se viu transportado no espaço e encontrado vários Espíritos que haviam, em vida, adquirido celebridade pelas descobertas que fizeram. (Págs. 174 e 175.)

95. Na sessão seguinte, Dr. Cailleux informou que naquela oportunidade ele fora levado a um sono magnético-espiritual e, nesse estado, viu desdobrar-se o passado e as diferentes personalidades que seu Espírito havia animado, voltado sempre para os estudos e os trabalhos no âmbito da medicina. (Págs. 175 e 176.)

96. Comentando o assunto, Kardec observa: I – Há, como se vê, para os Espíritos uma espécie de sono, o que é um ponto de contato a mais entre o estado corporal e o espiritual. II – Se há Espíritos que se sentem fatigados e experimentam a necessidade do repouso, nada há de estranho em que se deitem e durmam. III – No sono dos encarnados, só o corpo repousa, mas o Espírito não dorme. IV – Segundo um dos membros da Sociedade de Paris, deve dar-se o mesmo no estado espiritual: o sono magnético ou o sono comum deve afetar apenas o perispírito, ficando o Espírito num estado análogo ao do Espírito encarnado durante o sono corporal, isto é, com perfeita consciência de seu ser. V – As diferentes encarnações do Dr. Cailleux puderam então apresentar-se a ele como lembrança, da mesma maneira que as imagens se oferecem nos sonhos. (N.R.: No livro “Nosso Lar”, cap. 36, André relata um sonho que ele teve com sua mãe, no qual afirma ter a certeza de que deixara o veículo inferior –  o corpo espiritual – no apartamento. A explicação do fato se encontra no estudo acerca do corpo mental, o envoltório sutil da mente, que André Luiz desenvolve no livro “Evolução em dois Mundos”, primeira parte, cap. II, pp. 25 e 26.) (Págs. 176 e 177.)

97. O Espírito do Dr. Demeure explica por que, quando alguma coisa é pressentida pelo povo, geralmente se diz que ela está no ar. Esse pressentimento geral à aproximação de algum acontecimento grave tem duas causas. A primeira vem das massas de Espíritos que incessantemente percorrem o espaço e têm o conhecimento das coisas que se preparam. Eles incessantemente roçam a humanidade e lhe comunicam seus pensamentos pelas correntes fluídicas que ligam o mundo corporal ao mundo espiritual. A segunda causa reside no desprendimento do Espírito encarnado, durante o repouso do corpo, ocasião em que ele conversa com outros Espíritos e se penetra de seus pensamentos. Como ele fica sabendo de certas coisas, não consegue explicar. Uns dirão que uma voz interior lhes falou, outros que tiveram uma visão reveladora. (Págs. 177 a 179.)

98. Na seção de poesias, a Revue  transcreve três poemas notáveis. O último, intitulado “A lagarta e a borboleta”, é uma fábula que retrata muito bem a atitude dos que negam a alma e a imortalidade. (Págs. 179 a 182.)

99. Três comunicações mediúnicas integram também o número de junho de 1866, das quais extraímos de forma resumida os ensinamentos que se seguem: I – Ao deixar a Terra, conforme as faculdades ali adquiridas, os Espíritos buscam o meio que lhes é próprio, a menos que, não podendo estar desprendidos, estejam na noite, nada vendo nem ouvindo. II – Quando se prepara para reencarnar, o Espírito submete suas ideias às decisões do grupo a que pertence. O grupo discute o assunto, pesquisa, aconselha. O Espírito pode, então, aconselhado, esclarecido, fortificado, seguir, se quiser, seu caminho, ciente de que terá na jornada terrena uma multidão de Espíritos invisíveis que não o perderão de vista e o assistirão. III – Algumas vezes Espíritos elevados passam a comunicar-se com menor frequência no grupo que assistem. Por que isso se dá? Duas são as causas para esse afastamento temporário, mas necessário. Primeiramente, é preciso dar ao grupo tempo para aplicar o que já lhe foi ensinado. Em segundo lugar, muitos dos conselheiros espirituais têm missões análogas junto a outros grupos, o que às vezes os impede de vir. IV – Cada pessoa tem no mundo uma missão a cumprir. Seja em grande escala, seja em escala menor, Deus pedirá a todos contas do óbolo que lhes foi entregue. V – Nesse sentido, o dever dos espíritas é muito grande, porque o dom que lhes foi concedido é um dos soberanos dons de Deus. Sem se envaidecer por isto, devem os espíritas fazer todos os esforços para merecê-lo. VI – Que ninguém reserve apenas para si esse talento, mas que o ofereça a todos os irmãos, trabalhando na seara espírita, sob a assistência dos Bons Espíritos, que jamais lhe faltará. VII – Instruir os ignorantes, assistir os fracos, ter compaixão dos aflitos, defender os inocentes, lamentar os que estão no erro, perdoar aos inimigos – eis as virtudes que devem crescer em abundância no caminho do verdadeiro espírita. (Págs. 182 a 188.)

100. O advento da obra “Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, é noticiado por Kardec, que fez sobre ela os seguintes reparos:  I – Seu autor tratou ali certas questões que ele (Kardec) não tinha julgado oportuno abordar ainda; por isso, até nova ordem, ele não daria às teorias nela contidas nem aprovação nem desaprovação, deixando ao tempo o trabalho de as sancionar ou as contraditar. II – Convém considerar, portanto, essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, as quais necessitam da sanção do controle universal e, até mais ampla confirmação, não podem ser consideradas como partes integrantes da doutrina espírita. III – Estas observações, subordinadas à sanção do futuro, em nada diminuem a importância da obra, que, ao lado de coisas duvidosas, encerra outras incontestavelmente boas e verdadeiras. IV – Kardec entendeu também que certas partes da obra foram desenvolvidas muito extensamente, sem proveito para a clareza. A seu ver, limitando-se ao estritamente necessário, ela poderia ter sido reduzida a dois, ou mesmo a um só volume, e teria ganho em popularidade . (Págs. 188 a 190.)

101. O número de junho traz como última informação o surgimento do jornal La Voce di Dio (A Voz de Deus), na Sicília, Itália, uma publicação consagrada exclusivamente ao ensino dos Espíritos. Kardec adverte, entretanto, que as comunicações mediúnicas só têm a ganhar quando puderem, conforme as circunstâncias e dentro do possível, ser acompanhadas de alguns comentários. (Págs. 190 e 191.)

102. A Revue  de julho de 1866 se inicia com um artigo de Kardec sobre a ideia de se criar uma caixa geral de socorro e outras instituições para os espíritas. No tocante à caixa geral de socorro, o codificador posiciona-se contra, dada a dispersão dos espíritas, então espalhados por muitos lugares, o que exigiria uma obra em alta escala, fato que  tornava a ideia impraticável. Era preciso, primeiro, ao Espiritismo adquirir as forças necessárias para então dar mais do que podia naquele momento. Longe de servir ao Espiritismo, afirmou Kardec, seria expô-lo à chacota dos adversários misturar o seu nome a coisas quiméricas. (Págs. 193 a 197.)

103. Em seguida, disse o codificador que entre os espíritas reais – os que constituem o verdadeiro corpo dos aderentes – há certas distinções a fazer. Em primeira linha há que colocar os adeptos de coração, animados de fé sincera, que compreendem o objetivo e o alcance da doutrina e para quem o lado moral não é simples teoria: esforçam-se por pregar pelo exemplo; não só têm a coragem de sua opinião, mas a consideram uma glória. (Pág. 198.) (Continua no próximo número.)

 


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