ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
8)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. No momento do sono
podemos reunir-nos a
outros companheiros
ainda encarnados?
Sim. Foi o que o
Espírito do Dr. Demeure
disse a Kardec ao
explicar-lhe um sonho
que o Codificador
tivera. O sonho fora, na
verdade, a imagem de uma
reunião havida entre
pessoas que ali
discutiam um assunto
relacionado com
invenções. O assunto
nenhuma relação tinha
com o Espiritismo: os
Espíritos quiseram
somente mostrar-lhe um
fato comum, que é o
encontro, no momento do
sono, de pessoas que se
dedicam na Terra a um
mesmo objetivo.
(Revue Spirite de 1866,
pp. 171 a 173.)
B. O acaso existe?
Não. Segundo explicação
dada pelo Espírito do
Dr. Demeure, as coisas
que nos parecem as mais
fortuitas têm sua razão
de ser, pois há
inumeráveis
inteligências ocultas
que presidem a todas as
partes do conjunto.
Chegado, por exemplo, o
momento de uma
descoberta, os elementos
são postos à luz por
essas mesmas
inteligências. “Não há
acaso: tudo é
inteligente na
natureza”, afirmou o
médico. (Obra citada,
pp. 173 e 174.)
C. Que virtudes devem
crescer no caminho do
espírita verdadeiro?
Instruir os ignorantes,
assistir os fracos, ter
compaixão dos aflitos,
defender os inocentes,
lamentar os que estão no
erro, perdoar aos
inimigos – eis as
virtudes que devem
crescer em abundância no
caminho do verdadeiro
espírita. (Obra
citada, pp. 187 e 188.)
Texto para leitura
91. Em uma sessão
espírita realizada na
casa de uma família
russa residente em
Paris, o Espírito de
Moki, por meio do Sr.
Desliens, afirmou que
mesmo na existência do
mais ínfimo dos seres
nada é deixado ao acaso:
os principais
acontecimentos de sua
vida são determinados
por sua provação; os
detalhes, influenciados
por seu livre-arbítrio.
Mas o conjunto da
situação foi previsto e
combinado
antecipadamente por ele
próprio e por aqueles
que Deus predispôs à sua
guarda. A escolha do
jovem Kommissaroff fora
uma recompensa à sua
atitude de devotamento
desinteressado. As
honrarias e a fortuna
que ele, em consequência
de seu gesto, recebeu do
czar, constituíam, no
entanto, não apenas um
prêmio, mas também uma
prova – prova que,
segundo Kardec, é cem
vezes mais perigosa que
as desgraças materiais,
às quais a gente se
resigna por força, ao
passo que é bem mais
difícil resistir às
tentações do orgulho e
da opulência. (Págs.
169 a 171.)
92. Durante uma doença
que enfrentou em abril
de 1866, Kardec teve um
sonho bem estranho.
Consultado por ele, o
Espírito do Dr. Demeure
fez a respeito do
assunto observações
muito interessantes,
adiante resumidas: I –
Há sonhos que resultam
do próprio sofrimento
experimentado pelos
enfermos. Todas as vezes
que há enfraquecimento
do corpo, há tendência
para o desprendimento do
Espírito; mas, quando o
corpo sofre, o
desprendimento não se
opera de maneira regular
e normal;
incessantemente o
Espírito é chamado a seu
posto; daí as
interrupções e misturas
que tornam confusas as
imagens e as lembranças.
II – O caráter do sonho
se liga, portanto, mais
do que se pensa, à
natureza da doença,
porque se o estado do
Espírito influi sobre a
saúde, o estado do corpo
reage sobre o Espírito.
III – O sonho de Kardec
fora, na verdade, a
imagem de uma reunião
havida entre pessoas que
ali discutiam um assunto
relacionado com
invenções. O assunto
nenhuma relação tinha
com o Espiritismo: os
Espíritos quiseram
somente mostrar-lhe um
fato comum, que é o
encontro, no momento do
sono, de pessoas que se
dedicam na Terra a um
mesmo objetivo.
(Págs. 171 a 173.)
93. Dr. Demeure
acrescentou que não
existem descobertas por
acaso. As coisas que nos
parecem as mais
fortuitas têm sua razão
de ser, pois há
inumeráveis
inteligências ocultas
que presidem a todas as
partes do conjunto.
Chegado, por exemplo, o
momento de uma
descoberta, os elementos
são postos à luz por
essas mesmas
inteligências. “Não”,
afirmou Demeure com toda
a ênfase. “Não há acaso:
tudo é inteligente na
natureza.” (Págs. 173
e 174.)
94. A 11 de maio de 1866
o Espírito do Dr.
Cailleux disse ter, dias
atrás, entrado numa
espécie de torpor, após
o que, conservando a
consciência de si
próprio, se viu
transportado no espaço e
encontrado vários
Espíritos que haviam, em
vida, adquirido
celebridade pelas
descobertas que fizeram.
(Págs. 174 e 175.)
95. Na sessão seguinte,
Dr. Cailleux informou
que naquela oportunidade
ele fora levado a um
sono
magnético-espiritual e,
nesse estado, viu
desdobrar-se o passado e
as diferentes
personalidades que seu
Espírito havia animado,
voltado sempre para os
estudos e os trabalhos
no âmbito da medicina.
(Págs. 175 e 176.)
96. Comentando o
assunto, Kardec observa:
I – Há, como se vê, para
os Espíritos uma espécie
de sono, o que é um
ponto de contato a mais
entre o estado corporal
e o espiritual. II – Se
há Espíritos que se
sentem fatigados e
experimentam a
necessidade do repouso,
nada há de estranho em
que se deitem e durmam.
III – No sono dos
encarnados, só o corpo
repousa, mas o Espírito
não dorme. IV – Segundo
um dos membros da
Sociedade de Paris, deve
dar-se o mesmo no estado
espiritual: o sono
magnético ou o sono
comum deve afetar apenas
o perispírito, ficando o
Espírito num estado
análogo ao do Espírito
encarnado durante o sono
corporal, isto é, com
perfeita consciência de
seu ser. V – As
diferentes encarnações
do Dr. Cailleux puderam
então apresentar-se a
ele como lembrança, da
mesma maneira que as
imagens se oferecem nos
sonhos. (N.R.: No
livro “Nosso Lar”, cap.
36, André relata um
sonho que ele teve com
sua mãe, no qual afirma
ter a certeza de que
deixara o veículo
inferior – o corpo
espiritual – no
apartamento. A
explicação do fato se
encontra no estudo
acerca do corpo
mental, o envoltório
sutil da mente, que
André Luiz desenvolve no
livro “Evolução em dois
Mundos”, primeira parte,
cap. II, pp. 25 e 26.)
(Págs. 176 e 177.)
97. O Espírito do Dr.
Demeure explica por que,
quando alguma coisa é
pressentida pelo povo,
geralmente se diz que
ela está no ar.
Esse pressentimento
geral à aproximação de
algum acontecimento
grave tem duas causas. A
primeira vem das massas
de Espíritos que
incessantemente
percorrem o espaço e têm
o conhecimento das
coisas que se preparam.
Eles incessantemente
roçam a humanidade e lhe
comunicam seus
pensamentos pelas
correntes fluídicas que
ligam o mundo corporal
ao mundo espiritual. A
segunda causa reside no
desprendimento do
Espírito encarnado,
durante o repouso do
corpo, ocasião em que
ele conversa com outros
Espíritos e se penetra
de seus pensamentos.
Como ele fica sabendo de
certas coisas, não
consegue explicar. Uns
dirão que uma voz
interior lhes falou,
outros que tiveram uma
visão reveladora.
(Págs. 177 a 179.)
98. Na seção de poesias,
a Revue
transcreve três poemas
notáveis. O último,
intitulado “A lagarta e
a borboleta”, é uma
fábula que retrata muito
bem a atitude dos que
negam a alma e a
imortalidade. (Págs.
179 a 182.)
99. Três comunicações
mediúnicas integram
também o número de junho
de 1866, das quais
extraímos de forma
resumida os ensinamentos
que se seguem: I – Ao
deixar a Terra, conforme
as faculdades ali
adquiridas, os Espíritos
buscam o meio que lhes é
próprio, a menos que,
não podendo estar
desprendidos, estejam na
noite, nada vendo nem
ouvindo. II – Quando se
prepara para reencarnar,
o Espírito submete suas
ideias às decisões do
grupo a que pertence. O
grupo discute o assunto,
pesquisa, aconselha. O
Espírito pode, então,
aconselhado,
esclarecido,
fortificado, seguir, se
quiser, seu caminho,
ciente de que terá na
jornada terrena uma
multidão de Espíritos
invisíveis que não o
perderão de vista e o
assistirão. III –
Algumas vezes Espíritos
elevados passam a
comunicar-se com menor
frequência no grupo que
assistem. Por que isso
se dá? Duas são as
causas para esse
afastamento temporário,
mas necessário.
Primeiramente, é preciso
dar ao grupo tempo para
aplicar o que já lhe foi
ensinado. Em segundo
lugar, muitos dos
conselheiros espirituais
têm missões análogas
junto a outros grupos, o
que às vezes os impede
de vir. IV – Cada pessoa
tem no mundo uma missão
a cumprir. Seja em
grande escala, seja em
escala menor, Deus
pedirá a todos contas do
óbolo que lhes foi
entregue. V – Nesse
sentido, o dever dos
espíritas é muito
grande, porque o dom que
lhes foi concedido é um
dos soberanos dons de
Deus. Sem se envaidecer
por isto, devem os
espíritas fazer todos os
esforços para merecê-lo.
VI – Que ninguém reserve
apenas para si esse
talento, mas que o
ofereça a todos os
irmãos, trabalhando na
seara espírita, sob a
assistência dos Bons
Espíritos, que jamais
lhe faltará. VII –
Instruir os ignorantes,
assistir os fracos, ter
compaixão dos aflitos,
defender os inocentes,
lamentar os que estão no
erro, perdoar aos
inimigos – eis as
virtudes que devem
crescer em abundância no
caminho do verdadeiro
espírita. (Págs. 182
a 188.)
100. O advento da obra
“Os Quatro
Evangelhos”, de J.
B. Roustaing, é
noticiado por Kardec,
que fez sobre ela os
seguintes reparos: I –
Seu autor tratou ali
certas questões que ele
(Kardec) não tinha
julgado oportuno abordar
ainda; por isso, até
nova ordem, ele não
daria às teorias nela
contidas nem aprovação
nem desaprovação,
deixando ao tempo o
trabalho de as sancionar
ou as contraditar. II –
Convém considerar,
portanto, essas
explicações como
opiniões pessoais dos
Espíritos que as
formularam, as quais
necessitam da sanção do
controle universal e,
até mais ampla
confirmação, não podem
ser consideradas como
partes integrantes da
doutrina espírita. III –
Estas observações,
subordinadas à sanção do
futuro, em nada diminuem
a importância da obra,
que, ao lado de coisas
duvidosas, encerra
outras
incontestavelmente boas
e verdadeiras. IV –
Kardec entendeu também
que certas partes da
obra foram desenvolvidas
muito extensamente, sem
proveito para a clareza.
A seu ver, limitando-se
ao estritamente
necessário, ela poderia
ter sido reduzida a
dois, ou mesmo a um só
volume, e teria ganho em
popularidade . (Págs.
188 a 190.)
101. O número de junho
traz como última
informação o surgimento
do jornal La Voce di
Dio (A Voz de Deus),
na Sicília, Itália, uma
publicação consagrada
exclusivamente ao ensino
dos Espíritos. Kardec
adverte, entretanto, que
as comunicações
mediúnicas só têm a
ganhar quando puderem,
conforme as
circunstâncias e dentro
do possível, ser
acompanhadas de alguns
comentários. (Págs.
190 e 191.)
102. A Revue de
julho de 1866 se inicia
com um artigo de Kardec
sobre a ideia de se
criar uma caixa geral de
socorro e outras
instituições para os
espíritas. No tocante à
caixa geral de socorro,
o codificador
posiciona-se contra,
dada a dispersão dos
espíritas, então
espalhados por muitos
lugares, o que exigiria
uma obra em alta escala,
fato que tornava a
ideia impraticável. Era
preciso, primeiro, ao
Espiritismo adquirir as
forças necessárias para
então dar mais do que
podia naquele momento.
Longe de servir ao
Espiritismo, afirmou
Kardec, seria expô-lo à
chacota dos adversários
misturar o seu nome a
coisas quiméricas.
(Págs. 193 a 197.)
103. Em seguida, disse o
codificador que entre os
espíritas reais – os que
constituem o verdadeiro
corpo dos aderentes – há
certas distinções a
fazer. Em primeira linha
há que colocar os
adeptos de coração,
animados de fé sincera,
que compreendem o
objetivo e o alcance da
doutrina e para quem o
lado moral não é simples
teoria: esforçam-se por
pregar pelo exemplo; não
só têm a coragem de sua
opinião, mas a
consideram uma glória.
(Pág. 198.)
(Continua no próximo
número.)