Na jaula da carne
Galdino Pereira de
Castro
Fora em prisca
existência o gênio da
batalha,
Era o saque, o terror e
a morte em casa
alheia...
Agora, reencarnado, em
vão ruge, guerreia,
Ataca, deblatera,
apedreja, retalha.
Obsesso infeliz,
estrídulo gargalha;
De outras vezes, a sós,
anárquico, pranteia.
Traz o cérebro em chama
– incendida cadeia -,
A ocultar-se na sombra e
a surgir sobre a palha.
“Louco!” – proclama a
terra. Ele blasfema e
chora,
Contempla, estarrecido,
as vítimas de outrora,
Réu da própria
consciência em hórrida
clausura...
Guarda a soma integral
das culpas de outras
vidas,
Mas, no hospício do
mundo, em convulsões
doridas,
Ele é tido por monstro
em longa noite escura.
Galdino de Castro nasceu
em Salvador, Bahia, em
18 de abril de 1882 e
faleceu em S. Paulo, em
23 de agosto de 1939.
Destacado poeta do grupo
da Nova Cruzada e
jornalista precoce,
formou-se em Medicina e,
depois de desistir do
curso jurídico, foi
clínico e político.
Colaborou em vários
periódicos da Bahia,
fundando alguns até
mesmo nos tempos
colegiais. Dedicou-se ao
magistério anos antes de
transferir-se para S.
Paulo, depois de
abandonar a literatura.
O soneto acima faz parte
do livro Antologia
dos Imortais, obra
psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.