ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
11)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Que reação teve Maomé
ante a visão do anjo
Gabriel?
Inicialmente, Maomé
ficou profundamente
perturbado com sua visão
e, tendo voltado ao
monte Hira, presa da
mais viva agitação,
julgou-se possuído por
Espíritos malignos. Ele
ia, então, precipitar-se
do alto de um rochedo
quando uma voz se fez
ouvir: - “Ó Maomé! tu és
enviado de Deus; eu sou
o anjo Gabriel!” Então,
levantando os olhos, viu
o anjo sob forma humana,
que desapareceu pouco a
pouco no horizonte. Essa
nova visão aumentou-lhe
a perturbação, embora a
esposa se esforçasse por
acalmá-lo. Varaka, primo
dela, velho afamado por
sua sabedoria e converso
ao Cristianismo, lhe
disse: “Se o que acabas
de dizer é verdade, teu
marido foi visitado pelo
grande Nâmous,
que outrora visitou
Moisés; ele será profeta
deste povo”.
(Revue Spirite de 1866,
pp. 232 e 233.)
B. Quando se iniciaram
as pregações públicas de
Maomé?
Aos 43 anos de idade ele
começou a pregar
publicamente. Até então
as prédicas de Maomé
foram secretas, o que
durou dois anos, quando
ele se ligou a cerca de
50 adeptos, entre
membros de sua família e
amigos. Tachado de louco
e, depois, acusado de
sacrilégio, foi
perseguido pelos
adversários, aos quais
opunha a calma, o
sangue-frio e a
moderação. Como sua
seita crescia, seus
adversários, não podendo
reduzi-la pela força,
resolveram
desacreditá-la pela
calúnia. Como ele
resistisse a tudo, seus
inimigos recorreram, por
fim, aos conluios para o
matar, e ele só escapou
fugindo. Foi então que
se refugiou em Medina em
622, e é desta época que
data a Hégira, ou era
dos muçulmanos.
(Obra citada, pp. 234 e
235.)
C. Uma criança pode, ao
desencarnar, tornar-se
guia de sua mãe?
Sim. Foi esse pelo menos
o caso de uma criança de
sete anos que, ao
desencarnar, tornou-se
guia espiritual de sua
mãe. Numa mensagem
mediúnica, transcrita
pela Revue, o
próprio Espírito da
criança disse que o
primeiro anjo de guarda
de sua mãe permaneceu
nessa tarefa até que ele
o substituísse.
(Obra citada, pp. 244 e
245.)
Texto para leitura
131. Maomé ficou
profundamente perturbado
em sua visão e, tendo
voltado ao monte Hira,
presa da mais viva
agitação, julgou-se
possuído por Espíritos
malignos e ia
precipitar-se do alto de
um rochedo quando uma
voz se fez ouvir: “Ó
Maomé! tu és enviado de
Deus; eu sou o anjo
Gabriel!” Então,
levantando os olhos, viu
o anjo sob forma humana,
que desapareceu pouco a
pouco no horizonte. Essa
nova visão aumentou-lhe
a perturbação, embora a
esposa se esforçasse por
acalmá-lo. Varaka, primo
dela, velho afamado por
sua sabedoria e converso
ao Cristianismo, lhe
disse: “Se o que acabas
de dizer é verdade, teu
marido foi visitado pelo
grande Nâmous,
que outrora visitou
Moisés; ele será profeta
deste povo”. (Pág.
232 e 233.)
132. A missão de Maomé
não foi, pois, um
cálculo premeditado de
sua parte, porque ele
mesmo só se convenceu
depois de nova aparição
do anjo. Nesse período,
ele era sujeito a
desfalecimentos e
síncopes. O Alcorão não
é uma obra escrita por
Maomé com a cabeça fria
e de maneira continuada,
mas o registro feito por
seus amigos das palavras
que pronunciava quando
inspirado. Nesses
momentos, ele caía num
estado extraordinário e
apavorante; o suor
corria-lhe da fronte; os
olhos tornavam-se
vermelhos; ele soltava
gemidos e a crise
terminava geralmente por
uma síncope que durava
mais ou menos tempo,
estando ele em casa,
montado em seu camelo ou
em meio à multidão. “A
inspiração”, diz Kardec,
“era irregular e
instantânea, e ele não
podia prever o momento
em que seria tomado.”(Pág.
233.)
133. Mais tarde, quando
tomou a sério seu papel
de reformador, Maomé
falava mais com
conhecimento de causa e
misturava às inspirações
o produto de seus
próprios pensamentos,
conforme os lugares e as
circunstâncias,
acreditando, talvez de
boa-fé, falar em nome de
Deus. (Págs. 233 e
234.)
134. Esses fragmentos
destacados e recolhidos
em diversas épocas, em
número de 114, formam no
Alcorão as suratas ou
capítulos. Esparsos
durante sua vida, foram
reunidos após sua morte
num corpo oficial de
doutrina, pelos cuidados
de Abu-Becr e de Omar.
Os mais diferentes
assuntos são aí
tratados, e apresentam
uma tal confusão e tão
numerosas repetições,
que uma leitura seguida
é penosa e fastidiosa
para quem quer que não
seja um fiel. (Pág.
234.)
135. Segundo a crença
vulgar, tornada artigo
de fé, as páginas do
Alcorão foram escritas
no céu e trazidas
prontas a Maomé pelo
anjo Gabriel. (Pág.
234.)
136. As primeiras
prédicas de Maomé foram
secretas durante os
primeiros dois anos, em
que ele se ligou a cerca
de 50 adeptos, entre
membros de sua família e
amigos. Aos 43 anos
começou a pregar
publicamente,
realizando-se dessa
forma a predição feita
por Varaka. Fundada na
unidade de Deus e na
reforma de certos
abusos, como a
idolatria, sua religião
foi repelida pelos
Coraychitas, guardas da
Caaba e do culto
nacional. A princípio o
tacharam de louco;
depois o acusaram de
sacrilégio. Amotinando o
povo, perseguiram-no e
com tal violência que,
por duas vezes, seus
partidários tiveram de
buscar refúgio na
Abissínia. (Pág.
234.)
137. Maomé, no entanto,
opunha aos ultrajes a
calma, o sangue-frio e a
moderação. Como sua
seita crescia, seus
adversários, não podendo
reduzi-la pela força,
resolveram
desacreditá-la pela
calúnia. Como ele
resistisse a tudo, seus
inimigos recorreram, por
fim, aos conluios para o
matar, e ele só escapou
fugindo. Foi então que
se refugiou em Medina em
622, e é desta época que
data a Hégira, ou era
dos muçulmanos. Uma nova
fase iniciou-se então em
sua vida, porquanto de
simples profeta que era
foi constrangido a
tornar-se guerreiro.
(Págs. 234 e 235.)
138. A Revue
transcreve parte da obra
Os Profetas do
Passado, escrita
pelo Sr. Barbey
d’Aurévilly, que lamenta
no livro não ter a
Inquisição queimado, não
os escritos, mas o corpo
de Lutero. Se isto
houvesse ocorrido, “o
mundo estaria salvo pelo
menos por um século”,
escreveu o Sr.
d’Aurévilly. (Págs.
235 e 236.)
139. Kardec tece a
respeito várias
considerações e mostra a
inutilidade dos crimes
cometidos pela Igreja,
porque foram
precisamente esses
abusos que geraram as
reformas que a
Inquisição tanto desejou
conter. A morte de
Lutero não deteria o
movimento de que foi ele
o instigador, porque as
ideias novas germinam,
fervem em muitas cabeças
e é por isso que
encontram eco na
sociedade. Se os
reformadores só
exprimissem as suas
ideias pessoais, não
reformariam
absolutamente nada.
(Págs. 236 a 238.)
140. No caso da reforma,
sabe-se que Lutero não
foi o primeiro nem o
único a propô-la, pois
houve antes dele
inúmeros apóstolos da
ideia, como Wicklef,
João Huss e Jerônimo de
Praga, os dois últimos
levados à fogueira por
ordem do concílio de
Constança. Os homens
foram, sim, destruídos,
mas não suas ideias,
retomadas mais tarde e
modificadas em alguns
detalhes por Lutero,
Calvino e outros.
Conclui-se, portanto,
que a morte de Lutero em
nada prejudicaria o
movimento, porque
outros, sem nenhuma
dúvida, o levariam até o
fim. (Pág. 238.)
141. Kardec comenta as
chamadas visões da
senhora Cantianille,
relatadas pelo padre
Thorey, vigário da
catedral de Sens, no
livro intitulado
Relações maravilhosas da
senhora Cantianille com
o mundo sobrenatural.
No correr da obra,
Cantianille revela como
se tornou membro e
presidente de uma
sociedade de Espíritos
em 1840, durante sua
passagem por um convento
católico, mas Kardec
considera suas visões
puramente fantásticas,
visto que a alma não
pode ver o que não
existe. (Págs. 239 a
242.)
142. Na sequência,
Kardec reporta-se às
criações fluídicas e
seus princípios e refere
vários casos de
aparições em que os
Espíritos portavam
objetos diversos.
Assevera o codificador:
I) No mundo invisível
tudo é, se assim podemos
dizer, matéria
intangível, isto é,
intangível para nós
encarnados, mas tangível
para os seres desse
mundo. II) Tudo é
fluídico nesse mundo, e
as coisas fluídicas são
aí reais. III) O
pensamento é capaz de
impor modificações ao
elemento fluídico,
modelando-o à vontade,
como os homens,
modelando a argila,
podem fazer uma estátua.
IV) A rainha de Oude,
embora desencarnada, se
via com suas joias. Para
isto bastava-lhe um ato
do pensamento, sem que,
o mais das vezes, se
desse conta da maneira
como a coisa se opera.
V) Nos seus momentos de
emancipação, a alma
encarnada pode, de igual
forma, produzir efeitos
análogos. Pode estar aí
a causa das visões
fantásticas. Estando o
Espírito fortemente
imbuído de uma ideia,
seu pensamento pode
criar uma imagem
fluídica que a espelhe,
a qual terá para ele
todas as aparências da
realidade, tão bem
quanto o dinheiro que
Pierre Legay pensava
manipular na vida
espiritual, embora
estivesse desencarnado.
(Págs. 242 a 244.)
143. Podem colocar-se na
mesma categoria as
visões da irmã Elmerick,
que dizia ter visto
todas as cenas da Paixão
do Cristo e encontrado o
cálice no qual Jesus
bebera. Ela
provavelmente tenha
visto esse e outros
objetos que descreveu,
mas pelos olhos da alma,
e certamente uma imagem
fluídica deles, criada
por seu pensamento.
(Pág. 244.)
144. Pode uma criança de
sete anos, ao
desencarnar, tornar-se
guia espiritual de sua
mãe? Sim; pelo menos é o
que informa mensagem
mediúnica, transcrita
pela Revue, na
qual o próprio Espírito
da criança informa que o
primeiro anjo de guarda
de sua mãe permaneceu
nessa tarefa até que ele
o substituísse.
(Págs. 244 e 245.)
145. Por que as mães que
choram com a ausência de
seus filhos
desencarnados não
conseguem comunicar-se
com eles, mesmo em
sonho? Kardec explica
que, além da falta de
aptidão especial, que
não é concedida a todos,
há por vezes motivos que
só a Providência
conhece. Nas pessoas de
caráter fraco, essas
comunicações reavivam a
dor, em vez de a
acalmar. Para outras
pessoas, o impedimento
constitui muitas vezes
uma prova para a fé e a
perseverança. As mesmas
razões ocorrem no que
concerne aos sonhos,
embora aí, muitas vezes,
a pessoa apenas não
guarde a lembrança de um
encontro ocorrido.
(Págs. 246 e 247.)
(Continua no próximo
número.)