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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 4 - N° 169 - 1º de Agosto de 2010

KATIA FABIANA FERNANDES
kffernandes@hotmail.com
Londres, Inglaterra (Reino Unido)

 

Vera Lúcia Borges Palmgren: 

“O Espiritismo é um bálsamo que consola as nossas dores”
 

Radicada há dez anos na Dinamarca, a confreira brasileira
conta como vai o movimento espírita e como
o Espiritismo é visto no referido país

 

O interesse em ter uma experiência de vida diferente levou a advogada brasileira Vera Palmgren (foto) a mudar-se para Copenhague, capital da Dinamarca, fato que se deu há 10 anos. Nesta entrevista, ela nos fala sobre essa experiência e diz como está o movimento espírita no país em que mora e como o Espiritismo é visto pela população local. 

O Consolador: Quando você teve o primeiro contacto com o Espiritismo


Creio que o despertar para o Espiritismo ocorreu na adolescência, embora o interesse estivesse intrínseco por influência materna.
 

O Consolador: Houve algum fato ou circunstância especial que haja propiciado esse contacto? 

O contacto com o mundo espiritual ocorre através do descanso físico noturno (sonhos) e a lembrança dos fatos vividos durante o desdobramento. Com a morte de um ente familiar próximo, esse contacto ficou intensificado.

O Consolador: Qual foi a reação de sua família?  

A família simplesmente intensificou o interesse pelo Espiritismo. E passei a apoiá-la melhor, diante dos esclarecimentos recebidos através da leitura dos livros da doutrina espírita.

O Consolador: Que cargos ou funções você já exerceu no Movimento Espírita?  

De trabalhador - médium passista - em nossa casa espírita a presidente. 

O Consolador: Dos três aspectos do Espiritismo - ciência, filosofia, religião - qual mais a atrai? 

Ciência e filosofia. 

O Consolador: Que livros espíritas você sugere aos iniciantes na doutrina? 

Violetas na Janela foi um dos livros que me trouxe consolo no momento da perda de um ente querido. É um livro de leitura simples, mas com imenso carinho escrito por uma adolescente adorável. E depois, é claro, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e toda a série de André Luiz... Difícil nominar todos, afinal, vai do interesse de cada um. 

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você o Espiritismo é uma religião?     

Sem dúvida! O Espiritismo é uma das formas de se acreditar que há algo mais que a simples vida terrena e, mais, que há um ser glorioso responsável por tudo o que nos rodeia. Mas, além de religião, é também filosofia e ciência. E é por isso que cresce a cada dia. A comunhão dessas três áreas faz com que os argumentos sejam incontestáveis. 

O Consolador: Outro assunto em que a prática espírita às vezes diverge está relacionado com os chamados passes padronizados. Qual a sua opinião a respeito? 

Partindo do pressuposto que os médiuns passistas são igualmente “intermediários” da energia recebida pelos Espíritos, para se atingir o resultado buscado é necessário a crença do médium e do paciente, bem como o merecimento. A questão do conhecimento sobre os chacras é um plus em termos de aplicação do passe, mas não um pré-requisito. Como médium passista faço a imposição das mãos, apesar de já ter tido conhecimento de como identificar os chacras e sentir a energia bloqueada em alguns órgãos. Cada médium passista tem a liberdade de escolher a maneira que melhor lhe convém para a aplicação do passe, partindo do fundamento básico da imposição das mãos.

O Consolador: Como vê a discussão em torno do aborto?

O aborto é legalmente aceito na Dinamarca até 12 semanas e até 16 semanas em casos especiais. Em minha opinião a discussão enfoca o resultado de um ato e não a sua causa.  Sempre me recusei a criticar a mãe que decide fazer o aborto, porque para se criticar é preciso estar na mesma situação.  E imagino que essa mãe guardará para sempre a marca dessa decisão. Acredito mais na descoberta da causa do problema e, por isso, a prevenção de uma gravidez indesejada deveria ser o enfoque maior das campanhas publicitárias. Os pais deveriam ser mais conscientes e realistas em relação a seus filhos adolescentes e o ingresso na vida sexual - cada vez mais cedo -, e enfrentar o assunto com serena conversa familiar. A Igreja e os demais segmentos da sociedade deveriam deixar o puritanismo decadente de lado e investir mais na informação, preferencialmente nas comunidades de baixa renda.

O Consolador: Você tem contato com o movimento espírita brasileiro? Considera-o atuante, ou falta nele algo que favoreça uma melhor divulgação da doutrina? 

O meu contacto é através dos e-mails recebidos de amigos e familiares, bem como o acesso via internet aos diferentes sites dos centros espíritas kardecistas. Não tenho a menor dúvida de que o Brasil é um dos países que mais atua na divulgação do Espiritismo em nível mundial, seja pelos livros publicados e traduzidos em diversos idiomas, seja pelos palestrantes que viajam por inúmeros países levando o conhecimento da doutrina espírita. 

O Consolador: Como se desenvolve o Movimento Espírita na Dinamarca? 

Há na Dinamarca diversos grupos espiritualistas, mas somente dois baseados na doutrina codificada por Allan Kardec. A doutrina vem sendo difundida aqui de acordo com a possibilidade dos dois grupos, a qual é limitada pelo idioma, eis que ainda não há tradução para o dinamarquês dos livros da doutrina até o momento. O Livro dos Espíritos está sendo redigitado do dinamarquês antigo para o moderno e poderá estar disponível em aproximadamente um ano e meio. Quando ocorrem eventos da pintura mediúnica ou palestras, há tradução simultânea, o que seria impraticável para as reuniões semanais de pouco mais de uma hora de duração.

O Consolador: Como e quando surgiu o Movimento Espírita no País?

Só posso falar relativamente ao tempo em que estou na Dinamarca. Em 2002 tomei conhecimento do GEEAK-DK (www.geeak.dk) fundado pelos brasileiros Silas Villas-Boas e Raul Zandavalle Filho, ao qual estou vinculada. Depois surgiu a LIFE (www.life.dk), fundada por Rubens Casoto, Malu Martins e Danielly Manso.  

O Consolador: Como é a aceitação das pessoas com relação à Doutrina? 

Quando da realização das palestras ou do evento da pintura mediúnica, sempre acompanhada de uma explanação sobre a vida do médium e sobre os princípios da doutrina, o público espectador já pertence a uma parte mais alternativa da sociedade, aberta a conhecimentos espiritualistas. Esses eventos despertam a curiosidade na maioria dessas pessoas, o que já é um começo para se questionar sobre a existência de algo mais que a vida na Terra, bem como sobre a vida após a morte.                                          

O Consolador: Há dificuldades em se desenvolver o trabalho espírita fora do Brasil? Se sim, quais são elas? 

O atendimento fraterno é de acesso a todos os frequentadores do grupo e dos conhecidos, quando solicitado, embora não haja tanto a procura disso. A visita aos asilos é uma atividade-projeto do LIFE. Sob o enfoque econômico, a dificuldade reside justamente no equívoco de se querer desenvolver o trabalho na Dinamarca como feito no Brasil. As salas precisam ser pagas; logo os membros do grupo necessitam contribuir com as despesas e muitas vezes o grupo não possui caixa suficiente para realizar um evento, o que faz com que o evento não possa ser gratuito para o público. Assim, sendo um país cujo respeito à vida privada tem suma importância no conceito social, a abertura para a busca de apoio espiritual não é atitude de todo aceita.  

O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar no Brasil e no mundo? E como podemos ajudar para sua redução?

O que causa a violência e a criminalidade é a marginalização de um povo diante da sua falta de acesso à educação e à informação. A partir do momento em que as escolas com qualidade forem de acesso a todos, essa realidade será modificada. No Brasil, a atuação dos trabalhadores espíritas poderá dirigir-se para o objetivo de se ter instaladas escolas de ensino básico nas comunidades carentes através de contactos com os políticos locais e campanhas de esclarecimento da população para que use o direito do voto na eleição de políticos que atendam realmente às necessidades locais de educação. Nos países onde a educação não é o problema, a intolerância e o desrespeito pela escolha da religião tornam os conflitos sociais cada vez mais fora de controle dos governantes. Aqui a intermediação baseada nos princípios da doutrina espírita seria de grande ajuda.

O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena tem enfrentado, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem o movimento espírita no mundo? 

O enfoque no respeito ao próximo e às diferenças existentes através do diálogo. É a falta de tolerância de um modo geral que cria situações de revolta na sociedade. Precisamos de mais pessoas com o dom da palavra, do diálogo e da intermediação fundamentados no amor.

O Consolador: O que é o Espiritismo para você e qual é a importância que ele tem em sua vida? 

O Espiritismo para mim é o despertar para a vida, é o saber do porquê de tudo. Sua importância reside no fato de ter traduzidas as situações e os percalços da vida de uma maneira a melhor aceitar os desafios. Tudo tem seu porquê, e em algum momento o entenderemos. Assim, o Espiritismo é um bálsamo consolador de nossas dores, através do qual os problemas se tornam mais compreensíveis e contribuem para acrescentar mais um passo na escalada de nosso desenvolvimento espiritual.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita