Vera Lúcia
Borges Palmgren:
“O Espiritismo é
um bálsamo que
consola as
nossas dores”
Radicada há dez
anos na
Dinamarca, a
confreira
brasileira
conta
como vai o
movimento
espírita e como
o Espiritismo é
visto no
referido país
|
O interesse em
ter uma
experiência de
vida diferente
levou a advogada
brasileira Vera Palmgren
(foto) a
mudar-se para
Copenhague,
capital da
Dinamarca, fato
que se deu há 10
anos. Nesta
entrevista, ela
nos fala sobre
essa experiência
e diz como está
o movimento
espírita no país
em que mora e
como o
Espiritismo é
visto pela
população local.
O Consolador:
Quando você teve
o primeiro
contacto com o
Espiritismo |
Creio que o
despertar para o
Espiritismo
ocorreu na
adolescência,
embora o
interesse
estivesse
intrínseco por
influência
materna. |
O Consolador:
Houve algum fato
ou circunstância
especial que
haja propiciado
esse contacto?
O contacto com o
mundo espiritual
ocorre através
do descanso
físico noturno
(sonhos) e a
lembrança dos
fatos vividos
durante o
desdobramento.
Com a morte de
um ente familiar
próximo, esse
contacto ficou
intensificado.
O
Consolador:
Qual foi a
reação de sua
família?
A família
simplesmente
intensificou o
interesse pelo
Espiritismo. E
passei a
apoiá-la melhor,
diante dos
esclarecimentos
recebidos
através da
leitura dos
livros da
doutrina
espírita.
O
Consolador:
Que cargos ou
funções você já
exerceu no
Movimento
Espírita?
De trabalhador -
médium passista
- em nossa casa
espírita a
presidente.
O Consolador:
Dos três
aspectos do
Espiritismo -
ciência,
filosofia,
religião - qual
mais a atrai?
Ciência e
filosofia.
O Consolador:
Que livros
espíritas você
sugere aos
iniciantes na
doutrina?
Violetas na
Janela
foi um dos
livros que me
trouxe consolo
no momento da
perda de um ente
querido. É um
livro de leitura
simples,
mas com
imenso carinho
escrito por uma
adolescente
adorável. E
depois, é claro,
O Evangelho
segundo o
Espiritismo, O
Livro dos
Espíritos, O
Livro dos
Médiuns e toda a
série de André
Luiz... Difícil
nominar todos,
afinal, vai do
interesse de
cada um.
O Consolador:
As divergências
doutrinárias em
nosso meio
reduzem-se a
poucos assuntos.
Um deles diz
respeito ao
chamado
Espiritismo
laico. Para você
o Espiritismo é
uma religião?
Sem dúvida! O
Espiritismo é
uma das formas
de se acreditar
que há algo mais
que a simples
vida terrena e,
mais, que há um
ser glorioso
responsável por
tudo o que nos
rodeia. Mas,
além de
religião, é
também filosofia
e ciência. E é
por isso que
cresce a cada
dia. A comunhão
dessas três
áreas faz com
que os
argumentos sejam
incontestáveis.
O Consolador:
Outro assunto em
que a prática
espírita às
vezes diverge
está relacionado
com os chamados
passes
padronizados.
Qual a sua
opinião a
respeito?
Partindo do
pressuposto que
os médiuns
passistas são
igualmente
“intermediários”
da energia
recebida pelos
Espíritos, para
se atingir o
resultado
buscado é
necessário a
crença do médium
e do paciente,
bem como o
merecimento. A
questão do
conhecimento
sobre os chacras
é um plus
em termos de
aplicação do
passe, mas não
um
pré-requisito.
Como médium
passista faço a
imposição das
mãos, apesar de
já ter tido
conhecimento de
como identificar
os chacras e
sentir a energia
bloqueada em
alguns órgãos.
Cada médium
passista tem a
liberdade de
escolher a
maneira que
melhor lhe
convém para a
aplicação do
passe, partindo
do fundamento
básico da
imposição das
mãos.
O
Consolador:
Como vê a
discussão em
torno do aborto?
O
aborto é
legalmente
aceito na
Dinamarca até 12
semanas e até 16
semanas em casos
especiais. Em
minha opinião a
discussão enfoca
o resultado de
um ato e não a
sua causa.
Sempre me
recusei a
criticar a mãe
que decide fazer
o aborto, porque
para se criticar
é preciso estar
na mesma
situação. E
imagino que essa
mãe guardará
para sempre a
marca dessa
decisão.
Acredito mais na
descoberta da
causa do
problema e, por
isso, a
prevenção de uma
gravidez
indesejada
deveria ser o
enfoque maior
das campanhas
publicitárias.
Os pais deveriam
ser mais
conscientes e
realistas em
relação a seus
filhos
adolescentes e o
ingresso na vida
sexual - cada
vez mais cedo -,
e enfrentar o
assunto com
serena conversa
familiar. A
Igreja e os
demais segmentos
da sociedade
deveriam deixar
o puritanismo
decadente de
lado e investir
mais na
informação,
preferencialmente
nas comunidades
de baixa renda.
O
Consolador:
Você tem contato
com o movimento
espírita
brasileiro?
Considera-o
atuante, ou
falta nele algo
que favoreça uma
melhor
divulgação da
doutrina?
O meu contacto é
através dos
e-mails
recebidos de
amigos e
familiares, bem
como o acesso
via internet aos
diferentes sites
dos centros
espíritas
kardecistas. Não
tenho a menor
dúvida de que o
Brasil é um dos
países que mais
atua na
divulgação do
Espiritismo em
nível mundial,
seja pelos
livros
publicados e
traduzidos em
diversos
idiomas, seja
pelos
palestrantes que
viajam por
inúmeros países
levando o
conhecimento da
doutrina
espírita.
O Consolador:
Como se
desenvolve o
Movimento
Espírita na
Dinamarca?
Há na Dinamarca
diversos grupos
espiritualistas,
mas somente dois
baseados na
doutrina
codificada por
Allan Kardec. A
doutrina vem
sendo difundida
aqui de acordo
com a
possibilidade
dos dois grupos,
a qual é
limitada pelo
idioma, eis que
ainda não há
tradução para o
dinamarquês dos
livros da
doutrina até o
momento. O Livro
dos Espíritos
está sendo
redigitado do
dinamarquês
antigo para o
moderno e poderá
estar disponível
em
aproximadamente
um ano e meio.
Quando ocorrem
eventos da
pintura
mediúnica ou
palestras, há
tradução
simultânea, o
que seria
impraticável
para as reuniões
semanais de
pouco mais de
uma hora de
duração.
O
Consolador:
Como e quando
surgiu o
Movimento
Espírita no
País?
Só posso falar
relativamente ao
tempo em que
estou na
Dinamarca. Em
2002 tomei
conhecimento do
GEEAK-DK (www.geeak.dk)
fundado pelos
brasileiros
Silas
Villas-Boas e
Raul Zandavalle
Filho, ao qual
estou vinculada.
Depois surgiu a
LIFE (www.life.dk),
fundada por
Rubens Casoto,
Malu Martins e
Danielly Manso.
O Consolador:
Como é a
aceitação das
pessoas com
relação à
Doutrina?
Quando da
realização das
palestras ou do
evento da
pintura
mediúnica,
sempre
acompanhada de
uma explanação
sobre a vida do
médium e sobre
os princípios da
doutrina, o
público
espectador já
pertence a uma
parte mais
alternativa da
sociedade,
aberta a
conhecimentos
espiritualistas.
Esses eventos
despertam a
curiosidade na
maioria dessas
pessoas, o que
já é um começo
para se
questionar sobre
a existência de
algo mais que a
vida na Terra,
bem como sobre a
vida após a
morte.
O Consolador:
Há
dificuldades em
se desenvolver o
trabalho
espírita fora do
Brasil? Se sim,
quais são elas?
O atendimento
fraterno é de
acesso a todos
os
frequentadores
do grupo e dos
conhecidos,
quando
solicitado,
embora não haja
tanto a procura
disso. A visita
aos asilos é uma
atividade-projeto
do LIFE. Sob o
enfoque
econômico, a
dificuldade
reside
justamente no
equívoco de se
querer
desenvolver o
trabalho na
Dinamarca como
feito no Brasil.
As salas
precisam ser
pagas; logo os
membros do grupo
necessitam
contribuir com
as despesas e
muitas vezes o
grupo não possui
caixa suficiente
para realizar um
evento, o que
faz com que o
evento não possa
ser gratuito
para o público.
Assim, sendo um
país cujo
respeito à vida
privada tem suma
importância no
conceito social,
a abertura para
a busca de apoio
espiritual não é
atitude de todo
aceita.
O
Consolador:
Como você vê
o nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
no Brasil e no
mundo? E como
podemos ajudar
para sua
redução?
O
que causa a
violência e a
criminalidade é
a marginalização
de um povo
diante da sua
falta de acesso
à educação e à
informação. A
partir do
momento em que
as escolas com
qualidade forem
de acesso a
todos, essa
realidade será
modificada. No
Brasil, a
atuação dos
trabalhadores
espíritas poderá
dirigir-se para
o objetivo de se
ter instaladas
escolas de
ensino básico
nas comunidades
carentes através
de contactos com
os políticos
locais e
campanhas de
esclarecimento
da população
para que use o
direito do voto
na eleição de
políticos que
atendam
realmente às
necessidades
locais de
educação. Nos
países onde a
educação não é o
problema, a
intolerância e o
desrespeito pela
escolha da
religião tornam
os conflitos
sociais cada vez
mais fora de
controle dos
governantes.
Aqui a
intermediação
baseada nos
princípios da
doutrina
espírita seria
de grande ajuda.
O
Consolador:
Em face dos
problemas que a
sociedade
terrena tem
enfrentado, qual
deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem o
movimento
espírita no
mundo?
O enfoque no
respeito ao
próximo e às
diferenças
existentes
através do
diálogo. É a
falta de
tolerância de um
modo geral que
cria situações
de revolta na
sociedade.
Precisamos de
mais pessoas com
o dom da
palavra, do
diálogo e da
intermediação
fundamentados no
amor.
O
Consolador:
O que é o
Espiritismo para
você e qual é a
importância que
ele tem em sua
vida?
O Espiritismo
para mim é o
despertar para a
vida, é o saber
do porquê de
tudo. Sua
importância
reside no fato
de ter
traduzidas as
situações e os
percalços da
vida de uma
maneira a melhor
aceitar os
desafios. Tudo
tem seu porquê,
e em algum
momento o
entenderemos.
Assim, o
Espiritismo é um
bálsamo
consolador de
nossas dores,
através do qual
os problemas se
tornam mais
compreensíveis e
contribuem para
acrescentar mais
um passo na
escalada de
nosso
desenvolvimento
espiritual.