ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
13)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. A mediunidade de
vidência é fato comum
nas crianças?
Sim. Segundo Kardec, a
mediunidade de vidência
é muito comum nas
crianças, e isto é
providencial. “Ao sair
da vida espiritual”,
explica o codificador,
“os guias da criança
acabam de a conduzir ao
porto de desembarque
para o mundo terreno,
como vêm buscá-la em seu
retorno. A elas se
mostram nos primeiros
tempos, para que não
haja transição muito
brusca; depois se apagam
pouco a pouco, à medida
que a criança cresce e
pode agir em virtude de
seu livre arbítrio.”
(Revue Spirite de 1866,
pp. 286 e 287.)
B. Qual deverá ser a
pedra angular da nova
ordem social resultante
da transformação do
planeta?
A fraternidade. Ela
deverá ser a pedra
angular da nova ordem
social, mas – ressalva
Kardec – não existirá
fraternidade real,
sólida e efetiva se não
for apoiada numa base
inabalável, que é a fé,
não a fé em tais ou
quais dogmas, mas a fé
nos princípios
fundamentais que todos
podem aceitar: Deus, a
alma, o futuro, o
progresso individual
indefinido, a
perpetuidade das
relações entre os seres.
(Obra citada, pp. 289 a
301.)
C. Como o Espiritismo
analisa o chamado fim do
mundo?
Conforme as palavras de
Kardec, não ocorrerá o
fim do mundo material. A
Terra deverá progredir e
não ser destruída.
Chegada a um de seus
períodos de
transformação, ela vai
elevar-se na hierarquia
dos mundos. Não é, pois,
o fim do mundo material
que se prepara, mas o
fim do mundo moral. É o
velho mundo, o mundo dos
preconceitos, do
egoísmo, do orgulho, do
fanatismo que se
esboroa.
(Obra citada, pp. 301 a
310.)
Texto para leitura
163. Kardec refere um
exemplo da impressão que
se pode conservar das
sensações já
experimentadas. Uma
senhora quando passava
em certa rua tinha a
impressão de que seria
jogada num abismo. A
explicação: ela fizera
parte de um grupo de
pessoas que concorreram
para a defesa da cidade
contra os ingleses,
quando todas haviam sido
precipitadas nos fossos
existentes então em Ruão.
O fato é relatado na
história dessa cidade.
(Pág. 285.)
164. Um fato de vidência
numa criança de quatro
anos, verificado em Caen,
motivou Kardec a
informar que a
mediunidade de vidência
é muito comum nas
crianças, e isto é
providencial. “Ao sair
da vida espiritual”, diz
o codificador, “os guias
da criança acabam de a
conduzir ao porto de
desembarque para o mundo
terreno, como vêm
buscá-la em seu retorno.
A elas se mostram nos
primeiros tempos, para
que não haja transição
muito brusca; depois se
apagam pouco a pouco, à
medida que a criança
cresce e pode agir em
virtude de seu livre
arbítrio.” (Págs. 286
e 287.)
165. A Revue de
outubro inicia-se com um
artigo intitulado “Os
tempos são chegados”, em
que Kardec diz que de
todos os lados ouvia-se
a informação de que
grandes acontecimentos
se realizariam para a
obra de regeneração da
Humanidade. Eis de forma
resumida os pontos
principais do referido
artigo: I) A Terra, como
tudo o que existe, está
submetida à lei do
progresso. Fisicamente,
ela progride pela
transformação dos
elementos que a compõem.
Moralmente, pelo
desenvolvimento da
inteligência, do senso
moral e do abrandamento
dos costumes, o que leva
à depuração dos
Espíritos encarnados e
desencarnados que a
povoam. II) Esses dois
progressos se seguem e
marcham em paralelo,
porque a perfeição da
habitação está em
relação com o habitante.
III) O progresso se
realiza de duas
maneiras: uma lenta,
gradativa e insensível;
outra por mudanças mais
bruscas, em que se opera
um movimento mais
rápido, que marca, por
caracteres marcantes, os
períodos progressivos da
Humanidade. IV) Esses
movimentos, subordinados
nos detalhes ao
livre-arbítrio dos
homens, são de certo
modo fatais em seu
conjunto, porque
submetidos a leis. V) O
movimento progressivo da
Humanidade é, pois,
inevitável, porque está
na natureza e, além
disso, Deus vela
incessantemente pela
execução de suas leis e
encarrega os Espíritos,
seus ministros, dos
detalhes, conforme as
atribuições afetas ao
seu grau de
adiantamento. VI) A
Humanidade realizou ao
longo dos séculos
incontestáveis
progressos, mas
resta-lhe ainda fazer
com que reine no mundo a
caridade, a fraternidade
e a solidariedade, para
assim assegurar o seu
bem-estar moral. VII)
Esse é o período em que
o planeta vai entrar e
que marcará uma das
fases principais da
história da Humanidade,
porque não se trata de
uma mudança parcial,
limitada a um único país
ou povo, mas um
movimento universal que
se opera no sentido do
progresso moral.
VIII) O progresso
individual e o progresso
geral jamais são
estéreis, porque
aproveitam às gerações e
às individualidades
futuras, que não são
outra coisa senão as
individualidades
passadas chegadas a um
mais alto grau de
adiantamento. IX) Os
homens não viverão
felizes na Terra senão
quando a solidariedade
de todos para com todos
e a fraternidade tiverem
entrado em seus corações
e em seus costumes,
porque então sujeitarão
a eles suas leis e
instituições. X) A
fraternidade deve ser a
pedra angular da nova
ordem social, mas não
existirá fraternidade
real, sólida e efetiva
se não for apoiada em
base inabalável, que é a
fé, não a fé em tais ou
quais dogmas, mas a fé
nos princípios
fundamentais que todos
podem aceitar: Deus, a
alma, o futuro, o
progresso individual
indefinido, a
perpetuidade das
relações entre os seres.
XI) Nesse movimento
regenerador, o
Espiritismo tem um papel
considerável. Pela prova
que ele traz das
verdades fundamentais,
ele enche o vazio que a
incredulidade faz nas
ideias e nas crenças;
pela certeza que dá de
um futuro conforme à
justiça de Deus, ele
tempera os amargores da
vida e evita os funestos
efeitos do desespero.
XII) Ele não diz:
Fora do Espiritismo não
há salvação, mas
apoiado no Cristo:
Fora da caridade não há
salvação, princípio
de união e tolerância
que ligará os homens num
sentimento comum de
fraternidade, em vez de
os dividir em seitas
inimigas. XIII) Com este
outro princípio: Não
há fé inabalável senão a
que pode encarar a razão
face a face em todas as
épocas da Humanidade,
destrói o império da
fé cega, que aniquila a
razão, e da obediência
passiva, que embrutece.
XIV) Consequente consigo
mesmo, não se impõe; diz
o que é, o que quer, o
que dá, e espera que a
ele venham livremente,
voluntariamente; quer
ser aceito pela razão e
não pela força. Respeita
todas as crenças
sinceras e não combate
senão a incredulidade, o
egoísmo, o orgulho e a
hipocrisia, chagas da
sociedade e os mais
sérios obstáculos ao
progresso moral. XV) Não
é o Espiritismo que cria
a renovação social: é a
maturidade da Humanidade
que faz desta renovação
uma necessidade. Por seu
poder moralizador, por
suas tendências
progressivas, pela
amplidão de suas vistas,
pela generalidade das
questões que abarca, o
Espiritismo é, mais que
qualquer outra doutrina,
apto a secundar o
movimento regenerador, e
é por isto que é seu
contemporâneo. (Págs.
289 a 301.)
166. Em seguida a esse
artigo, a Revue
transcreve duas
comunicações mediúnicas
obtidas em abril e
setembro de 1866
versando o mesmo tema
examinado por Kardec,
das quais extraímos os
pontos que se seguem: I)
Os acontecimentos se
precipitam com rapidez;
assim não dizemos mais,
como outrora: “Os tempos
estão próximos”; mas
sim: “Os tempos estão
chegados”. II) Não
olheis o céu, para aí
buscar sinais
precursores, pois não os
vereis; mas olhai em
torno de vós, entre os
homens; é aí que os
encontrareis. III) Não
acrediteis, entretanto,
no fim do mundo
material; a Terra deve
progredir e não ser
destruída. IV) Chegada a
um de seus períodos de
transformação, a Terra
vai elevar-se na
hierarquia dos mundos.
Não é, pois, o fim do
mundo material que se
prepara, mas o fim do
mundo moral. É o velho
mundo, o mundo dos
preconceitos, do
egoísmo, do orgulho, do
fanatismo que se
esboroa. V) A Terra não
será transformada por um
cataclismo, que
aniquilará subitamente
uma geração. A geração
atual desaparecerá
gradualmente, e a nova a
sucederá, sem que nada
seja mudado na ordem
natural das coisas, com
uma única diferença: uma
parte dos Espíritos que
aí se encarnavam não
mais nela se encarnarão.
VI) Essa exclusão
atingirá apenas os
Espíritos
fundamentalmente
rebeldes, aqueles que o
orgulho e o egoísmo,
mais que a ignorância,
tornam surdos à voz do
bem e da razão. VII) Um
dos caracteres
distintivos da nova
geração será a fé inata,
fé raciocinada, que
esclarece e fortifica, e
une a todos num
sentimento comum de amor
a Deus e ao próximo.
VIII) O Espiritismo é a
via que conduz à
renovação, porque
arruína os dois maiores
obstáculos que a ela se
opõem: a incredulidade e
o fanatismo, e dá uma fé
sólida e esclarecida,
desenvolvendo todos os
sentimentos e todas as
ideias que correspondem
às vistas da nova
geração. Por isso, ele
se tornará a base de
todas as crenças, o
ponto de apoio de todas
as instituições. IX) A
regeneração da
Humanidade não
necessita, porém, da
renovação integral dos
Espíritos: basta uma
modificação em suas
disposições morais, o
que se opera em todos os
que a isto forem
predispostos, quando
subtraídos à influência
perniciosa do mundo.
(Págs. 301 a 311.)
167. As extraordinárias
curas do zuavo Jacob,
objeto de reportagem
publicada pelo Écho
de l’Aisne, de 1o
de agosto de 1866, são
relatadas pela Revue,
que informa que as curas
promovidas no campo de
Châlons pelo Sr. Jacob
foram também divulgadas
pela Presse Illustrée
e pelo Petit Journal.
(Pág. 311.)
168. Segundo as
notícias, os enfermos
vinham de todos os lados
e eram tratados em grupo
de 25 a 30 por vez. À
voz, ao olhar, ao toque
do Sr. Jacob, que sempre
recusou qualquer espécie
de remuneração,
subitamente os surdos
ouviam, os mudos
falavam, os coxos
largavam suas muletas.
(Pág. 312.)
169. Kardec, que
conhecia pessoalmente o
Sr. Jacob, explica o
mecanismo dessas curas
e, após afirmar que tal
faculdade não é
privilégio de um único
indivíduo, pois muitos a
possuem, junta aos seus
comentários informações
muito interessantes
sobre os resultados
obtidos pelo notável
curador. Os dados lhe
foram enviados pelo Sr.
Boivinet, colega da
Sociedade Espírita de
Paris radicado em Aisne.
O número de enfermos
atendidos até então por
Jacob era estimado em
4.000 pessoas, das quais
1.000 (1/4 do total) não
obtiveram qualquer
resultado, 750 foram
curadas e 2.250 apenas
aliviadas. (Págs. 313
a 315.) (Continua no próximo
número.)