RICARDO BAESSO
DE OLIVEIRA
kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora,
Minas Gerais
(Brasil)
Sexo nos
Espíritos: o
pensamento de
Kardec
Discute-se, em
nosso movimento
espírita, a
respeito da
sexualidade dos
Espíritos
desencarnados.
Se eles mantêm a
forma humana,
então conservam
o gênero
masculino ou
feminino? Há
entre eles
relação sexual? E
se existe esse
tipo de relação,
podem
reproduzir-se,
no além?
Allan Kardec
ocupou-se dessa
temática e teve
oportunidade de
apresentar suas ideias de forma
didática e
esclarecedora.
Sem
desconsiderar
opiniões de
outros autores
(encarnados ou
desencarnados)
valemo-nos,
neste estudo,
das ideias do
mestre Kardec,
Codificador da
Doutrina
Espírita.
Na resposta ao
item 822-a de O
Livro dos
Espíritos, os
Benfeitores
grafaram o
seguinte: Os
sexos só existem
na organização
física, pois os
Espíritos podem
tomar um e
outro, não
havendo
diferenças entre
eles a esse
respeito.
Anteriormente,
nos itens 200 a
202 da obra
citada eles
haviam dito
que os
sexos dependem
da constituição
orgânica
(item
200),
que o Espírito
que animou o
corpo de um
homem pode
animar o de uma
mulher em uma
nova existência,
pois são os
mesmos Espíritos
que animam os
homens e as
mulheres (item
201) e
que quando somos
Espíritos
preferimos
encarnar num
corpo de homem
ou de mulher
dependendo das
provas que
tivermos de
sofrer (item
202).
Pelo dito, fica
claro que os
Espíritos não
possuem
polaridade
sexual, gênero
masculino/feminino,
sendo, nesse
particular,
assexuados. Tal
constatação,
todavia, pode
levantar o
seguinte
questionamento:
como então, nas
obras
mediúnicas, ou
nas sessões de
intercâmbio com
os desencarnados
eles se
apresentam com a
forma masculina
e feminina, até
mesmo enamorados
uns dos outros
ou eventualmente
vivendo juntos
na condição de
esposos?
A excelente
explicação vem
pelo
codificador, em
ensaio publicado
na Revista
Espírita,
janeiro de 1866,
página 4: Sofrendo
o Espírito
encarnado a
influência do
organismo, seu
caráter se
modifica
conforme as
circunstâncias e
se dobra às
necessidades e
exigências
impostas pelo
mesmo organismo.
Esta influência
não se apaga
imediatamente
após a
destruição do
invólucro
material, assim
como não perde
instantaneamente
os gostos e
hábitos
terrenos.
Depois, pode
acontecer que o
Espírito
percorra uma
série de
existências no
mesmo sexo, o
que faz que,
durante muito
tempo, possa
conservar, no
estado de
Espírito, o
caráter de homem
ou de mulher,
cuja marca nele
ficou impressa.
Somente quando
chegado a certo
grau de
adiantamento e
de
desmaterialização
é que a
influência da
matéria se apaga
completamente e,
com ela, o
caráter dos
sexos.
Importa
considerar que
as descrições do
Mundo dos
Espíritos que
recebemos via
mediúnica
referem-se a
regiões muito
próximas da
crosta
terrestre,
habitadas por
Espíritos ainda
muito
materializados,
segundo refere
Kardec, no texto
acima. Quase
nenhuma
referência
possuímos da
vida dos
Espíritos em
esferas
superiores. (Uma
referência breve
vamos
identificar em
Nosso Lar, no
capitulo “O
sonho”, quando
André Luiz, em
corpo mental,
visita sua mãe
em uma esfera
acima daquela
onde se encontra
a colônia citada
descrita no
livro.) Nas
esferas próximas
da crosta há
absoluta
prevalência de
Espíritos de
evolução
primária, que,
em sua maioria,
nem se dão conta
da
desencarnação,
nutrindo
apetites e
ansiando
vivências
similares às da
Terra.
No Livro dos
Médiuns, item
74, Kardec
escreveu: Nos
Espíritos
inferiores (seu
perispírito)
aproxima-se da
matéria e é isso
que determina a
persistência das
ilusões da vida
terrena nas
entidades de
baixa categoria,
que pensam e
agem como se
ainda estivessem
na vida física,
tendo os mesmos
desejos e quase
poderíamos dizer
a mesma
sensualidade.
Isso poderia
explicar os
relatos
mediúnicos sobre
Espíritos
atormentados
pelas emoções
sexuais,
verdadeiros
vampiros da
sexualidade de
encarnados
imprevidentes.
Impossibilitados
de saciarem sua
libido, se
acoplam
magneticamente a
casais com os
quais
sintonizam,
todos eles
igualmente com a
sexualidade
destrambelhada,
absorvendo as
emanações
psíquicas
liberadas
durante a
relação sexual.
É curioso
observarmos que
Kardec, no
ensaio citado
anteriormente
(Revista
Espírita,
janeiro de 1866)
admite a
hipótese de uma
inversão da
libido
desencadeada
pela
reencarnação em
um corpo físico
que não
corresponde à
psicologia do
Espírito, que
vinha
vivenciando
muitas
existências em
apenas uma
polaridade
sexual
(masculina ou
feminina). Tal
ocorrência
poderia explicar
alguns casos da
homossexualidade.
Confira o texto
original: Se
essa influencia
se repercute da
vida corporal à
vida espiritual,
o mesmo se dá
quando o
Espírito passa
da vida
espiritual para
a corporal. Numa
nova encarnação
trará o caráter
e as inclinações
que tinha como
Espírito.
Mudando de sexo,
poderá, então,
sob essa
impressão e em
sua nova
encarnação,
conservar os
gostos, as
inclinações e o
caráter inerente
ao sexo que
acaba de deixar.
Assim se
explicam certas
anomalias
aparentes,
notadas no
caráter de
certos homens e
de certas
mulheres.
Mas afinal, os
Espíritos
desencarnados
fazem sexo, ou
seja, existem
relações sexuais
entre eles? As
descrições do
modo de vida na
erraticidade se
reportam a
Espíritos
dormindo, se
alimentando,
namorando...
mas intercurso
sexual ocorre ou
não?
A resposta é
não, segundo o
pensamento de
Allan Kardec.
Em duas
oportunidades,
ambas
registradas na
Revista
Espírita, Kardec
expõe suas
ideias de
maneira
indiscutível.
Na Revista
Espírita de
junho de 1862,
após dialogo
instrutivo com
uma entidade que
pertencera à
Sociedade
Parisiense,
Kardec escreve: Os
sexos só são
necessários para
a reprodução dos
corpos; porque
os Espíritos não
se reproduzem, o
sexo lhes seria
inútil.
Ainda na Revista
Espírita,
janeiro de 1866,
Kardec volta ao
tema com o mesmo
posicionamento: As
almas ou
Espíritos não
têm sexo. As
afeições que os
unem nada têm de
carnal e, por
isso mesmo, são
mais duráveis,
porque fundadas
numa simpatia
real e não são
subordinadas às
vicissitudes da
matéria. Os
sexos só existem
no organismo.
São necessários
à reprodução dos
seres materiais.
Mas os
Espíritos, sendo
criação de Deus,
não se
reproduzem uns
pelos outros,
razão por que os
sexos seriam
inúteis no mundo
espiritual.
Admite o
codificador que há
entre eles amor
e simpatia, mas
baseados na
afinidade de
sentimentos
(O Livro dos
Espíritos, item
200).
E, finalmente,
examinando o
sofrimento
advindo das
paixões
inferiores,
Kardec reproduz
em O Livro dos
Espíritos o
seguinte
pensamento dos
Benfeitores: Embora
as paixões não
existam
materialmente,
ainda persistem
no pensamento
dos Espíritos
atrasados (item
972).
Referindo-se à
impossibilidade
do intercurso
sexual entre
eles, comenta
que esse tipo de
paixão causa
suplício no
espírito devasso
que vê as orgias
de que não pode
participar (item
972-a).
O tema é
complexo e está
aberto a novas
contribuições.
Esperamos ter
colaborado para
o debate, ao
apresentar a
linha de
pensamento de
Kardec.