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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 170 - 8 de Agosto de 2010

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)

Secessão 

O Evangelho, em suas bases, guarda a beleza do primeiro dia 

“(...) O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei
.” - Jesus.  (Jo., 15:12.)  


Sob assomos de perplexidades observamos os paradoxais anátemas entre confrades incentivadores de corrilhos dissolventes, demonstrando – claramente – que ainda existe um longo caminho a percorrer até lograr-se o perfil do vero cristão. E não faltam as lições de luz, como por exemplo, esta notável preleção do venerando Espírito Eusébio
[1], que desenhou com magistral acuidade a realidade hodierna em prova cruzada com a de antanho: 

“(...) Ser cristão, outrora, simbolizava a escolha da experiência mais nobre, com dever de exemplificar o padrão de conduta consagrado pelo Mestre Divino. Constituía ininterrupto combate ao mal com as armas do bem, manifestação ativa do amor contra o ódio, segurança de vitória da luz contra as sombras, triunfo inconteste da paz construtiva sobre a discórdia.

Ante a intransigência do Estado Romano, convertido ao imperialismo e corrupção, os sectários do Evangelho não se expunham a polêmicas mordazes, não se enredavam nas teias do personalismo dissolvente, não dilapidavam possibilidades preciosas, a erigir fronteiras dogmáticas...  Entreamavam-se em nome do Senhor e ofereciam a própria vida em penhor de gratidão Àquele que não trepidava em seguir com a cruz, por amor a todos nós...  Erguiam os seus mais sublimes santuários na comunhão com os princípios santificantes que os identificavam com o Redentor do Mundo.  Sabiam perder as vantagens transitórias, para conquistar os imperecíveis tesouros celestiais. Sacrificavam-se uns pelos outros, na viva demonstração do devotamento fraternal. Repartiam os sofrimentos e multiplicavam os júbilos entre si. Morriam em testemunhos angustiosos, para alcançar a vida eterna. Guerreavam os desequilíbrios da época e de seus conterrâneos, não a golpes de maldição, nem a fio de espada, mas pela prática da renunciação, submetendo-se a disciplinas cruéis e revelando, nas palavras, nos pensamentos e nos atos, a mensagem sublime do Mestre que lhes renovara os corações.

Entretanto, herdeiros que sois daqueles heróis anônimos que transitaram nas aflições, de espírito edificado nas promessas do Cristo, que fizestes vós da esperança transformadora, da confiança sem vacilação? Onde colocastes a fé viva que os vossos patriarcas adquiriram a preço de sangue e de lágrimas? Que é do espírito de fraternidade que assinalava os aprendizes da Boa Nova?  

Enriquecidos pelas graças do Céu, pouco a pouco olvidastes as portas da Revelação Divina em troca das comodidades humanas. Construístes entre vós mesmos barreiras dificilmente transponíveis. Intoxica-vos o dogmatismo, corrompe-vos a secessão. Estreitas interpretações do plano divino vos obscurecem os horizontes mentais.  Abris hostilidades francas, em nome do Reino de Deus que significa amor universal e união eterna. Conspurcais a fonte de bênçãos, amaldiçoando-vos uns aos outros, invocando, para isso, o Príncipe da Paz, que, para ajudar-nos, não hesitou ante a própria morte afrontosa. A que delírio chegastes, estabelecendo mútua concorrência à imaginária obtenção de privilégios divinos? Antigamente, os companheiros do Cristo disputavam a oportunidade de servir; no entanto, na atualidade, procurais as mínimas ocasiões de serdes servidos. Reverenciais do Senhor a Luz dos Séculos, e mantende-vos nas sombras de nefando egoísmo. Proclamais n`Ele a glória da paz, e incentivais a guerra fratricida, em que os homens e instituições se trucidam reciprocamente. Recorreis ao Divino Mestre, centralizando em Sua bondade a fonte inesgotável do amor; entretanto, cultivais a desarmonia no recôndito do ser...

Jesus fundou a Religião do Amor Universal, que os sacerdotes políticos dividiram em várias escolas orientadas pelo sectarismo injustificável. Malgrado esse erro lastimável dos homens, a essência dos vossos princípios é aquela mesma que sustentou a coragem e a nobreza dos trabalhadores sacrificados nos primeiros dias do Cristianismo.

Porque alguns missionários das verdades religiosas olvidassem a Paternidade Divina e se permitissem desmandos da autoridade, preferindo a opressão e a tirania, não sois menos responsáveis, agora, pelos sagrados depósitos que Jesus nos confiou, destinados aos serviços de elevação humana e de santificação da Terra. O Evangelho, em suas bases, guarda a beleza do primeiro dia.  

Infrutífera seria a divina missão do Mestre, se a Boa Nova permanecesse circunscrita às trincheiras sectárias, onde presunçosamente vos refugiais, com o objetivo de inflamar a execranda fogueira das hostilidades simuladamente cordiais. Como invocar-Lhe o nome para justificar os desvarios da desunião por motivos de fé? Como apoiar-se no Amigo de Todos para deflagrar embates de opinião, acendendo fogueiras de ódio em prejuízo da solidariedade comum que Ele exemplificou até ao supremo sacrifício? Não será denegrir-lhe a memória, difundir a discórdia em Seu nome?

Fugi ao farisaísmo dos tempos modernos que se recusa ao auxílio fraternal, em nome do gênio satânico do cisma dogmático. Jesus nunca foi o pregador da desarmonia, jamais endossou a vaidade petulante dos que pelos lábios se declaram puros, mantendo o coração atascado no lodo miasmático do orgulho e do egoísmo fatais.

Abracemo-nos, pois, uns aos outros, em nome do Cordeiro de Deus, que nos reformou a mente, alçando-a a planos superiores pela ascensão gloriosa através do sacrifício. Somente assim, meus amigos, é possível atender à elevada destinação que nos cabe...

Diante do mundo periclitante, alucinado por ambições rasteiras e dominado pelo ódio e pela miséria, sequências das guerras incessantes e aniquiladoras, harmonizemo-nos em Jesus Cristo, a fim de equilibrarmos a esfera carnal.

Sombras perturbadoras vagueiam em torno de vossos passos e de vossas Instituições, em ronda sinistra. Evitai a subversão dos valores espirituais, afugentai as trevas que vos ameaçam a organizações político-religiosas. Temei a ciência que estadeie sem sabedoria, livrai-nos do raciocínio que calcula sem amor; revisai a fé para que seus impulsos não se desordenem à míngua de edificação.

A Crosta da Terra é hodiernamente um campo de batalha mais áspera, dolorosa...  Despertai a consciência adormecida e afeiçoai-vos à Lei Divina, olvidando o multissecular cativeiro da ilusão. A salvação é contínuo trabalho de renovação e aprimoramento. Ao mundo atormentado proclamemos a nossa fé em Cristo Jesus para sempre!...”

Devemos revisar nossa postura ante o mundo e, principalmente, nosso comportamento junto aos companheiros da Fé Raciocinada, vez que, segundo afirmativa de nosso Mestre Maior, quem Lhe quiser seguir os passos deve renunciar a si mesmo e tomar de sua cruz; e não será, pois, dando largas ao personalismo dissolvente, que dignificaremos a denominação de discípulos de Jesus, denominação esta que desta forma nem mereceremos. Atentemos para a insofismável e grave advertência do Cristo sobre o perfil do verdadeiro Cristão[2]: “Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem".                                                            


 

[1] - XAVIER, F. Cândido.  No Mundo Maior.  Pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio: FEB, 1979, cap. 15.

[2] - Jesus. (João, 13:35.)




 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita