VINÍCIUS LOUSADA
vlousada@hotmail.com
Bagé, Rio Grande do Sul (Brasil)
Da finalidade do
Espiritismo
Como doutrina
filosófica, o
Espiritismo não porta o
ethos das
religiões ordinárias,
não devendo as ações
nele inspiradas refletir
práticas culturais que
desnaturem o seu sentido
mais profundo, ou seja,
a nossa práxis
existencial carece de
ser plenamente orientada
pelos princípios da
Filosofia Espírita, tal
como nos apresenta a
produção kardequiana,
nada obstante, a
regulação dessa busca de
coerência seja no âmbito
do foro íntimo.
Portanto, não podemos
perder de vista a
necessidade do adepto se
tornar alguém
esclarecido quanto ao
que é o Espiritismo e a
sua finalidade. Para
tanto é indispensável o
estudo continuado e
sério das obras
fundamentais da Doutrina
Espírita, a cujo
conjunto pertence a
Revista Espírita: jornal
de estudos psicológicos.
Estudando o Espiritismo
com certo rigor
metodológico, vamos
compreendendo, pouco a
pouco, o seu objetivo
essencial de
aprimoramento
intelecto-moral dos
homens e das mulheres,
contribuindo com o
progresso geral na
medida em que revela a
nossa natureza
espiritual, derrubando o
materialismo pelos fatos
que permite observar e
pela sua filosofia que
concede um entendimento
arejado das Leis
Divinas.
A propósito, Allan
Kardec, num opúsculo que
fez muito sucesso à sua
época, intitulado O
Espiritismo em sua
expressão mais simples
[1],
afirma que o objetivo
essencial do Espiritismo
é o melhoramento da
humanidade, não sendo
necessário buscar nele
nada além daquilo que
contribua nesse sentido.
O nobre Codificador
ressalta, dessa forma, o
caráter ético-moral da
Ciência do Espírito
quando torna inteligível
a nós outros, através
dos ditados dos
Espíritos Superiores por
diversos médiuns e pelas
suas reflexões, a moral
do Cristo em sua pureza
e mais ampla aplicação,
apresentando-a como um
chamado à felicidade
para a qual pode
conduzir a criatura
desorientada desses
dias.
Obviamente, é preciso
considerar que cada um
aprecia o Espiritismo
conforme as suas
condições evolutivas.
Nesse caso, a maturidade
do senso moral é o que
dá ensejo de captarmos o
seu elemento essencial
no tocante ao nosso
aprimoramento interior.
Lendo a Revista
Espírita, bem se vê
que Kardec se esforçava
por destacar o
Espiritismo como
“ciência moral (...),
porque falava ao coração
e à inteligência”[2],
apresentando ao
indivíduo aturdido pela
dúvida a certeza do
futuro baseada em
evidência científica e
as respostas às questões
mais complexas que se
referem à natureza,
origem e destino do
Espírito.
O fim maior a que visa a
Doutrina dos Espíritos
fica em evidência no
componente ético
destacado nas suas obras
e, em especial, num dos
artigos escritos por
Kardec quando ele
assevera
peremptoriamente: “A
finalidade do
Espiritismo é tornar
melhores aqueles que o
compreendem”.[3]
Aquele que direciona a
sua vida moral no
sentido do
aperfeiçoamento
inspirado nos postulados
do Espiritismo pode ser
definido por verdadeiro
espírita ou espírita
cristão, reconhecido,
nas palavras de Kardec,
“pela sua transformação
moral e pelos esforços
que emprega em domar as
suas más tendências”[4].
O espírita sincero tem
um compromisso com a
própria consciência que
diz respeito ao
aproveitamento pessoal
do conteúdo moral da
doutrina que professa,
tornando-a sua
verdadeira filosofia de
vida, orientadora de sua
conduta.
Sendo o fim do
Espiritismo a melhoria
moral do adepto e o
mesmo reconhecido como
autêntico quando
vivencia a proposta
moral que adere, pode-se
compreender que lhe cabe
dar o testemunho de que
os textos doutrinários
não são letra morta.
Oportunamente, li uma
entrevista de Chico
Xavier em que ele
sabiamente dizia que as
pessoas procuram no
centro espírita o
Espiritismo em seu
caráter prático e, em
nós, os espíritas, o
Espiritismo praticado.
Estudando Kardec:
“Será então necessária,
para compreendê-la [a
Doutrina Espírita], uma
inteligência fora do
comum? Não, tanto que há
homens de notória
capacidade que não a
compreendem, ao passo
que inteligências
vulgares, moços mesmo,
apenas saídos da
adolescência, lhes
apreendem, com admirável
precisão, os mais
delicados matizes.
Provém isso de que a
parte por assim dizer
material da ciência
somente requer olhos que
observem, enquanto a
parte essencial exige um
certo grau de
sensibilidade, a que se
pode chamar maturidade
do senso moral,
maturidade que independe
da idade e do grau de
instrução, porque é
peculiar ao
desenvolvimento, em
sentido especial, do
Espírito encarnado.”