ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
15)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Como Kardec se
referiu ao fenômeno de
sonambulismo espontâneo?
Primeiro, Kardec disse
que tais fatos
confirmavam as previsões
dos Espíritos
concernentes às novas
formas que não tardaria
a tomar a mediunidade.
“O estado de
sonambulismo espontâneo,
no qual se desenvolve,
ao mesmo tempo, a
mediunidade falante e a
vidente, é, com efeito,
uma faculdade nova”,
disse o codificador.
Era, porém, uma
modalidade de fenômeno
que exigia, para
desenvolver-se em todo o
seu brilho, um ambiente
favorável, visto que uma
corrente fluídica
contrária bastaria para
a alterar. Assim, essas
espécies de fenômenos
não se prestam
absolutamente a
exibições públicas, em
que a curiosidade é o
sentimento dominante,
quando não o da
malevolência. Por isso
mesmo, requerem da parte
dos assistentes uma
excessiva prudência,
porquanto nesses
momentos a alma se liga
ao corpo apenas por um
fio frágil.
(Revue Spirite de 1866,
p. 342.)
B. Há casos em que a
ação fluídica é
impotente para promover
a cura?
Sim. E Kardec relacionou
alguns desses casos.
Compreende-se, disse
ele, que a ação fluídica
possa dar sensibilidade
a um órgão, fazer
dissolver e desaparecer
um obstáculo ao
movimento e à percepção,
cicatrizar uma ferida,
porque nesses casos o
fluido torna-se um
verdadeiro agente
terapêutico; mas é
evidente que não pode
remediar a ausência ou a
destruição de um órgão,
o que seria um
verdadeiro milagre.
Assim, a vista poderá
ser restaurada a um cego
por amaurose, oftalmia,
belida ou catarata, mas
não a quem tivesse os
olhos estalados.
Existem, pois, doenças
fundamentalmente
incuráveis e seria
ilusão crer que a
mediunidade curadora vá
livrar a Humanidade de
todas as suas
enfermidades.
(Obra citada, pp. 348 e
349.)
C. O orgulho e a vaidade
podem prejudicar o
médium devotado à cura?
Sim. Diz Kardec que
muitos médiuns têm caído
em razão de se deixarem
dominar pelo orgulho e
pela vaidade. Os
Espíritos explicaram a
Kardec por que tais
sentimentos impedem o
crescimento dessa
faculdade e prejudicam o
seu exercício. A razão é
simples: o poder de
curar independe da
vontade do médium, mas
dependem do médium as
qualidades que podem
tornar esse poder
frutuoso e durável.
Essas qualidades são,
sobretudo, o
devotamento, a abnegação
e a humildade, enquanto
que o egoísmo, o orgulho
e a cupidez opõem
obstáculos às mais belas
faculdades.
(Obra citada, pp. 353 a
355.)
Texto para leitura
178. Tais fatos, observa
Kardec, confirmavam as
previsões dos Espíritos
concernentes às novas
formas que não tardaria
a tomar a mediunidade.
“O estado de
sonambulismo espontâneo,
no qual se desenvolve,
ao mesmo tempo, a
mediunidade falante e a
vidente, é, com efeito,
uma faculdade nova”,
acrescenta o
codificador. Era, porém,
uma modalidade de
fenômeno que exigia,
para desenvolver-se em
todo o seu brilho, um
ambiente favorável,
visto que uma corrente
fluídica contrária
bastaria para a alterar.
(Pág. 342.)
179. Assim, essas
espécies de fenômenos
não se prestam
absolutamente a
exibições públicas, em
que a curiosidade é o
sentimento dominante,
quando não o da
malevolência. Por isso
mesmo, requerem da parte
dos assistentes uma
excessiva prudência,
porquanto nesses
momentos a alma se liga
ao corpo apenas por um
fio frágil. (Pág.
342.)
180. Kardec examina, no
mesmo artigo, os
fenômenos de êxtase,
que, constituindo o mais
alto grau de emancipação
da alma, exige maiores
precauções do que no
estado de sonambulismo.
O codificador adverte
que o desprendimento
proporcionado pelo
êxtase é um estado
fisiológico sujeito a
erros. Não se deve,
pois, crer que as visões
e as revelações do
êxtase sejam sempre a
expressão da verdade.
(Págs. 343 a 346.)
181. A Revue
volta a tratar das curas
realizadas pelo Sr.
Jacob, retificando
alguns dados constantes
do artigo anteriormente
publicado sobre o zuavo
curador. O codificador
aproveita o ensejo para
explicar que existe uma
diferença radical entre
os médiuns curadores e
os receitistas. Os
primeiros curam apenas
pela ação fluídica, em
mais ou menos tempo, às
vezes instantaneamente,
sem o emprego de
qualquer remédio. O
poder curativo está todo
no fluido depurado a que
servem de condutores. A
aptidão para curar é
inerente ao médium, mas
o exercício da faculdade
só se dá com o concurso
dos Espíritos, de onde
se segue que, se os
Espíritos não querem, o
médium é como um
instrumento sem músico e
nada obtém. Ele pode,
pois, perder
instantaneamente a sua
faculdade, o que exclui
a possibilidade de
transformá-la em
profissão. (Págs. 347
e 348.)
182. Kardec relaciona, a
seguir, os casos em que
a ação fluídica é
impotente para promover
a cura. Compreende-se,
diz o codificador, que a
ação fluídica possa dar
sensibilidade a um
órgão, fazer dissolver e
desaparecer um obstáculo
ao movimento e à
percepção, cicatrizar
uma ferida, porque
nesses casos o fluido
torna-se um verdadeiro
agente terapêutico; mas
é evidente que não pode
remediar a ausência ou a
destruição de um órgão,
o que seria um
verdadeiro milagre.
Assim, a vista poderá
ser restaurada a um cego
por amaurose, oftalmia,
belida ou catarata, mas
não a quem tivesse os
olhos estalados.
Existem, pois, doenças
fundamentalmente
incuráveis e seria
ilusão crer que a
mediunidade curadora vá
livrar a Humanidade de
todas as suas
enfermidades. (Págs.
348 e 349.)
183. Opera-se com a ação
fluídica uma verdadeira
reação química, análoga
à produzida por certos
medicamentos. Atuando o
fluido como agente
terapêutico, sua ação
varia conforme as
propriedades que recebe
das qualidades do fluido
pessoal do médium. Essa
ação pode ser enérgica e
poderosa em certos casos
e nula em outros. É por
isso que os médiuns
curadores podem ter
especialidades: este
curará as dores, ou
endireitará um membro,
mas não restituirá a
vista a um cego, e
reciprocamente. (Pág.
349.)
184. A faculdade é
completamente diferente
na obsessão, e a
faculdade de curar não
implica a de libertar os
obsidiados. O fluido
curador age
materialmente sobre os
órgãos afetados, ao
passo que na obsessão é
preciso agir moralmente
sobre o Espírito
obsessor; necessário ter
autoridade sobre ele,
para o fazer largar a
presa. São duas aptidões
distintas que nem sempre
se encontram na mesma
pessoa. O concurso do
fluido curador torna-se
necessário quando, o que
é bastante frequente, a
obsessão se complica com
afecções orgânicas.
(Pág. 349.)
185. A mediunidade
curadora não vem
suplantar a medicina e
os médicos; vem
simplesmente provar a
estes que há coisas que
eles não sabem e
convidá-los a
estudá-las, porquanto o
elemento espiritual, que
ignoram, não é uma
quimera e, bem
considerado, pode abrir
novos horizontes à
ciência. (Págs. 349 e
350.)
186. Dependendo a
mediunidade de cura de
uma disposição orgânica,
muitas pessoas a
possuem, ao menos em
germe. Se todos os que
desejam possuí-la a
pedissem com fervor e
perseverança pela prece,
e com um objetivo
exclusivamente
humanitário, é provável
que desse concurso
sairia mais de um
verdadeiro médium
curador. Mas, pela
natureza de seus
efeitos, a mediunidade
de cura exige
imperiosamente o
concurso de Espíritos
depurados, que não
poderiam ser
substituídos por
Espíritos inferiores.
(Pág. 351.)
187. Há, pois, para o
médium de cura a
necessidade absoluta de
se conciliar o concurso
dos Espíritos
superiores, senão, em
vez de crescer, sua
faculdade declina e
desaparece pelo
afastamento dos bons
Espíritos. A primeira
condição para isto é
trabalhar em sua própria
depuração, a fim de não
alterar os fluidos
salutares que está
encarregado de
transmitir. Essa
condição não pode ser
executada sem o mais
completo desinteresse
material e moral. O
primeiro é mais fácil; o
segundo é mais raro.
(Pág. 352.)
188. Muitos médiuns têm
caído em razão de se
deixarem dominar pelo
orgulho e pela vaidade.
Os Espíritos explicaram
a Kardec por que tais
sentimentos impedem o
crescimento dessa
faculdade e prejudicam o
seu exercício. A razão é
simples: o poder de
curar independe da
vontade do médium, mas
dependem do médium as
qualidades que podem
tornar esse poder
frutuoso e durável.
Essas qualidades são,
sobretudo, o
devotamento, a abnegação
e a humildade, enquanto
que o egoísmo, o orgulho
e a cupidez opõem
obstáculos às mais belas
faculdades. (Pág.
353.)
189. O verdadeiro médium
curador é movido pelo
único desejo do bem. É
humilde de coração, não
inveja ninguém e não tem
a pretensão de se julgar
infalível. À influência
material junta a
influência moral,
auxiliar poderoso, que
dobra a sua força. Por
sua palavra benevolente,
encoraja, levanta o
moral, faz nascer a
esperança e a confiança
em Deus. Assim é o
médium curador amado
pelos bons Espíritos,
que só se ligam aos que
se mostram dignos de sua
proteção. (Págs. 354
e 355.)
190. O número de
novembro encerra-se com
uma nota sobre a
campanha em favor dos
inundados iniciada em
outubro pela Sociedade
Espírita de Paris. As
subscrições, que
deveriam ser feitas no
escritório da Revue
, foram abertas com
uma doação de 300
francos. (Pág. 355.)
191. A Revue de
dezembro de 1866
apresenta os pormenores
do curioso caso ocorrido
em 1816, à época de Luís
XVIII, envolvendo o
médium Thomas-Ignace
Martin, um pequeno
trabalhador do burgo de
Gallardon, situado a
quatro léguas de
Chartres. Nascido em
1783, Martin tinha 33
anos quando se deram os
acontecimentos.
(Págs. 357 e 358.)
192. O caso pode ser
assim resumido: A 15 de
janeiro de 1816, estando
o médium ocupado em
apagar uma queimada num
campo nas proximidades
de Gallardon,
apareceu-lhe um vulto
que, mais tarde, se
identificou como sendo o
anjo Rafael. Esse
Espírito iria aparecer e
desaparecer diversas
vezes, até que Martin
atendesse ao seu pedido:
levar ao rei um recado
cujo teor ele somente
saberia no momento da
visita. O cura de
Gallardon, cientificado
das aparições, julgou
dever dirigir-se ao seu
bispo em Versalhes, o
que fez com que as
autoridades francesas se
inteirassem da história,
que parecia não ter
qualquer nexo. Com a
evolução do caso, o
arcebispo de Reims se
interessou pelo assunto
e foi ele quem propôs ao
rei receber Martin. A 2
de abril o médium foi
levado à presença real e
realizou-se então o
encontro tão
insistentemente proposto
pelo anjo Rafael. O que
se disse ali não vem ao
caso, exceto que as
palavras proferidas por
Martin, sob a influência
do notável mensageiro
espiritual, comoveram o
rei a ponto de o fazer
chorar muito, porque ele
próprio declarou mais
tarde que as coisas que
lhe tinham sido
reveladas só eram
conhecidas por ele (Luís
XVIII) e por Deus. Logo
que Martin terminou sua
fala, o rei lhe disse
que o anjo Rafael era o
mesmo que conduziu o
jovem Tobias a Rages.
Depois perguntou-lhe
qual das mãos o anjo
havia apertado. Martin
respondeu: “Esta”,
mostrando a direita. O
rei da França a segurou,
dizendo: “Que eu toque a
mão que o anjo apertou.
Ore sempre por mim”.
(Págs. 358 a 368.)
193. Depois da conversa
com Luís XVIII, a qual
durou ao menos 55
minutos, o médium não
mais viu o Espírito de
Rafael, mas desenvolveu
outra faculdade:
tornou-se auditivo. A
Revue refere
fragmentos de três
cartas por ele escritas
ao cura de Gallardon,
revelando alguns fatos
de audição mediúnica,
conquanto Martin não
tivesse visto ninguém
nem soubesse dizer quem
lhe falara. (Págs.
368 e 369.) (Continua no próximo
número.)