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Estudando as obras de Kardec
Ano 4 - N° 172 - 22 de Agosto de 2010

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1866

Allan Kardec 

(Parte 15)

Continuamos a apresentar o estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1866. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 16 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Como Kardec se referiu ao fenômeno de sonambulismo espontâneo?

Primeiro, Kardec disse que tais fatos confirmavam as previsões dos Espíritos concernentes às novas formas que não tardaria a tomar a mediunidade. “O estado de sonambulismo espontâneo, no qual se desenvolve, ao mesmo tempo, a mediunidade falante e a vidente, é, com efeito, uma faculdade nova”, disse o codificador. Era, porém, uma modalidade de fenômeno que exigia, para desenvolver-se em todo o seu brilho, um ambiente favorável, visto que uma corrente fluídica contrária bastaria para a alterar. Assim, essas espécies de fenômenos não se prestam absolutamente a exibições públicas, em que a curiosidade é o sentimento dominante, quando não o da malevolência. Por isso mesmo, requerem da parte dos assistentes uma excessiva prudência, porquanto nesses momentos a alma se liga ao corpo apenas por um fio frágil. (Revue Spirite de 1866, p. 342.) 

B. Há casos em que a ação fluídica é impotente para promover a cura?

Sim. E Kardec relacionou alguns desses casos. Compreende-se, disse ele, que a ação fluídica possa dar sensibilidade a um órgão, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao movimento e à percepção, cicatrizar uma ferida, porque nesses casos o fluido torna-se um verdadeiro agente terapêutico; mas é evidente que não pode remediar a ausência ou a destruição de um órgão, o que seria um verdadeiro milagre. Assim, a vista poderá ser restaurada a um cego por amaurose, oftalmia, belida ou catarata, mas não a quem tivesse os olhos estalados. Existem, pois, doenças fundamentalmente incuráveis e seria ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades. (Obra citada, pp. 348 e 349.)  

C. O orgulho e a vaidade podem prejudicar o médium devotado à cura?

Sim. Diz Kardec que muitos médiuns têm caído em razão de se deixarem dominar pelo orgulho e pela vaidade. Os Espíritos explicaram a Kardec por que tais sentimentos impedem o crescimento dessa faculdade e prejudicam o seu exercício. A razão é simples: o poder de curar independe da vontade do médium, mas dependem do médium as qualidades que podem tornar esse poder frutuoso e durável. Essas qualidades são, sobretudo, o devotamento, a abnegação e a humildade, enquanto que o egoísmo, o orgulho e a cupidez opõem obstáculos às mais belas faculdades. (Obra citada, pp. 353 a 355.)  

Texto para leitura 

178. Tais fatos, observa Kardec, confirmavam as previsões dos Espíritos concernentes às novas formas que não tardaria a tomar a mediunidade. “O estado de sonambulismo espontâneo, no qual se desenvolve, ao mesmo tempo, a mediunidade falante e a vidente, é, com efeito, uma faculdade nova”, acrescenta o codificador. Era, porém, uma modalidade de fenômeno que exigia, para desenvolver-se em todo o seu brilho, um ambiente favorável, visto que uma corrente fluídica contrária bastaria para a alterar. (Pág. 342.)

179. Assim, essas espécies de fenômenos não se prestam absolutamente a exibições públicas, em que a curiosidade é o sentimento dominante, quando não o da malevolência. Por isso mesmo, requerem da parte dos assistentes uma excessiva prudência, porquanto nesses momentos a alma se liga ao corpo apenas por um fio frágil. (Pág. 342.)

180. Kardec examina, no mesmo artigo, os fenômenos de êxtase, que, constituindo o mais alto grau de emancipação da alma, exige maiores precauções do que no estado de sonambulismo. O codificador adverte que o desprendimento proporcionado pelo êxtase é um estado fisiológico sujeito a erros. Não se deve, pois, crer que as visões e as revelações do êxtase sejam sempre a expressão da verdade. (Págs. 343 a 346.)

181. A Revue volta a tratar das curas realizadas pelo Sr. Jacob, retificando alguns dados constantes do artigo anteriormente publicado sobre o zuavo curador. O codificador aproveita o ensejo para explicar que existe uma diferença radical entre os médiuns curadores e os receitistas. Os primeiros curam apenas pela ação fluídica, em mais ou menos tempo, às vezes instantaneamente, sem o emprego de qualquer remédio. O poder curativo está todo no fluido depurado a que servem de condutores. A aptidão para curar é inerente ao médium, mas o exercício da faculdade só se dá com o concurso dos Espíritos, de onde se segue que, se os Espíritos não querem, o médium é como um instrumento sem músico e nada obtém. Ele pode, pois, perder instantaneamente a sua faculdade, o que exclui a possibilidade de transformá-la em profissão. (Págs. 347 e 348.)

182. Kardec relaciona, a seguir, os casos em que a ação fluídica é impotente para promover a cura. Compreende-se, diz o codificador, que a ação fluídica possa dar sensibilidade a um órgão, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao movimento e à percepção, cicatrizar uma ferida, porque nesses casos o fluido torna-se um verdadeiro agente terapêutico; mas é evidente que não pode remediar a ausência ou a destruição de um órgão, o que seria um verdadeiro milagre. Assim, a vista poderá ser restaurada a um cego por amaurose, oftalmia, belida ou catarata, mas não a quem tivesse os olhos estalados. Existem, pois, doenças fundamentalmente incuráveis e seria ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades. (Págs. 348 e 349.)

183. Opera-se com a ação fluídica uma verdadeira reação química, análoga à produzida por certos medicamentos. Atuando o fluido como agente terapêutico, sua ação varia conforme as propriedades que recebe das qualidades do fluido pessoal do médium. Essa ação pode ser enérgica e poderosa em certos casos e nula em outros. É por isso que os médiuns curadores podem ter especialidades: este curará as dores, ou endireitará um membro, mas não restituirá a vista a um cego, e reciprocamente. (Pág. 349.)

184. A faculdade é completamente diferente na obsessão, e a faculdade de curar não implica a de libertar os obsidiados. O fluido curador age materialmente sobre os órgãos afetados, ao passo que na obsessão é preciso agir moralmente sobre o Espírito obsessor; necessário ter autoridade sobre ele, para o fazer largar a presa. São duas aptidões distintas que nem sempre se encontram na mesma pessoa. O concurso do fluido curador torna-se necessário quando, o que é bastante frequente, a obsessão se complica com afecções orgânicas. (Pág. 349.)

185. A mediunidade curadora não vem suplantar a medicina e os médicos; vem simplesmente provar a estes que há coisas que eles não sabem e convidá-los a estudá-las, porquanto o elemento espiritual, que ignoram, não é uma quimera e, bem considerado, pode abrir novos horizontes à ciência. (Págs. 349 e 350.)

186. Dependendo a mediunidade de cura de uma disposição orgânica, muitas pessoas a possuem, ao menos em germe. Se todos os que desejam possuí-la a pedissem com fervor e perseverança pela prece, e com um objetivo exclusivamente humanitário, é provável que desse concurso sairia mais de um verdadeiro médium curador. Mas, pela natureza de seus efeitos, a mediunidade de cura exige imperiosamente o concurso de Espíritos depurados, que não poderiam ser substituídos por Espíritos inferiores. (Pág. 351.)

187. Há, pois, para o médium de cura a necessidade absoluta de se conciliar o concurso dos Espíritos superiores, senão, em vez de crescer, sua faculdade declina e desaparece pelo afastamento dos bons Espíritos. A primeira condição para isto é trabalhar em sua própria depuração, a fim de não alterar os fluidos salutares que está encarregado de transmitir. Essa condição não pode ser executada sem o mais completo desinteresse material e moral. O primeiro é mais fácil; o segundo é mais raro. (Pág. 352.)

188. Muitos médiuns têm caído em razão de se deixarem dominar pelo orgulho e pela vaidade. Os Espíritos explicaram a Kardec por que tais sentimentos impedem o crescimento dessa faculdade e prejudicam o seu exercício. A razão é simples: o poder de curar independe da vontade do médium, mas dependem  do médium as qualidades que podem tornar esse poder frutuoso e durável. Essas qualidades são, sobretudo, o devotamento, a abnegação e a humildade, enquanto que o egoísmo, o orgulho e a cupidez opõem obstáculos às mais belas faculdades. (Pág. 353.)

189. O verdadeiro médium curador é movido pelo único desejo do bem. É humilde de coração, não inveja ninguém e não tem a pretensão de se julgar infalível. À influência material junta a influência moral, auxiliar poderoso, que dobra a sua força. Por sua palavra benevolente, encoraja, levanta o moral, faz nascer a esperança e a confiança em Deus. Assim é o médium curador amado pelos bons Espíritos, que só se ligam aos que se mostram dignos de sua proteção. (Págs. 354 e 355.)

190. O número de novembro encerra-se com uma nota sobre a campanha em favor dos inundados iniciada em outubro pela Sociedade Espírita de Paris. As subscrições, que deveriam ser feitas no escritório da Revue , foram abertas com uma doação de 300 francos. (Pág. 355.)

191. A Revue  de dezembro de 1866 apresenta os pormenores do curioso caso ocorrido em 1816, à época de Luís XVIII, envolvendo o médium Thomas-Ignace Martin, um pequeno trabalhador do burgo de Gallardon, situado a quatro léguas de Chartres. Nascido em 1783, Martin tinha 33 anos quando se deram os acontecimentos. (Págs. 357 e 358.)

192. O caso pode ser assim resumido: A 15 de janeiro de 1816, estando o médium ocupado em apagar uma queimada num campo nas proximidades de Gallardon, apareceu-lhe um vulto que, mais tarde, se identificou como sendo o anjo Rafael. Esse Espírito iria aparecer e desaparecer diversas vezes, até que Martin atendesse ao seu pedido: levar ao rei um recado cujo teor ele somente saberia no momento da visita. O cura de Gallardon, cientificado das aparições, julgou dever dirigir-se ao seu bispo em Versalhes, o que fez com que as autoridades francesas se inteirassem da história, que parecia não ter qualquer nexo. Com a evolução do caso, o arcebispo de Reims se interessou pelo assunto e foi ele quem propôs ao rei receber Martin. A 2 de abril o médium foi levado à presença real e realizou-se então o encontro tão insistentemente proposto pelo anjo Rafael. O que se disse ali não vem ao caso, exceto que as palavras proferidas por Martin, sob a influência do notável mensageiro espiritual, comoveram o rei a ponto de o fazer chorar muito, porque ele próprio declarou mais tarde que as coisas que lhe tinham sido reveladas só eram conhecidas por ele (Luís XVIII) e por Deus. Logo que Martin terminou sua fala, o rei lhe disse que o anjo Rafael era o mesmo que conduziu o jovem Tobias a Rages. Depois perguntou-lhe qual das mãos o anjo havia apertado. Martin respondeu: “Esta”, mostrando a direita. O rei da França a segurou, dizendo: “Que eu toque a mão que o anjo apertou. Ore sempre por mim”. (Págs. 358 a 368.)

193. Depois da conversa com Luís XVIII, a qual durou ao menos 55 minutos, o médium não mais viu o Espírito de Rafael, mas desenvolveu outra faculdade: tornou-se auditivo. A Revue refere fragmentos de três cartas por ele escritas ao cura de Gallardon, revelando alguns fatos de audição mediúnica, conquanto Martin não tivesse visto ninguém  nem soubesse dizer quem lhe falara. (Págs. 368 e 369.) (Continua no próximo número.)


 


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