Incrédulos e
sábios
"Graças te
rendo, meu Pai,
Senhor do Céu e
da Terra, por
haveres ocultado
estas coisas aos
doutos e
prudentes e por
as teres
revelado aos
simples e
pequenos."
- Jesus (Mt.,
11:25.)
O homem, muitas
vezes vitimado
pela vaidade
intelectual,
erguido por si
mesmo ao
pedestal de
enganosa autossuficiência,
perde-se e
aturde-se em
muitas
encarnações
seguidas, nas
intrincadas
veredas
evolutivas.
Distraído pelo "canto
da sereia"
das ilusões que
o agrilhoa ao
enxurdeiro
das sensações
físicas, olvida
os reais valores
do Espírito
Imortal e, em
seu detrimento,
atrela-se inerme
e prazenteiro
aos subalternos
convites de
César e Mamon...
Induzidos por
falsos conceitos
– milenarmente
arraigados no
seio das
civilizações –,
os homens
tornam-se
joguetes das
paixões e a
incredulidade
ganha terreno na
leira fértil da
invigilância,
amealhando para
as suas fileiras
quantos se
comprazem nos
alvitres das
cogitações chãs,
sem maiores
horizontes,
senão os
limitados pelos
painéis
apoucados
construídos por
suas tendências
materialistas.
Incrédulos por
decepções,
incrédulos por
falso saber,
riem-se de forma
escarninha das
questões
metafísicas por
não lhes
apreenderem as
sutilíssimas
nuanças, tudo
reduzindo em
termos de crença
e estudo somente
o que alcança os
estreitos
sentidos
materiais. Ver
para crer,
dizem...
Modernos
Nicodemos e
Tomés, doutores
ciosos,
encastelados em
tola vaidade,
ainda tornam
plena de
atualidade a
célebre pergunta
de Jesus ao
doutor da lei:
- "Mas, se não
credes, quando
vos falo das
coisas da Terra,
como me crereis,
quando vos fale
das coisas do
Céu?"
O Espiritismo
não possui
vertente
proselitista.
Simplesmente
acolhe em seu
aconchegante
regaço todos
aqueles que
humildemente se
postam em
condições de
adquirir a
Ciência da
vida.
Quanto aos
incrédulos e aos
sábios, piores
estes do que
aqueles, não nos
compete
convencê-los e
com eles não nos
devemos ocupar,
de vez que, em
um tempo
determinado pelo
Pai Celestial,
eles se curvarão
ante os fatos,
contra os quais
não haverá
argumentação
possível.
O progresso é
uma inevitável
fatalidade.
Ninguém ou coisa
alguma poderá
obstá-lo, pelo
singelo motivo
de que o mesmo
faz parte dos
desígnios de
Deus.
Todo Espírito
refratário será
atropelado pela
força das coisas
e mesmo à sua
revelia
efetivar-se-á o
progresso pelo
qual será levado
de roldão.
Em "O
Evangelho
segundo o
Espiritismo",
itens 8 a 10 do
capítulo VII,
Allan Kardec
clareia de forma
magistral o
significado do
versículo
registrado por
Mateus (em
epígrafe),
iniciando por
afirmar:
"Pode parecer
singular que
Jesus renda
graças a Deus,
por haver
revelado estas
coisas aos
simples e aos
pequenos, que
são os pobres de
espírito, e por
tê-las ocultado
aos doutos e aos
prudentes, mais
aptos, na
aparência, a
compreendê-las.
É que cumpre se
entenda que os
primeiros são os
humildes, são os
que se humilham
diante de Deus e
não se
consideram
superiores a
toda gente. Os
segundos são os
orgulhosos,
envaidecidos do
seu saber
mundano, os
quais se julgam
prudentes porque
negam e tratam a
Deus de igual
para igual,
quando não se
recusam a
admiti-lO,
porquanto, na
Antiguidade,
douto era
sinônimo de
sábio. Por isso
é que Deus lhes
deixa a pesquisa
dos segredos da
Terra e revela
os do Céu aos
simples e aos
humildes que
diante d`Ele se
prostram. O
mesmo se dá hoje
com as grandes
verdades que o
Espiritismo
revelou. Alguns
incrédulos se
admiram de que
os Espíritos tão
poucos esforços
façam para os
convencer. A
razão está em
que estes
últimos cuidam
preferentemente
dos que
procuram, de
boa-fé e com
humildade, a
luz, do que
daqueles que se
supõem na posse
de toda a luz e
imaginam,
talvez, que Deus
deveria dar-Se
por muito feliz
em atraí-los a
Si,
provando-lhes a
Sua existência.
(...) Não se
espantem, pois,
os incrédulos de
que nem Deus,
nem os
Espíritos, que
são os
executores da
Sua vontade, se
lhes submetam às
exigências.
Inquiram de si
mesmos o que
diriam, se o
último de seus
servidores se
lembrasse de
lhes prescrever
fosse o que
fosse. Deus
impõe condições
e não aceita as
que Lhe queiram
impor. Escuta,
bondoso, os que
a Ele se dirigem
humildemente e
não os que se
julgam mais do
que Ele.
(...) O orgulho
é a catarata que
tolda a visão
dos incrédulos e
dos sábios. De
que vale
apresentar a luz
a um cego?
Necessário é
que, antes, se
lhe destrua a
causa do mal.
Daí vem que,
médico hábil,
Deus
primeiramente
corrige o
orgulho. Ele não
deixa ao
abandono aqueles
de Seus filhos
que se acham
perdidos,
porquanto sabe
que cedo ou
tarde os olhos
se lhes abrirão.
Quer, porém, que
isso se dê de
moto-próprio,
quando, vencidos
pelos tormentos
da
incredulidade,
eles venham de
si mesmos
lançar-se-Lhe
nos braços e
pedir-Lhe
perdão, quais
filhos
pródigos”.