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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 172 - 22 de Agosto de 2010

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)


Incrédulos e  sábios

"Graças te rendo, meu Pai, Senhor do Céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e prudentes e por  as  teres  revelado aos  simples e  pequenos."  - Jesus (Mt., 11:25.)


O homem, muitas vezes vitimado pela vaidade intelectual, erguido por si mesmo ao pedestal de enganosa autossuficiência, perde-se e aturde-se em muitas encarnações seguidas, nas intrincadas veredas evolutivas.

Distraído pelo "canto da sereia" das ilusões que o agrilhoa ao enxurdeiro das sensações físicas, olvida os reais valores do Espírito Imortal e, em seu detrimento, atrela-se inerme e prazenteiro aos subalternos convites de César e Mamon...

Induzidos por falsos conceitos – milenarmente arraigados no seio das civilizações –, os homens tornam-se joguetes das paixões e a incredulidade ganha terreno na leira fértil da invigilância, amealhando para as suas fileiras quantos se comprazem nos alvitres das cogitações chãs, sem maiores horizontes, senão os limitados pelos painéis apoucados construídos por suas tendências materialistas.

Incrédulos por decepções, incrédulos por falso saber, riem-se de forma escarninha das questões metafísicas por não lhes apreenderem as sutilíssimas nuanças, tudo reduzindo em termos de crença e estudo somente o que alcança os estreitos sentidos materiais. Ver para crer, dizem...

Modernos Nicodemos e Tomés, doutores ciosos, encastelados em tola vaidade, ainda tornam plena de atualidade a célebre pergunta de Jesus ao doutor da lei[1]:

- "Mas, se não credes, quando vos falo das coisas da Terra, como me crereis, quando vos fale das coisas do Céu?" 

O Espiritismo não possui vertente proselitista. Simplesmente acolhe em seu aconchegante regaço todos aqueles que humildemente se postam em condições de adquirir a Ciência da vida.     

Quanto aos incrédulos e aos sábios, piores estes do que aqueles, não nos compete convencê-los e com eles não nos devemos ocupar, de vez que, em um tempo determinado pelo Pai Celestial, eles se curvarão ante os fatos, contra os quais não haverá argumentação possível.

O progresso é uma inevitável fatalidade. Ninguém ou coisa alguma poderá obstá-lo, pelo singelo motivo de que o mesmo faz parte dos desígnios de Deus.

Todo Espírito refratário será atropelado pela força das coisas e mesmo à sua revelia efetivar-se-á o progresso pelo qual será levado de roldão.

Em "O Evangelho segundo o Espiritismo", itens 8 a 10 do capítulo VII, Allan Kardec clareia de forma magistral o significado do versículo registrado por Mateus (em epígrafe), iniciando por afirmar:

"Pode parecer singular que Jesus renda graças a Deus, por haver revelado estas coisas aos simples e aos pequenos, que são os pobres de espírito, e por tê-las ocultado aos doutos e aos prudentes, mais aptos, na aparência, a compreendê-las. É que cumpre se entenda que os primeiros são os humildes, são os que se humilham diante de Deus e não se consideram superiores a toda gente. Os segundos são os orgulhosos, envaidecidos do seu saber mundano, os quais se julgam prudentes porque negam e tratam a Deus de igual para igual, quando não se recusam a admiti-lO, porquanto, na Antiguidade, douto era sinônimo de sábio. Por isso é que Deus lhes deixa a pesquisa dos segredos da Terra e revela os do Céu aos simples e aos humildes que diante d`Ele se prostram. O mesmo se dá hoje com as grandes verdades que o Espiritismo revelou. Alguns incrédulos se admiram de que os Espíritos tão poucos esforços façam para os convencer. A razão está em que estes últimos cuidam preferentemente dos que procuram, de boa-fé e com humildade, a luz, do que daqueles que se supõem na posse de toda a luz e imaginam, talvez, que Deus deveria dar-Se por muito feliz em atraí-los a Si, provando-lhes a Sua existência.

(...) Não se espantem, pois, os incrédulos de que nem Deus, nem os Espíritos, que são os executores da Sua vontade, se lhes submetam às exigências. Inquiram de si mesmos o que diriam, se o último de seus servidores se lembrasse de lhes prescrever fosse o que fosse. Deus impõe condições e não aceita as que Lhe queiram impor. Escuta, bondoso, os que a Ele se dirigem humildemente e não os que se julgam mais do que Ele.

(...) O orgulho é a catarata que tolda a visão dos incrédulos e dos sábios. De que vale apresentar a luz a um cego? Necessário é que, antes, se lhe destrua a causa do mal. Daí vem que, médico hábil, Deus primeiramente corrige o orgulho. Ele não deixa ao abandono aqueles de Seus filhos que se acham perdidos, porquanto sabe que cedo ou tarde os olhos se lhes abrirão. Quer, porém, que isso se dê de moto-próprio, quando, vencidos pelos tormentos da incredulidade, eles venham de si mesmos lançar-se-Lhe nos braços e pedir-Lhe perdão, quais filhos pródigos”.            


 

[1] - Jo., 3:12.
 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita