VINÍCIUS LOUSADA
vlousada@hotmail.com
Bagé, Rio Grande do Sul (Brasil)
Disciplina
É tempo de adotares
posicionamento enérgico
contigo mesmo,
instalando-te nas faixas
dos luminosos Guias da
Terra.
– Camilo
No século
XVIII, Immanuel Kant
propunha em sua
“Pedagogia” a
educação como meio de
fazer o homem chegar à
perfeição a que se
destina, expondo a
disciplina como uma
das facetas da arte de
educar, ao lado do
cuidado e da instrução.
Considerando a
indisciplina um mal
muito maior do que a
“falta de cultura”, Kant
vai insistir na ideia de
que somente a disciplina
educativa pode
transformar a
animalidade do ser
humano em humanidade. Ou
seja, ao modelar a
natureza humana pela
disciplina, pela
correção firme de
hábitos, é que se vai
constituir o que é o
humano, chegando a
afirmá-la como: “o que
impede ao homem de
desviar-se do seu
destino, ou desviar-se
da humanidade, através
de suas inclinações
animais”.
Quando na Terra se
instala o Consolador, os
Espíritos
Luminares esclarecem
a Allan Kardec que o
egoísmo só poderia ser
extirpado do coração
humano através da
reforma das
instituições que o
entretêm e excitam,
fato que
fundamentalmente
“depende da educação.”
Desse modo, a
Filosofia dos Espíritos
nos indica a
necessidade de
educar-nos,
disciplinando a vontade,
contendo os impulsos
sedimentados na
repetição dos maus
hábitos, na tentativa de
transcendermos o egoísmo
na prática dinâmica do
amor.
Algumas vezes, por causa
de uma leitura
irrefletida das páginas
espíritas, imaginamos
que as virtudes – que
todos possuímos em
potencial para ser
desenvolvido – irão
desabrochar como que num
passe de mágica, sem
esforço. Ledo engano: as
virtudes nascem no
cumprimento do dever, no
trabalho continuado e
autônomo pela mudança
interior.
Portanto, o conhecimento
espírita propõe-nos o
estudo de nossas
limitações evolutivas,
para que as reconhecendo
no tribunal da própria
consciência, sem
complexo de culpa ou
mecanismos de defesa,
lutemos em superá-las,
focalizando a nossa
atenção na educação de
nossos sentimentos.
Aliás, quando Allan
Kardec traça anotações
sobre o homem
de bem, não
nos apresenta um perfil
angelical inalcançável,
mas sim o caráter de um
indivíduo que, entre
outras nobres atitudes:
“Estuda as suas próprias
imperfeições e trabalha,
sem cessar, em
combatê-las”
.
Cujos esforços pessoais
se orientam no sentido
de que possa dizer
a si
mesmo no dia de amanhã
que há nele alguma coisa
de melhor do que na
véspera.
Nesta linha de reflexão,
o educador Paulo Freire
escreveu, oportunamente,
que: “Ninguém supera a
fraqueza sem
reconhecê-la”.
Vindo a somar com a
nossa meditação em torno
desta proposta que a
Codificação descortina:
é preciso investigar as
nossas imperfeições e
identificá-las para
conhecer a intensidade
da força dos vícios
sobre nós mesmos, a fim
de trabalharmos por
nossa libertação,
mediante a
“resistência voluntária
ao arrastamento dos maus
pendores”
,
que, segundo os
Espíritos, já se
configura num sinal de
virtude.
Para tanto, disciplinar
o nosso modo de viver
deve fazer parte da
pauta de nossas
ocupações diárias. Caso
não canalizemos nossa
vontade neste sentido,
toda a fala a esse
respeito é pura
desonestidade conosco
mesmos e perda de tempo
na estrada da evolução.
Tenho de lembrar que a
disciplina da qual falo,
baseado no que o
Espiritismo nos orienta
sobre a vivência da
mensagem de Jesus, não é
neurótica rotina, mas
alegre e consciente
transformação
comportamental para
melhor.
Neste tentame, o
autodescobrimento
facilita a disciplina,
concedendo à criatura a
distinção do joio e do
trigo no campo dos
sentimentos.
Através do
direcionamento positivo
da vontade e dos
desejos, sem
autocomplacência,
fazemo-nos capazes de
decidir com autonomia,
libertando-nos do jugo
das más inclinações e do
sofrimento delas
oriundo.
Nesse uso inteligente do
livre-arbítrio, levando
em conta que querer é
poder, encontramos
motivação para contermos
as paixões inferiores,
conquistando
paulatinamente
equilíbrio e renovação.
Disciplinando o
pensamento, sintonizamos
com as correntes
fluídicas que
transportam ideias
enobrecidas e
encontramos inspiração
para produzir algo de
bom.
Pela prece,
vinculamo-nos aos bons
Espíritos que estão
engajados nas obras que
o Pai lhes confiou e nos
fortalecemos para agir
no bem.
Em nossos esforços
autoeducativos, fixemos
a lição do Espírito que
se nomeou Jorge, quando
dita que a perfeição
“está toda nas reformas
por que fizerdes passar
o vosso Espírito.
Dobrai-o, submetei-o,
humilhai-o,
mortificai-o: esse o
meio de o tornardes
dócil à vontade de Deus
e o único de alcançardes
a perfeição”.