WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná
(Brasil)
Felicidade por decreto
Projeto de lei de
iniciativa do senador
Cristovam Buarque,
datado de maio último,
propõe que passe a
constar na Constituição
Federal o “direito à
busca da felicidade”.
Basicamente consistiria
em autorizar todo
cidadão brasileiro a
reivindicar do Estado o
acesso a satisfatórias
condições de educação,
saúde, trabalho,
moradia, lazer,
segurança e outros
benefícios sociais.
A ideia não constitui
propriamente novidade
uma vez que outros
países já possuem na
legislação algo
semelhante. O pouco
falado Butão, país
asiático, até criou uma
metodologia para medir o
nível de felicidade da
população. Trata-se do FIB ou Felicidade
Interna Bruta, à
semelhança do PIB ou
Produto Interno Bruto
que é a somatória de
todas as riquezas
produzidas no país.
Felicidade bruta deve
ser interessante!
A princípio, a ideia
pode parecer muito boa,
mas acreditamos que o
projeto é uma utopia
fadada a “morrer na
casca”, como se diz.
Pode estar revestida das
melhores intenções, mas
não possui nenhuma
aplicabilidade prática.
É mais uma lei que não
vingará. E mesmo que
pudesse alcançar algum
sucesso, contém uma
grande distorção de
conceito.
Aristóteles afirmava que
felicidade atinge-se
pelo exercício da
virtude e não da posse.
Da mesma forma, conta-se
que outro sábio grego,
Sócrates, gostava de
frequentar o mercado
público ateniense e,
quando indagado sobre o
que fazia por ali, dizia
que gostava de olhar
quanta coisa existia de
que ele não precisava
para ser feliz.
Há um dito popular de
que dinheiro não compra
felicidade, mas manda
buscar. Não podemos
negar que boas condições
sociais como as listadas
pelo senador Cristovam
contribuam para o
bem-estar geral do
indivíduo, mas
felicidade é algo que
vem de dentro para fora
e jamais o contrário,
principalmente por meio
de decreto. O economista
holandês Paul Frijters
explica: “Não é um bom
casamento ou boa saúde
que torna alguém feliz,
mas ser feliz é que faz
com que uma pessoa tenha
casamento harmonioso e
boa saúde”.
Várias pesquisas,
algumas curiosas,
demonstram com clareza
que recursos materiais
não são sinônimos de
felicidade. Por exemplo,
na revista Veja
de 10 de outubro de 2004
assinala que os 400 mais
ricos dos USA não eram
mais felizes do que os
de classe média. Segundo
o levantamento, a
felicidade não está
relacionada diretamente
com dinheiro ou
inteligência. Em geral,
casados vivem melhor do
que solteiros e
religiosos do que os não
praticantes.
Na mesma revista, edição
de 24/03/10, informa-se
que nos últimos 35 anos
o PIB per capita
americano cresceu de 17
mil para 27 mil dólares,
o tamanho das casas
aumentou 50% e as
famílias com computador
subiram de zero para
70%, mas os índices de
felicidade não se
alteraram.
Os nigerianos com 1400
dólares se dizem mais
felizes do que os
japoneses com toda sua
tecnologia e 25 vezes
mais renda. Já em
Bangladesh há duas vezes
mais felicidade do que
entre os russos que são
quatro vezes mais ricos
e os afegãos apresentam
elevado grau de
felicidade,
especialmente nas áreas
controladas pelo Talibã,
arcaico e repressivo.
Mais uma vez a Veja
(14/04/04) relacionava o
otimismo e a
generosidade como
fatores básicos para o
sentimento de
felicidade.
Como se vê, tudo depende
do que entendemos por
felicidade. Tem gente
que pensa encontrá-la na
sexualidade desregrada,
no uso de psicotrópicos,
no corpo malhado, na
fama. A questão 922 de
“O Livro dos Espíritos”
esclarece que “a medida
da felicidade se faz
pela posse do
necessário, consciência
pura e fé no futuro”. E,
na 917, que “o egoísmo é
a causa da infelicidade
e raiz de todos os
vícios”. As pesquisas
chegaram à mesma
conclusão dos Espíritos
porque otimismo é
possuir fé no futuro e
generosidade é ausência
de egoísmo.