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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 172 - 22 de Agosto de 2010

WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná (Brasil)  
 

Felicidade por decreto 


Projeto de lei de iniciativa do senador Cristovam Buarque, datado de maio último, propõe que passe a constar na Constituição Federal o “direito à busca da felicidade”. Basicamente consistiria em autorizar todo cidadão brasileiro a reivindicar do Estado o acesso a satisfatórias condições de educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança e outros benefícios sociais.

A ideia não constitui propriamente novidade uma vez que outros países já possuem na legislação algo semelhante. O pouco falado Butão, país asiático, até criou uma metodologia para medir o nível de felicidade da população. Trata-se do FIB ou Felicidade Interna Bruta, à semelhança do PIB ou Produto Interno Bruto que é a somatória de todas as riquezas produzidas no país. Felicidade bruta deve ser interessante!

A princípio, a ideia pode parecer muito boa, mas acreditamos que o projeto é uma utopia fadada a “morrer na casca”, como se diz. Pode estar revestida das melhores intenções, mas não possui nenhuma aplicabilidade prática. É mais uma lei que não vingará. E mesmo que pudesse alcançar algum sucesso, contém uma grande distorção de conceito.

Aristóteles afirmava que felicidade atinge-se pelo exercício da virtude e não da posse. Da mesma forma, conta-se que outro sábio grego, Sócrates, gostava de frequentar o mercado público ateniense e, quando indagado sobre o que fazia por ali, dizia que gostava de olhar quanta coisa existia de que ele não precisava para ser feliz.

Há um dito popular de que dinheiro não compra felicidade, mas manda buscar. Não podemos negar que boas condições sociais como as listadas pelo senador Cristovam contribuam para o bem-estar geral do indivíduo, mas felicidade é algo que vem de dentro para fora e jamais o contrário, principalmente por meio de decreto. O economista holandês Paul Frijters explica: “Não é um bom casamento ou boa saúde que torna alguém feliz, mas ser feliz é que faz com que uma pessoa tenha casamento harmonioso e boa saúde”.

Várias pesquisas, algumas curiosas, demonstram com clareza que recursos materiais não são sinônimos de felicidade. Por exemplo, na revista Veja de 10 de outubro de 2004 assinala que os 400 mais ricos dos USA não eram mais felizes do que os de classe média. Segundo o levantamento, a felicidade não está relacionada diretamente com dinheiro ou inteligência. Em geral, casados vivem melhor do que solteiros e religiosos do que os não praticantes.

Na mesma revista, edição de 24/03/10, informa-se que nos últimos 35 anos o PIB per capita americano cresceu de 17 mil para 27 mil dólares, o tamanho das casas aumentou 50% e as famílias com computador subiram de zero para 70%, mas os índices de felicidade não se alteraram.

Os nigerianos com 1400 dólares se dizem mais felizes do que os japoneses com toda sua tecnologia e 25 vezes mais renda. Já em Bangladesh há duas vezes mais felicidade do que entre os russos que são quatro vezes mais ricos e os afegãos apresentam elevado grau de felicidade, especialmente nas áreas controladas pelo Talibã, arcaico e repressivo.

Mais uma vez a Veja (14/04/04) relacionava o otimismo e a generosidade como fatores básicos para o sentimento de felicidade.

Como se vê, tudo depende do que entendemos por felicidade. Tem gente que pensa encontrá-la na sexualidade desregrada, no uso de psicotrópicos, no corpo malhado, na fama. A questão 922 de “O Livro dos Espíritos” esclarece que “a medida da felicidade se faz pela posse do necessário, consciência pura e fé no futuro”. E, na 917, que “o egoísmo é a causa da infelicidade e raiz de todos os vícios”. As pesquisas chegaram à mesma conclusão dos Espíritos porque otimismo é possuir fé no futuro e generosidade é ausência de egoísmo.

Encerramos com duas frases interessantes: “Somente a felicidade que se divide é a que se multiplica” e a outra diz que “Quem enxuga lágrimas alheias não tem tempo de chorar”. 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita