ÂNGELA MORAES
anjeramoraes@hotmail.com
Bauru, São Paulo
(Brasil)
Há muitas moradas
na Casa do Pai
“Há muitas
moradas na casa
de meu Pai. Se
assim não fosse,
eu vo-lo teria
dito, pois me
vou para vos
preparar o lugar.
Depois que me
tenha ido e que
vos houver
preparado o
lugar, voltarei
e vos retirarei
para mim, a fim
de, onde eu
estiver, também
vós aí estejais.”
(João, cap. XIV,
vv . 1 a 3.)
As diferentes
moradas são
mundo que
circulam no
espaço infinito
e oferecem, aos
Espíritos que
neles encarnam,
moradas
correspondentes
ao adiantamento
dos mesmos
Espíritos.
(O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
cap.III.)
Envolto em halo
de
resplandecente
luz, Eliseo
aguardava novas
ordens do Pai
para seu
trabalho amoroso
de auxílio aos
infortunados da
Terra. Entre
estes, não podia
deixar de
almejar a
evolução e o
reencontro com
almas queridas
da sua, que o
acolheram ou
compartilharam
as dores e
alegrias da
família
encarnada,
embora cada uma
estivesse agora
em diferentes
pontos de suas
trajetórias
pessoais.
Encontrava-se em
uma colônia
espiritual de
sutilíssimas
formas, onde
praticamente
residiam apenas
Espíritos de
igual propósito
ao seu:
trabalhadores
abnegados do
Cristo. Se o
Mestre tivesse
um exército de
anjos, ali seria
seu quartel
general.
Enquanto
aguardava,
Eliseo não pôde
se furtar à
lembrança de
como o seu
caminho até ali
havia sido longo
e de muito
trabalho.
Lembrou-se
vagamente de
suas primeiras
encarnações na
Terra, um
planeta hostil,
com animais e
seres humanos
ferozes. Há
quantos milhões
de anos? Não
saberia
calcular.
Lembrou-se da
fome insaciável
que seu corpo
rudimentar lhe
infringia e da
briga incessante
por alimento que
travava com os
demais, na
disputa pela
sobrevivência.
Lamentou a
violência de seu
espírito ainda
tão bruto.
Desta
reminiscência,
sua tela mental
lhe adiantou
séculos,
trazendo-o para
regiões pobres
da Ásia, onde se
viu ladeado por
irmãos em uma
mesma e pequena
aldeia.
Lembrava-se de
crescer entre
muitos, ainda
disputando os
alimentos, mas
percebeu que foi
nessa vida que
aprendeu algo
relativo a
compartilhar e a
viver em uma
grande família.
O chefe da
aldeia foi,
naquela
existência, quem
lhe mostrou o
sentido da
palavra união.
Pelo menos,
daquela aldeia
contra as
demais. Riu-se
da ignorância de
seu espírito
infantil.
Avançando em
suas recordações,
Eliseo lembrou-se
de uma de suas
encarnações na
Terra que o
houvera marcado
profundamente.
Era a primeira
vez que ele
reencarnara em
um círculo bem
pequeno de
pessoas. Entre
elas, uma figura
feminina olhava
insistentemente
para ele, de
jeito doce e
amoroso. Viu-se,
maravilhado,
recebendo o
alimento na boca
por aquela a
quem haveria de
devotar todos os
seus dias. Viu-a
protegendo-o das
maldades do
mundo. Foi assim
que conhecera o
amor desvelado
de uma mãe. Com
lágrimas de
saudade profunda,
acompanhou a
trajetória deste
Espírito que ele
amara pelos
séculos, e sabia
que ela, neste
momento, se
encontrava ainda
no orbe terreno,
presa ainda a
ilusões
materiais,
apesar de seu
coração
boníssimo.
Recordou-se
também da
existência
terrena em que,
apresentado a
uma estranha
doutrina
postulada por um
carpinteiro de
Nazaré, viu-se
envolvido por
novos e sublimes
ideais. Conheceu
Espíritos
verdadeiramente
devotados ao bem
da humanidade
trabalhando em
nome desse
Mestre, e seu
espírito se
entregou a Ele.
Nessa trajetória,
não pôde deixar
de lembrar-se de
um homem que,
cego à sabedoria
da Vida, lhe
proporcionara
grande
sofrimento
moral, levando-o
ao martírio e à
morte. Lembrou-se
dos séculos que
ele próprio
errara no Umbral,
em perseguição
ao seu algoz.
Das encarnações
que ele se
dispusera a
persegui-lo e a
desgraçá-lo. E
do perdão que o
cansaço lhe
havia
inegavelmente
solicitado.
Lembrou-se então
das várias
encarnações em
que viera seu
filho, até que a
rejeição de
ambos se
transformasse em
amor verdadeiro.
Com pesar, no
entanto, vira
aquele Espírito
endurecido em
ideias
religiosas
radicais
permanecer nesse
mesmo estado por
séculos, fazendo
sofrer outros
irmãos em
diferentes
épocas da
humanidade.
Habitava, hoje,
em sombrias
regiões
Umbralinas, seu
antigo genitor,
agora perseguido
por outros que,
como ele, um dia
teriam de perdoá-lo.
Eliseo enxugou
uma lágrima de
compaixão. E
lembrou-se de
quando foi que
aprendeu a
desvelar seu
coração em
função dos
outros: depois
de inúmeras
existências
terrenas, foi
acolhido em uma
Colônia
Espiritual onde
houvera
conhecido
Espíritos de
bondade e amor
inigualáveis
pela família
humana. Lembrou-se
de estranhar
tamanho
desprendimento!
Mas aceitando
sua trajetória
de redenção,
infiltrou-se em
equipes
socorristas a
irmãos em
diferentes
planos
espirituais. No
início, o
trabalho se lhe
afigurava
horrorizante e
enfadonho, dada
a teimosia e a
rebeldia dos que
sofrem em
manterem-se
nessas posições.
Mas foi nesse
percurso, no
entanto, que
conheceu uma
alma que lhe
compreendia
amorosamente as
limitações e lhe
dispensava as
mais doces
atenções. Fora
da carne,
conheceu o amor
romântico,
profundo e
sublime que duas
almas possam
compartilhar
entre si.
Trabalharam por
mais de três
séculos juntos,
em que ela lhe
dera os mais
legítimos
exemplos de
fraternidade
humana, acabando
por ajudá-lo a
desenvolver em
si mesmo o amor
e a compaixão
legítima. Clara
habitava hoje em
um mundo mais
elevado que o
seu, também à
espera do
próximo trabalho
que o Pai lhe
incumbiria em
sua seara.
Pensou nela, e
seu perfume veio
beijar-lhe a
face em doce
brisa, sabendo
que ela o
sentira e
devolvera-lhe a
vibração de amor,
prometendo
visitá-lo em
breve.
- Eliseo, meu
amigo, vamos
entrar – chamou
o dirigente
daquela
Instituição
Espiritual, que
dirigia os
esforços dos
irmãos
benfeitores em
função da
família humana
encarnada. –
Temos muito
trabalho a
fazer, irmão,
por isso o tempo
urge.
- Sim, amigo
Leônidas. Eis-me
aqui à
disposição do
Mestre.
- Vejo, querido
amigo, que
embora nunca
tenha escolhido
essa ou aquela
tarefa, em
tantos anos de
trabalho, hoje
seu coração está
especialmente
dolorido.
- É verdade,
caro benfeitor.
Muita felicidade
me causa ser
ferramenta do
Pai para minorar
a dor de nossos
irmãos. Mas,
hoje, meu
coração não
consegue se
afastar de duas
pessoas que me
foram muito
caras e se
encontram em
situação ainda
extremamente
difícil.
- Alegre, então,
seu coração,
nobre amigo. A
Divina Bondade
concede a você,
a partir de hoje,
a autorização
para ser o
mentor
espiritual de
seu antigo
genitor, em nova
roupagem terrena.
Já é tempo dele
sair da prisão
em que colocou a
si mesmo. Saberá
dar valor à
liberdade de ir
e vir, de pensar
e crer, quando
sair de um corpo
limitado de
carne, ao final
desta
oportunidade.
Reencarnará em
corpinho
franzino, com
grandes
dificuldades de
comunicação, mas
você será a voz
da serenidade e
da paciência a
ecoar em seu
espírito.
Eliseo não cabia
em si de
felicidade!
- E tem mais:
sua antiga mãe,
que tantas vidas
já teve sobre a
Terra, ainda não
conseguiu se
desvencilhar das
armadilhas do
ouro. Está à
beira de cometer
mais uma vez o
erro de
consorciar-se
apenas por
interesse. Ela
terá a
oportunidade em
função da índole
de seu atual
noivo, também
dado aos
arroubos da
vaidade. Mas
receberão um
filho especial
em seu meio, a
fim de que
aprendam que o
cuidado e o amor
transbordam os
limites da
matéria. Irá
trabalhar em
conjunto com os
amigos e
mentores
espirituais que
hoje acompanham
nossos queridos
protagonistas,
Eliseo. Mas a
sua incumbência
principal é
lembrá-los de
seus
compromissos de
evolução, e, se
tudo der certo,
de que a bonança
em que vivem
deve ser
compartilhada
entre outras
famílias com
filhos especiais.
Eliseo abraçou
comovido o
instrutor
abnegado,
agradecendo com
toda a sua alma
a oportunidade
de estar perto
das pessoas que
amou, podendo
trabalhar pela
evolução delas.
Pensou na imensa
aldeia chamada
Universo, onde
Deus abrigava,
sob Seus
cuidados, tantas
e tantas moradas.
E agradeceu a
Jesus, o Mestre
sublime de
Nazaré, por ter
vindo antes e
preparado o
lugar onde todos
haveriam de
chegar.