CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
A tolerância é a
fruta madura
Que não se
entenda nisso um
posicionamento
radical quanto
ao assunto, de
vez que existem
situações e
situações,
praticamente em
razão direta de
cada ser humano
vivente; desejo
tecer, contudo,
considerações
acerca da
dosagem
necessária da
tolerância em
qualquer tipo de
compromisso
amoroso mais
sério, quando
das ocasiões das
diferenças, em
favor,
sobretudo, do
crescimento
mútuo, e daquela
constatação de
que é possível,
sim, dar uma
demonstração
objetiva da
possibilidade da
união entre
pessoas que
discordam, ou
mesmo entre
aquelas
diametralmente
opostas no seu
perfil humano,
na
exemplificação
daquele amor
maduro que
mostrará aos
nossos filhos a
máxima de que
"ter razão não é
tudo", quando
visamos
objetivos
maiores.
Hoje em dia
apela-se muito
facilmente para
o divórcio. Não
questiono, no
âmbito sagrado
de cada
histórico
individual,
todos os casos
em que esta
medida se mostra
uma bênção, para
sanar consequências
graves nos
relacionamentos
problemáticos,
em virtude de
violência,
vícios, ou
naquele
parâmetro de
convivência
potencialmente
destrutivo para
ambas as partes,
onde nenhum dos
dois cresce como
pessoa, e ainda
angaria traumas
sérios em
decorrência de sequelas
emocionais. Faço
alusão, aqui,
àquele tipo de
fragilidade
pouco afeita à
perseverança, ao
se investir numa
relação a dois,
que invoca, a
pretexto de tudo
e de nada, a
legendária saída
do "cada um para
o seu lado".
Num mês, se ama
desesperadamente.
No seguinte,
porém, a
propósito de uma
diferença de
gostos por uma
pasta de dentes,
nada mais vale a
pena: todas as
qualidades
potenciais de
ambas as partes
envolvidas,
literalmente,
desaparecem de
todas as
considerações
possíveis, e
aquilo que antes
fora uma certeza
de amor eterno,
se transforma na
mais absoluta
incapacidade
para se aturar o
outro por mais
um minuto que
seja.
É importante não
amesquinharmos
um sentimento
tão sublime e
poderoso quanto
o amor - quando
é amor, diga-se!
- porque,
principalmente
numa relação
sólida
envolvendo
filhos, há que
se transmitir,
por conta deste
"amor", e em
favor da
integridade
emocional das
crianças,
exemplo do real
potencial de
algo que, antes
de tudo, implica
em abnegação,
tolerância,
entendimento e
naquela
disposição nobre
de se realçar no
outro as suas
qualidades (e
todos as têm;
não se deve
confundir
diferenças com
defeitos), para
a devida
valorização de
uma relação que
pode e deve ser
nutrida em favor
da constatação
de que é
possível, sim, a
consagração dos
valores
familiares nos
dias que correm.
Não concebo amor
genuíno sem
tolerância. É
esta a exata
lição que
aprendemos no
decorrer das
vidas
sucessivas, que
nos lançam em
novos tipos de
interação com
aqueles
adversários
aparentemente
"irremediáveis"
do passado.
Juntamo-nos
novamente a
estes seres, num
contexto
diferente de
circunstâncias -
os antes maridos
como irmãos; as
antes amigas
como mães -
porque é justo
neste
compartilhar
estreito de
convivência que
aprenderemos a
lidar, sob um
novo enfoque, e
movidos por um
gênero de
afetividade
diverso, com
aquelas
características
responsáveis, no
passado, por
dissensões
aparentemente
insanáveis.
Aprenderemos,
por exemplo, que
o amor
entremeado pela
tolerância
esmerada de uma
mãe compreenderá
muito mais
facilmente, e
sem "rompimentos
definitivos",
aquele padrão de
comportamento
para com o qual
demonstramos
tanta
impaciência em
épocas em que
aquele que hoje
é um filho amado
se apresentava,
talvez, como um
mero amigo ou
conhecido.
A tolerância é
entranhada no
amor, sem
remissão. Não há
para onde
apelar, se
ansiamos um
mundo embasado
na paz e na
reciprocidade
fraterna de
sentimentos. E o
exemplo deve
partir, em
princípio, do
círculo estreito
dos nossos
relacionamentos
familiares.
Neste sentido, a
família
permanece como a
célula da
sociedade. Não
na visão egoísta
de só se amar os
nossos
consanguíneos;
mas no
entendimento
pleno de que, se
com os nossos
próprios
consortes não
conseguimos
emprestar às
nossas atitudes
as bases sólidas
da compreensão
mútua, da
estima, e da
compaixão
fundamentada na
humildade lúcida
e consciente das
nossas próprias
limitações, para
se compreender
devidamente as
do outro, não
haverá meio de
sonharmos com
uma sociedade
estruturada
nestes
princípios, já
que cada
elemento
interessado, a
priori, não
estará pronto
para realizá-lo
no seu restrito
universo
particular.
A tolerância é o
fruto maduro do
amor verdadeiro.