A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
16 e final)
Concluímos nesta edição
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado foi
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Quem foi o
príncipe Hohenlohe e por
que ele se tornou
famoso?
O príncipe Hohenlohe
tornou-se famoso por
causa das curas que
obtinha. A Revue
transcreveu do jornal La
Verité, de Lyon, de 21
de outubro de 1866, um
artigo sobre as curas
obtidas por ele no ano
de 1829, portanto antes
do advento do
Espiritismo. Em
Wurtzbourg, cidade
localizada na Baviera, o
príncipe invocava sobre
os enfermos que o
buscavam as graças
divinas, e eles eram
curados de repente. Sua
fama, por causa disso,
espalhou-se logo e
muitas curas
extraordinárias foram
anotadas por testemunhas
idôneas, como o Sr.
Scharold, conselheiro de
legação na mencionada
cidade. Treze casos
referidos pelo Sr.
Scharold são descritos
no artigo. O mais
notável deles se deu na
casa do Sr. Reinach,
deão do capítulo, onde
morava uma princesa de
17 anos de idade:
Mathilde de
Schwartzemberg. Havia
dois anos que a jovem
não conseguia andar,
apesar de tratada pelos
médicos mais famosos da
França, da Itália e da
Áustria. O príncipe
Hohenlohe perguntou-lhe
se tinha fé que Jesus
poderia curá-la. Ela
disse que sim. O
príncipe então pediu-lhe
que orasse do fundo do
coração e pusesse sua
confiança em Deus.
Quando terminou a
oração, ele lhe deu sua
bênção e informou:
“Vamos, princesa,
levantai-vos; agora
estais curada e podeis
andar sem dores”. (Revue
Spirite de 1866, pp. 371
a 374.)
B. Como o príncipe,
depois de haver
desencarnado, explicou
as curas que obtivera?
Ele referiu-se ao
assunto numa mensagem
dada em outubro de 1866
na Sociedade Espírita de
Paris. Disse, então,
valendo-se da
mediunidade do Sr.
Desliens, que a
faculdade de que fora
dotado era,
efetivamente, a
mediunidade de cura: “Eu
era instrumento; os
Espíritos agiam e, se
algo eu pude, não foi
certamente senão por meu
grande desejo de fazer o
bem e pela convicção
íntima que a Deus tudo é
possível”. (Obra citada,
pp. 375 a 377.)
C. Que ensinamentos o
príncipe nos trouxe em
sua mensagem?
Ele disse, entre outras
coisas, o seguinte: 1) A
mediunidade curadora foi
exercida em todos os
tempos e por indivíduos
pertencentes às
diferentes religiões. 2)
A faculdade curadora
pode existir em pessoas
indignas, mas não é nem
poderia ser senão
passageira. É um meio
enérgico de lhes abrir
os olhos: tanto pior
para os que teimam em
conservá-los fechados.
3) Há apenas uma maneira
de exercer bem a
faculdade de médium
curador: é ficar modesto
e puro e referir a Deus
e às potências que
dirigem a faculdade tudo
o que se realiza. 4) Não
existe um método
especial para se
adquirir essa faculdade:
todo o mundo pode, em
certa medida, adquiri-la
e, agindo em nome de
Deus, cada um fará as
suas curas. 5) Os
privilegiados aumentarão
em número à medida que a
doutrina espírita se
vulgarizar; é que haverá
então mais indivíduos
animados de sentimentos
puros e desinteressados.
(Obra citada, pp. 378 e
379.)
Texto para leitura
194. Comentando os
fatos, Kardec observa
que há mais de uma
similitude entre eles e
os de Joana d’Arc, não
quanto à importância dos
resultados, mas à causa
do fenômeno, que é
exatamente a mesma. Como
Joana, Martin foi
advertido por um ser do
mundo espiritual para ir
falar ao rei com o
objetivo de salvar a
França de um perigo, e
não foi sem dificuldade
que chegou até ele. A
diferença entre as duas
manifestações é que
Joana d’Arc apenas ouvia
a voz que a aconselhava,
enquanto Martin via o
indivíduo que lhe
falava, não em sonho,
mas durante a vigília. E
o mensageiro tinha a
aparência de um ser
vivo, como um agênere,
embora se dissesse anjo.
(Págs. 369 a 371.)
195. Martin, assevera o
codificador, era um
médium inconsciente,
dotado de uma aptidão de
que se serviram os
Espíritos para chegar a
um resultado
determinado. O Espírito
que se intitulou anjo
Rafael disse-lhe
expressamente: “Eu me
sirvo de você para
abater o orgulho da
incredulidade”,
mostrando que certas
missões são conferidas a
pessoas simples e
pequeninas que, dada a
sua suposta pequenez,
nem imaginam possam
servir-lhes de
instrumento. É que se um
indivíduo, seja ele quem
for, tiver uma missão
real a cumprir, será
posto em condições de a
realizar, por
circunstâncias que terão
a aparência de um efeito
do acaso, o que levou
Kardec a advertir:
“Desconfiai das missões
assinadas e pregadas por
antecipação, porque não
passam de engodos para o
orgulho; as missões se
revelam por fatos.”
(Págs. 370 e 371.)
196. A Revue transcreve
do jornal La Verité, de
Lyon, de 21 de outubro
de 1866, um artigo sobre
as curas obtidas no ano
de 1829 pelo príncipe
Hohenlohe, cujas
faculdades mediúnicas
oferecem um exemplo
notável dos fatos que
foram observados antes
do advento da Doutrina
Espírita. Em Wurtzbourg,
cidade localizada na
Baviera, o príncipe
invocava sobre os
enfermos que o buscavam
as graças divinas, e
eles eram curados de
repente. Sua fama, por
causa disso, espalhou-se
logo e muitas curas
extraordinárias foram
anotadas por testemunhas
idôneas, como o Sr.
Scharold, conselheiro de
legação na mencionada
cidade. (Págs. 371 a
374.)
197. Treze casos
referidos pelo Sr.
Scharold são descritos
no artigo. O mais
notável deles se deu na
casa do Sr. Reinach,
deão do capítulo, onde
morava uma princesa de
17 anos de idade:
Mathilde de
Schwartzemberg. Havia
dois anos que a jovem
não conseguia andar,
apesar de tratada pelos
médicos mais famosos da
França, da Itália e da
Áustria. O príncipe
Hohenlohe perguntou-lhe
se tinha fé que Jesus
poderia curá-la. Ela
disse que sim. O
príncipe então pediu-lhe
que orasse do fundo do
coração e pusesse sua
confiança em Deus.
Quando terminou a
oração, ele lhe deu sua
bênção e informou:
“Vamos, princesa,
levantai-vos; agora
estais curada e podeis
andar sem dores”. (N.R.:
Deão: dignitário
eclesiástico;
coordenador de um grupo
de párocos. Capítulo:
assembleia de
religiosos.) (Pág. 374.)
198. As outras curas
obtidas pelo príncipe
Hohenlohe trataram de
fatos diversos: surdez,
paralisia dolorosa,
cegueira, aleijão na mão
direita, paralisia de
braço, paralisia de
perna, mudez, aleijão
nas pernas, língua
presa, aleijão em braços
e pernas. (Págs. 375 e
376.)
199. Em outubro de 1866,
na Sociedade Espírita de
Paris, o Espírito do
príncipe de Hohenlohe,
valendo-se da
mediunidade do Sr.
Desliens, explicou que a
faculdade de que fora
dotado era,
efetivamente, a
mediunidade de cura: “Eu
era instrumento; os
Espíritos agiam e, se
algo eu pude, não foi
certamente senão por meu
grande desejo de fazer o
bem e pela convicção
íntima que a Deus tudo é
possível”. (Pág. 377.)
200. De referida
comunicação extraímos
mais os seguintes
ensinamentos: I) A
mediunidade curadora foi
exercida em todos os
tempos e por indivíduos
pertencentes às
diferentes religiões.
II) A faculdade curadora
pode existir em pessoas
indignas, mas não é nem
poderia ser senão
passageira. É um meio
enérgico de lhes abrir
os olhos: tanto pior
para os que teimam em
conservá-los fechados.
III) Há apenas uma
maneira de exercer bem a
faculdade de médium
curador: é ficar modesto
e puro e referir a Deus
e às potências que
dirigem a faculdade tudo
o que se realiza. IV)
Não existe um método
especial para se
adquirir essa faculdade:
todo o mundo pode, em
certa medida, adquiri-la
e, agindo em nome de
Deus, cada um fará as
suas curas. V) Os
privilegiados aumentarão
em número à medida que a
doutrina espírita se
vulgarizar; é que haverá
então mais indivíduos
animados de sentimentos
puros e desinteressados.
(Págs. 378 e 379.)
201. O caso da senhorita
Dumesnil, de 13 anos,
uma jovem dotada da
singular faculdade de
atrair a si os móveis e
outros objetos postos a
certa distância e, pelo
simples contato, erguer
uma cadeira na qual
estivesse sentada uma
pessoa, é focalizado
pela Revue, que informa
que vários jornais
divulgaram tais fatos.
Ocorre que seus pais,
pessoas pobres,
imaginando ter ali uma
fonte de fortuna,
instalaram a menina no
Grand-Hotel, cenário
ideal para a exibição
pública dos seus dotes,
projeto que se frustrou
porque os fenômenos não
dependiam da vontade
dela e só raramente se
repetiam ante o público.
(Págs. 379 a 382.)
202. Kardec conclui que
a jovem era médium e,
desse modo, para que os
fenômenos ocorressem, se
fazia necessário o
concurso dos Espíritos,
sem o qual o médium mais
bem dotado nada pode
obter. O codificador
observa que, a rigor,
nada naquele caso
atestava de modo
ostensivo a intervenção
dos Espíritos, a não ser
a impotência da moça de
agir à sua vontade. A
faculdade era dela; o
exercício da faculdade
podia depender de uma
vontade estranha. Era o
que o desfecho do caso
estava a indicar. (Págs.
382 e 383.)
203. Em um longo artigo
sobre a presença das
ideias espíritas na
imprensa laica, Kardec,
após citar alguns
exemplos do fato,
afirma: “Por mais que
digam e façam, as ideias
espíritas estão no ar;
vêm à luz de qualquer
maneira, sob a forma de
romances ou de
pensamentos filosóficos,
e a imprensa as acolhe
desde que não seja
pronunciado o nome
Espiritismo”. (Págs. 383
a 388.)
204. Comentando notícia
sobre as exéquias do Sr.
Pagés, a quem a Igreja
recusou sepultamento,
sob o pretexto de que se
tratava de pessoa adepta
do Espiritismo, Kardec
reproduz carta do
mencionado confrade em
que este explica a
importância que o
Espiritismo teve em sua
vida. “O Espiritismo”,
escreveu ele, “me fez o
efeito de uma cortina
que se levanta para nos
mostrar uma decoração
magnífica. Hoje vejo
claro; o futuro não é
mais duvidoso e estou
muito feliz.” A recusa
da Igreja afetou
penosamente a população
de El-Afroun, onde o Sr.
Pagés, um dos mais
antigos habitantes da
aldeia, era estimado por
todos e, apesar disso,
foi discriminado
unicamente por ser
espírita. (Págs. 388 e
389.)
205. A Revue reproduz
artigo publicado na
Bélgica em setembro de
1866 no qual o autor
critica de forma
pejorativa Santo
Agostinho e um de seus
textos. Kardec deplora o
fato e lembra que,
apesar de certos erros
manifestos existentes em
sua obra, resultado do
estado dos conhecimentos
científicos de seu
tempo, Santo Agostinho
“é universalmente
considerado como um dos
gênios, uma das glórias
da humanidade”. (Págs.
390 e 391.)
206. Na seção de livros
novos, Kardec menciona a
obra Novos Princípios de
Filosofia Médica,
escrita pelo Dr. Chauvet,
de Tours, na qual o
autor insere de forma
clara o princípio
espiritualista,
demonstrando a
existência do princípio
espiritual que há em nós
e sua conexão com o
organismo. Do ponto de
vista filosófico,
assevera Kardec, a obra
do Dr. Chauvet era uma
das primeiras aplicações
à ciência positiva das
leis reveladas pelo
Espiritismo e só por
esse motivo tinha já seu
lugar marcado nas
bibliotecas espíritas.
(Págs. 391 e 392.)
207. O outro livro
referido na seção é Os
Dogmas da Igreja de
Cristo Explicados pelo
Espiritismo, escrito por
Apolon de Boltinn,
radicado na Rússia, obra
escrita com prudência,
moderação, método e
clareza, em que o autor
faz um estudo
aprofundado das
Escrituras e dos
teólogos da Igreja
latina e da Igreja
grega. (Págs. 392 e
393.)
208. Fechando o número
de dezembro, a Revue
consigna quatro
notícias: I) A retomada
das publicações da Union
Spirite Bordelaise, que
haviam sido
interrompidas por doença
de seu diretor. II) O
preparo de uma coletânea
poética produzida
mediunicamente pelo Sr.
Vavasseur, que logo
estaria nas livrarias.
III) Um aviso sobre as
renovações de
assinaturas da Revue
Spirite para 1867. IV) A
notícia do falecimento
de três amigos de
Kardec: a sra. Dozon, o
Sr. Fournier e o Sr. D’Ambel,
este último antigo
diretor do jornal Avenir.
(Págs. 393 a 395.)