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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 174 - 5 de Setembro de 2010

ÉDO MARIANI
edo@edomariani.com.br
Matão, São Paulo (Brasil)
 

Sofrimento regenerador


Na questão 167 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga os instrutores espirituais: “Qual a finalidade da reencarnação?” Responderam eles: “Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde estaria a justiça?”

É corriqueiro constatar muitos espíritas afirmarem que é preciso sofrer para pagar dívidas do passado. Afirmam que, fazendo alguém sofrer numa existência, volta-se na próxima sofrendo o mesmo mal, para sua quitação.

Até alguns expositores espíritas, em palestras, costumam afirmar a mesma coisa, como se isso tivesse fundamento no Espiritismo. Afirmam que a finalidade da reencarnação é “pagar dívida”, “resgatar crimes”.

Entretanto, o que aprendemos no Espiritismo é que o mal praticado precisa ser ressarcido, não como castigo, mas como aprendizado e correção para colaborar com a nossa evolução espiritual. Mesmo que o ofendido tenha perdoado, um dia o ofensor sentirá necessidade de reparar o mal, passando por sofrimento idêntico ao por ele praticado, para alívio de sua consciência.

Para que o culpado sinta esta necessidade, é preciso que tome consciência da sua culpa, reconheça seu erro e arrependa-se. Deus, na sua infinita misericórdia, aguarda o momento mais conveniente para que ele possa assumir a prova, pois só assim, quando fortalecido, terá melhores condições para realizar conscientemente o reparo da falta e usufruir da tranquilidade necessária ao seu bem-estar e felicidade futura.

Portanto, o sofrimento não é imposto ao Espírito por castigo divino. Ele faz parte da Lei de Ação e Reação; de Causa e Efeito; de Plantação e Colheita.

Na questão 1000 de O Livro dos Espíritos, Kardec faz o seguinte questionamento: “Já desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas?” Resposta: “Sim, reparando-as. Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes (...). Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta se não atinge o homem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais”.

Contrariando ensinamentos coerentes da doutrina espírita, muitos companheiros afirmam que é necessário tolerar com resignação todas as provas e, assim entendendo, se curvam diante de uma passividade de conformação e de improdutividade, deixando de cumprir as propostas reencarnatórias de reformulação de atitudes corajosas, alterando o seu “carma” pela ação do merecimento próprio no trabalho da busca de recursos morais para a construção da própria felicidade.

Segundo se entende dos ensinamentos espíritas, a dor não é fonte de salvação como muitos equivocadamente aceitam. Ela, segundo Emmanuel, é a “pedagogia divina” que nos ensina a aproveitá-la, pois ela é que ensina a reconhecer e entender a sua ação benéfica iluminando os caminhos da evolução espiritual.

Portanto, se nos encontramos ao lado dessa ou daquela pessoa por união conjugal e não nos sentimos felizes, não será a separação que irá fazer a nossa felicidade. É necessário refletir sobre a máxima espírita: “não há efeito sem causa”. Se a Lei nos reuniu nesta existência, provavelmente é para efeito de reconciliação; é para se aparar as arestas por nós mesmos criadas. Como não pode existir paz entre adversários, é fácil para os espíritas entenderem que a Lei nos uniu para desfazer animosidades, reconciliando com o nosso próximo, enquanto a caminho com ele, como recomendou Jesus. Mesmo que apenas uma das partes entenda a razão das desavenças, já é motivo suficiente para reconhecer que a Lei de Causa e Efeito está presente e assim lutar com todas as forças para salvar a oportunidade de solver seus problemas, perdoando e amando a outra. Separação entre os cônjuges, que conhecem os ensinamentos doutrinários, só mesmo quando os conflitos perigarem atritos maiores, complicando ainda mais o futuro de ambos.

Neste sentido atentamos para as luzes que o Espírito Emmanuel nos traz em seu livro Leis de Amor. Inquiriram-no na questão 11: “O que foi em vida passada o marido desleal?” Resposta: “O marido desleal, em muitas circunstâncias, é o mesmo esposo do pretérito, que precipitamos na deserção, com os próprios exemplos menos felizes”. E na seguinte: “E a esposa desorientada?”. “A companheira desorientada que nos amarga o sentimento é a mulher que menosprezamos em outra época, obrigando-a a resvalar no poço da loucura.”

Ambas as respostas são bastante evidentes para nos alertar sobre o engano das separações, prorrogativas de débitos vencidos que, no futuro, para a felicidade dos participantes deverão ser resgatados, muitas vezes em situações mais difíceis.

Especialmente os Espíritas devem se conscientizar de que a finalidade do sofrimento é a de aprender que “só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atingir o homem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais”, conforme nos ensinam os amigos espirituais na questão 1000 de “O Livro dos Espíritos”.

Assim procedendo estaremos usando o sofrimento regenerador como oportunidade de acerto do nosso passado delituoso.

Pensemos nisso, aproveitemos a benfeitora oportunidade que a nossa nova reencarnação está nos proporcionando.

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita