ÉDO MARIANI
edo@edomariani.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Sofrimento
regenerador
Na questão 167 de O
Livro dos Espíritos,
Kardec indaga os
instrutores
espirituais: “Qual a
finalidade da
reencarnação?”
Responderam eles:
“Expiação,
melhoramento
progressivo da
humanidade. Sem
isto, onde estaria a
justiça?”
É corriqueiro
constatar muitos
espíritas afirmarem
que é preciso sofrer
para pagar dívidas
do passado. Afirmam
que, fazendo alguém
sofrer numa
existência, volta-se
na próxima sofrendo
o mesmo mal, para
sua quitação.
Até alguns
expositores
espíritas, em
palestras, costumam
afirmar a mesma
coisa, como se isso
tivesse fundamento
no Espiritismo.
Afirmam que a
finalidade da
reencarnação é
“pagar dívida”,
“resgatar crimes”.
Entretanto, o que
aprendemos no
Espiritismo é que o
mal praticado
precisa ser
ressarcido, não como
castigo, mas como
aprendizado e
correção para
colaborar com a
nossa evolução
espiritual. Mesmo
que o ofendido tenha
perdoado, um dia o
ofensor sentirá
necessidade de
reparar o mal,
passando por
sofrimento idêntico
ao por ele
praticado, para
alívio de sua
consciência.
Para que o culpado
sinta esta
necessidade, é
preciso que tome
consciência da sua
culpa, reconheça seu
erro e arrependa-se.
Deus, na sua
infinita
misericórdia,
aguarda o momento
mais conveniente
para que ele possa
assumir a prova,
pois só assim,
quando fortalecido,
terá melhores
condições para
realizar
conscientemente o
reparo da falta e
usufruir da
tranquilidade
necessária ao seu
bem-estar e
felicidade futura.
Portanto, o
sofrimento não é
imposto ao Espírito
por castigo divino.
Ele faz parte da Lei
de Ação e Reação; de
Causa e Efeito; de
Plantação e
Colheita.
Na questão 1000 de O
Livro dos Espíritos,
Kardec faz o
seguinte
questionamento: “Já
desde esta vida
poderemos ir
resgatando as nossas
faltas?” Resposta:
“Sim, reparando-as.
Mas, não creiais que
as resgateis
mediante algumas
privações pueris, ou
distribuindo em
esmolas o que
possuirdes (...). Só
por meio do bem se
repara o mal e a
reparação nenhum
mérito apresenta se
não atinge o homem
no seu orgulho, nem
nos seus interesses
materiais”.
Contrariando
ensinamentos
coerentes da
doutrina espírita,
muitos companheiros
afirmam que é
necessário tolerar
com resignação todas
as provas e, assim
entendendo, se
curvam diante de uma
passividade de
conformação e de
improdutividade,
deixando de cumprir
as propostas
reencarnatórias de
reformulação de
atitudes corajosas,
alterando o seu
“carma” pela ação do
merecimento próprio
no trabalho da busca
de recursos morais
para a construção da
própria felicidade.
Segundo se entende
dos ensinamentos
espíritas, a dor não
é fonte de salvação
como muitos
equivocadamente
aceitam. Ela,
segundo Emmanuel, é
a “pedagogia divina”
que nos ensina a
aproveitá-la, pois
ela é que ensina a
reconhecer e
entender a sua ação
benéfica iluminando
os caminhos da
evolução espiritual.
Portanto, se nos
encontramos ao lado
dessa ou daquela
pessoa por união
conjugal e não nos
sentimos felizes,
não será a separação
que irá fazer a
nossa felicidade. É
necessário refletir
sobre a máxima
espírita: “não há
efeito sem causa”.
Se a Lei nos reuniu
nesta existência,
provavelmente é para
efeito de
reconciliação; é
para se aparar as
arestas por nós
mesmos criadas. Como
não pode existir paz
entre adversários, é
fácil para os
espíritas entenderem
que a Lei nos uniu
para desfazer
animosidades,
reconciliando com o
nosso próximo,
enquanto a caminho
com ele, como
recomendou Jesus.
Mesmo que apenas uma
das partes entenda a
razão das
desavenças, já é
motivo suficiente
para reconhecer que
a Lei de Causa e
Efeito está presente
e assim lutar com
todas as forças para
salvar a
oportunidade de
solver seus
problemas, perdoando
e amando a outra.
Separação entre os
cônjuges, que
conhecem os
ensinamentos
doutrinários, só
mesmo quando os
conflitos perigarem
atritos maiores,
complicando ainda
mais o futuro de
ambos.
Neste sentido
atentamos para as
luzes que o Espírito
Emmanuel nos traz em
seu livro Leis de
Amor. Inquiriram-no
na questão 11: “O
que foi em vida
passada o marido
desleal?” Resposta:
“O marido desleal,
em muitas
circunstâncias, é o
mesmo esposo do
pretérito, que
precipitamos na
deserção, com os
próprios exemplos
menos felizes”. E na
seguinte: “E a
esposa
desorientada?”. “A
companheira
desorientada que nos
amarga o sentimento
é a mulher que
menosprezamos em
outra época,
obrigando-a a
resvalar no poço da
loucura.”
Ambas as respostas
são bastante
evidentes para nos
alertar sobre o
engano das
separações,
prorrogativas de
débitos vencidos
que, no futuro, para
a felicidade dos
participantes
deverão ser
resgatados, muitas
vezes em situações
mais difíceis.
Especialmente os
Espíritas devem se
conscientizar de que
a finalidade do
sofrimento é a de
aprender que “só por
meio do bem se
repara o mal e a
reparação nenhum
mérito apresenta, se
não atingir o homem
no seu orgulho, nem
nos seus interesses
materiais”, conforme
nos ensinam os
amigos espirituais
na questão 1000 de
“O Livro dos
Espíritos”.
Assim procedendo
estaremos usando o
sofrimento
regenerador como
oportunidade de
acerto do nosso
passado delituoso.
Pensemos nisso,
aproveitemos a
benfeitora
oportunidade que a
nossa nova
reencarnação está
nos proporcionando.