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Clássicos do Espiritismo
Ano 4 - N° 175 - 12 de Setembro de 2010
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Fenômenos de Transporte

Ernesto Bozzano

(Parte 1)

Iniciamos nesta edição o estudo do clássico Fenômenos de Transporte, de Ernesto Bozzano, que será aqui apresentado em 9 partes, com base na tradução de Francisco Klörs Werneck, publicada pelas  Edições FEESP, 4a edição, março de 1995.

Questões preliminares

A. Qual é, segundo Deolindo Amorim, a importância de Ernesto Bozzano?

Para Deolindo Amorim, Ernesto Bozzano foi, enquanto esteve entre nós, a maior expressão dentre os autores espíritas, além de ser o autor mais citado na literatura espírita contemporânea no campo da fenomenologia. Segundo Deolindo, não se pode discutir, na atualidade, a ciência espírita sem – depois de conhecer a obra de Kardec – citar Bozzano, cujos livros são considerados clássicos em matéria espírita. (Fenômenos de Transporte, prefácio de Deolindo Amorim, p. XI.)

B. Bozzano pôde comprovar a realidade dos fenômenos de transporte?

Sim. Ele diz ter investigado essa ordem de fenômenos durante um decênio com dois médiuns privados notáveis, obtendo, pessoalmente, absoluta certeza de sua realidade. Ele pôde verificar, então, que a causa única do ceticismo que cercava os casos de “transportes” residia no fato de que ninguém jamais pensou em recolhê-los, classificá-los e analisá-los em uma monografia especial, objetivo principal desta obra. (Obra citada, Introdução, p. 1.)

C. Há diferenças entre os vocábulos apport e asport?

Sim. Esses termos têm aplicação específica: apport quando o objeto é levado de fora para dentro; asport quando levado de dentro para fora. O vocábulo trazimento não tem razão de ser, pois o vocábulo transporte é um termo já consagrado e abarca ambos os casos. (Obra citada, Introdução, p. 1..)

Texto para leitura  

1. Ernesto Bozzano, que nasceu em Savona, província de Gênova, na Itália, em 1861, desencarnou em Gênova em 7 de julho de 1943. (1)  Sendo um dos mais eruditos sábios de sua época, Bozzano foi escolhido como Presidente de Honra do V Congresso Espírita Internacional, realizado em Barcelona, em setembro de 1934. (Nota da Editora, p. VII.) 

2. Antes de ser espírita, Bozzano transitou do Positivismo de Augusto Comte ao materialismo mais intransigente, fato que o levou a proclamar, mais tarde: “Fui um positivista-materialista a tal ponto convencido, que me parecia impossível pudessem existir pessoas cultas, dotadas normalmente de sentido comum, que pudessem crer na existência e sobrevivência da alma”. Um artigo de Charles Richet, publicado na Revista Filosófica, teve o mérito de diminuir suas dúvidas, mas os últimos resquícios de sua incredulidade só foram completamente destruídos, quando leu o livro Fantasmas dos Vivos, de autoria de Gurney, Podmore e Myers, após o que, com afinco e verdadeiro fervor, dedicou-se ao estudo aprofundado dos fenômenos espíritas, fazendo-o através das obras de Kardec, Denis, Delanne, Paul Gibier, Crookes, Wallace, Du Prel, Aksakof e outros. (Nota da Editora, p. VIII.) 

3. O seu primeiro artigo intitulou-se Espiritualismo e Crítica Científica, mas o sábio levou cerca de nove anos estudando, comparando e analisando, antes de publicar suas ideias. Suas principais obras, na fase espírita, são: Em Defesa do Espiritismo, Hipótese Espírita e a Teoria Científica, Dos Casos de Identificação Espírita, Dos Fenômenos Premonitórios, A Primeira Manifestação de Voz-Direta na Itália, Animismo ou Espiritismo, Pensamento e Vontade, Os Enigmas da Psicometria, Metapsíquica Humana, A Crise da Morte, Xenoglossia, Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte e Fenômenos de Transporte. (Nota da Editora, p. IX.) 

4. Um fato novo contribuiu para robustecer sua fé no Espiritismo. A desencarnação de sua mãe, em julho de 1912, serviu de ponte para a demonstração da sobrevivência da alma. Realizando uma sessão na data em que se comemorava o primeiro aniversário de desencarnação de sua genitora, a médium escreveu umas palavras num pedaço de papel, as quais, após lidas por Bozzano, o deixaram assombrado, porque ali estavam escritos os dois últimos versos do epitáfio que naquele mesmo dia ele havia deixado no túmulo de sua mãe. (Nota da Editora, pp. IX e X.) 

5. Deolindo Amorim, após destacar a importância de Ernesto Bozzano -- para ele, a maior expressão espírita nos dias que correm --, diz que: I) o grande mestre italiano continua a ser o autor mais citado na literatura espírita contemporânea no campo da fenomenologia; II) de Crookes a Bozzano, de Flammarion a Geley, nenhum dos grandes autores espíritas destruiu o cerne da obra de Kardec; III) embora com terminologia nova e interpretações mais desenvolvidas, no fundo, no que diz respeito aos princípios gerais do Espiritismo, nenhum Autor, da Terra ou do Além, sobrepujou a codificação de Kardec; IV) não se pode atualmente discutir a ciência espírita sem, depois de conhecer a obra de Kardec, citar Bozzano; V) seus livros são considerados clássicos em matéria espírita. (Prefácio de Deolindo Amorim, p. XI.) 

6. Deolindo Amorim afirma ainda que este livro é, como os outros livros de Bozzano, um trabalho essencialmente científico. O fenômeno, lembra Deolindo, é o objeto, a razão de ser da ciência espírita. “Sem o fenômeno -- assevera o saudoso polemista e escritor baiano --  não haveria ciência espírita, não teríamos o Espiritismo, embora o Espiritismo (corpo de doutrina) não seja apenas fenômeno.” (Prefácio de Deolindo Amorim, p. XI.) 

7. Depois de afirmar que as manifestações supranormais que pareciam mais duvidosas a muitos céticos não eram as “vozes diretas” e sim os “fenômenos de transportes”, Bozzano refere ter investigado essa ordem de fenômenos durante um decênio com dois médiuns privados notáveis, obtendo, pessoalmente, absoluta certeza de sua realidade. Ele pôde verificar, então, que a causa única do ceticismo que cercava os casos de “transportes” residia no fato de que ninguém jamais pensou em recolhê-los, classificá-los e analisá-los em uma monografia especial, objetivo principal desta obra. (Introdução, p. 1.) 

8. Reportando-se à terminologia aplicável ao caso, o tradutor explica que os termos técnicos são: apport e asport. Apport quando o objeto é levado de fora para dentro. Asport quando levado de dentro para fora, de tal modo que o vocábulo trazimento não tem razão de ser. Transporte é, assim, o termo já consagrado e abarca ambos os casos. (Introdução, p. 1.) 

9. O cuidado de Bozzano com a seleção dos casos aqui narrados, para deles excluir qualquer suspeita de fraude, visa, entre outros objetivos, a vencer a perplexidade de alguns eminentes homens de ciência que, calculando a enorme quantidade de energia necessária à obtenção dos fenômenos da desintegração molecular de um objeto qualquer, acham impossível que tal soma de energia pudesse ser fornecida pelos médiuns, sem refletir que aqui não se trata de energia física mas de energia psíquica, cuja potencialidade todos nós ignoramos. Ora, se a “Vontade” é capaz de criar, quase instantaneamente, um fantasma materializado, perfeitamente organizado e vivo, resulta daí não caber nenhum espanto, se a mesma “Vontade” chega a desintegrar um objeto em seus elementos moleculares, para, em seguida, reintegrá-lo, instantaneamente, em outra casa. (Introdução, p. 2.) 

10. Antes de passar aos casos de “transportes” propriamente ditos, Bozzano relata alguns dos mais notáveis episódios de “penetração da matéria através da matéria”, episódios que, segundo ele, se mostram intrinsecamente idênticos aos “transportes” e deles diferem apenas pela modalidade com que se manifestam. (Obra citada, p. 2.)

11. O primeiro episódio lembrado pelo autor foi extraído das experiências de William Crookes, sendo médium Daniel Dunglas Home. Eis os detalhes da aludida experiência: I) a sessão verificou-se numa noite de domingo, em plena luz, com a presença do Sr. Home e de alguns membros da família de Crookes; II) uma aparição luminosa foi vista por todos pairando sobre um buquê de flores previamente colocado sobre a mesa; III) um galhinho de erva da China, com 15 polegadas de comprimento, que ornamentava o centro do buquê, elevou-se lentamente do meio das flores e, em seguida, desceu sobre a mesa, defronte do vaso, entre este e o médium Home; IV) o raminho, contudo, não se deteve aí, atravessando a mesa em linha reta, sob a vista de todos; V) uma estranha mão veio debaixo da mesa, segurando o raminho da erva, com o qual bateu duas ou três vezes nos ombros da esposa de Crookes, depositando depois o raminho no soalho e desaparecendo, a 18 polegadas (2) do lugar em que, pousadas na mesa, as mãos de Home estiveram postas durante todo o tempo. (Obra citada, p. 3.) 

12. Crookes informa ainda que a mesa era uma dessas comuns em salas de jantar, com molas, abrindo-se com um parafuso. Não era elástica, e a união das duas partes formava uma estreita fenda. Pois bem: foi através desta fenda que a erva passou, embora o galhinho fosse demasiadamente grosso para por ali passar. (Obra citada, p. 3.) (Continua no próximo número.)


(1)
No livro “Literatura de além-túmulo, publicado pela Lachâtre Editora, as datas de nascimento e de falecimento de Bozzano aparecem bem diferentes: 2/1/1862 e 24/6/1943, respectivamente.

(2) Uma polegada equivale a 2,54 cm.



 


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