ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
|
Fenômenos de Transporte
Ernesto Bozzano
(Parte
1)
Iniciamos nesta edição
o
estudo do clássico
Fenômenos de Transporte,
de Ernesto Bozzano, que
será aqui apresentado em
9 partes, com base
na tradução de
Francisco Klörs Werneck,
publicada pelas
Edições FEESP, 4a
edição, março de 1995.
Questões preliminares
A. Qual é, segundo
Deolindo Amorim, a
importância de Ernesto
Bozzano?
Para Deolindo Amorim,
Ernesto Bozzano foi,
enquanto esteve entre
nós, a maior expressão
dentre os autores
espíritas, além de ser o
autor mais citado na
literatura espírita
contemporânea no campo
da fenomenologia.
Segundo Deolindo, não se
pode discutir, na
atualidade, a ciência
espírita sem – depois de
conhecer a obra de
Kardec – citar Bozzano,
cujos livros são
considerados clássicos
em matéria espírita.
(Fenômenos de Transporte, prefácio de Deolindo Amorim, p.
XI.)
B. Bozzano pôde comprovar a realidade dos fenômenos de transporte?
Sim. Ele diz ter
investigado essa ordem
de fenômenos durante um
decênio com dois médiuns
privados notáveis,
obtendo, pessoalmente,
absoluta certeza de sua
realidade. Ele pôde
verificar, então, que a
causa única do ceticismo
que cercava os casos de
“transportes” residia no
fato de que ninguém
jamais pensou em
recolhê-los,
classificá-los e
analisá-los em uma
monografia especial,
objetivo principal desta
obra.
(Obra citada, Introdução, p. 1.)
C. Há diferenças entre os vocábulos apport e asport?
Sim. Esses termos têm aplicação específica: apport
quando o objeto é levado
de fora para dentro;
asport
quando levado de dentro
para fora. O vocábulo
trazimento não tem
razão de ser, pois o
vocábulo transporte
é um termo já
consagrado e abarca
ambos os casos.
(Obra citada, Introdução, p. 1..)
Texto para leitura
1. Ernesto Bozzano, que nasceu em Savona,
província de Gênova, na
Itália, em 1861,
desencarnou em Gênova em
7 de julho de 1943.
(1) Sendo um dos mais eruditos sábios de sua época,
Bozzano foi escolhido
como Presidente de Honra
do V Congresso Espírita
Internacional, realizado
em Barcelona, em
setembro de 1934. (Nota
da Editora, p. VII.)
2. Antes de ser espírita, Bozzano transitou do
Positivismo de Augusto
Comte ao materialismo
mais intransigente, fato
que o levou a proclamar,
mais tarde: “Fui um
positivista-materialista
a tal ponto convencido,
que me parecia
impossível pudessem
existir pessoas cultas,
dotadas normalmente de
sentido comum, que
pudessem crer na
existência e
sobrevivência da alma”.
Um artigo de Charles
Richet, publicado na
Revista Filosófica,
teve o mérito de
diminuir suas dúvidas,
mas os últimos
resquícios de sua
incredulidade só foram
completamente
destruídos, quando leu o
livro Fantasmas dos
Vivos, de autoria de
Gurney, Podmore e Myers,
após o que, com afinco e
verdadeiro fervor,
dedicou-se ao estudo
aprofundado dos
fenômenos espíritas,
fazendo-o através das
obras de Kardec, Denis,
Delanne, Paul Gibier,
Crookes, Wallace, Du
Prel, Aksakof e outros.
(Nota da Editora, p.
VIII.)
3. O seu primeiro artigo intitulou-se
Espiritualismo e Crítica
Científica, mas o
sábio levou cerca de
nove anos estudando,
comparando e analisando,
antes de publicar suas
ideias. Suas principais
obras, na fase espírita,
são: Em Defesa do
Espiritismo,
Hipótese Espírita e a
Teoria Científica,
Dos Casos de
Identificação Espírita,
Dos Fenômenos
Premonitórios, A
Primeira Manifestação de
Voz-Direta na Itália,
Animismo ou
Espiritismo,
Pensamento e Vontade,
Os Enigmas da
Psicometria,
Metapsíquica Humana,
A Crise da Morte,
Xenoglossia,
Fenômenos Psíquicos no
Momento da Morte e
Fenômenos de
Transporte. (Nota da
Editora, p. IX.)
4. Um fato novo contribuiu para robustecer sua
fé no Espiritismo. A
desencarnação de sua
mãe, em julho de 1912,
serviu de ponte para a
demonstração da
sobrevivência da alma.
Realizando uma sessão na
data em que se
comemorava o primeiro
aniversário de
desencarnação de sua
genitora, a médium
escreveu umas palavras
num pedaço de papel, as
quais, após lidas por
Bozzano, o deixaram
assombrado, porque ali
estavam escritos os dois
últimos versos do
epitáfio que naquele
mesmo dia ele havia
deixado no túmulo de sua
mãe. (Nota da Editora,
pp. IX e X.)
5. Deolindo Amorim, após destacar a importância
de Ernesto Bozzano --
para ele, a maior
expressão espírita nos
dias que correm --, diz
que: I) o grande mestre
italiano continua a ser
o autor mais citado na
literatura espírita
contemporânea no campo
da fenomenologia; II) de
Crookes a Bozzano, de
Flammarion a Geley,
nenhum dos grandes
autores espíritas
destruiu o cerne da obra
de Kardec; III) embora
com terminologia nova e
interpretações mais
desenvolvidas, no fundo,
no que diz respeito aos
princípios gerais do
Espiritismo, nenhum
Autor, da Terra ou do
Além, sobrepujou a
codificação de Kardec;
IV) não se pode
atualmente discutir a
ciência espírita sem,
depois de conhecer a
obra de Kardec, citar
Bozzano; V) seus livros
são considerados
clássicos em matéria
espírita. (Prefácio de
Deolindo Amorim, p.
XI.)
6. Deolindo Amorim afirma ainda que este livro
é, como os outros livros
de Bozzano, um trabalho
essencialmente
científico. O fenômeno,
lembra Deolindo, é o
objeto, a razão de ser
da ciência espírita.
“Sem o fenômeno --
assevera o saudoso
polemista e escritor
baiano -- não haveria
ciência espírita, não
teríamos o Espiritismo,
embora o Espiritismo
(corpo de doutrina) não
seja apenas fenômeno.”
(Prefácio de Deolindo
Amorim, p. XI.)
7. Depois de afirmar que as manifestações supranormais que pareciam
mais duvidosas a muitos
céticos não eram as
“vozes diretas” e sim os
“fenômenos de
transportes”, Bozzano
refere ter investigado
essa ordem de fenômenos
durante um decênio com
dois médiuns privados
notáveis, obtendo,
pessoalmente, absoluta
certeza de sua
realidade. Ele pôde
verificar, então, que a
causa única do ceticismo
que cercava os casos de
“transportes” residia no
fato de que ninguém
jamais pensou em
recolhê-los,
classificá-los e
analisá-los em uma
monografia especial,
objetivo principal desta
obra. (Introdução, p.
1.)
8. Reportando-se à terminologia aplicável ao
caso, o tradutor explica
que os termos técnicos
são: apport e
asport. Apport
quando o objeto é
levado de fora para
dentro. Asport
quando levado de dentro
para fora, de tal modo
que o vocábulo
trazimento não tem
razão de ser.
Transporte é, assim,
o termo já consagrado e
abarca ambos os casos.
(Introdução, p. 1.)
9. O cuidado de Bozzano com a seleção dos casos
aqui narrados, para
deles excluir qualquer
suspeita de fraude,
visa, entre outros
objetivos, a vencer a
perplexidade de alguns
eminentes homens de
ciência que, calculando
a enorme quantidade de
energia necessária à
obtenção dos fenômenos
da desintegração
molecular de um objeto
qualquer, acham
impossível que tal soma
de energia pudesse ser
fornecida pelos médiuns,
sem refletir que aqui
não se trata de energia
física mas de energia
psíquica, cuja
potencialidade todos nós
ignoramos. Ora, se a
“Vontade” é capaz de
criar, quase
instantaneamente, um
fantasma materializado,
perfeitamente organizado
e vivo, resulta daí não
caber nenhum espanto, se
a mesma “Vontade” chega
a desintegrar um objeto
em seus elementos
moleculares, para, em
seguida, reintegrá-lo,
instantaneamente, em
outra casa. (Introdução,
p. 2.)
10. Antes de passar aos casos de “transportes”
propriamente ditos,
Bozzano relata alguns
dos mais notáveis
episódios de “penetração
da matéria através da
matéria”, episódios que,
segundo ele, se mostram
intrinsecamente
idênticos aos
“transportes” e deles
diferem apenas pela
modalidade com que se
manifestam. (Obra
citada, p. 2.)
11. O primeiro episódio lembrado pelo autor foi
extraído das
experiências de William
Crookes, sendo médium
Daniel Dunglas Home. Eis
os detalhes da aludida
experiência: I) a sessão
verificou-se numa noite
de domingo, em plena
luz, com a presença do
Sr. Home e de alguns
membros da família de
Crookes; II) uma
aparição luminosa foi
vista por todos pairando
sobre um buquê de flores
previamente colocado
sobre a mesa; III) um
galhinho de erva da
China, com 15 polegadas
de comprimento, que
ornamentava o centro do
buquê, elevou-se
lentamente do meio das
flores e, em seguida,
desceu sobre a mesa,
defronte do vaso, entre
este e o médium Home;
IV) o raminho, contudo,
não se deteve aí,
atravessando a mesa em
linha reta, sob a vista
de todos; V) uma
estranha mão veio
debaixo da mesa,
segurando o raminho da
erva, com o qual bateu
duas ou três vezes nos
ombros da esposa de
Crookes, depositando
depois o raminho no
soalho e desaparecendo,
a 18 polegadas
(2) do lugar em que, pousadas na mesa, as mãos de
Home estiveram postas
durante todo o tempo.
(Obra citada, p. 3.)
12. Crookes informa ainda que a mesa era uma
dessas comuns em salas
de jantar, com molas,
abrindo-se com um
parafuso. Não era
elástica, e a união das
duas partes formava uma
estreita fenda. Pois
bem: foi através desta
fenda que a erva passou,
embora o galhinho fosse
demasiadamente grosso
para por ali passar.
(Obra citada, p. 3.) (Continua
no próximo número.)
(1)
No livro
“Literatura de
além-túmulo, publicado
pela Lachâtre Editora,
as datas de nascimento e
de falecimento de
Bozzano aparecem bem
diferentes: 2/1/1862 e
24/6/1943,
respectivamente.
(2)
Uma
polegada equivale a 2,54
cm.