A Revue Spirite
de 1867
Allan Kardec
(Parte
4)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1867. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Que fez o Espírito de
Abraham Lincoln logo que
se inteirou de sua
desencarnação?
Segundo o jornal
Banner of Light, de
Boston, o ex-presidente
americano Abraham
Lincoln, assassinado em
abril de 1865,
transmitiu uma mensagem
mediúnica em que
descreveu os momentos
que se seguiram à sua
desencarnação. A
perturbação post-mortem
durou pouco tempo e ele
logo se viu cercado por
muitas pessoas que sabia
mortas há muito tempo,
quando se inteirou da
causa de seu passamento.
Sabendo que William
Booth estava mortalmente
ferido, ele foi até o
seu leito de morte e
esperou com calma o
despertar do rapaz para
a vida espiritual. E não
havia em seu coração
nenhum sentimento de
vingança ou animosidade.
(Revue Spirite de 1867,
pp. 79 e 80.)
B. Pode um médium
receber inúmeras
comunicações de
Espíritos diversos em
uma mesma sessão, como
ocorreu com o Sr.
Bertrand?
Se isso for possível,
como os fluidos de tão
grande número de
Espíritos podem
combinar-se com o fluido
do médium? A questão foi
levantada por Kardec e,
dois dias depois, o
Espírito de Slener
esclareceu que, no caso
do Sr. Bertrand, foi ele
- o guia espiritual do
médium – que serviu de
intermediário
transmitindo os
pensamentos e os nomes
dos Espíritos que os
assinaram. O fato é
bastante comum quando o
Espírito comunicante não
consegue estabelecer
relações fluídicas com o
médium, recorrendo
então, nesse caso, ao
guia espiritual do
medianeiro.
(Obra citada, pág. 88.)
C. A busca do
melhoramento moral deve
ser para nós um
objetivo?
Sim. Segundo mensagem
transcrita na Revue,
quando tivermos feito
para o nosso
melhoramento moral a
metade do que fazemos
para melhorar nossa
existência material,
teremos feito a
Humanidade dar um grande
passo. Disse o Espírito
de Humboldt: “Sim, meus
amigos, aprendei e
instruí-vos e, antes de
tudo, progredi em
moralidade pelo amor ao
próximo, pela caridade,
pela fé: é o essencial,
é o passaporte, à vista
do qual as portas do
santuário infinito vos
são abertas”.
(Obra citada, pp. 91 a
94.)
Texto para leitura
39. Em carta dirigida ao
Prefeito de Argel em 15
de janeiro de 1867, o
Sr. Charles Lavigerie,
bispo de Nancy, então
nomeado arcebispo de
Argel, promete que terá
por divisa de seu
trabalho episcopal uma
única palavra: caridade,
porque a caridade não
conhece gregos, nem
bárbaros, nem infiéis,
nem israelitas e, como
ensina o apóstolo Paulo,
não vê nos homens senão
a imagem viva de Deus.
Ao transcrever a carta,
Kardec a elogia,
lembrando que o anterior
arcebispo de Argel havia
lançado todos os raios
da maldição contra os
espíritas, que teriam
agora – pelo menos
Kardec o esperava – um
tratamento mais benigno.
(Págs. 78 e 79.)
40. Segundo o jornal
Banner of Light, de
Boston, o ex-presidente
americano Abraham
Lincoln, assassinado em
abril de 1865,
transmitiu uma mensagem
mediúnica em que
descreve os momentos que
se seguiram à sua
desencarnação. A
perturbação post-mortem
durou pouco tempo e ele
logo se viu cercado por
muitas pessoas que sabia
mortas há muito tempo,
quando se inteirou da
causa de seu passamento.
Sabendo que William
Booth estava mortalmente
ferido, ele foi até o
seu leito de morte e
esperou com calma o
despertar do rapaz para
a vida espiritual. Não
havia em seu coração
nenhum sentimento de
vingança ou animosidade.
Booth não ficou surpreso
ao ver Lincoln, cuja
presença ele não podia
evitar, porque era com
frequência atraído para
ele. Sempre diante de
sua vítima e recebendo
dela apenas sinais de
bondade, esse era o seu
estado atual e a sua
punição. (Págs. 79 e
80.)
41. Em um poema dedicado
a Bernard Palissy, a
srta. L.O. Lieutaud, de
Ruão, agradece a Palissy
tê-la arrebatado à
incredulidade e lhe
pede: “Se devo retornar
a esta terra triste,/ Ó
amado Bernard, pensa
sempre em mim”.
(Págs. 80 e 81.)
42. O projeto de
fundação na França de
uma associação designada
sob o título de Liga de
Ensino suscitou de
Kardec dois longos
artigos, publicados nos
números de março e abril
de 1867 (págs. 81 e
113). Embora elogiando o
mérito da proposta,
Kardec fez severa
crítica à sua
metodologia, que ele
considerou falha e
confusa. (N.R.: Léon
Denis, alguns anos
depois, engajou-se
firmemente nesse
projeto, tornando-se em
1880, aos 34 anos de
idade, a alma do Círculo
Turanês da Liga do
Ensino. Com Jean Macé,
ele fundou então os
primeiros círculos de
bibliotecas populares de
Tours.) (Págs. 81 e 82.)
43. A
1o de
novembro de 1866, na
Sociedade Espírita de
Paris, durante a reunião
comemorativa dos mortos,
o Sr. Bertrand recebeu
uma série de pensamentos
assinados por Espíritos
ilustres, os quais
pareciam encadear-se,
completando-se uns pelos
outros. Eis na sequência
alguns deles: A medicina
faz o que fazem os
caranguejos espantados
(Dr. Demeure).
Porque o magnetismo
progride e, progredindo,
esmaga a medicina atual,
para a substituir
proximamente
(Mesmer). As
revoluções são abusos
que destroem outros
abusos (Luís XVI).
Mas esses abusos fazem
nascer a liberdade
(Autor não identificado).
A ciência é o progresso
da inteligência
(Newton). Mas o que
lhe é preferível é o
progresso moral (Jean
Reynaud). Para
desenvolver a moral é
antes preciso
desarraigar o vício
(Béranger). Para
desarraigar o vício é
preciso desmascará-lo
(Eugène Sue).
(Págs. 82 a 84.)
44. No dia 6 de dezembro
seguinte o Sr. Bertrand
recebeu uma nova série
de pensamentos que
pareciam constituir, de
certo modo, a
continuação da
precedente. Eis alguns
deles: Ser sábio é amar;
procuremos então o amor
pela via da sabedoria
(Fénelon). Os sábios
da Grécia por vezes o
foram mais nos escritos
e nas palavras que em
sua pessoa (Platão).
Sábio é aquele que não
crê sê-lo (Corneille).
Não podeis ser sábios se
não vos souberdes elevar
acima da maldade dos
homens (Voltaire).
Às vezes a vida é
horroroso pesadelo para
o Espírito e muitas
vezes custa a terminar
(La Rochefoucault).
A encarnação é o sono da
alma; as peripécias da
vida são os seus sonhos
(Balzac). Era o
amor que Diógenes
procurava, procurando um
homem... que veio
séculos depois, e que o
ódio, o orgulho e a
hipocrisia crucificaram
(Sócrates). O
amor reinará; e para que
não tarde, é preciso,
como corajoso Diógenes,
tomar com uma mão o
facho do Espiritismo e
mostrar aos humanos os
vermes roedores que
formam chaga em sua alma
(São Luís). A fé
desinteressada faz
milagres (Boileau).
Ao despertar da alma que
saiu vitoriosa das lutas
terrenas, o Espírito
está maior e mais
elevado; se sucumbir,
encontra-se tal qual
estava (Pascal).
(Págs. 84 a 87.)
45. Kardec observa que
esse gênero de
comunicação levanta uma
questão importante: Como
os fluidos de tão grande
número de Espíritos
podem combinar-se com o
fluido do médium? Dois
dias depois, o Espírito
de Slener esclareceu que
ele - o guia espiritual
do médium - servira de
intermediário
transmitindo os
pensamentos e os nomes
dos Espíritos que os
assinaram. Esse fato é
bastante comum quando o
Espírito comunicante não
consegue estabelecer
relações fluídicas com o
médium, recorrendo
então, nesse caso, ao
guia espiritual do
medianeiro encarnado.
(Pág. 88.)
46. Outra questão
importante relacionada
com o fenômeno é esta:
Na lista dos Espíritos
que se comunicaram não
havia encarnados? Se
sim, como podiam
comunicar-se? Um
Espírito explicou: “Os
Espíritos de um certo
grau de adiantamento têm
uma radiação que lhes
permite comunicar-se
simultaneamente em
vários pontos. Nuns, o
estado de encarnação não
amortece essa radiação
de maneira completa para
os impedir de se
manifestarem, mesmo em
vigília. Quanto mais
avançado o Espírito,
mais fracos os laços que
o unem à matéria do
corpo; está num estado
de quase constante
desprendimento e pode
dizer-se que está onde
está seu pensamento”.
(Pág. 88.)
47. Mangin, o vendedor
de lápis que se tornou
célebre nas ruas de
Paris, morto em 1866,
comunicou-se em 20 de
dezembro do mesmo ano
por meio do Sr. Bertrand
e explicou por que se
vestia de forma bizarra
em sua última passagem
pela Terra. Ele teria
sido em épocas remotas
um soldado romano.
(Págs. 89 e 90.)
48. A
14 de janeiro de 1867,
Mangin voltou a
comunicar-se, grafando
uma linda mensagem em
que diz o que faria se
fosse papel. Como
na primeira comunicação
ele falou sobre a função
do lápis, nesta ele
lembrou, entre outras
coisas, que “o lápis não
pode ser útil sem o
papel”, mas “o papel não
dispensa o lápis” – uma
forma original de
realçar a importância da
solidariedade no
progresso humano.
(Págs. 90 e 91.)
49. Solidariedade foi,
por sinal, o tema da
comunicação seguinte
transcrita pela Revue.
Após asseverar que o
estudo do Espiritismo
não deve ser vão, o
autor da mensagem
afirmou que o homem não
é um ser isolado, mas
coletivo. É por isso que
todos devemos ser
solidários uns com os
outros. No fim, o
instrutor espiritual
disse que o Espiritismo
bem compreendido é para
a vida da alma o que o
trabalho material é para
a vida do corpo.
“Ocupai-vos dele com
este objetivo – advertiu
o Espírito – e ficai
certos de que quando
tiverdes feito, para o
vosso melhoramento
moral, a metade do que
fazeis para melhorar a
vossa existência
material, tereis feito a
humanidade dar um grande
passo.” (Págs. 91 e
92.)
50. Numa página
intitulada “Tudo vem a
seu tempo”, o Espírito
de Humboldt adverte que
não devemos ter avidez
por tudo saber, porque o
Senhor sabe qual é o
melhor método para nos
instruir.
Contentemo-nos, pois,
com saber o que Deus
julga a propósito nos
ensinar durante nossa
passagem pela Terra,
certos de que “tudo virá
a seu tempo”.
Finalizando a mensagem,
Humboldt diz: “Sim, meus
amigos, aprendei e
instruí-vos e, antes de
tudo, progredi em
moralidade pelo amor ao
próximo, pela caridade,
pela fé: é o essencial,
é o passaporte, à vista
do qual as portas do
santuário infinito vos
são abertas”. (Págs.
93 e 94.)(Continua no próximo
número.)