Sonetos
(1)
Raimundo Correia
Tudo passa no mundo. O
homem passa
Atrás dos anos sem
compreendê-los;
O tempo e a dor
alvejam-lhe os cabelos,
À frouxa luz de uma
ventura escassa.
Sob o infortúnio, sob os
atropelos
Da dor que lhe envenena
o sonho e a graça,
Rasga-se a fantasia que
o enlaça,
E vê morrer seus ideais
mais belos!...
Longe, porém, das
ilusões desfeitas,
Mostra-lhe a morte vidas
mais perfeitas,
Depois do pesadelo das
mãos frias...
E como o anjinho débil
que renasce,
Chora, chora e sorri,
qual se encontrasse
A luz primeira dos
primeiros dias.
Raimundo Correia nasceu
em 13 de maio de 1859, a
bordo do vapor São Luiz,
na baía de Mangunça,
litoral do Maranhão, e
desencarnou em Paris no
dia 13 de setembro de
1911. Magistrado e
membro da Academia
Brasileira de Letras,
foi um homem justo e bom
e um dos maiores poetas
de sua geração. O soneto
acima integra o livro
Parnaso de Além-Túmulo,
obra psicografada pelo
médium Chico Xavier.