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Estudando as obras de Kardec
Ano 4 - N° 179 10 de Outubro de 2010

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1867

Allan Kardec 

(Parte 6)

Continuamos a apresentar o estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1867. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 16 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Qual é, segundo Cárita, a missão da mulher?

Em comunicação dada em 6 de julho de 1866, o Espírito de Cárita falou sobre a missão da mulher, a quem compete principalmente espalhar a consolação e a conciliação. É à mulher que Deus confia os primeiros passos de seus filhos e foi ela que o Pai escolheu como a nutriz das doces criaturas que vão nascer. Finalizando, Cárita dirigiu-se a todas as mulheres rogando-lhes coragem: “Ó vós que viveis humildemente, trabalhando por melhorar vosso interior, Deus vos sorri, porque vos deu essa amenidade que caracteriza a mulher; quer sejam imperatrizes, irmãs de caridade, humildes trabalhadoras ou suaves mães de família, estão todas sob a mesma bandeira e levam na fronte e no coração estas duas palavras mágicas, que enchem a eternidade: Amor e Caridade”. (Revue Spirite de 1867, pp. 128 a 130.) 

B. Numa reunião de pessoas, de que natureza é o ambiente espiritual?

Os fluidos ambientes serão ali salubres ou insalubres, conforme os pensamentos dominantes forem bons ou maus. Se os maus pensamentos forem em minoria, não impedirão que as boas influências se produzam, pois estas os paralisam. Se predominarem, enfraquecerão a radiação fluídica dos bons Espíritos ou mesmo impedirão que os bons fluidos penetrem nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém os raios do Sol. Podemos subtrair-nos a essas influências? Sem nenhuma dúvida, sim, porque, do mesmo modo que saneamos os lugares insalubres, destruindo a fonte dos miasmas pestilentos, podemos sanear a atmosfera moral que nos cerca e subtrair-nos às influências perniciosas dos fluidos malsãos, unicamente com o uso de nossa vontade. Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque lhe enviará somente bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. (Obra citada, pp. 133 a 136.)  

C. Há diferença entre o sofrimento corpóreo e o sofrimento espiritual?

Segundo um instrutor espiritual, sofrer num mundo ou no outro é sempre sofrer; e se sofre tanto tempo até que a reabilitação seja completa. A diferença entre o sofrimento corporal e o sofrimento espiritual é que o primeiro é quase sempre voluntariamente aceito, como complemento de expiação, ou como provação para adiantar-se mais rapidamente, ao passo que o outro é imposto. Há, contudo, outros motivos para o sofrimento corporal: inicialmente para que a reparação se faça nas mesmas condições em que o mal foi feito; depois, para servir de exemplo aos encarnados. O sofrimento corporal é, ainda, uma ocasião para os encarnados exercitarem a caridade entre si, uma prova para seus sentimentos de comiseração e, muitas vezes, um meio de reparar erros anteriores. (Obra citada, pp. 147 e 148.)  

Texto para leitura 

63. Um fato semelhante, ocorrido em Paris em maio de 1866, é comentado em seguida pelo Codificador. No bairro de Ménilmontant a campainha de uma casa costumava tocar, sem que se visse alguém por perto. Após esgotar todas as hipóteses explicativas do fenômeno, a sra. X..., acreditando que os falecidos vêm às vezes reclamar preces dos parentes, mandou rezar missas e novenas, mas de nada adiantou, pois a campainha tocava sempre. (Págs. 127 e 128.)

64. Em comunicação transmitida em 6 de julho de 1866, o Espírito de Cárita fala sobre a missão da mulher, a quem compete principalmente espalhar a consolação e a conciliação. Por que a mulher tem a graça e o sorriso, o encanto da voz e a suavidade da alma? É porque é a ela que Deus confia os primeiros passos de seus filhos, é ela que o Pai escolheu como a nutriz das doces criaturas que vão nascer. Finalizando a mensagem, Cárita dirige-se a todas as mulheres rogando-lhes coragem: “Ó vós que viveis humildemente, trabalhando por melhorar vosso interior, Deus vos sorri, porque vos deu essa amenidade que caracteriza a mulher; quer sejam imperatrizes, irmãs de caridade, humildes trabalhadoras ou suaves mães de família, estão todas sob a mesma bandeira e levam na fronte e no coração estas duas palavras mágicas, que enchem a eternidade: Amor e Caridade”. (Págs. 128 a 130.)

65. Duas notícias fecham o número de abril de 1867: I) O jornal La Verité, de Lyon, mudou o seu título, a partir de 10 de março de 1867, para La Tribune Universelle, journal de la libre conscience et de la livre pensée. Justificando sua decisão, o diretor do jornal explicou que o fato não implicava sua deserção das fileiras espíritas. “A ideia espírita hoje – diz ele em nota transcrita pela Revue  – faz parte integral do nosso ser e retirá-la seria votar à morte o nosso coração, o nosso espírito.” II) Foi lançado em Madri um opúsculo intitulado Carta de um espiritista, contendo os princípios fundamentais da doutrina espírita, com base no livro O que é o Espiritismo, de Kardec. (Págs. 130 e 131.)

66. Atmosfera espiritual é o tema do artigo de abertura do número de maio de 1867, do qual extraímos os ensinamentos seguintes formulados por Kardec: I) Numa reunião, além dos assistentes visíveis, existem outros invisíveis, e estes, dada a permeabilidade do organismo espiritual, podem achar-se em número ilimitado num dado espaço. II) Os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração. Conhecem-se seu poder curativo em certos casos e, também, seus efeitos mórbidos. III) Podemos subtrair-nos a essas influências? Sem nenhuma dúvida, sim, porque, do mesmo modo que saneamos os lugares insalubres, destruindo a fonte dos miasmas pestilentos, podemos sanear a atmosfera moral que nos cerca e subtrair-nos às influências perniciosas dos fluidos malsãos, unicamente com o uso de nossa vontade. IV) Numa assembleia os fluidos ambientes serão, pois, salubres ou insalubres, conforme os pensamentos dominantes forem bons ou maus. V) Se os maus pensamentos forem em minoria, não impedirão que as boas influências se produzam, pois estas os paralisam. Se predominarem, enfraquecerão a radiação fluídica dos bons Espíritos ou mesmo impedirão que os bons fluidos penetrem nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém os raios do Sol. VI) Desde que são os maus pensamentos que enquadram os maus fluidos e os atraem, para neutralizá-los há que nos esforçarmos para só os ter bons e repelir tudo que é mau, como se repele um alimento que nos é nocivo. Numa palavra: trabalhar por nosso melhoramento moral e não apenas limpar o vaso por fora, mas sobretudo limpá-lo por dentro. VII) Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque lhe enviará somente bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. (Págs. 133 a 136.) 

67. Comentando artigo publicado no jornal La Verité, sobre Renan e seu ceticismo, Kardec explica que o vocábulo milagre havia perdido sua significação primitiva, como tantos outros. Milagre significava então, na época da codificação, fato extranatural, sobrenatural, conceitos que não cabem no vocabulário espírita, porquanto sobrenatural é, segundo Kardec, “uma insensatez do ponto de vista do Espiritismo”. (Págs. 136 a 139.)

68. A Revue analisa um livro publicado em Paris em 1808, no qual o Sr. Caillot, autor da Enciclopédia das jovens e das novas lições elementares da História da França, além de descrever os cemitérios de Montmartre e Père-Lachaise, ambos situados em Paris, cita um grande número de inscrições tumulares por ele comentadas. (Págs. 139 e 140.)

69. O Sr. Caillot afirma na obra ter experimentado um contato com a alma de um dos mortos ali sepultados e reproduz o diálogo que ocorreu entre ele e o interlocutor espiritual, a que deu a qualificação de espectro. Na conversação que se estabeleceu, o Espírito confessou ter sido ateu e explicou seus motivos, acrescentando que sofreu muito ao ser relegado, após a morte, a uma região tenebrosa, habitada por Espíritos que tiveram mãos inocentes e cérebro doente. (Págs. 140 a 144.)

70. Quem já leu O Céu e o Inferno, de Kardec, deve lembrar-se da história do menino Marcel, referida no cap. VIII, que trata das expiações terrestres. O caso do jovem Francisco, morto aos 12 anos, objeto da Revue  de maio de 1867, é bem parecido com o de Marcel. Francisco adoeceu quando contava três anos de idade, ao nascer sua irmã. Atingido pela paralisia e pela hidropisia, seu corpo fora coberto de chagas e, tomadas pela gangrena, suas carnes caíam em tiras. (Págs. 144 e 145.)

71. Evocado após sua morte, Francisco deu diversas comunicações em que esclareceu o motivo de seus nove anos de padecimentos. Ele havia matado uma pessoa e de modo torpe: “Matei, mas matei lentamente, fazendo sofrer um ser que eu detestava! Sim, detestava esta criança que julgava não me pertencer! Pobre inocente!” A vítima do passado era a sua irmãzinha, por quem ele, inexplicavelmente, ainda nutria uma repulsa muito grande e cuja presença lhe era insuportável. (Págs. 145 a 147.)

72. O caso suscitou uma questão importante proposta ao guia do médium: Por que a expiação e o arrependimento na vida espiritual não bastam para a reabilitação do culpado? O instrutor respondeu: “Sofrer num mundo ou no outro é sempre sofrer; e se sofre tanto tempo até que a reabilitação seja completa. Esta criança sofreu muito na terra. Ora! isto nada é em comparação com o que suportou no mundo dos Espíritos. Aqui ele tinha em compensação os cuidados e a afeição de que era rodeado. Há ainda esta diferença entre o sofrimento corporal e o sofrimento espiritual, que o primeiro é quase sempre voluntariamente aceito, como complemento de expiação, ou como provação para adiantar-se mais rapidamente, ao passo que o outro é imposto”. “Mas há outros motivos para o sofrimento corporal: inicialmente para que a reparação se faça nas mesmas condições em que o mal foi feito; depois, para servir de exemplo aos encarnados. Vendo seus semelhantes sofrer e sabendo a razão disto, ficam por outro lado impressionados ao saber que são infelizes como Espíritos. Podem melhor explicar-se a causa de seus próprios sofrimentos; a justiça divina se mostra, de certo modo, palpável aos seus olhos. Enfim o sofrimento corporal é uma ocasião para os encarnados exercitarem a caridade entre si, uma prova para seus sentimentos de comiseração e, muitas vezes, um meio de reparar erros anteriores. Porque, crede-o bem, quando um infortunado se acha em vosso caminho, não é por efeito do acaso.” (Págs. 147 e 148.)

73. A Revue  publica fragmentos do drama Galileu, escrito pelo Sr. Ponsard. Um século antes de Galileu, Copérnico (1473-1543) havia concebido o sistema astronômico que traz o seu nome. Com o auxílio da luneta, que foi por ele aperfeiçoada, Galileu completou as ideias de Copérnico e demonstrou sua veracidade pelo cálculo. Com seu instrumento pôde estudar a natureza dos planetas e sua similitude com a Terra, e reconheceu que as estrelas são outros tantos sóis disseminados no espaço, deduzindo que cada uma devia ser o centro de um sistema planetário. No drama, o poeta procura mostrar a diversidade dos sentimentos que Galileu provocou com suas descobertas, conforme o caráter e os preconceitos das pessoas. (Págs. 148 a 154.)

74. Galileu, diz o Codificador, sondou as profundezas dos céus e revelou a pluralidade dos mundos materiais, produzindo uma revolução nas ideias e abrindo um novo campo de exploração à ciência. O Espiritismo operou outra revolução não menor, revelando a existência do mundo espiritual que nos rodeia. Da mesma maneira que a má vontade e a perseguição não impediram que a doutrina de Galileu triunfasse, também as ideias espíritas não serão abafadas e seus detratores serão olhados pela geração futura com os mesmos olhos com que olhamos hoje os de Galileu. (Pág. 154.)

75. A Revue  publica novos trechos do artigo Lumen, escrito por Camille Flammarion, objeto de comentários de Kardec no número de março, págs. 96 a 100. O relato feito por Flammarion, pertinente à chegada de Lumen a Capela, mostrando que havia um lapso de tempo de 72 anos entre o que os habitantes do lugar podiam ver desenrolar-se na Terra e o que já ocorrera em nosso planeta, ajuda a compreensão do fenômeno das profecias; mas Kardec adverte que as coisas não se passam exatamente assim. Quando os Espíritos encarnados num planeta querem saber o que se passa em outro planeta, transportam-se a esse mundo, como fez Lumen, e tornam-se assim, momentaneamente, habitantes espirituais desse planeta, ou aí se encarnam em missão. (Págs. 155 a 160.)

76. Escrevendo sobre a vida no mundo espiritual, diz Leclerc (Espírito) que ali tudo respira calma, sabedoria, felicidade, harmonia, e não mais se veem quimeras, falsas alegrias, temores pueris, nada desse cortejo vil de fabulosas dores e erros grosseiros que se veem na Terra. “Cada obra tem uma finalidade, que conduz ao amor, diapasão da harmonia geral”, assinala o amigo espiritual. “As legiões espirituais adiantadas só têm um objetivo, o de se tornarem úteis a seus irmãos atrasados, para os elevar para elas.” (Págs. 160 e 161.) (Continua no próximo número.)


 


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