A Revue Spirite
de 1867
Allan Kardec
(Parte
6)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1867. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Qual é, segundo
Cárita, a missão da
mulher?
Em comunicação dada em 6
de julho de 1866, o
Espírito de Cárita falou
sobre a missão da
mulher, a quem compete
principalmente espalhar
a consolação e a
conciliação. É à mulher
que Deus confia os
primeiros passos de seus
filhos e foi ela que o
Pai escolheu como a
nutriz das doces
criaturas que vão
nascer. Finalizando,
Cárita dirigiu-se a
todas as mulheres
rogando-lhes coragem: “Ó
vós que viveis
humildemente,
trabalhando por melhorar
vosso interior, Deus vos
sorri, porque vos deu
essa amenidade que
caracteriza a mulher;
quer sejam imperatrizes,
irmãs de caridade,
humildes trabalhadoras
ou suaves mães de
família, estão todas sob
a mesma bandeira e levam
na fronte e no coração
estas duas palavras
mágicas, que enchem a
eternidade: Amor e
Caridade”.
(Revue Spirite de 1867,
pp. 128 a 130.)
B. Numa reunião de
pessoas, de que natureza
é o ambiente espiritual?
Os fluidos ambientes
serão ali salubres ou
insalubres, conforme os
pensamentos dominantes
forem bons ou maus. Se
os maus pensamentos
forem em minoria, não
impedirão que as boas
influências se produzam,
pois estas os paralisam.
Se predominarem,
enfraquecerão a radiação
fluídica dos bons
Espíritos ou mesmo
impedirão que os bons
fluidos penetrem nesse
meio, como o nevoeiro
enfraquece ou detém os
raios do Sol. Podemos
subtrair-nos a essas
influências? Sem nenhuma
dúvida, sim, porque, do
mesmo modo que saneamos
os lugares insalubres,
destruindo a fonte dos
miasmas pestilentos,
podemos sanear a
atmosfera moral que nos
cerca e subtrair-nos às
influências perniciosas
dos fluidos malsãos,
unicamente com o uso de
nossa vontade.
Melhorando-se, a
humanidade verá
depurar-se a atmosfera
fluídica em cujo meio
vive, porque lhe enviará
somente bons fluidos, e
estes oporão uma
barreira à invasão dos
maus.
(Obra citada, pp. 133 a
136.)
C. Há diferença entre o
sofrimento corpóreo e o
sofrimento espiritual?
Segundo um instrutor
espiritual, sofrer num
mundo ou no outro é
sempre sofrer; e se
sofre tanto tempo até
que a reabilitação seja
completa. A diferença
entre o sofrimento
corporal e o sofrimento
espiritual é que o
primeiro é quase sempre
voluntariamente aceito,
como complemento de
expiação, ou como
provação para
adiantar-se mais
rapidamente, ao passo
que o outro é imposto.
Há, contudo, outros
motivos para o
sofrimento corporal:
inicialmente para que a
reparação se faça nas
mesmas condições em que
o mal foi feito; depois,
para servir de exemplo
aos encarnados. O
sofrimento corporal é,
ainda, uma ocasião para
os encarnados
exercitarem a caridade
entre si, uma prova para
seus sentimentos de
comiseração e, muitas
vezes, um meio de
reparar erros
anteriores.
(Obra citada, pp. 147 e
148.)
Texto para leitura
63. Um fato semelhante,
ocorrido em Paris em
maio de 1866, é
comentado em seguida
pelo Codificador. No
bairro de Ménilmontant a
campainha de uma casa
costumava tocar, sem que
se visse alguém por
perto. Após esgotar
todas as hipóteses
explicativas do
fenômeno, a sra. X...,
acreditando que os
falecidos vêm às vezes
reclamar preces dos
parentes, mandou rezar
missas e novenas, mas de
nada adiantou, pois a
campainha tocava sempre.
(Págs. 127 e 128.)
64. Em comunicação
transmitida em 6 de
julho de 1866, o
Espírito de Cárita fala
sobre a missão da
mulher, a quem compete
principalmente espalhar
a consolação e a
conciliação. Por que a
mulher tem a graça e o
sorriso, o encanto da
voz e a suavidade da
alma? É porque é a ela
que Deus confia os
primeiros passos de seus
filhos, é ela que o Pai
escolheu como a nutriz
das doces criaturas que
vão nascer. Finalizando
a mensagem, Cárita
dirige-se a todas as
mulheres rogando-lhes
coragem: “Ó vós que
viveis humildemente,
trabalhando por melhorar
vosso interior, Deus vos
sorri, porque vos deu
essa amenidade que
caracteriza a mulher;
quer sejam imperatrizes,
irmãs de caridade,
humildes trabalhadoras
ou suaves mães de
família, estão todas sob
a mesma bandeira e levam
na fronte e no coração
estas duas palavras
mágicas, que enchem a
eternidade: Amor e
Caridade”. (Págs. 128
a 130.)
65. Duas notícias fecham
o número de abril de
1867: I) O jornal La
Verité, de Lyon,
mudou o seu título, a
partir de 10 de março de
1867, para La Tribune
Universelle, journal de
la libre conscience et
de la livre pensée.
Justificando sua
decisão, o diretor do
jornal explicou que o
fato não implicava sua
deserção das fileiras
espíritas. “A ideia
espírita hoje – diz ele
em nota transcrita pela
Revue – faz
parte integral do nosso
ser e retirá-la seria
votar à morte o nosso
coração, o nosso
espírito.” II) Foi
lançado em Madri um
opúsculo intitulado
Carta de um espiritista,
contendo os princípios
fundamentais da doutrina
espírita, com base no
livro O que é o
Espiritismo, de
Kardec. (Págs. 130 e
131.)
66. Atmosfera espiritual
é o tema do artigo de
abertura do número de
maio de 1867, do qual
extraímos os
ensinamentos seguintes
formulados por Kardec:
I) Numa reunião, além
dos assistentes
visíveis, existem outros
invisíveis, e estes,
dada a permeabilidade do
organismo espiritual,
podem achar-se em número
ilimitado num dado
espaço. II) Os fluidos
que emanam dos Espíritos
são mais ou menos
salutares, conforme seu
grau de depuração.
Conhecem-se seu poder
curativo em certos casos
e, também, seus efeitos
mórbidos. III) Podemos
subtrair-nos a essas
influências? Sem nenhuma
dúvida, sim, porque, do
mesmo modo que saneamos
os lugares insalubres,
destruindo a fonte dos
miasmas pestilentos,
podemos sanear a
atmosfera moral que nos
cerca e subtrair-nos às
influências perniciosas
dos fluidos malsãos,
unicamente com o uso de
nossa vontade. IV) Numa
assembleia os fluidos
ambientes serão, pois,
salubres ou insalubres,
conforme os pensamentos
dominantes forem bons ou
maus. V) Se os maus
pensamentos forem em
minoria, não impedirão
que as boas influências
se produzam, pois estas
os paralisam. Se
predominarem,
enfraquecerão a radiação
fluídica dos bons
Espíritos ou mesmo
impedirão que os bons
fluidos penetrem nesse
meio, como o nevoeiro
enfraquece ou detém os
raios do Sol. VI) Desde
que são os maus
pensamentos que
enquadram os maus
fluidos e os atraem,
para neutralizá-los há
que nos esforçarmos para
só os ter bons e repelir
tudo que é mau, como se
repele um alimento que
nos é nocivo. Numa
palavra: trabalhar por
nosso melhoramento moral
e não apenas limpar o
vaso por fora, mas
sobretudo limpá-lo por
dentro. VII)
Melhorando-se, a
humanidade verá
depurar-se a atmosfera
fluídica em cujo meio
vive, porque lhe enviará
somente bons fluidos, e
estes oporão uma
barreira à invasão dos
maus. (Págs. 133 a
136.)
67. Comentando artigo
publicado no jornal
La Verité, sobre
Renan e seu ceticismo,
Kardec explica que o
vocábulo milagre havia
perdido sua significação
primitiva, como tantos
outros. Milagre
significava então, na
época da codificação,
fato extranatural,
sobrenatural, conceitos
que não cabem no
vocabulário espírita,
porquanto sobrenatural
é, segundo Kardec, “uma
insensatez do ponto de
vista do Espiritismo”.
(Págs. 136 a 139.)
68. A
Revue analisa um
livro publicado em Paris
em 1808, no qual o Sr.
Caillot, autor da
Enciclopédia das jovens
e das novas lições
elementares da História
da França, além de
descrever os cemitérios
de Montmartre e
Père-Lachaise, ambos
situados em Paris, cita
um grande número de
inscrições tumulares por
ele comentadas.
(Págs. 139 e 140.)
69. O Sr. Caillot afirma
na obra ter
experimentado um contato
com a alma de um dos
mortos ali sepultados e
reproduz o diálogo que
ocorreu entre ele e o
interlocutor espiritual,
a que deu a qualificação
de espectro. Na
conversação que se
estabeleceu, o Espírito
confessou ter sido ateu
e explicou seus motivos,
acrescentando que sofreu
muito ao ser relegado,
após a morte, a uma
região tenebrosa,
habitada por Espíritos
que tiveram mãos
inocentes e cérebro
doente. (Págs. 140 a
144.)
70. Quem já leu O Céu
e o Inferno, de
Kardec, deve lembrar-se
da história do menino
Marcel, referida no cap.
VIII, que trata das
expiações terrestres. O
caso do jovem Francisco,
morto aos 12 anos,
objeto da Revue
de maio de 1867, é bem
parecido com o de
Marcel. Francisco
adoeceu quando contava
três anos de idade, ao
nascer sua irmã.
Atingido pela paralisia
e pela hidropisia, seu
corpo fora coberto de
chagas e, tomadas pela
gangrena, suas carnes
caíam em tiras.
(Págs. 144 e 145.)
71. Evocado após sua
morte, Francisco deu
diversas comunicações em
que esclareceu o motivo
de seus nove anos de
padecimentos. Ele havia
matado uma pessoa e de
modo torpe: “Matei, mas
matei lentamente,
fazendo sofrer um ser
que eu detestava! Sim,
detestava esta criança
que julgava não me
pertencer! Pobre
inocente!” A vítima do
passado era a sua
irmãzinha, por quem ele,
inexplicavelmente, ainda
nutria uma repulsa muito
grande e cuja presença
lhe era insuportável.
(Págs. 145 a 147.)
72. O caso suscitou uma
questão importante
proposta ao guia do
médium: Por que a
expiação e o
arrependimento na vida
espiritual não bastam
para a reabilitação do
culpado? O instrutor
respondeu: “Sofrer num
mundo ou no outro é
sempre sofrer; e se
sofre tanto tempo até
que a reabilitação seja
completa. Esta criança
sofreu muito na terra.
Ora! isto nada é em
comparação com o que
suportou no mundo dos
Espíritos. Aqui ele
tinha em compensação os
cuidados e a afeição de
que era rodeado. Há
ainda esta diferença
entre o sofrimento
corporal e o sofrimento
espiritual, que o
primeiro é quase sempre
voluntariamente aceito,
como complemento de
expiação, ou como
provação para
adiantar-se mais
rapidamente, ao passo
que o outro é imposto”.
“Mas há outros motivos
para o sofrimento
corporal: inicialmente
para que a reparação se
faça nas mesmas
condições em que o mal
foi feito; depois, para
servir de exemplo aos
encarnados. Vendo seus
semelhantes sofrer e
sabendo a razão disto,
ficam por outro lado
impressionados ao saber
que são infelizes como
Espíritos. Podem melhor
explicar-se a causa de
seus próprios
sofrimentos; a justiça
divina se mostra, de
certo modo, palpável aos
seus olhos. Enfim o
sofrimento corporal é
uma ocasião para os
encarnados exercitarem a
caridade entre si, uma
prova para seus
sentimentos de
comiseração e, muitas
vezes, um meio de
reparar erros
anteriores. Porque,
crede-o bem, quando um
infortunado se acha em
vosso caminho, não é por
efeito do acaso.”
(Págs. 147 e 148.)
73. A
Revue publica
fragmentos do drama
Galileu, escrito
pelo Sr. Ponsard. Um
século antes de Galileu,
Copérnico (1473-1543)
havia concebido o
sistema astronômico que
traz o seu nome. Com o
auxílio da luneta, que
foi por ele
aperfeiçoada, Galileu
completou as ideias de
Copérnico e demonstrou
sua veracidade pelo
cálculo. Com seu
instrumento pôde estudar
a natureza dos planetas
e sua similitude com a
Terra, e reconheceu que
as estrelas são outros
tantos sóis disseminados
no espaço, deduzindo que
cada uma devia ser o
centro de um sistema
planetário. No drama, o
poeta procura mostrar a
diversidade dos
sentimentos que Galileu
provocou com suas
descobertas, conforme o
caráter e os
preconceitos das
pessoas. (Págs. 148 a
154.)
74. Galileu, diz o
Codificador, sondou as
profundezas dos céus e
revelou a pluralidade
dos mundos materiais,
produzindo uma revolução
nas ideias e abrindo um
novo campo de exploração
à ciência. O Espiritismo
operou outra revolução
não menor, revelando a
existência do mundo
espiritual que nos
rodeia. Da mesma maneira
que a má vontade e a
perseguição não
impediram que a doutrina
de Galileu triunfasse,
também as ideias
espíritas não serão
abafadas e seus
detratores serão olhados
pela geração futura com
os mesmos olhos com que
olhamos hoje os de
Galileu. (Pág. 154.)
75. A
Revue publica
novos trechos do artigo
Lumen, escrito
por Camille Flammarion,
objeto de comentários de
Kardec no número de
março, págs. 96 a 100. O
relato feito por
Flammarion, pertinente à
chegada de Lumen a
Capela, mostrando que
havia um lapso de tempo
de 72 anos entre o que
os habitantes do lugar
podiam ver desenrolar-se
na Terra e o que já
ocorrera em nosso
planeta, ajuda a
compreensão do fenômeno
das profecias; mas
Kardec adverte que as
coisas não se passam
exatamente assim. Quando
os Espíritos encarnados
num planeta querem saber
o que se passa em outro
planeta, transportam-se
a esse mundo, como fez
Lumen, e tornam-se
assim, momentaneamente,
habitantes espirituais
desse planeta, ou aí se
encarnam em missão.
(Págs. 155 a 160.)
76. Escrevendo sobre a
vida no mundo
espiritual, diz Leclerc
(Espírito) que ali tudo
respira calma,
sabedoria, felicidade,
harmonia, e não mais se
veem quimeras, falsas
alegrias, temores
pueris, nada desse
cortejo vil de fabulosas
dores e erros grosseiros
que se veem na Terra.
“Cada obra tem uma
finalidade, que conduz
ao amor, diapasão da
harmonia geral”,
assinala o amigo
espiritual. “As legiões
espirituais adiantadas
só têm um objetivo, o de
se tornarem úteis a seus
irmãos atrasados, para
os elevar para elas.”
(Págs. 160 e 161.)
(Continua no próximo
número.)