Paulo Gilmar
Fraga Salerno:
“O homem
contemporâneo e,
com mais razão,
o do futuro
tende a não
aceitar o que
não seja
racional”
|
Militar
reformado, o
gaúcho Paulo
Salerno
(foto), de
Porto Alegre-RS,
é
presidente do
Conselho
Regional
Espírita da 1ª
Região
Federativa
(CRE1-RS) da
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul,
onde mantém
perseverante
atuação no
Movimento
Espírita. Nesta
entrevista
compartilha seu
pensamento sobre
diversos tópicos
e sobre sua
participação no
movimento
espírita.
O Consolador:
Quando e como
conheceu a
Doutrina
Espírita?
Aos 36 anos de
idade, durante
enfermidade
grave adquirida
por minha
esposa, que
desencarnou em
1991.
|
O Consolador:
Participa de
qual Centro
Espírita e em
quais atividades
está atuando? |
Desempenho
minhas
atividades
espíritas na
Sociedade
Espírita Luz,
Paz e Caridade,
situada na Rua
Fernando Borba,
250, em Porto
Alegre-RS. Além
da presidência,
que estou
exercendo,
também atuo no
Atendimento
Fraterno,
facilitador de
ESDE/EPM,
expositor,
passista e,
naturalmente, na
área mediúnica.
O Consolador:
Você é um
dedicado e
experiente
dirigente.
Fale-nos da
organização do
Movimento
Espírita no Rio
Grande do Sul.
Como está ele
estruturado?
O Movimento
Espírita no RS
vem-se
dinamizando.
Sendo mais bem
compreendido e
entendido pelos
dirigentes e por
aqueles que
desenvolvem as
suas atividades
nos Centros
Espíritas, tende
a se fortalecer
e crescer com
harmonia.
A estrutura do
Movimento
Espírita tem por
base os Centros
Espíritas que se
agregam em
Uniões Espíritas
(municipais,
distritais e
intermunicipais).
Por sua vez, as
Uniões Espíritas
se aglutinam em
Conselhos
Regionais, que
no Rio Grande do
Sul são em
número de 14.
Por fim, como
ápice e grande
polo irradiador
e receptor
temos, nessa
estrutura, a
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul (FERGS).
Tanto as Uniões
Espíritas como
os Conselhos
Regionais são
órgãos de
dinamização e
descentralizadores
do Movimento
Espírita.
O Consolador:
Há uma política
no Espiritismo?
No que ela se
diferencia da
política
partidária?
Entendo que sim.
Há uma política
no Espiritismo
que se expressa
pela prática do
princípio
doutrinário que
o caracteriza. É
a política da
aceitação de
nossos
semelhantes, da
honradez, da
sinceridade, da
prática das
virtudes
encontradas no
homem de bem, da
compreensão e
acatamento das
potencialidades
de cada um. É a
política do
respeito à opção
do indivíduo,
seja ela qual
for, enfim, é a
política da
alteridade e do
amor,
características
tão bem
exemplificadas
pelo Mestre
Jesus.
Só por esta
adjetivação
acima já se
estabelece a
diferença com a
política
partidária, que
é exercida para
disputar cargos
de governo,
fazer
proselitismo
partidário,
defender
posições
ideológicas a
respeito dos
fins do Estado.
A diferença
está, também,
nos meios
empregados para
atingir os
objetivos,
muitas vezes
inconfessáveis,
para atender aos
interesses
mesquinhos e
subservientes,
salvo raríssimas
exceções.
O Consolador: Você
faz parte da
comissão de
revisão do
estatuto da
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul.
Qual a
necessidade da
atualização das
normas de
organização do
movimento
federativo? Há
uma
periodicidade
ideal?
Estamos no
Século XXI e
naturalmente,
como tudo no
Universo é
dinâmico e
evolui, também o
estatuto de
nossa Federação
deve passar por
revisões e
aperfeiçoamentos.
Sendo a
Federação uma
caixa de
ressonância,
deve ela
estruturar-se
para melhor
atender às
necessidades e
aos anseios do
Movimento
Espírita.
Particularmente
defendo a ideia
de se
estabelecer um
Conselho de
Administração,
um Conselho
Deliberativo e
um Conselho
Fiscal, todos
com um órgão
diretivo próprio
e que atuem em
harmonia,
guardando cada
um a sua
independência na
área que lhe é
própria. Também
propugno por um
mandato de no
mínimo três
anos; assim os
gestores terão
melhor
oportunidade de
planejar,
executar e
adequar seus
programas. Tomo
por base, para
defender este
meu ponto de
vista, o que
Allan Kardec
legou-nos em
Obras Póstumas,
mais
precisamente na
2ª Parte, sob o
título
Constituição do
Espiritismo, em
que o
Codificador
apresenta sua
exposição de
motivos.
Com relação à
periodicidade,
no título acima
exposto, Allan
Kardec previu
que as revisões
deveriam ser de
25 em 25 anos.
Para tanto
teremos que ter
um estatuto
sintético, que
seja dotado de
precisão,
objetividade e
clareza. Até
atingirmos esse
patamar, é
mister que
tomemos
resoluções para
o ajustamento e
aperfeiçoamento
de nosso
estatuto em
prazos menores.
Ao se
estabelecer, na
letra
estatutária, a
formação de um
Conselho
Deliberativo com
sua mesa
diretiva,
constituída por
comissões
permanentes, uma
delas,
forçosamente,
deverá ter sob
seus cuidados e
responsabilidade
as revisões,
tanto as
estatutárias
quanto as
regimentais.
O Consolador:
Como integrante
da Equipe do
Livro, que
acompanha
Divaldo Franco
em seus roteiros
no Sul há alguns
anos, que
experiências ou
lições tem a
relatar destas
atividades?
As lições são as
mais belas
possíveis, visto
que a tarefa de
divulgação da
Doutrina
Espírita se
expressa, nesses
roteiros, pelo
trabalho
desenvolvido por
Divaldo Franco e
pela oferta das
obras por ele
psicografadas.
Mas não só isso,
o contato com
companheiros
espíritas, nas
mais diversas
cidades, a troca
de ideias e de
experiências
ajudam-nos a
compor a grande
família,
estreitando
laços de afeto e
simpatia.
Há também um
aprendizado que
se nos apresenta
ao observar o
trabalho
desenvolvido
pelos anfitriões
e suas equipes,
dando-nos a
dimensão
grandiosa dessa
tarefa de
divulgação
doutrinária,
que, embora
árdua, é
altamente
gratificante.
Observa-se,
nessas ocasiões,
o grande
envolvimento que
há entre os
Centros
Espíritas e seus
colaboradores,
desde o
planejamento, a
execução e a
avaliação, os
quais, em vista
de um bem maior,
unem-se com
maior
intensidade.
Colho,
igualmente,
lições de
dedicação, de
superação de
limites e
obstáculos, de
esmero e de
divulgação da
Doutrina por
todos os meios
disponíveis e
lícitos por
parte daqueles
que tomam a si a
responsabilidade
por esses
eventos.
O Consolador:
Como avalia o
estado atual da
organização dos
eventos
espíritas?
Estamos
progredindo
bastante.
Nota-se um
planejamento
mais amplo, uma
execução
descentralizada
e coordenada.
Cabe aqui uma
observação. Os
Centros
Espíritas, as
Uniões Espíritas
e até mesmo os
Conselhos
Regionais que
dispõem de
recursos parcos
em nada ficam
devendo para os
mais
aquinhoados, não
os desmerecendo,
naturalmente. Há
por parte de
todos uma
superação e
preocupação em
bem receber o
público,
dedicando-se a
oferecer o
melhor conforto
possível, desde
o local
escolhido, os
equipamentos
necessários e,
sobretudo, a
atitude fraterna
responsável pelo
clima de
harmonia e paz
que se
experimenta
nessas ocasiões.
Ouso dizer que,
nessa área de
eventos,
deveríamos
formar e
constituir
equipes mais ou
menos
permanentes para
que o somatório
das experiências
adquiridas fosse
servindo de base
e de inspiração
para os futuros
eventos,
inclusive
ampliando os
meios de
captação de
recursos
financeiros,
seja na área
espírita, seja
fora dela.
O Consolador:
Percebemos que o
momento atual da
divulgação do
Espiritismo é
nobre. Quais os
cuidados dos
dirigentes para
bem
desempenharem
seus encargos
nesse mister?
O homem
contemporâneo e,
com mais razão,
o do futuro
tendem a não
aceitar o que
não seja
racional,
compreensível.
Os dirigentes e
demais
colaboradores
das instituições
espíritas devem
primar, se já
não o fazem, por
bem receber
aqueles que nos
procuram,
cativando-os e
passando-lhes a
proposta
doutrinária,
alicerçada na
razão e na
coerência.
Além disso, pela
qualificação e
entendimento do
público que está
frequentando, ou
nos visitando
pela primeira
vez, há nos dias
atuais uma
exigência cada
vez maior de
conhecimento
doutrinário e
administrativo,
o que nos
solicita uma
capacitação mais
primorosa, não
só dos
dirigentes, mas
de todos os
colaboradores de
nossas
instituições
espíritas.
Incluo o
expositor
espírita nesta
saga de
divulgação
doutrinária. O
expositor é um
expoente
bastante visível
ao público, por
isso sua
abordagem
doutrinária deve
estar alicerçada
nos postulados
cristãos à luz
dos dias atuais,
esclarecendo as
inúmeras
situações
vivenciadas pelo
homem moderno.
Deve se utilizar
das descobertas
e comprovações
científicas que
estão
corroborando os
ensinos do
Mestre Jesus,
sem, porém,
jamais esquecer
que os corações
aflitos
necessitam de
conforto
espiritual e
encorajamento
para superações
possíveis.
Saliento que o
receber bem
significa,
também,
instalações
adequadas,
dotadas de algum
conforto,
palestras bem
planejadas e os
assuntos
expostos com
clareza e
simplicidade, um
atendimento
fraterno que
acolha, conforte
e esclareça, bem
como a
disponibilização
de uma
biblioteca
básica, mas,
sobretudo, que
os nossos atos
sejam
acompanhados de
amor, muito
amor.
O Consolador: O
que pensa sobre
o livro
espírita?
O livro espírita
possui uma
importância
extraordinária.
Através do livro
espírita,
psicografado, ou
não, a Doutrina
Espírita tem
alcançado um
público cada vez
maior.
No Brasil e em
todas as nações
em que o
Espiritismo se
encontra
implementado, ou
em fase de
implementação, é
no livro que se
estabelece essa
base de
divulgação, pois
que o próprio
expositor se
utiliza de uma
ou mais obras
espíritas para
transmitir o
conhecimento. A
consolidação da
Doutrina
Espírita e o
esclarecimento e
consolo das
almas aflitas se
dão, justamente,
porque
encontramos nas
obras espíritas
o conhecimento
necessário. Esse
conhecimento
disseminado
através do livro
espírita alcança
centenas,
milhares de
indivíduos quase
que
simultaneamente.
Poderíamos
imaginar a
divulgação da
Doutrina
Espírita antes
da revolução
tecnológica
inventada por
Gutenberg, o
tipógrafo?
Em falando sobre
revolução
tecnológica,
novos ares estão
soprando nos
parques gráficos
tradicionais
(obras impressas
em papel). Esses
ares poderão se
transformar em
furacões
destruidores
caso as editoras
e as livrarias
não se adaptem
aos projetos
eletrônicos.
Hoje
encontramos, com
valor bastante
acessível e com
tendência a
diminuir, os
chamados
leitores de
livros
eletrônicos, os
“eBook Reader”.
É um dispositivo
portátil
dedicado
especialmente à
leitura. Em um
desses leitores
podemos carregar
centenas de
obras e lê-las
naturalmente,
sem o
desconforto das
telas dos
monitores e dos
notebooks.
Imaginemos a
nossa biblioteca
particular ou a
da instituição
espírita
totalmente
contida em um
desses leitores
de livros
eletrônicos.
Temos que estar
atentos, também,
aos “áudios
book”, gravados
quase que
exclusivamente
com a tecnologia
conhecida como
“MP3". Nele
podemos escutar
a leitura
realizada por um
locutor. Fazendo
um pouco de
humor, neste
caso diríamos:
Vou escutar o
meu livro
preferido, ao
invés de dizer:
Vou lê-lo.
E agora, o que
fazer? Estamos
preparados para
lidar com essa
tecnologia?
O Consolador:
Como avalia os
preços atuais
dos livros
espíritas quanto
à acessibilidade
pelo público?
Naturalmente que
para mim e para
milhares de
outros leitores
os livros
espíritas
poderiam ser
mais baratos, no
entanto, pelo
índice de
tecnologia
agregada ao
livro, o valor é
justo. Está
apropriado, até
mesmo
considerando o
número de
páginas, em
torno de
duzentas, daí
para menos.
Como a Equipe do
Livro Divaldo
Franco trabalha
com diversos
públicos em
diversas
localidades,
notamos que as
comunidades que
apresentam um
maior progresso
e, por
conseguinte,
maior poder
aquisitivo,
adquirem mais
obras. Isso não
significa uma
regra geral,
pois que o
inverso também
acontece,
algumas vezes.
O livro
espírita,
atualmente, está
exposto em quase
todas as
livrarias, para
não dizer em
100% delas. Para
a divulgação da
Doutrina
Espírita isso é
excelente.
Atinge um
público que,
embora não se
declare
espírita, tem
sua atenção
despertada pelos
títulos e
assuntos
contidos nessas
obras. Assim, a
área
editorial/livreira,
identificando
essa procura,
aprestou-se em
suprir suas
prateleiras e
gôndolas com o
livro espírita.
O Consolador:
Como o amigo
percebe o
individualismo e
a competição
desenfreada na
sociedade de
consumo atual?
Naturalmente
quando o nosso
ponto de vista
está focado
somente na
matéria, e nos
orientamos pelas
sensações de
predominância
física,
fortalecemos o
individualismo e
a competição,
dando vazão ao
egoísmo e ao
orgulho.
O homem e a
mulher da
atualidade, em
realizando um
esforço hercúleo
para conquistar
o ter,
esquecem-se de
trabalhar para
ser. Ser mais
amorável,
altruísta,
abnegado e
fraterno
conquistando os
recursos
espirituais,
tais sejam, o
desenvolvimento
da inteligência,
o acúmulo de
conhecimentos e
as aquisições
morais.
O Consolador:
Paulo, o que sua
experiência como
espírita tem-lhe
permitido
aprender da
vida?
O aprendizado é
grande e me
reconheço muito
aquém de onde
poderia já ter
chegado. Saber
não significa,
obrigatoriamente,
praticar os
postulados
cristãos, porém
nos dá a clareza
de que somos
responsáveis
ante os nossos
pensamentos e as
nossas atitudes,
principalmente
no trato com os
semelhantes e a
natureza.
Avaliando-me,
posso afirmar
que hoje já
estou um pouco
mais comedido,
mais ponderado e
mais abnegado.
As experiências
vivenciadas sob
a égide do
Espiritismo
tendem a nos
libertar dos
conceitos
arcaicos e dos
paradigmas de
vida e de
relacionamentos
interpessoais,
aliviando-nos a
carga de
imperfeições.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Agradeço,
sensibilizado, o
convite no nobre
amigo Antonio
Nascimento para
esta entrevista
ao “O Consolador
– Revista
Semanal de
Divulgação
Espírita” que
vem prestando
uma grande
colaboração na
divulgação do
Espiritismo nos
seus quatro anos
de existência.
Desejo que a
mensagem cristã
permeie os
corações de cada
um,
sensibilizando-os
para a
perpetuidade da
vida, para o
acatamento das
Leis Divinas, e
que, nesta fase
em que nos
encontramos, a
de transição
para um mundo
regenerador,
possamos estar
capacitados a
enfrentar os
desafios
cotidianos com a
fronte erguida e
a mente serena,
sabedores que
somos os
construtores de
nós mesmos.
Construtores do
ontem, do hoje e
do futuro, que
almejamos ser de
plena
integridade e
felicidades,
conquistadas
pelo exercício
do amor a si e
ao próximo.