A Revue Spirite
de 1867
Allan Kardec
(Parte
10)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1867. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. O impacto da
realidade post-mortem é
maior sobre os
materialistas?
Sim. Exemplo disso é a
comunicação transmitida
pelo Espírito do Dr.
Claudius, médico que em
vida fora materialista.
Sua comunicação foi toda
entrecortada de
exclamações e
interrogações, o que
mostra que ele não
compreendia bem o que
dizia e que o impacto da
realidade post-mortem é
maior sobre os que
durante a encarnação
professam ideias
materialistas.
(Revue Spirite de 1867,
pp. 239 a 241.)
B. Espíritos podem ser
trazidos à reunião
mediúnica apenas para
serem auxiliados?
Sim. Tal como ocorre
atualmente nos centros
espíritas, isso se
verificava também à
época de Kardec. Num dos
grupos espíritas
existentes em Marselha,
a sra. T... recebeu uma
comunicação de um
operário que dias antes
havia desencarnado no
desmoronamento de uma
ponte. O comunicante
dizia estar em trevas, e
o pouco que conseguia
ver ele não compreendia.
Via-se duplo: um corpo
mutilado jazia a seu
lado, mas ele se sentia
vivo. Via também os
parentes desolados e os
companheiros de
infortúnio, que também
tinham dificuldades para
ver as coisas. O guia da
médium explicou, então,
que o infeliz irmão fora
conduzido até ali para
ser ajudado, e a tarefa
não seria muito difícil,
porque o essencial para
compreendê-la o Espírito
tinha: a bondade do
coração.
(Obra citada, pp. 242 e
243.)
C. Como explicar o
remorso?
Kardec refere-se ao
assunto ao comentar o
caso de um operário de
nome Jean Ryzak que,
levado à presença do
burgomestre, confessou
ter cometido, doze anos
antes, um crime torpe.
Ele matara um de seus
amigos para ficar com
seu soldo. Cometido o
crime, o remorso começou
a fazer-se sentir; mais
tarde, o espectro de sua
vítima passou a
persegui-lo noite e dia.
Tais foram as razões da
surpreendente confissão.
Em 10 de maio de 1867,
na Sociedade Espírita de
Paris, duas comunicações
trataram do caso,
transmitindo os
ensinamentos que se
seguem: I – Cada ser tem
a liberdade do bem e do
mal, a que chamamos de
livre-arbítrio. II – O
homem tem em si a
consciência que o
adverte quando faz ou
deixa de fazer qualquer
coisa. III – A
consciência produz dois
efeitos distintos: a
satisfação de haver
agido bem, a paz que
deixa o sentimento do
dever cumprido; e o
remorso que penetra e
tortura quando se
praticou uma ação
reprovada por Deus ou
pelos homens. IV – O
remorso é como uma
serpente de mil voltas,
que circula em redor do
coração e o devasta. V –
O mal carrega em si a
sua pena, pelo remorso
que deixa e pelos
reproches feitos só pela
presença das pessoas
contra quem se agiu mal.
Analisando o assunto,
Kardec observa: “Se o
remorso já é um suplício
na Terra, quão maior não
o será no mundo dos
Espíritos, onde não é
possível subtrair-se à
vista daqueles a quem se
ofendeu”. “O remorso é
uma consequência do
desenvolvimento do senso
moral; não existe onde o
senso moral ainda se
acha em estado latente.
É por isto que os povos
selvagens e bárbaros
cometem sem remorso as
piores ações.”
(Obra citada, pp. 245 a
248.)
Texto para leitura
120. A
Revue reproduz
notícia publicada pelo
jornal Figaro de
5 de julho, pertinente a
um julgamento realizado
pelo tribunal de
Bordeaux e que envolvia,
como testemunha, o
“feiticeiro de Cauderon”,
epíteto atribuído ao Sr.
Simonet, um médium
curador que, segundo a
imprensa, atendia cerca
de mil pessoas
diariamente no
estabelecimento em que
trabalhava. (Págs.
235 e 236.)
121. No tribunal,
inquirido pelo
magistrado, Simonet
explicou: “Eu não curo
todo o mundo; mas é
preciso crer que eu faço
curas, porque no dia em
que a justiça veio havia
mais de 1.500 pessoas
que esperavam a sua
vez”. (Pág. 236.)
122. Reportando-se ao
caso, Kardec informa que
o Sr. Simonet,
marceneiro de profissão
e espírita há muito
tempo, vendo que muitos
operários, seus colegas
de trabalho, se feriam
ou adoeciam nos serviços
de construção de um
grande estabelecimento
localizado em Cauderon,
subúrbio de Bordeaux,
foi instintivamente
levado a deles cuidar
por meio do magnetismo.
Como ele conseguira
curar a muitos, a
notícia das curas logo
se espalhou e foi assim
que uma multidão de
doentes começou a buscar
ali atendimento. Como os
enfermos se
acotovelassem à porta,
os empreiteiros do
estabelecimento tiveram
a infeliz ideia de
cobrar dez cêntimos por
pessoa, valor que depois
subiu para vinte
cêntimos, o que, dada a
afluência, produzia uma
soma bem elevada, de que
o médium nada usufruía,
tanto que no julgamento
apenas os proprietários
do negócio foram
condenados. (Págs.
237 e 238.)
123. Simonet curava
realmente? Kardec diz
que sim, apoiado no
testemunho de pessoas
dignas de fé que lhe
relataram numerosos
casos de cura
perfeitamente
autênticos. Além disso,
Simonet era um homem
suave, simples, modesto.
Benevolente com os
doentes, a todos
encorajava por boas
palavras e tinha igual
solicitude tanto pelos
miseráveis quanto pelos
mais ricos. (Pág.
238.)
124. Um médico – Dr.
Claudius –, que em vida
fora materialista,
transmitiu na Sociedade
Espírita de Paris por
intermédio do Sr. Morin,
posto em estado
sonambúlico, as
informações que adiante
resumimos: I – A dúvida
ainda constituía o seu
tormento; a incerteza de
sua situação o
mergulhara numa terrível
perplexidade, e aí
estava a sua punição. II
– Encontrara antigos
amigos que morreram
antes, e não entendia
como isso era possível.
III – Via, mas via
demasiado tarde, todo o
mal que fizera, e
entendia então que,
reparando-o pouco a
pouco, talvez um dia
fosse digno de ver e
fazer o bem. (Págs.
239 a 241.)
125. A
comunicação do Dr.
Claudius foi toda ela
entrecortada de
exclamações e
interrogações, o que
indica que ele não
compreendia bem o que
dizia e que o impacto da
realidade post-mortem é
maior ainda sobre os que
durante a encarnação
professam ideias
materialistas.
Comentando-a, lembra
Kardec que, como
sabemos, a inteligência
não basta para conduzir
as pessoas pelo caminho
da verdade. (Pág.
241.)
126. Num dos grupos
espíritas existentes em
Marselha, a sra. T...
recebeu
psicograficamente uma
comunicação de um
operário que dias antes
havia desencarnado no
desmoronamento de uma
ponte. O operário também
fora materialista na
Terra. Da mensagem
destacamos estas
informações: I – O
comunicante dizia estar
em trevas, mas havia
conseguido seguir um
raio luminoso de um
Espírito (pelo menos é o
que lhe disseram, embora
ele não acreditasse em
Espíritos). II – Nada do
que via ele compreendia.
III – Via-se duplo: um
corpo mutilado jazia a
seu lado, mas ele se
sentia vivo. IV – Via os
parentes desolados e os
companheiros de
infortúnio, que também
tinham dificuldades para
ver as coisas. (Pág.
242.)
127. Em seguida à
comunicação, o guia da
médium explicou que o
infeliz irmão fora
conduzido até ali para
ser ajudado. A tarefa
não seria muito difícil,
porque o essencial para
compreendê-la o Espírito
tinha: a bondade do
coração. Era
indispensável, porém,
que o grupo espírita se
fortalecesse,
sustentando-se seus
componentes uns aos
outros, porque, para bem
combater os obstáculos
exteriores, é preciso,
antes de tudo, ter
vencido a si mesmo.
“Deveis manter uma
disciplina severa para o
vosso coração”,
recomendou-lhe o amigo
espiritual. “A menor
infração deve ser
reprimida, sem buscar
atenuar a falta, senão
não sereis jamais
vencedores dos outros.”
(Pág. 243.)
128. Após reproduzir
notícia do Siècle
de 10 de julho, relativa
à instalação em Metz do
Círculo Messino da Liga
do Ensino, Kardec diz
sentir-se feliz com a
concretização das ideias
de Jean Macé, a quem ele
criticara não o projeto
em si, mas somente o
modo de execução. Em
Metz, logo que
empossada, a comissão
diretora decidiu começar
o trabalho pela fundação
de uma biblioteca
popular. (Págs. 243 e
244.)
129. Na seção de
variedades, a Revue
destaca dois fatos:
I – A visita feita ao
Hospital de Caridade
pela Dra. Walker, uma
médica americana,
doutora em cirurgia, que
se tornou célebre
durante a Guerra da
Secessão. Recebida com
muita simpatia e
respeito, a presença da
Dra. Walker no Hospital
de Caridade consagrava
um princípio novo que se
espalhava por todo o
mundo: a igualdade da
mulher perante a
Ciência. II – O encontro
em Paris do sultão
Hairoulah-Effendi com o
Monsenhor Chigi, Núncio
Apostólico, e o
Arcebispo de Paris.
Comentando o fato,
Kardec diz que os ódios
religiosos eram
anomalias naquele século
e que uma das
consequências do
progresso moral será
certamente um dia a
unificação das crenças,
o que se dará quando os
diferentes cultos
reconhecerem que existe
um só Deus e que é
absurdo e indigno dele
lançar-se anátemas
porque os homens não o
adoram da mesma maneira.
(Págs. 244 e 245.)
130. A
Revue transcreve
do Journal de
Bruxelles um caso
inusitado e
interessante,
relacionado com um
operário de nome Jean
Ryzak, que, levado à
presença do burgomestre,
confessou ter cometido,
doze anos antes, um
crime torpe. Ele matara
um de seus amigos para
ficar com seu soldo.
Cometido o crime, o
remorso começou a
fazer-se sentir; mais
tarde, o espectro de sua
vítima passou a
persegui-lo noite e dia.
Tais foram as razões da
surpreendente confissão.
(Págs. 245 e 246.)
131. Em 10 de maio de
1867, na Sociedade
Espírita de Paris, duas
comunicações trataram do
caso, transmitindo os
ensinamentos que se
seguem: I – Cada ser tem
a liberdade do bem e do
mal, a que chamamos de
livre-arbítrio. II – O
homem tem em si a
consciência que o
adverte quando faz ou
deixa de fazer qualquer
coisa. III – A
consciência produz dois
efeitos distintos: a
satisfação de haver
agido bem, a paz que
deixa o sentimento do
dever cumprido; e o
remorso que penetra e
tortura quando se
praticou uma ação
reprovada por Deus ou
pelos homens. IV – O
remorso é como uma
serpente de mil voltas,
que circula em redor do
coração e o devasta. V –
O mal carrega em si a
sua pena, pelo remorso
que deixa e pelos
reproches feitos só pela
presença das pessoas
contra quem se agiu mal.
(Págs. 246 a 248.)
132. Analisando o
assunto, Kardec observa:
“Se o remorso já é um
suplício na Terra, quão
maior não o será no
mundo dos Espíritos,
onde não é possível
subtrair-se à vista
daqueles a quem se
ofendeu”. “O remorso é
uma consequência do
desenvolvimento do senso
moral; não existe onde o
senso moral ainda se
acha em estado latente.
É por isto que os povos
selvagens e bárbaros
cometem sem remorso as
piores ações.” (Pág.
248.)
133. Comunicação
transmitida na Sociedade
de Paris por intermédio
do Sr. T..., em estado
de sonambulismo
espontâneo, analisou a
preocupação que os
progressos do
Espiritismo causavam aos
seus inimigos e os
diversos ardis que estes
haviam empregado e ainda
empregavam para deter
sua marcha. No final da
mensagem, o comunicante
pediu aos companheiros
que orassem pelos irmãos
transviados, a fim de
que aproveitassem os
curtos instantes de mora
que lhes eram
concedidos, antes que a
justiça de Deus os
alcançasse. (Págs.
249 a 252.)
134. Em nota aposta em
seguida à mensagem,
Kardec diz que o
sonambulismo espontâneo
não é senão uma forma de
mediunidade vidente,
cujo desenvolvimento
fora anunciado tempos
atrás. Segundo o
Codificador, é nos
momentos de crise geral
ou de perseguição que as
pessoas dotadas dessa
faculdade se tornam mais
numerosas do que nos
tempos normais. A visão
a distância e
independente dos órgãos
é explicada pelo
Espiritismo pelas
propriedades da alma e
por sua capacidade de
expansão e
desprendimento. (Pág.
253.)
(Continua no próximo
número.)