ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil)
|
Socialismo e Espiritismo
Léon Denis
(Parte
5)
Continuamos a apresentar o
estudo do clássico
Socialismo e Espiritismo,
de Léon Denis, com base
na tradução
de
Wallace Leal V.
Rodrigues, publicada
pela Casa Editora O
Clarim.
Questões preliminares
A. A existência na Terra
pode ser estéril para
algumas pessoas? |
Sim. Assim como diz o
adágio oriental: “Somos
o que pensamos”, quem
fala e age segundo um
pensamento puro, a
felicidade o segue como
uma sombra. Os
ocidentais não sabem,
porém, administrar o
jogo de suas faculdades
e esta é a razão por que
a existência é muitas
vezes tão estéril para
muitos. Tais Espíritos
vieram à Terra para se
engrandecerem
intelectual e moralmente
e daqui saem, em muitas
ocasiões, como chegaram.
(Socialismo e
Espiritismo, pág. 73.)
B. A crítica de Léon
Denis ao estatismo
peculiar às nações
socialistas revelou-se
correta?
A história mostrou que
sim. O encampamento de
todas as coisas pelo
Estado paralisa os
esforços laboriosos,
extingue a livre
concorrência e o
espírito de emulação. O
estatismo enfraquece o
poder das nações, sua
livre expansão e sua
afirmação diante do
mundo. O Estado nas mãos
de um partido e de uma
classe que se apoia na
força, como vimos
acontecer na Rússia e na
Hungria, leva aos piores
excessos, destrói a obra
dos séculos e conduz o
país à ruína, à
regressão, à barbárie.
(Obra citada, pp. 86 e
87.)
C. Pode-se dizer que os
ideais comunistas são
prematuros e
inaplicáveis na
sociedade atual?
Sim, esse é o pensamento
expresso por Léon Denis
nesta obra. Um regime
social em que todos
trabalham para cada um e
cada um por todos, com o
devotamento absoluto de
todos a uma causa comum,
exige qualidades morais
e o sentimento de
altruísmo que não
existem senão em
condições excepcionais
em nosso mundo egoísta e
atrasado. As
instituições não são
realmente vivas e
fecundas senão quando os
homens, por uma vida
interior verdadeira,
sabem animá-la. Um
comunismo sem ideal
elevado não pode ser
construído sobre uma
areia perpetuamente
movediça.
(Obra citada, pp. 87 e
88.)
Texto para leitura
48. Todas as vantagens
materiais, os maiores
salários não são
suficientes para
preservar o homem do
desencorajamento, do
desespero nas horas
dolorosas, quando, por
exemplo, tem de descer à
tumba o caixão mortuário
daqueles que lhe foram
queridos, ou quando se
sente atingido em seus
sentimentos íntimos, em
seus afetos mais
profundos. Não há
doutrina que possa nos
trazer tanta consolação
e reconforto quanto o
novo espiritualismo, que
nos demonstra que tudo
sobrevive para evoluir e
que as almas que nos
antecederam no Além
guardam-nos os tesouros
de sua ternura, nos
protegem, nos assistem
em circunstâncias
difíceis, e que nós as
encontraremos um dia
para percorrermos juntos
novas etapas
ascensionais. (Págs.
72 e 73)
49. O trabalho manual é,
para a maioria dos
operários, puramente
maquinal e deixa toda a
liberdade ao pensamento.
Se este fosse
regularizado,
disciplinado, orientado
para um fim elevado,
poderia tornar-se um
meio poderoso de
aperfeiçoamento para o
indivíduo e, por
reflexo, sobre todo o
meio ambiente, enquanto
que o pensamento flutua
quase sempre sobre
assuntos pueris e vãos,
perdendo assim todo o
seu poder educativo e
social. Assim como o
adágio da sabedoria
oriental: “Somos o que
pensamos”, quem fala e
age segundo um
pensamento puro, a
felicidade o segue como
uma sombra. Os
ocidentais não sabem,
porém, administrar o
jogo de suas faculdades
e esta é a razão por que
a existência é muitas
vezes tão estéril para
muitos. Vieram à Terra
para se engrandecerem
intelectual e moralmente
e daqui saem, em muitas
ocasiões, como chegaram.
(Pág. 73)
50. A lei que estipulou
a jornada de 8 horas
oferece ao operário mais
lazeres para o trabalho
intelectual e a cultura
do Eu. Que ele saiba
tirar partido disso,
ciente de que nossas
responsabilidades se
medem pela extensão de
nossa liberdade e de
nossos meios de ação. E
isto se aplica aos
homens de todas as
classes e condições
sociais. Toda a
destinação do ser, as
condições de sua vida
futura, sua situação no
Além, tudo é regido por
uma lei imanente que
traz em si mesma a
sanção. O homem por meio
de seus atos faz nele,
em sua alma, a luz ou a
treva. (Págs. 74 e
75)
51. Em todos os tempos,
em todos os meios, a
questão social foi
objeto de preocupações
de pensadores, filósofos
e políticos, e deu
nascimento a uma
multidão de teorias e
sistemas. Os socialistas
dividem-se atualmente em
escolas diversas. Os
alemães, em número
importante, prendem-se
às teorias de Karl Marx,
que se inspiram no
materialismo brutal,
preconizam as lutas de
classes, e sua conclusão
desemboca em uma
ditadura do
proletariado, isto é, no
bolchevismo. Ora,
sabemos o que esse
regime proporcionou à
Rússia. (N.R.: Léon
Denis fez estas
observações em 1924, ano
em que faleceu Lenin. O
stalinismo não se havia,
portanto, iniciado. O
que se viu depois, até a
extinção da União
Soviética, sete décadas
mais tarde, mostra-nos
quanto Denis estava
certo em suas análises.)
(Págs. 77 e 78)
52. Os socialistas
franceses adotaram de
preferência as doutrinas
de Fourier e Proudhon e
seu objetivo comum era a
supressão do salariado
em proveito de um novo
regime de propriedade
coletiva, com a
socialização dos meios
de produção e de troca.
(N.R.: O Socialismo
de Fourier tem um
caráter utópico. Fourier
se opunha à revolução
violenta. Proudhon foi
um dos precursores do
anarquismo contemporâneo
e adversário da luta de
classes, da revolução
proletária e da ditadura
do proletariado.)
Desde o começo, no
entanto, surgiram entre
eles divergências de
opinião e contradições
inúmeras. Falta-lhes um
ideal superior que
pudesse religar todos os
esforços, coisa que o
materialismo em voga não
é capaz de inspirar.
Pelo contrário, os
apetites se fazem à luz
e o Socialismo muitas
vezes serve de trampolim
a ambiciosos destituídos
de brio que o utilizam
para chegar a seus
objetivos políticos.
(Págs. 78 e 79)
53. Estamos, pois, em
presença de duas grandes
correntes opostas: uma
germânica e russa, outra
ocidental. A primeira,
como vimos, inspira-se
num dogmatismo estreito
e brutal, formado de
teorias preconcebidas,
sem relação com as
necessidades sociais, e
que conduz à dominação
exclusiva de uma classe,
aos terrorismos e ao
nivelamento. A corrente
ocidental, francesa e
inglesa, é organizadora,
construtora, e se
estende por todos os
seus meios:
sindicalismo,
cooperativismo,
participação,
mutualidade, seguro
social, de modo a
proporcionar aos
operários de todas as
ordens uma parte
crescente nos benefícios
da produção e no regime
da propriedade. Seu erro
é acreditar que se pode
atingir o resultado
somente através de
medidas políticas e
econômicas. Esquece-se
de que é preciso, acima
de tudo, uma fé ardente,
um ideal elevado capaz
de fecundar todos os
esforços, tanto quanto o
espírito de devotamento
e de sacrifício que
permite nascer o
sentimento de altruísmo
que é o cimento
indispensável a toda
edificação social.
(Págs. 79 a 84)
54. O conhecimento mais
extenso da vida
universal e da
solidariedade que nos
religa a todos os seres
mostrará aos socialistas
que é preciso elevar-se
acima dos interesses de
casta e de classe para
se realizar qualquer
obra mais durável ou de
maior vulto. (Pág.
84)
55. É da tradição da
raça anglo-saxônica
cultivar a livre
iniciativa individual e
desenvolver as forças e
a vontade de cada um. Os
socialistas franceses,
ao contrário, esperam
quase tudo do Estado.
Que teoria responde
melhor à grande lei da
evolução? Obviamente, a
primeira porque, além de
assegurar a riqueza e a
prosperidade das nações,
é também conforme ao
princípio universal que
conclama todos os seres
para o melhor, para o
bem, fazendo que cresça
sem cessar o “haver”
pessoal e coletivo.
(Págs. 85 e 86)
56. O encampamento de
todas as coisas pelo
Estado paralisa os
esforços laboriosos,
extingue a livre
concorrência e o
espírito de emulação. A
nacionalização das Minas
e das Estradas de Ferro
traduz-se quase sempre
por um déficit e pela
elevação das tarifas,
aumentando ainda mais as
dificuldades da vida
pública. Na realidade, o
estatismo enfraquece o
poder das nações, sua
livre expansão e sua
afirmação diante do
mundo. O Estado nas mãos
de um partido e de uma
classe que se apoia na
força, como vimos
acontecer na Rússia e na
Hungria, leva aos piores
excessos, destrói a obra
dos séculos e conduz o
país à ruína, à
regressão, à barbárie.
(N.R.: A crítica à
estatização e ao modelo
implantado na Rússia é
hoje, menos de oito
décadas depois, uma
verdade que ninguém
discute, porque tudo o
que Léon Denis disse se
confirmou. Os países que
seguiram o mesmo modelo
foram simplesmente
destruídos e estão tendo
de recomeçar, sendo
incontestável que as
coisas boas que eles
criaram poderiam ter
sido realizadas sem os
crimes, a violência e as
barbaridades que
infelizmente ocorreram.)
(Págs. 86 e 87)
57. Longe de nós,
adverte Denis, de
criticar os comunistas
de convicção sincera que
desejariam estabelecer
na Terra o regime social
que reina,
provavelmente, nos
mundos superiores, onde
todos trabalham para
cada um e cada um por
todos, no espírito de
devotamento absoluto a
uma causa comum. Esse
regime exige, no
entanto, qualidades
morais e sentimento de
altruísmo que não existe
senão em condições
excepcionais em nosso
mundo egoísta e
atrasado. É fácil
demonstrar que as
aspirações generosas do
comunismo são ainda
prematuras e
inaplicáveis na
sociedade atual. Seria
preciso séculos de
cultura moral e de
educação popular para
levar o espírito humano
ao estado de perfeição
necessário a uma tal
ordem de coisas. Eis por
que a posse individual
dos frutos do trabalho
permanecerá sendo por
muito tempo o
estimulante
indispensável, o meio de
emulação que assegura
pôr em ação o equilíbrio
das forças sociais.
(Pág. 87)
58. No momento, o
comunismo não é
realizável senão no seio
de grupos restritos,
cuidadosamente
recrutados, nos quais
todos os membros sejam
animados por uma fé
intensa e espírito de
sacrifício. Não se
poderia sonhar com
estender-se a sua
aplicação a nações
inteiras, a milhões de
homens de caracteres e
temperamentos tão
diferentes. E não será
através do crime e pelo
sangue que se poderá
fundar um regime de
fraternidade,
solidariedade e amor. As
instituições não são
realmente vivas e
fecundas senão quando os
homens, por uma vida
interior verdadeira,
sabem animá-la. Um
comunismo sem ideal
elevado não poderia ser
construído sobre uma
areia perpetuamente
movediça. (N.R.:
Allan Kardec exprimiu
ideias semelhantes, como
podemos ver em Viagem
Espírita em 1862,
págs. 81 a 84.)
(Págs. 87 e 88)
(Continua no próximo
número.)