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Clássicos do Espiritismo
Ano 4 - N° 188 - 12 de Dezembro de 2010
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 


Socialismo e Espiritismo

Léon Denis

(Parte 5)

Continuamos a apresentar o estudo do clássico Socialismo e Espiritismo, de Léon Denis, com base na tradução de Wallace Leal V. Rodrigues, publicada pela Casa Editora O Clarim.

Questões preliminares

A. A existência na Terra pode ser estéril para algumas pessoas?

Sim. Assim como diz o adágio oriental: “Somos o que pensamos”, quem fala e age segundo um pensamento puro, a felicidade o segue como uma sombra. Os ocidentais não sabem, porém, administrar o jogo de suas faculdades e esta é a razão por que a existência é muitas vezes tão estéril para muitos. Tais Espíritos vieram à Terra para se engrandecerem intelectual e moralmente e daqui saem, em muitas ocasiões, como chegaram. (Socialismo e Espiritismo, pág. 73.)

B. A crítica de Léon Denis ao estatismo peculiar às nações socialistas revelou-se correta?

A história mostrou que sim. O encampamento de todas as coisas pelo Estado paralisa os esforços laboriosos, extingue a livre concorrência e o espírito de emulação. O estatismo enfraquece o poder das nações, sua livre expansão e sua afirmação diante do mundo. O Estado nas mãos de um partido e de uma classe que se apoia na força, como vimos acontecer na Rússia e na Hungria, leva aos piores excessos, destrói a obra dos séculos e conduz o país à ruína, à regressão, à barbárie. (Obra citada, pp. 86 e 87.)

C. Pode-se dizer que os ideais comunistas são prematuros e inaplicáveis na sociedade atual?

Sim, esse é o pensamento expresso por Léon Denis nesta obra. Um regime social em que todos trabalham para cada um e cada um por todos, com o devotamento absoluto de todos a uma causa comum, exige qualidades morais e o sentimento de altruísmo que não existem senão em condições excepcionais em nosso mundo egoísta e atrasado. As instituições não são realmente vivas e fecundas senão quando os homens, por uma vida interior verdadeira, sabem animá-la. Um comunismo sem ideal elevado não pode ser construído sobre uma areia perpetuamente movediça. (Obra citada, pp. 87 e 88.)

Texto para leitura  

48. Todas as vantagens materiais, os maiores salários não são suficientes para preservar o homem do desencorajamento, do desespero nas horas dolorosas, quando, por exemplo, tem de descer à tumba o caixão mortuário daqueles que lhe foram queridos, ou quando se sente atingido em seus sentimentos íntimos, em seus afetos mais profundos. Não há doutrina que possa nos trazer tanta consolação e reconforto quanto o novo espiritualismo, que nos demonstra que tudo sobrevive para evoluir e que as almas que nos antecederam no Além guardam-nos os tesouros de sua ternura, nos protegem, nos assistem em circunstâncias difíceis, e que nós as encontraremos um dia para percorrermos juntos novas etapas ascensionais. (Págs. 72 e 73) 

49. O trabalho manual é, para a maioria dos operários, puramente maquinal e deixa toda a liberdade ao pensamento. Se este fosse regularizado, disciplinado, orientado para um fim elevado, poderia tornar-se um meio poderoso de aperfeiçoamento para o indivíduo e, por reflexo, sobre todo o meio ambiente, enquanto que o pensamento flutua quase sempre sobre assuntos pueris e vãos, perdendo assim todo o seu poder educativo e social. Assim como o adágio da sabedoria oriental: “Somos o que pensamos”, quem fala e age segundo um pensamento puro, a felicidade o segue como uma sombra. Os ocidentais não sabem, porém, administrar o jogo de suas faculdades e esta é a razão por que a existência é muitas vezes tão estéril para muitos. Vieram à Terra para se engrandecerem intelectual e moralmente e daqui saem, em muitas ocasiões, como chegaram. (Pág. 73) 

50. A lei que estipulou a jornada de 8 horas oferece ao operário mais lazeres para o trabalho intelectual e a cultura do Eu. Que ele saiba tirar partido disso, ciente de que nossas responsabilidades se medem pela extensão de nossa liberdade e de nossos meios de ação. E isto se aplica aos homens de todas as classes e condições sociais. Toda a destinação do ser, as condições de sua vida futura, sua situação no Além, tudo é regido por uma lei imanente que traz em si mesma a sanção. O homem por meio de seus atos faz nele, em sua alma, a luz ou a treva. (Págs. 74 e 75) 

51. Em todos os tempos, em todos os meios, a questão social foi objeto de preocupações de pensadores, filósofos e políticos, e deu nascimento a uma multidão de teorias e sistemas. Os socialistas dividem-se atualmente em escolas diversas. Os alemães, em número importante, prendem-se às teorias de Karl Marx, que se inspiram no materialismo brutal, preconizam as lutas de classes, e sua conclusão desemboca em uma ditadura do proletariado, isto é, no bolchevismo. Ora, sabemos o que esse regime proporcionou à Rússia. (N.R.: Léon Denis fez estas observações em 1924, ano em que faleceu Lenin. O stalinismo não se havia, portanto, iniciado. O que se viu depois, até a extinção da União Soviética, sete décadas mais tarde, mostra-nos quanto Denis estava certo em suas análises.) (Págs. 77 e 78) 

52. Os socialistas franceses adotaram de preferência as doutrinas de Fourier e Proudhon e seu objetivo comum era a supressão do salariado em proveito de um novo regime de propriedade coletiva, com a socialização dos meios de produção e de troca. (N.R.: O Socialismo de Fourier tem um caráter utópico. Fourier se opunha à revolução violenta. Proudhon foi um dos precursores do anarquismo contemporâneo e adversário da luta de classes, da revolução proletária e da ditadura do proletariado.) Desde o começo, no entanto, surgiram entre eles divergências de opinião e contradições inúmeras. Falta-lhes um ideal superior que pudesse religar todos os esforços, coisa que o materialismo em voga não é capaz de inspirar. Pelo contrário, os apetites se fazem à luz e o Socialismo muitas vezes serve de trampolim a ambiciosos destituídos de brio que o utilizam para chegar a seus objetivos políticos. (Págs. 78 e 79) 

53. Estamos, pois, em presença de duas grandes correntes opostas: uma germânica e russa, outra ocidental. A primeira, como vimos, inspira-se num dogmatismo estreito e brutal, formado de teorias preconcebidas, sem relação com as necessidades sociais, e que conduz à dominação exclusiva de uma classe, aos terrorismos e ao nivelamento. A corrente ocidental, francesa e inglesa, é organizadora, construtora, e se estende por todos os seus meios: sindicalismo, cooperativismo, participação, mutualidade, seguro social, de modo a proporcionar aos operários de todas as ordens uma parte crescente nos benefícios da produção e no regime da propriedade. Seu erro é acreditar que se pode atingir o resultado somente através de medidas políticas e econômicas. Esquece-se de que é preciso, acima de tudo, uma fé ardente, um ideal elevado capaz de fecundar todos os esforços, tanto quanto o espírito de devotamento e de sacrifício que permite nascer o sentimento de altruísmo que é o cimento indispensável a toda edificação social. (Págs. 79 a 84) 

54. O conhecimento mais extenso da vida universal e da solidariedade que nos religa a todos os seres mostrará aos socialistas que é preciso elevar-se acima dos interesses de casta e de classe para se realizar qualquer obra mais durável ou de maior vulto. (Pág. 84) 

55. É da tradição da raça anglo-saxônica cultivar a livre iniciativa individual e desenvolver as forças e a vontade de cada um. Os socialistas franceses, ao contrário, esperam quase tudo do Estado. Que teoria responde melhor à grande lei da evolução? Obviamente, a primeira porque, além de assegurar a riqueza e a prosperidade das nações, é também conforme ao princípio universal que conclama todos os seres para o melhor, para o bem, fazendo que cresça sem cessar o “haver” pessoal e coletivo. (Págs. 85 e 86) 

56. O encampamento de todas as coisas pelo Estado paralisa os esforços laboriosos, extingue a livre concorrência e o espírito de emulação. A nacionalização das Minas e das Estradas de Ferro traduz-se quase sempre por um déficit e pela elevação das tarifas, aumentando ainda mais as dificuldades da vida pública. Na realidade, o estatismo enfraquece o poder das nações, sua livre expansão e sua afirmação diante do mundo. O Estado nas mãos de um partido e de uma classe que se apoia na força, como vimos acontecer na Rússia e na Hungria, leva aos piores excessos, destrói a obra dos séculos e conduz o país à ruína, à regressão, à barbárie. (N.R.: A crítica à estatização e ao modelo implantado na Rússia é hoje, menos de oito décadas depois, uma verdade que ninguém discute, porque tudo o que Léon Denis disse se confirmou. Os países que seguiram o mesmo modelo foram simplesmente destruídos e estão tendo de recomeçar, sendo incontestável que as coisas boas que eles criaram poderiam ter sido realizadas sem os crimes, a violência e as barbaridades que infelizmente ocorreram.) (Págs. 86 e 87) 

57. Longe de nós, adverte Denis, de criticar os comunistas de convicção sincera que desejariam estabelecer na Terra o regime social que reina, provavelmente, nos mundos superiores, onde todos trabalham para cada um e cada um por todos, no espírito de devotamento absoluto a uma causa comum. Esse regime exige, no entanto, qualidades morais e sentimento de altruísmo que não existe senão em condições excepcionais em nosso mundo egoísta e atrasado. É fácil demonstrar que as aspirações generosas do comunismo são ainda prematuras e inaplicáveis na sociedade atual. Seria preciso séculos de cultura moral e de educação popular para levar o espírito humano ao estado de perfeição necessário a uma tal ordem de coisas. Eis por que a posse individual dos frutos do trabalho permanecerá sendo por muito tempo o estimulante indispensável, o meio de emulação que assegura pôr em ação o equilíbrio das forças sociais. (Pág. 87)

58. No momento, o comunismo não é realizável senão no seio de grupos restritos, cuidadosamente recrutados, nos quais todos os membros sejam animados por uma fé intensa e espírito de sacrifício. Não se poderia sonhar com estender-se a sua aplicação a nações inteiras, a milhões de homens de caracteres e temperamentos tão diferentes. E não será através do crime e pelo sangue que se poderá fundar um regime de fraternidade, solidariedade e amor. As instituições não são realmente vivas e fecundas senão quando os homens, por uma vida interior verdadeira, sabem animá-la. Um comunismo sem ideal elevado não poderia ser construído sobre uma areia perpetuamente movediça. (N.R.: Allan Kardec exprimiu ideias semelhantes, como podemos ver em Viagem Espírita em 1862, págs. 81 a 84.) (Págs. 87 e 88)  (Continua no próximo número.)

 



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita