Um leitor da revista apresenta-nos um
interessante questionamento
a propósito da mediunidade
de inspiração.
Considerando-se ele próprio
um médium inspirado, sua
dificuldade é, segundo diz,
separar o que seria anímico,
algo dele mesmo, do que lhe
advém das entidades
desencarnadas. Há condições
de fazer com nitidez essa
distinção?
Kardec trata do tema –
médiuns intuitivos e médiuns
inspirados - nos itens 180 e
182 d´O Livro dos
Médiuns. De forma
resumida, eis o que escreveu
o Codificador do
Espiritismo:
1. O papel do médium
mecânico é o de uma máquina;
o médium intuitivo age como
o faria um intérprete. Este,
de fato, para transmitir o
pensamento, precisa
compreendê-lo, apropriar-se
dele, de certo modo, para
traduzi-lo fielmente e, no
entanto, esse pensamento não
é seu, apenas lhe atravessa
o cérebro. Esse é,
precisamente, o papel do
médium intuitivo.
2. Se o fato ocorre dessa
maneira, dir-se-á, nada
prova seja um Espírito
estranho quem escreve e não
o próprio médium.
Efetivamente, a distinção é
às vezes difícil de
fazer-se, mas pode acontecer
que isso pouca importância
apresente. É possível
reconhecer-se o pensamento
sugerido, por não ser
preconcebido, porque nasce à
medida que a escrita vai
sendo traçada e por ser,
amiúde, contrário à
ideia que antecipadamente se
formara, podendo mesmo estar
fora dos limites dos
conhecimentos e capacidades
do médium.
3. Todo aquele que tanto no
estado normal, como no de
êxtase, recebe, pelo
pensamento, comunicações
estranhas às suas ideias
preconcebidas, pode ser
incluído na categoria dos
médiuns inspirados. Estes
formam, pois, uma variedade
da mediunidade intuitiva,
com a diferença de que a
intervenção de uma força
oculta é aí muito menos
sensível, uma vez que, ao
inspirado, ainda é mais
difícil distinguir o
pensamento próprio do que
lhe é sugerido.
4. A espontaneidade é,
contudo, o que caracteriza o
pensamento deste último
gênero. A inspiração nos vem
dos Espíritos que nos
influenciam para o bem, ou
para o mal, mas procede,
principalmente, dos que
querem o nosso bem e cujos
conselhos amiúde cometemos o
erro de não seguir.
5. A prova de que a ideia
que sobrevém é estranha à
pessoa do médium está em
que, se tal ideia lhe
existia na mente, essa
pessoa seria senhora de, a
qualquer momento, utilizá-la
e não haveria razão para que
ela não se manifestasse à
vontade. Aquele que
possui ideias próprias
tem-nas sempre à disposição.
Se elas não lhes vêm quando
quer, é que está obrigado a
buscá-las algures, e não no
seu intimo.
6. Podem também ser
incluídas nesta categoria de
médiuns as pessoas que, sem
serem dotadas de
inteligência fora do comum e
sem saírem do estado normal,
têm relâmpagos de uma
lucidez intelectual que lhes
dá momentaneamente uma
inabitual facilidade de
concepção e de elocução e,
em certos casos, o
pressentimento de coisas
futuras.
Considerando que a principal questão levantada pelo leitor
diz respeito à distinção
entre o que nos vem pela
inspiração e nossas próprias
ideias, acrescentamos aos
ensinamentos acima a
resposta que um conhecido
médium deu a essa mesma
pergunta:
“De que dispõe o médium
psicofônico consciente para
distinguir seu pensamento do
pensamento da entidade
comunicante?
Divaldo Franco – O
médium consciente dispõe do
bom senso. Eis por que,
antes de exercitar a
mediunidade deve estudá-la;
antes de entregar-se ao
ministério da vivência
mediúnica é-lhe lícito
entender o próprio mecanismo
do fenômeno mediúnico. Allan
Kardec, aliás, sábio por
excelência, teve a
inspiração ditosa de
primeiro oferecer à
Humanidade O Livro dos
Espíritos, que é um
tratado de filosofia moral.
Logo depois, O Livro dos
Médiuns, que é um
compêndio de metodologia do
exercício da faculdade
mediúnica. Há de ver-se, no
capítulo 3º, que é dedicado
ao método, sobre a
necessidade de o indivíduo
conhecer a função que vai
disciplinar. Então o médium
tem conhecimento de suas
próprias aptidões e de sua
capacidade de exercitá-las.
Na mediunidade consciente ou lúcida o fenômeno é, a
princípio, 'inspirativo'.
Naturalmente os Espíritos se
utilizam do nível cultural
do médium, o mesmo ocorrendo
nas demais expressões
mediúnicas: na
semiconsciente e na
inconsciente ou sonambúlica.
O médium, no começo, terá
que vencer o constrangimento
da dúvida, em cujo período
ele não tem maior certeza se
a ocorrência parte do seu
inconsciente, dos arquivos
da memória anterior, ou se
provém da indução de
natureza extrínseca. Através
do exercício, ele adquirirá
um conhecimento de tal
maneira equilibrado que
poderá identificar quando se
trata de si próprio –
animismo ou de
interferência espiritual –
mediunismo. Através
da lei dos fluidos, pelas
sensações que o médium
registra, durante a
influência que o envolve,
passa a identificar qual a
entidade que dele se acerca.
A partir daí, se oferece
numa entrega tranquila, e o
Espírito que o conduz
inspira-o além da sua
própria capacidade dando
leveza às suas ideias
habituais, oferecendo-lhe a
possibilidade de síntese que
não lhe é comum, canalizando
ideias às quais não está
acostumado e que ocorrem
somente naquele instante da
concentração mediúnica. Só o
tempo, porém, pelo exercício
continuado, oferecerá a
lucidez, a segurança para
discernir quando se trata de
informação dos seus próprios
arquivos ou da interferência
dos bons Espíritos.”
(Diretrizes de Segurança,
questão n. 5.)
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