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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 188 - 12 de Dezembro de 2010

VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, São Paulo (Brasil)
 

Enfim, o Limbo acabou


Este e outros conceitos ainda arraigados na crença popular, aos poucos vão sendo reconhecidos como fábulas, de caráter puramente alegórico, dispensáveis e inócuas.

Tanto essa afirmativa é verdadeira que depois de mais de dez séculos a chamada Santa Sé chegou à conclusão lúcida e racional sobre essa fera indomável e temida que destroçou milhares e milhares de corações de mães e familiares, e conhecida, pelos séculos afora, como Limbo. Infeliz o que perdia o filho sem que fosse batizado.

Mas o que vem a ser, de fato, o Limbo?

Considerando que a criação desse mecanismo de penalidade é devida unicamente ao campo eclesiástico, ou seja, nunca pertenceu ao campo teológico, uma vez que sempre esteve restrito ao âmbito exclusivo da igreja católica, também por ela foi desclassificado da categoria que até então ocupava.

O Limbo, considerado um espaço circunscrito fora das cercanias do Céu, foi, por assim dizer, idealizado pelos visionários religiosos da época, com a finalidade de abrigar não só crianças que não haviam sido batizadas, mas também aqueles que “haviam morrido” antes do advento da chegada do Cristo. Foi incorporado aos ensinamentos católicos no século 13, como sendo um lugar sem sofrimento, já que as crianças nada fizeram para merecer o castigo, mas que também não seria um paraíso, uma vez que não estariam em comunhão com Deus. Isso porque, a partir da presença de Jesus na Terra, outra conotação foi dada pelos dirigentes da Igreja em relação àqueles que encontravam a morte sem que tivessem recebido o batismo, um dos sete sacramentos adotados pelo Cristianismo primitivo e considerado como artigo de fé, assim proclamado em 1439, em plena vigência da “Santa Inquisição”.

João Batista, que chegou à vida terrena pouco antes de Jesus, pregava no deserto da Judeia e proclamava o batismo de arrependimento, o fazendo com as águas do rio Jordão.

Acontece, porém, que a Igreja Cristã, pelo ano de 313, foi elevada à condição de religião oficial do Império Romano, cujo decreto foi assinado pelo Imperador Constantino. A partir daí e durante séculos a fio, a religião predominante foi gradativamente se desnaturando e ajustando-se de acordo com os interesses convenientes, uma vez que interferia em todos os atos da vida social e política, chegando mesmo a influenciar ou decidir seriamente em reinados e outras modalidades de governos, por um século.

Com isso, vemos que a presença desse organismo viciado exerceu, com grande e danoso poder de imposição, seus dogmas a todos nós, que certamente já estivemos, um dia, sob o jugo poderoso da estrutura religiosa que se autodenomina “A única religião deixada por Jesus”.

Como diz claramente o texto evangélico, não há nada que não venha à luz, pois nada permanece obscuro por todo tempo.

E assim foi com o Limbo, que deixou de ser o vilão da esperança de vida eterna com Deus.

No final do ano de 2005, veio a público dúvida sobre a existência do Limbo, através da Comissão Internacional de Teologia da Santa Sé, composta por 29 membros. Com essa posição, o Vaticano entendeu que há embasamento teológico e litúrgico para a esperança de que crianças não batizadas sejam salvas.

Diz o texto noticiado pela grande imprensa[1]: “A conclusão a que chegou a comissão, um corpo consultivo da Congregação para a Doutrina da Fé, é a de que o mais provável é que o limbo não exista”. Aliás, essa deve ser entendida com uma sábia posição tomada.

Em tempo aproximado de dois anos após essa reunião, o próprio Papa Bento XVI ratificou a conclusão a que chegou essa Comissão, entendendo que “... é justamente a de que, muito provavelmente, a criança morta entes do batizado será salva – vai para o paraíso. A justificativa, segundo o site “Catholic News Service”, é que a exclusão de bebês inocentes do paraíso não parece refletir o amor especial de Cristo pelos pequeninos”.         

Quem estiver presente nos tempos futuros terá oportunidade de constatar muitos outros lampejos de lucidez e coragem para ler, ouvir e ver, publicamente, alto e em bom som, o que essas autoridades terão que dizer em termos de revisão de conceitos, reconhecendo que estavam equivocadas em outros tempos.

Como sempre, a lei dos homens terá que se adequar de conformidade com as conveniências e interesses.


 

[1]  Jornal Folha de S. Paulo de 21-4-2007.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita