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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 188 - 12 de Dezembro de 2010

WELLINGTON BALBO
wellington_balbo@hotmail.com
Bauru, São Paulo (Brasil)
 

Prêmio acumulado


Em razão do acúmulo do prêmio da Megasena as lotéricas estavam transbordando de gente. Todos ávidos pela sorte grande, afinal R$ 80 milhões é dinheiro para garantir a tranquilidade financeira de muitas gerações.

Minha filha que caminhava comigo pelas ruas da cidade, ao ver a fila quilométrica de pretendentes a milionário, questionou-me se eu também queria ser um sortudo.

Respondi a ela que em meu caso ganhar essa fortuna não seria sorte, mas sim um grande azar. Intrigada com a resposta, quis a garota saber o motivo.

Então, expliquei as minhas razões para não querer me apoderar da “bolada”. Disse que ainda não tenho consciência para lidar com a facilidade material e seria, indubitavelmente, colhido pelas tentações que o dinheiro proporciona. Despenharia no desfiladeiro dos vícios degradantes e seria desmoralizado por mim mesmo, pelas minhas próprias dificuldades. Não posso, portanto, me dar ao luxo de perseguir uma fortuna que em nada me ajudaria a superar minhas limitações.

Minha filha continuou sem entender, e eu, para sanar as dúvidas de seu coração adolescente, prossegui na digressão filosófica sobre as tentações da riqueza.

Contei-lhe que presenciei respeitáveis pais de família sendo seduzidos pelas artimanhas da moeda e, não raro, desviando-se do seu caminho. Lembrei-me de Mané Garrincha, o mago das pernas tortas que foi ludibriado pelas facilidades da vida embrenhando-se pelo caminho do álcool. No final da existência estava ele completamente dementado física e psiquicamente pelos exageros de todos os matizes.

Entretanto, não creia você, amigo leitor, que eu faço apologia à pobreza. Nada disso. O dinheiro abre muitas portas, sem dúvida. Devemos naturalmente buscar também o progresso material. Apenas relatei à garota que a prova da riqueza material não é esse mar de rosas que muitos pensam.

Aquele que se apodera de grande fortuna assume enorme responsabilidade perante a vida: a de contribuir para que a riqueza gere progresso e transforme destinos, erradicando a miséria e extirpando a ignorância.

Os bens da Terra são somente empréstimos de Deus para exercitarmos a inteligência, solidariedade, coibir a avareza e também os excessos de todos os graus.

Para o Além não levaremos ações, bens materiais ou qualquer soma em dinheiro. Tudo que acumulamos será repassado aos herdeiros em autêntica troca de mãos.

Em famílias deseducadas quanto aos objetivos da existência humana, essas fortunas costumam gerar dissensões. Causam infindáveis brigas aqui e no Além, gerando, inclusive, processos obsessivos entre os envolvidos na trama.

No livro Por um fio, o médico cancerologista Dráuzio Varela narra alguns dramas dos pacientes que estiveram sob sua tutela. O fator herança é em muitos casos um complicador por dois motivos:

1º O moribundo não quer deixar seus bens na Terra;

2º Os parentes não raro anseiam a morte do enfermo para desfrutar de suas economias.

Jesus afirmava: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus".

Naturalmente referia-se ao apego às coisas da matéria em detrimento aos valores do espírito. O apego às moedas é um tormento constante para a alma. Dia desses uma amiga confessou-me que não faz viagens para a Europa para não ter que pagar a passagem do marido. Jesus tinha razão: o indivíduo transita por dúvidas e dissabores, mas não abre mão de sua fortuna ou, pelo menos, parte dela. Até a diversão é deixada de lado para não gastar os tostões.

Pobre coitada! Priva-se de seus desejos porque não quer gastar com o companheiro de 20 anos. É uma escrava do dinheiro, sem dúvida.

Por essas e outras tentações é que prefiro, pelo menos atualmente, não me aventurar a fazer um joguinho. Vai que o azar está ao meu lado e eu me vejo na obrigação de administrar milhões sem a mínima condição de fazê-lo. 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita