A Revue Spirite
de 1868
Allan Kardec
(Parte
5)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1868. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Os médiuns videntes
podem à vontade ver os
desencarnados?
Não. Os médiuns
videntes, seja qual for
o processo, não veem à
vontade os Espíritos;
eles só veem o que os
Espíritos querem fazer
ver ou lhes permitem
ver.
(Revue Spirite de 1868,
pp. 165 e 166.)
B. Como definir os
fluidos espirituais?
Os fluidos espirituais
são a atmosfera dos
seres espirituais e o
elemento onde os
Espíritos colhem os
materiais com que
operam. São eles o
veículo do pensamento e
os Espíritos agem sobre
eles, não os manipulando
como o homem manipula os
gases, mas com o auxílio
do pensamento e da
vontade. Pelo
pensamento, eles
imprimem a esses fluidos
essa ou aquela direção e
podem combiná-los,
aglomerá-los e
dispersá-los. Por vezes
essas transformações
resultam de um ato
intencional; muitas
vezes são o produto de
um pensamento
inconsciente, bastando
ao Espírito pensar em
uma coisa para que essa
coisa se produza. O
pensamento do Espírito
cria fluidicamente os
objetos de que tinha o
hábito de se servir. É
assim que o fumante
aparece com seu cachimbo
e o militar, com suas
armas. Os objetos
fluídicos são tão reais
para o Espírito, quanto
eram materiais para os
encarnados; sua
existência, no entanto,
é fugaz como o
pensamento.
(Obra citada, pp. 166 a
169.)
C. Deixando o corpo que
morreu, os Espíritos
podem enfrentar
privações?
Sim. Os Espíritos são
seres como nós: têm um
corpo, fluídico é
verdade, mas que não
deixa de ser matéria.
Deixando o invólucro
carnal, certos Espíritos
continuam enfrentando as
mesmas vicissitudes,
durante um tempo mais ou
menos longo. Tal é a
situação dos Espíritos
que viveram mais a vida
material que a vida
espiritual.
(Obra citada, pp. 172 a
174.)
Texto para leitura
58. Philippeau disse que
iria tentar fazer o que
lhe foi aconselhado,
embora temesse não
consegui-lo. Em seguida,
referiu-se às impressões
que tivera ao adentrar a
vida espiritual, quando,
apesar de morto,
materialmente falando,
sentia-se vivo. “Assim
se passaram três dias;
eu estava desaparecido
do mundo, e me sentia
mais vivo que nunca”,
informou o médico.
Depois, ao tomar
conhecimento dos
ensinamentos espíritas,
percebeu que não mais
era um homem, mas um
Espírito, e que agora
tinha que recomeçar,
visto que, dominado pela
ambição, fizera na Terra
tudo ao contrário do que
devia: “Aprendi, cursei
a ciência, não por amor
à ciência, mas por
ambição, para ser mais
que os outros, para que
falassem de mim”.
“Tratei do próximo, não
para o aliviar, mas para
me enriquecer. Numa
palavra, fui todo para a
matéria, quando se deve
ser todo para o
Espírito. Quais são hoje
as minhas obras? A
riqueza, a ciência;
nada! nada! Tudo está
para refazer.” (Págs.
143 e 144.)
59. A
literatura da época, diz
Kardec, impregnava-se
diariamente das ideias
espíritas, de que são
exemplos os folhetins
A Condessa de
Monte-Cristo,
publicado pela Petite
Presse, e O
Calabouço da Torre dos
Pinheiros, publicado
pela Liberté, bem
como o artigo publicado
pelo Progrès de Lyon,
sob a forma de uma carta
supostamente escrita de
outro mundo pelo
convencional Clootz,
sobre os quais a
Revue tece ligeiras
considerações. (Págs.
145 a 150.)
60. Outra prova de que
as ideias espíritas
estavam no ar é o
discurso proferido pelo
Sr. Jules Adenis, em
nome da Sociedade dos
Autores Dramáticos, no
enterro do Sr. Marc
Michel. Segundo o jornal
Temps, de 27 de
março de 1868, o orador
lembrou na ocasião outro
escritor recentemente
falecido, Ferdinand
Langlé, cuja alma –
disse ele –
provavelmente viera
receber Marc Michel no
“limiar da eternidade”,
um pensamento
tipicamente espírita que
não era e não é aceito
pela doutrina oficial da
Igreja e das religiões
protestantes. (Págs.
150 e 151.)
61. Um interessante caso
de premonição obtida em
um sonho foi relatado
pelo Figaro de 12
de abril de 1868 e
reproduzido pela
Revue. Dez anos
depois, quando o
exército francês
desembarcou na Crimeia,
o sonho se realizou
integralmente, sem
faltar nenhuma de suas
minúcias. (Págs. 151
e 152.)
62. Notícia sobre
fenômenos de pancadas
numa casa da Rússia,
extraída do Courrier
Russe, de São
Petersburgo, é
transcrita pela Revue.
Todas as noites, diz o
jornal russo, pelas dez
horas, começavam os
exercícios, com
transporte de objetos e
batidas. Tendo o morador
recorrido à polícia, um
soldado passou várias
noites na casa, mas a
desordem não cessou.
(Págs. 153 e 154.)
63. Mais um flagelo
desabava em 1868 sobre
as populações árabes da
Argélia, então colônia
da França. Terminados os
rigores do inverno, os
árabes agora morriam de
fome. Em carta dirigida
a Kardec, o Sr. Bourgès,
capitão da guarnição de
Laghouat, diz que desde
alguns anos os flagelos
se sucediam na colônia:
tremores de terra,
invasão de gafanhotos,
cólera, tifo, seca e
fome. Comentando esse
fato, Kardec lembra que
os Espíritos não se
enganaram quando
anunciaram que flagelos
de toda a sorte
devastariam a Terra. A
Argélia não era o único
país em prova. Mas não
se pode acusar a
Providência por essas
misérias, que resultam
unicamente da
ignorância, da incúria,
do egoísmo, do orgulho e
das paixões humanas. As
gerações de agora colhem
o que semearam, porque
são compostas das mesmas
individualidades
espirituais que renascem
em diferentes épocas e
aproveitam os
melhoramentos que elas
próprias prepararam e a
experiência adquirida no
passado. (Págs. 154 a
157.)
64. Em mensagem dada em
Lyon a 2 de fevereiro de
1868, por meio do Sr.
Dubois, um instrutor
espiritual, que se
designou O Espírito
da Fé, voltou ao
tema da regeneração da
Terra e disse que o
Messias que deve
presidir a esse
movimento já havia
nascido. Era ele o
próprio Cristo? O
comunicante não diz que
sim nem que não, mas
afirma que cabe ao
Espiritismo remover as
pedras que possam
dificultar a sua
passagem. Esse homem
será poderoso e forte, e
numerosos Espíritos
estão na Terra para
aplainar o caminho e
fazer cumprir o que foi
predito. “A aurora do
século marcado por Deus
para a realização dos
fatos que devem mudar a
face deste mundo começa
a surgir no horizonte”,
conclui a mensagem.
(Págs. 157 a 159.)
65. A
mediunidade no copo d’
água é o tema inicial do
número de junho. O novo
gênero de mediunidade
vidente permite ver
imagens em um copo de
água magnetizada, como
se uma fotografia
aparecesse no líquido.
As informações
constantes do artigo
foram fornecidas por um
dos correspondentes da
Revue em
Genebra. (Págs. 161 a
166.)
66. Eis como o fenômeno
se realiza: I –
Primeiramente é preciso
um copo liso e bem igual
no fundo, no qual a água
deve ser colocada até à
metade, magnetizando-a
em seguida pelos
processos comuns, isto
é, pela imposição das
mãos. A duração da
magnetização é de cerca
de dez minutos na
primeira vez; depois
bastam cinco minutos,
podendo ser magnetizados
vários copos ao mesmo
tempo. II – O médium
vidente ou aquele que
quer experimentar não
deve magnetizar o seu
próprio copo, pois
gastará fluidos que lhe
são necessários para a
vidência. Para a
magnetização é
necessário um médium
especial. III – Feito
isto, cada
experimentador coloca o
copo à sua frente e o
olha durante 20 ou 30
minutos no máximo, por
vezes menos, conforme a
aptidão. Esse tempo só é
necessário nas primeiras
tentativas; depois,
bastarão alguns minutos.
Durante esse tempo, uma
pessoa fará uma prece
para pedir o concurso
dos bons Espíritos. IV –
Os que são aptos a ver
distinguem a princípio,
no fundo do copo, uma
espécie de nuvem; é um
indício certo de que
verão. Pouco a pouco
essa nuvem toma uma
forma mais acentuada e a
imagem se desenha à
vista do médium. V –
Entre si os médiuns
podem ver nos copos uns
dos outros. Algumas
vezes parte do assunto
aparece num copo e a
outra parte em outro;
por exemplo, em caso de
doenças, um verá o mal e
o outro, o remédio. VI –
O médium só verá com os
olhos abertos. Pelo
menos é o que tem sido
observado, o que denota
uma variedade na
mediunidade de vidência.
VII – A imagem das
pessoas vivas se
apresenta no copo tão
facilmente quanto a das
pessoas mortas. VIII –
Ocorre nesta mediunidade
o que se dá nas outras:
o médium atrai a si os
Espíritos que lhe são
simpáticos, e o meio de
atrair os bons Espíritos
é estar animado de bons
sentimentos, não
perguntar senão coisas
justas e razoáveis, não
se servir desta
faculdade senão para o
bem, e não para coisas
fúteis. (Págs. 161 a
165.)
67. Comentando o
assunto, Kardec adverte
que, como princípio,
esta mediunidade não é
nova, mas sim uma das
variedades da
mediunidade de vidência.
Os médiuns videntes, por
este processo ou por
qualquer outro, não veem
à vontade; eles só veem
o que os Espíritos
querem fazer ver ou lhes
permitem ver. (Págs.
165 e 166.)
68. Escrevendo sobre a
fotografia do
pensamento, Kardec diz
que tal fenômeno se liga
ao fenômeno das criações
fluídicas descrito em
A Gênese, e reproduz
na Revue trechos
daquela obra em que o
assunto é tratado.
(Págs. 166 a 169.)
69. Eis, de forma
resumida, os pontos
principais contidos no
artigo: I – Os fluidos
espirituais são, a bem
dizer, a atmosfera dos
seres espirituais e o
elemento onde os
Espíritos colhem os
materiais com que
operam. II – Os fluidos
são também o veículo do
pensamento e os
Espíritos agem sobre
eles, não os manipulando
como o homem manipula os
gases, mas com o auxílio
do pensamento e da
vontade. III – Pelo
pensamento, eles
imprimem a esses fluidos
essa ou aquela direção e
podem combiná-los,
aglomerá-los e
dispersá-los. IV – Por
vezes essas
transformações resultam
de um ato intencional;
muitas vezes são o
produto de um pensamento
inconsciente, bastando
ao Espírito pensar em
uma coisa para que essa
coisa se produza. V – O
pensamento do Espírito
cria fluidicamente os
objetos de que tinha o
hábito de se servir. É
assim que o fumante
aparece com seu cachimbo
e o militar, com suas
armas. VI – Os objetos
fluídicos são tão reais
para o Espírito, quanto
eram materiais para os
encarnados; sua
existência, no entanto,
é fugaz como o
pensamento. VII – Ao
criar imagens fluídicas,
o pensamento se reflete
no perispírito como num
espelho, e de certo modo
aí se fotografa. É assim
que os mais secretos
movimentos da alma
repercutem no envoltório
perispiritual,
permitindo a outrem,
encarnado ou
desencarnado, ler na
alma como num livro e
ver o que não é
perceptível pelos olhos
do corpo. VIII – Na
teoria das criações
fluídicas pode ser
encontrada a explicação
da mediunidade pelo copo
d’água. Ora, já que o
objeto que se vê não
pode estar no copo, a
água deve fazer aí o
papel de um espelho, que
reflete a imagem criada
pelo Espírito. Essa
imagem pode ser a
reprodução de uma coisa
real, como a de uma
criação de fantasia.
(Págs. 166 a 169.)
70. A
Revue registra o
falecimento do Sr.
Bizet, cura de Sétif,
morto aos 43 anos de
idade. Os atos de
caridade e de tolerância
que notabilizaram o
pároco foram destacados
na reportagem, à qual se
segue a transcrição de
uma comunicação dada
pelo Espírito do Sr.
Bizet na Sociedade
Espírita de Paris, a 14
de maio de 1868, 29 dias
depois do seu
falecimento. Em sua
mensagem, o padre
informa haver encontrado
no mundo espiritual
muitos amigos cujo
acolhimento simpático o
ajudou a reconhecer-se
em seu novo estado.
Bizet descreve, também,
algo que seria
inimaginável noutros
tempos: o triste
espetáculo da fome entre
os desencarnados –
criaturas infelizes,
mortas nas torturas da
fome e que ainda
procuravam satisfazer,
em vão, uma necessidade
imaginária. No final da
comunicação, Bizet
confessa que os
princípios da doutrina
espírita lhe pareciam
agora mais justos,
porque, depois de haver
conhecido a sua teoria,
via no mundo espiritual
a sua mais larga
aplicação prática.
(Págs. 169 a 172.)
71. O relato pertinente
aos horrores da fome
entre os desencarnados
mereceu de Kardec uma
nota explicativa. Os
Espíritos, adverte ele,
são seres como nós: têm
um corpo, fluídico é
verdade, mas que não
deixa de ser matéria.
Deixando o invólucro
carnal, certos
Espíritos continuam
enfrentando as mesmas
vicissitudes, durante um
tempo mais ou menos
longo. Tal é a situação
dos Espíritos que
viveram mais a vida
material que a vida
espiritual. As evocações
nos mostram uma porção
de Espíritos que ainda
se julgam encarnados:
suicidas, supliciados,
avarentos, náufragos
etc. O quadro
apresentado pelo Sr.
Bizet nada tem, pois, de
estranho; ao contrário,
vem confirmar, por meio
de um depoimento
insuspeito, o que já se
sabia. (Págs. 172 a
174.)
72. Sob o título de
Boletim do movimento
filosófico e religioso,
o número de maio do
jornal Solidarité,
de Paris, publicou
interessante artigo em
que o autor analisa A
Gênese, última obra
publicada por Kardec. As
passagens principais do
artigo são reproduzidas
pela Revue.
(Págs. 174 a 177.)
(Continua no próximo
número.)