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Clássicos do Espiritismo
Ano 4 - N° 193 - 23 de Janeiro de 2011
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


Socialismo e Espiritismo

Léon Denis

(Parte 10 e final)

Concluímos hoje o estudo do clássico Socialismo e Espiritismo, de Léon Denis, que foi aqui realizado com base na tradução de Wallace Leal V. Rodrigues, publicada pela Casa Editora O Clarim.

Questões preliminares

A. Por que Léon Denis disse que não basta assegurar ao trabalhador o pão e a moradia?

É porque o povo não tem apenas necessidades materiais. Ele pede também que se cultivem suas faculdades superiores. É preciso, pois, preocupar-se em dar ao homem uma fé livre e desinteressada que o sustente em suas provas, uma crença racional que lhe permita reagir contra as causas de sua infelicidade. É chegada a hora de substituir o dogma envelhecido por um ideal científico e esclarecido, em harmonia com a evolução humana. (Socialismo e Espiritismo, pp. 139 e 140.) 

B. Existe alguma relação entre o problema intelectual e o problema moral?

Segundo Léon Denis, sim. Eles se relacionam estreitamente e os dois nos impõem o dever de combater o alcoolismo e todos os vícios que entravam o desenvolvimento das pessoas. É preciso ensinar o homem a respeitar-se, a salvaguardar sua própria dignidade, porque, elevando o nível moral, trabalha-se ao mesmo para resolver todos os problemas difíceis da hora presente. (Obra citada, pág. 140.)

C. Em que o Espiritismo pode contribuir para o aprimoramento do Socialismo?

O Socialismo – entendia Léon Denis – não deve confinar-se ao realismo de curta vida e desconhecer a importância do fator moral na solução dos problemas que ele pretende resolver. Como poderoso meio de propaganda e de realização de todas as ideias grandes, generosas e humanitárias, o Espiritismo oferece a ele uma base e uma sanção demonstrando que os princípios de solidariedade, fraternidade e justiça, que constituem sua própria essência, encontram-se nas leis universais e são a regra dos mundos superiores. No próprio seio do partido socialista surgirão, um dia, homens dotados pela palavra e pela pena que encontrarão na doutrina espírita os argumentos decisivos em favor de sua causa. O estudo do Espiritismo mostrar-lhes-á, então, a solidariedade que os liga à Humanidade invisível como duas partes de um mesmo todo, e lhes revelará que as condições de vida no Além – que são as consequências de nossos atos – são regidas pelo princípio de soberana justiça e que é necessário conhecê-lo para estabelecer sobre a Terra leis e instituições sociais sábias e harmônicas. (Obra citada, pp. 148 e 149.)

Texto para leitura  

103. Vantagens consideráveis em proveito da massa operária resultaram da obra da 3a República: seguro social, aposentadoria, participação de benefícios em um grande número de indústrias, proteção das cooperativas e da mutualidade sob todas as suas formas. Cursos para aprendizagem da mão-de-obra foram estabelecidos em toda a França.  Em 1923 cerca de 1.200.000 trabalhadores foram treinados. (Pág. 137) 

104. O direito de greve, arma do trabalhador contra as pretensões exageradas dos capitalistas, dos capitães da indústria, é uma espécie de faca de dois gumes que se volta às vezes contra aquele que dela se serve e o fere. É então que a ação do Estado pode ser eficaz, não se impondo como árbitro obrigatório, mas fazendo que todos se entendam e busquem, em um espírito de equidade, os meios de dar prosseguimento à obra fecunda do trabalho. Em 1922 um total de 679 greves, envolvendo mais de 40 mil trabalhadores, haviam sido arbitradas com sucesso. (Pág. 138)

105. De outra parte, o cooperativismo alcançou um grande desenvolvimento e tornou-se um recurso precioso para melhorar as condições de existência do trabalhador e de sua família. Em 1920 o número de cooperativas de consumo elevava-se a 4.910, com dois milhões e quinhentos mil cooperados. (Pág. 138) 

106. Foi assim que se viu desenvolver-se, em meio século, a obra social de uma maneira lenta, mas segura e contínua, uma obra de paciência e de longo fôlego, muito mais eficaz em seus efeitos que as revoluções violentas que levam fatalmente a reações não menos violentas. O povo, porém, permanece descontente, a classe operária parece desdenhar a realização gradual dos processos sociais e uma espécie de azedume persiste entre um grande número de pessoas, conquanto a situação material do operário seja, em geral, preferível à da pequena burguesia. Por que isso ocorre? Por que o povo permanece desconfiado e às vezes hostil? (Págs. 138 e 139) 

107. A razão disso talvez seja o fato de ter sido o povo por muito tempo enganado, subestimado e mesmo traído no passado. Ele tornou-se então incrédulo, não apenas a respeito dos dogmas, mas ainda a respeito das promessas eleitorais; contudo, não é cético. O que pede é, antes de tudo, justiça. Há por esse motivo muito que fazer, pois não basta assegurar ao trabalhador o pão e a moradia. O povo não tem apenas necessidades materiais. Ele pede também que se cultivem suas faculdades superiores. É preciso, pois, preocupar-se em dar ao homem uma fé livre e desinteressada que o sustente em suas provas, uma crença racional que lhe permita reagir contra as causas de sua infelicidade. É chegada a hora de substituir o dogma envelhecido por um ideal científico e esclarecido, em harmonia com a evolução humana. (Págs. 139 e 140) 

108. O problema intelectual se relaciona estreitamente com o problema moral. Os dois nos impõem o dever de combater o alcoolismo e todos os vícios que entravam o desenvolvimento das pessoas. É preciso ensinar o homem a respeitar-se, a salvaguardar sua própria dignidade, porque, elevando o nível moral, trabalha-se ao mesmo para resolver todos os problemas difíceis da hora presente. O sentimento de justiça, por sua vez, encontra sua sanção em todos os ensinamentos do Espiritismo. A massa enorme de testemunhas do Além-túmulo prova que esta noção é a própria lei do Universo, a regra suprema dos seres e das coisas. (Pág. 140) 

109. A solução desses problemas não poderá, no entanto, ser completa, satisfatória e definitiva, enquanto um alto pensamento não vier irradiar sobre as inteligências e os corações, enquanto o impulso de solidariedade humana não vier dissipar os mal-entendidos de sentimentos que ainda separam os partidos e as classes. (Pág. 141) 

110. O Socialismo do futuro será o Socialismo espiritualista, pois realizará um ideal baseado no desenvolvimento da mais alta faculdade da alma e só ele poderá dissipar os prejuízos de castas, de raças, de cores, de religiões e fazer nascer um sentimento profundo de fraternidade única. Qual será seu programa de ação num período de lutas que deverá coroar sua obra de regeneração social? Cremos que este programa pode resumir-se como segue: I – Assegurar o pão dos velhos e o abrigo para os trabalhadores esgotados pela idade ou pelas enfermidades. II – Dar à criança o alimento intelectual necessário, isto é, instruí-la quanto aos seus deveres e a grande finalidade da vida, iniciá-la nos princípios que fazem do Universo e do conjunto das existências um todo harmonioso. III – Proteger a mulher contra as fraquezas mórbidas e as seduções funestas, proporcionar-lhe no estado de gravidez o trabalho manual que lhe torne possível a vida familiar e a educação dos filhos. IV – Assegurar a todos uma parte do bem-estar proporcional à tarefa realizada e aos serviços prestados na obra social. V – Tornar acessíveis a toda alma humana os ensinamentos, as consolações, as luzes que proporcionam o culto do bem e do belo, em suas formas diversas: arte, literatura, poesia, tudo quanto constitua um meio de elevação, moralização e aperfeiçoamento, tudo que seja eficaz para apagar na alma as manchas do passado, tudo que prepare o ser para suas destinações reais. VI – Em uma palavra: proporcionar ao ser humano o que ele veio cobrar da existência, isto é, segundo a lei de evolução, um degrau para subir mais alto na hierarquia das almas, o desenvolvimento das qualidades do espírito e do coração. (Págs. 142 e 143) 

111. Respondendo a diversas questões atinentes ao tema deste livro, Léon Denis fez observações interessantes, que a seguir resumimos: I – Os socialistas quando estão investidos no poder nem sempre podem fazer o que desejariam e são obrigados, muitas vezes, a contemporizar. II – O Socialismo age pela força mesma das coisas e reconhece que o capital é necessário para a realização dos grandes trabalhos e o prosseguimento das atividades do governo. III – Seu objetivo essencial será, pois, uma repartição mais equitativa  e mais igualitária da riqueza entre os diversos elementos da produção. IV – Os excessos provenientes do mau uso da força financeira podem ser sempre reprimidos por leis, quando ele assumir o poder. V – A experiência demonstrou que o Estado é muitas vezes um mau explorador, um produtor oneroso. As exigências dos trabalhadores que ele emprega elevam o preço de revenda do produto a cifras que tornam a exportação impossível. VI – Os outros Estados que têm à sua guarda um regime de liberdade, como os Estados Unidos, mantêm uma supremacia sobre todos os mercados e suas vantagens são tais, que eles  jamais sonharão em adotar os métodos do estatismo. VII – A ordem social deve, portanto, comportar a liberdade de associação, mantendo um justo equilíbrio entre seus agrupamentos de força e opondo-se às usurpações de uns pelos outros, velando cada qual por seus próprios interesses. VIII – Na ordem econômica, a solução do problema está na associação do capital, motor indispensável de toda empresa, da inteligência diretiva e da mão-de-obra que ela ocupa. Aí, como em todas as coisas, a equidade deve presidir à repartição dos bens. IX – Certas indústrias inglesas e americanas criaram uma espécie de participação do operário a uma parte do capital que ele adquire pondo em obra uma parte de sua economia, completada pela empresa na proporção do tempo e do serviço realizado. Outras companhias criaram as “ações de trabalho”, que vêm juntar-se aos salários dos trabalhadores especializados, de modo que eles se tornam coproprietários. X – A experiência mostra que estes sistemas são preferíveis à simples participação dos benefícios, pois que asseguram uma repartição mais justa nos lucros e nas perdas. (Págs. 143 a 147) 

112. Léon Denis criticou a lei que estabeleceu a jornada de oito horas, dizendo que em certos casos ela produziu verdadeiros abusos. As companhias de estrada de ferro, por exemplo, tiveram que aumentar seu pessoal em proporções que ocasionaram despesas excessivas, e as tarifas subiram muito. Ele sugeriu então que houvesse, no tocante a esse assunto, liberdade de trabalho, porque o operário já dispunha, em seu sindicato, de armas para defender seus direitos. A lei das oito horas tinha sofrido tantas derrogações que lhe parecia fadada a ser revogada. (N.R.: As opiniões de Léon Denis quanto a esse assunto foram um equívoco que em nada prejudica o valor de sua obra. A propósito, é bom lembrar que até em Nosso Lar, a colônia espiritual descrita por André Luiz, a jornada de 8 horas é lei que vale para todos.) (Págs. 147 e 148) 

113. Concluindo o livro, Denis voltou a afirmar que o Socialismo não deve confinar-se ao realismo de curta vida e desconhecer a importância do fator moral na solução dos problemas que ele pretende resolver. Como poderoso meio de propaganda e de realização de todas as ideias grandes, generosas e humanitárias, o Espiritismo oferece ao Socialismo uma base e uma sanção demonstrando que os princípios de solidariedade, fraternidade e justiça, que constituem sua própria essência, encontram-se nas leis universais e são a regra dos mundos superiores. No próprio seio do partido socialista surgirão, um dia, homens dotados pela palavra e pela pena que encontrarão na doutrina espírita os argumentos decisivos em favor de sua causa. O estudo do Espiritismo mostrar-lhes-á, então, a solidariedade que os liga à Humanidade invisível como duas partes de um mesmo todo, e lhes revelará que as condições de vida no Além – que são as consequências de nossos atos – são regidas pelo princípio de soberana justiça e que é necessário conhecê-lo para estabelecer sobre a Terra leis e instituições sociais sábias e harmônicas. (Págs. 148 e 149)  




 


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