Socialismo e Espiritismo
Léon Denis
(Parte
10 e final)
Concluímos hoje o
estudo do clássico
Socialismo e Espiritismo,
de Léon Denis, que foi
aqui realizado com base
na tradução
de
Wallace Leal V.
Rodrigues, publicada
pela Casa Editora O
Clarim.
Questões preliminares
A. Por que Léon Denis
disse que não basta
assegurar ao trabalhador
o pão e a moradia?
É porque o povo não tem
apenas necessidades
materiais. Ele pede
também que se cultivem
suas faculdades
superiores. É preciso,
pois, preocupar-se em
dar ao homem uma fé
livre e desinteressada
que o sustente em suas
provas, uma crença
racional que lhe permita
reagir contra as causas
de sua infelicidade. É
chegada a hora de
substituir o dogma
envelhecido por um ideal
científico e
esclarecido, em harmonia
com a evolução humana.
(Socialismo e
Espiritismo, pp. 139 e
140.)
B. Existe alguma relação
entre o problema
intelectual e o problema
moral?
Segundo Léon Denis, sim.
Eles se relacionam
estreitamente e os dois
nos impõem o dever de
combater o alcoolismo e
todos os vícios que
entravam o
desenvolvimento das
pessoas. É preciso
ensinar o homem a
respeitar-se, a
salvaguardar sua própria
dignidade, porque,
elevando o nível moral,
trabalha-se ao mesmo
para resolver todos os
problemas difíceis da
hora presente.
(Obra citada, pág. 140.)
C. Em que o Espiritismo
pode contribuir para o
aprimoramento do
Socialismo?
O Socialismo – entendia
Léon Denis – não deve
confinar-se ao realismo
de curta vida e
desconhecer a
importância do fator
moral na solução dos
problemas que ele
pretende resolver. Como
poderoso meio de
propaganda e de
realização de todas as
ideias grandes,
generosas e
humanitárias, o
Espiritismo oferece a
ele uma base e uma
sanção demonstrando que
os princípios de
solidariedade,
fraternidade e justiça,
que constituem sua
própria essência,
encontram-se nas leis
universais e são a regra
dos mundos superiores.
No próprio seio do
partido socialista
surgirão, um dia, homens
dotados pela palavra e
pela pena que
encontrarão na doutrina
espírita os argumentos
decisivos em favor de
sua causa. O estudo do
Espiritismo
mostrar-lhes-á, então, a
solidariedade que os
liga à Humanidade
invisível como duas
partes de um mesmo todo,
e lhes revelará que as
condições de vida no
Além – que são as
consequências de nossos
atos – são regidas pelo
princípio de soberana
justiça e que é
necessário conhecê-lo
para estabelecer sobre a
Terra leis e
instituições sociais
sábias e harmônicas.
(Obra citada, pp. 148 e
149.)
Texto
para leitura
103. Vantagens
consideráveis em
proveito da massa
operária resultaram da
obra da 3a
República: seguro
social, aposentadoria,
participação de
benefícios em um grande
número de indústrias,
proteção das
cooperativas e da
mutualidade sob todas as
suas formas. Cursos para
aprendizagem da
mão-de-obra foram
estabelecidos em toda a
França. Em 1923 cerca
de 1.200.000
trabalhadores foram
treinados. (Pág. 137)
104. O direito de greve,
arma do trabalhador
contra as pretensões
exageradas dos
capitalistas, dos
capitães da indústria, é
uma espécie de faca de
dois gumes que se volta
às vezes contra aquele
que dela se serve e o
fere. É então que a ação
do Estado pode ser
eficaz, não se impondo
como árbitro
obrigatório, mas fazendo
que todos se entendam e
busquem, em um espírito
de equidade, os meios de
dar prosseguimento à
obra fecunda do
trabalho. Em 1922 um
total de 679 greves,
envolvendo mais de 40
mil trabalhadores,
haviam sido arbitradas
com sucesso. (Pág.
138)
105. De outra parte, o
cooperativismo alcançou
um grande
desenvolvimento e
tornou-se um recurso
precioso para melhorar
as condições de
existência do
trabalhador e de sua
família. Em 1920 o
número de cooperativas
de consumo elevava-se a
4.910, com dois milhões
e quinhentos mil
cooperados. (Pág.
138)
106. Foi assim que se
viu desenvolver-se, em
meio século, a obra
social de uma maneira
lenta, mas segura e
contínua, uma obra de
paciência e de longo
fôlego, muito mais
eficaz em seus efeitos
que as revoluções
violentas que levam
fatalmente a reações não
menos violentas. O povo,
porém, permanece
descontente, a classe
operária parece
desdenhar a realização
gradual dos processos
sociais e uma espécie de
azedume persiste entre
um grande número de
pessoas, conquanto a
situação material do
operário seja, em geral,
preferível à da pequena
burguesia. Por que isso
ocorre? Por que o povo
permanece desconfiado e
às vezes hostil?
(Págs. 138 e 139)
107. A razão disso
talvez seja o fato de
ter sido o povo por
muito tempo enganado,
subestimado e mesmo
traído no passado. Ele
tornou-se então
incrédulo, não apenas a
respeito dos dogmas, mas
ainda a respeito das
promessas eleitorais;
contudo, não é cético. O
que pede é, antes de
tudo, justiça. Há por
esse motivo muito que
fazer, pois não basta
assegurar ao trabalhador
o pão e a moradia. O
povo não tem apenas
necessidades materiais.
Ele pede também que se
cultivem suas faculdades
superiores. É preciso,
pois, preocupar-se em
dar ao homem uma fé
livre e desinteressada
que o sustente em suas
provas, uma crença
racional que lhe permita
reagir contra as causas
de sua infelicidade. É
chegada a hora de
substituir o dogma
envelhecido por um ideal
científico e
esclarecido, em harmonia
com a evolução humana.
(Págs. 139 e 140)
108. O problema
intelectual se relaciona
estreitamente com o
problema moral. Os dois
nos impõem o dever de
combater o alcoolismo e
todos os vícios que
entravam o
desenvolvimento das
pessoas. É preciso
ensinar o homem a
respeitar-se, a
salvaguardar sua própria
dignidade, porque,
elevando o nível moral,
trabalha-se ao mesmo
para resolver todos os
problemas difíceis da
hora presente. O
sentimento de justiça,
por sua vez, encontra
sua sanção em todos os
ensinamentos do
Espiritismo. A massa
enorme de testemunhas do
Além-túmulo prova que
esta noção é a própria
lei do Universo, a regra
suprema dos seres e das
coisas. (Pág. 140)
109. A solução desses
problemas não poderá, no
entanto, ser completa,
satisfatória e
definitiva, enquanto um
alto pensamento não vier
irradiar sobre as
inteligências e os
corações, enquanto o
impulso de solidariedade
humana não vier dissipar
os mal-entendidos de
sentimentos que ainda
separam os partidos e as
classes. (Pág. 141)
110. O Socialismo do
futuro será o Socialismo
espiritualista, pois
realizará um ideal
baseado no
desenvolvimento da mais
alta faculdade da alma e
só ele poderá dissipar
os prejuízos de castas,
de raças, de cores, de
religiões e fazer nascer
um sentimento profundo
de fraternidade única.
Qual será seu programa
de ação num período de
lutas que deverá coroar
sua obra de regeneração
social? Cremos que este
programa pode resumir-se
como segue: I –
Assegurar o pão dos
velhos e o abrigo para
os trabalhadores
esgotados pela idade ou
pelas enfermidades. II –
Dar à criança o alimento
intelectual necessário,
isto é, instruí-la
quanto aos seus deveres
e a grande finalidade da
vida, iniciá-la nos
princípios que fazem do
Universo e do conjunto
das existências um todo
harmonioso. III –
Proteger a mulher contra
as fraquezas mórbidas e
as seduções funestas,
proporcionar-lhe no
estado de gravidez o
trabalho manual que lhe
torne possível a vida
familiar e a educação
dos filhos. IV –
Assegurar a todos uma
parte do bem-estar
proporcional à tarefa
realizada e aos serviços
prestados na obra
social. V – Tornar
acessíveis a toda alma
humana os ensinamentos,
as consolações, as luzes
que proporcionam o culto
do bem e do belo, em
suas formas diversas:
arte, literatura,
poesia, tudo quanto
constitua um meio de
elevação, moralização e
aperfeiçoamento, tudo
que seja eficaz para
apagar na alma as
manchas do passado, tudo
que prepare o ser para
suas destinações reais.
VI – Em uma palavra:
proporcionar ao ser
humano o que ele veio
cobrar da existência,
isto é, segundo a lei de
evolução, um degrau para
subir mais alto na
hierarquia das almas, o
desenvolvimento das
qualidades do espírito e
do coração. (Págs.
142 e 143)
111. Respondendo a
diversas questões
atinentes ao tema deste
livro, Léon Denis fez
observações
interessantes, que a
seguir resumimos: I – Os
socialistas quando estão
investidos no poder nem
sempre podem fazer o que
desejariam e são
obrigados, muitas vezes,
a contemporizar. II – O
Socialismo age pela
força mesma das coisas e
reconhece que o capital
é necessário para a
realização dos grandes
trabalhos e o
prosseguimento das
atividades do governo.
III – Seu objetivo
essencial será, pois,
uma repartição mais
equitativa e mais
igualitária da riqueza
entre os diversos
elementos da produção.
IV – Os excessos
provenientes do mau uso
da força financeira
podem ser sempre
reprimidos por leis,
quando ele assumir o
poder. V – A experiência
demonstrou que o Estado
é muitas vezes um mau
explorador, um produtor
oneroso. As exigências
dos trabalhadores que
ele emprega elevam o
preço de revenda do
produto a cifras que
tornam a exportação
impossível. VI – Os
outros Estados que têm à
sua guarda um regime de
liberdade, como os
Estados Unidos, mantêm
uma supremacia sobre
todos os mercados e suas
vantagens são tais, que
eles jamais sonharão em
adotar os métodos do
estatismo. VII – A ordem
social deve, portanto,
comportar a liberdade de
associação, mantendo um
justo equilíbrio entre
seus agrupamentos de
força e opondo-se às
usurpações de uns pelos
outros, velando cada
qual por seus próprios
interesses. VIII – Na
ordem econômica, a
solução do problema está
na associação do
capital, motor
indispensável de toda
empresa, da inteligência
diretiva e da
mão-de-obra que ela
ocupa. Aí, como em todas
as coisas, a equidade
deve presidir à
repartição dos bens. IX
– Certas indústrias
inglesas e americanas
criaram uma espécie de
participação do operário
a uma parte do capital
que ele adquire pondo em
obra uma parte de sua
economia, completada
pela empresa na
proporção do tempo e do
serviço realizado.
Outras companhias
criaram as “ações de
trabalho”, que vêm
juntar-se aos salários
dos trabalhadores
especializados, de modo
que eles se tornam
coproprietários. X – A
experiência mostra que
estes sistemas são
preferíveis à simples
participação dos
benefícios, pois que
asseguram uma repartição
mais justa nos lucros e
nas perdas. (Págs.
143 a 147)
112. Léon Denis criticou
a lei que estabeleceu a
jornada de oito horas,
dizendo que em certos
casos ela produziu
verdadeiros abusos. As
companhias de estrada de
ferro, por exemplo,
tiveram que aumentar seu
pessoal em proporções
que ocasionaram despesas
excessivas, e as tarifas
subiram muito. Ele
sugeriu então que
houvesse, no tocante a
esse assunto, liberdade
de trabalho, porque o
operário já dispunha, em
seu sindicato, de armas
para defender seus
direitos. A lei das oito
horas tinha sofrido
tantas derrogações que
lhe parecia fadada a ser
revogada. (N.R.: As
opiniões de Léon Denis
quanto a esse assunto
foram um equívoco que em
nada prejudica o valor
de sua obra. A
propósito, é bom lembrar
que até em Nosso Lar,
a colônia espiritual
descrita por André Luiz,
a jornada de 8 horas é
lei que vale para
todos.) (Págs.
147 e 148)
113. Concluindo o livro,
Denis voltou a afirmar
que o Socialismo não
deve confinar-se ao
realismo de curta vida e
desconhecer a
importância do fator
moral na solução dos
problemas que ele
pretende resolver. Como
poderoso meio de
propaganda e de
realização de todas as
ideias grandes,
generosas e
humanitárias, o
Espiritismo oferece ao
Socialismo uma base e
uma sanção demonstrando
que os princípios de
solidariedade,
fraternidade e justiça,
que constituem sua
própria essência,
encontram-se nas leis
universais e são a regra
dos mundos superiores.
No próprio seio do
partido socialista
surgirão, um dia, homens
dotados pela palavra e
pela pena que
encontrarão na doutrina
espírita os argumentos
decisivos em favor de
sua causa. O estudo do
Espiritismo
mostrar-lhes-á, então, a
solidariedade que os
liga à Humanidade
invisível como duas
partes de um mesmo todo,
e lhes revelará que as
condições de vida no
Além – que são as
consequências de nossos
atos – são regidas pelo
princípio de soberana
justiça e que é
necessário conhecê-lo
para estabelecer sobre a
Terra leis e
instituições sociais
sábias e harmônicas.
(Págs. 148 e 149)