A Revue Spirite
de 1868
Allan Kardec
(Parte
9)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1868. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Que sugeriu Kardec a
propósito dos chamados
padrinhos
espirituais?
Diz Kardec que, ao
nascer uma criança, os
pais deveriam escolher,
entre os Espíritos,
beatificados ou não,
antigos ou modernos,
parentes ou estranhos,
um que tenha dado provas
irrecusáveis de sua
superioridade, por sua
vida exemplar, pelos
atos meritórios
praticados, pelas
virtudes exemplificadas.
Eles então invocá-lo-iam
solenemente e com
fervor, pedindo-lhe que
se unisse ao anjo da
guarda da criança para a
proteger na vida terrena
e guiá-la com seus bons
conselhos e suas boas
inspirações. Depois, à
medida que a criança
crescesse,
ensinar-lhe-iam a
história do seu
protetor, contar-lhe-iam
suas boas ações, e a
criança saberia, então,
por que tem o seu nome,
nome que lhe lembraria
um belo modelo a seguir.
Então, na festa de
aniversário o protetor
invisível não deixaria
de associar-se ao júbilo
geral, porque teria seu
lugar no coração dos
assistentes.
(Revue Spirite de 1868,
pp. 262 a 264.)
B. Os Espíritos de
nossos avós costumam
visitar-nos?
Sim. Em face disso,
afirmou Kardec que a
ideia da presença, em
torno de nós, de nossos
avós ou de pessoas
veneradas será para
todos, sobretudo para as
crianças, um freio mais
poderoso que o medo do
diabo.
(Obra citada, pág. 264.)
C. Onde Pitágoras tomou
conhecimento da ideia da
reencarnação?
Conforme exposto no
livro Conferências
sobre a alma, do Sr.
Alexandre Chaseray, em
que o princípio da
pluralidade das
existências é tratado de
maneira completa, tudo
indica que, tendo vivido
muito tempo no Egito,
foi dali que Pitágoras
trouxe para a Grécia
essa crença.
(Obra citada, pp. 276 a
282.)
Texto para leitura
108. Diversas
comunicações, dadas em
vários lugares,
confirmaram as ideias de
Kardec sobre o tema alma
da Terra. A Revue
reproduziu uma dessas
comunicações, recebida
em Bordeaux em abril de
1862, na qual o
instrutor espiritual diz
claramente que a Terra
não tem alma, porque não
é um ser organizado. Os
Espíritos encarregados
em cada mundo da
execução das leis de
Deus são agentes de sua
vontade, mas agem sob a
direção de um delegado
superior. “É a
coletividade de todas
essas inteligências,
encarnadas e
desencarnadas, inclusive
o delegado superior, que
constitui, a bem dizer,
a alma da Terra, da qual
cada um de vós faz
parte”, acrescentou o
comunicante. (Págs.
261 e 262.)
109. Os santos sob cuja
invocação nos colocam ao
nascermos tornam-se
nossos protetores?
Respondendo a essa
questão, Kardec diz que
os espíritas sabem,
perfeitamente, que
pensamento atrai
pensamento e que a
simpatia dos Espíritos,
beatificados ou não pela
Igreja, depende dos
nossos sentimentos a seu
respeito. Ora, existem
santos que ninguém a
rigor conhece, a não ser
o nome. Os espíritas
deveriam, em casos
assim, agir de forma
diferente. Ao nascer uma
criança, os pais
escolheriam, entre os
Espíritos, beatificados
ou não, antigos ou
modernos, parentes ou
estranhos, um que tenha
dado provas irrecusáveis
de sua superioridade,
por sua vida exemplar,
pelos atos meritórios
praticados, pelas
virtudes exemplificadas.
Eles então invocá-lo-iam
solenemente e com
fervor, pedindo-lhe que
se unisse ao anjo da
guarda da criança para a
proteger na vida terrena
e guiá-la com seus bons
conselhos e suas boas
inspirações. Depois, à
medida que a criança
crescesse,
ensinar-lhe-iam a
história do seu
protetor, contar-lhe-iam
suas boas ações, e a
criança saberia, então,
por que tem o seu nome,
nome que lhe lembraria
um belo modelo a seguir.
Então, na festa de
aniversário o protetor
invisível não deixaria
de associar-se ao júbilo
geral, porque teria seu
lugar no coração dos
assistentes. (Págs.
262 a 264.)
110. Em casa de um
escritor-poeta de grande
renome havia o costume
de manter sempre, à mesa
da família, uma cadeira
vazia. Fechada por um
cadeado, ninguém nela
podia sentar-se: era o
lugar reservado aos
antepassados, aos avós e
aos amigos que
desencarnaram. Kardec
diz que a cadeira
aparentemente vazia era
toda uma profissão de fé
e um ensinamento, tanto
para os grandes, quanto
para os pequenos. A
ideia da presença, em
torno de nós, de nossos
avós ou de pessoas
veneradas será para
todos, sobretudo para as
crianças, um freio mais
poderoso que o medo do
diabo. (Pág. 264.)
111. A Revue
noticia o surgimento de
mais uma sociedade
espírita: o Círculo da
Moral Espírita, de
Toulouse. A palavra
círculo, observa
Kardec, indicava que ele
não se limitaria a
sessões ordinárias, mas
que seria, além disso,
um local de reuniões,
onde os membros poderiam
vir entreter-se com o
objetivo especial de
seus estudos. (Pág.
265.)
112. Os traços do
Espiritismo, que se
encontram por toda a
parte, são como as
inscrições e as medalhas
antigas, que atestam
através dos séculos o
movimento do espírito
humano. Essa observação
foi feita por Kardec a
propósito da obra As
Memórias de um Marido,
editada em 1849 por
Eugène Sue, que relata a
vida do Sr. Fernand
Duplessis. Algumas
passagens da obra são
transcritas pela
Revue e mostram que
tanto a Sra. Raymond
como seu filho Jean
tinham profundas
convicções imortalistas.
A morte, diz o livro,
“não é senão a hora de
um renascimento
completo, que uma outra
vida espera com suas
novidades misteriosas”.
No texto da obra há
referência ao dogma
druídico segundo o qual
a alma se aperfeiçoa
numa série de
existências até atingir
a perfeição. (Págs.
265 a 268.)
113. Na seção de livros,
o destaque do número de
setembro é o livro O
Regimento Fantástico,
de Victor Dazur,
publicado em Lyon. A
Revue reproduz uma
resenha da obra
publicada a 22 de junho
de 1868 pelo jornal
Le Siècle. O livro
relata um sonho que
conduz o cabo François
Pamphile a Marte, aliás
Soraï-Kanor, nome que os
marcianos lhe
deram. Lá, o cabo mantém
contato com um
suboficial que na Terra
foi rei e se chamou
Francisco I. Este
pertencia naquele
planeta ao regimento
fantástico, um
regimento composto da
maioria dos soberanos
que haviam reinado na
Terra, cujo coronel é
Alexandre, o Grande,
assessorado pelo
tenente-coronel Júlio
César e pelo major
Péricles. O regimento
conta com três batalhões
e cada batalhão possui
oito companhias.
Sesostris, Carlos Magno
e Aníbal são os
comandantes dos
batalhões. Cada
companhia é composta de
soberanos de uma mesma
nação. A companhia
francesa é a primeira do
segundo batalhão e tem
como capitão Luís XIV.
As cantineiras do
regimento são Semíramis,
Cleópatra, Elisabeth e
Catarina II. Assim como
os oficiais e soldados
do regimento são antigos
soberanos ou homens que
exerceram a soberania na
Terra, as cantineiras e
as servas da cantina são
antigas soberanas.
(Págs. 268 a 271.)
114. Depois de informar
que há soberanos que
jamais figuraram no
regimento fantástico, o
suboficial explicou que
o regimento nunca muda
de guarnição e jamais
faz guerra. Trata-se, na
verdade, de uma espécie
de regimento
penitenciário no qual as
pessoas expiam as
maldades cometidas em
seus reinados. O
suplício habitual dos
militares e das
cantineiras é o suplício
de Tântalo, porque o
poder divino interditou
a guerra em Marte. Os
voluptuosos sofrem um
suplício semelhante:
conservam a beleza de
que gozaram na Terra,
mas são submetidos a uma
causa fisiológica que os
condena a uma castidade
absoluta. Outro castigo,
que os desola ainda
mais, é o suplício das
lembranças. A cada
instante são eles
condenados à sala de
lembranças onde recordam
os crimes que cometeram
e veem os sofrimentos e
os morticínios que
ordenaram. Quando Luís
XI está na sala de
lembranças, é posto numa
gaiola de ferro, em uso
no seu reinado, bem em
frente ao cadafalso de
Nemours, do qual o
sangue goteja sobre a
cabeça de seus filhos.
(Págs. 271 e 272.)
115. Comentando o livro,
Kardec afirma que seu
autor se inspirou
largamente nas obras
espíritas para
escrevê-lo. Sua teoria a
respeito das penas
futuras, da pluralidade
das existências e do
estado dos Espíritos
desprendidos dos corpos
foi evidentemente
colhida na doutrina
espírita, da qual
reproduz a ideia e até
mesmo a forma. (Pág.
273.)
116. As passagens da
obra reproduzidas pela
Revue não deixam,
com efeito, dúvidas
sobre este ponto,
sobretudo no tocante à
necessidade de
reparação, focalizada
pelo autor, a que o
Codificador juntou uma
nota explicativa dizendo
que a necessidade de
reparação será
individual quando o
efeito do mal praticado
se detém na pessoa
lesada. Se, ao
contrário, esse mal
prejudica a centenas de
indivíduos, a dívida
será centuplicada,
porque serão centenas de
reparações a realizar.
Essa é a situação dos
monarcas fracassados que
não cumpriram
corretamente os seus
deveres. (Págs. 275 e
276.)
117. Kardec elogia o
livro Conferências
sobre a alma, do Sr.
Alexandre Chaseray, em
que o princípio da
pluralidade das
existências é tratado de
maneira completa. Nela,
seu autor procura
demonstrar que a ideia
da reencarnação cresce e
se impõe cada dia mais
aos Espíritos
esclarecidos. Eis alguns
trechos extraídos da
obra: I – A
transmigração das almas
é uma ideia filosófica
ao mesmo tempo das mais
antigas e das mais
modernas. II – A
metempsicose constitui o
fundo da religião dos
indianos, que é muito
anterior ao judaísmo.
III – Segundo Heródoto,
os sacerdotes egípcios
foram os primeiros a
anunciar que a alma é
imortal e passa
sucessivamente por todas
as espécies animais
antes de entrar num
corpo humano. É provável
que, tendo vivido muito
tempo no Egito, foi dali
que Pitágoras trouxe
para a Grécia essa
crença. IV – Os gregos
jamais abandonaram
completamente a ideia da
metempsicose. Os que
dentre eles não admitiam
por inteiro a doutrina
de Pitágoras acreditavam
vagamente com Platão que
a alma tinha existido
algures, antes de se
manifestar sob a forma
humana. V – Pierre
Leroux, embora não creia
que o homem haja passado
pelos tipos inferiores
da criação, não deixa de
ser um ardoroso defensor
da ideia de que a vida
atual se liga a uma
série de existências que
a precederam. (Págs.
276 a 282.)
118. Diz o Codificador
que as numerosas
citações feitas pelo Sr.
Alexandre Chaseray,
embora longe de serem
completas, provam quanto
é geral a ideia da
pluralidade das
existências, que em
pouco tempo será, sem
dúvida, admitida como
verdade incontestável.
“Salvo alguns pontos
muito controvertidos,
observa Kardec, a obra
contém vistas muito
profundas e muito
justas, às quais o
Espiritismo não deixa de
associar-se.” (Pág.
283.)
(Continua no próximo
número.)