Um leitor desta revista,
reportando-se à mudança que
se tem verificado no polo
magnético da Terra,
pergunta-nos quais são as
consequências disso. Junto
com sua pergunta, veio este
texto divulgado pela mídia
internacional: “Aeroporto
dos EUA está alterando as
pistas por causa de mudanças
no Polo Magnético da
Terra. As pistas estão
recebendo nova sinalização
para se adaptarem às
mudanças. O polo magnético
da Terra está mudando de
lugar. O que antes ficava no
extremo norte do Canadá está
se movendo para algum lugar
em direção à Rússia a uma
velocidade de 64 quilômetros
por ano. Isso passa
despercebido para a maioria
dos humanos, na maioria dos
lugares, mas em Tampa, na
Flórida, a mudança está
causando alterações nas
pistas do Aeroporto
Internacional”.
A respeito do assunto, Jenai
Oliveira Cazetta, professora
e doutora em Física e
editora de uma das seções de
nossa revista, prestou-nos
os seguintes
esclarecimentos:
“Como a Terra é um imenso
ímã, um ímã suspenso (ou
bússola) aponta para o
norte. O polo magnético da
Terra, no entanto, não
coincide com o polo
geográfico. De fato, eles
são bastante separados. O
polo magnético do hemisfério
norte, por exemplo, está
atualmente localizado a
cerca de 1.800 km do polo
geográfico correspondente,
em algum ponto na região da
baía de Hudson, no norte do
Canadá. O outro polo
magnético está localizado no
Sul da Austrália. Isso
significa que a bússola não
aponta normalmente para o
polo norte verdadeiro. A
discrepância entre a
orientação da bússola e a do
polo norte verdadeiro é
conhecida como a declinação
magnética.
Não se sabe exatamente por
que a própria Terra
constitui um ímã. A
configuração do campo
magnético terrestre
é parecida com a de um
gigantesco imã em barra
localizado próximo ao centro
do planeta. Mas a Terra não
é um pedaço magnetizado de
ferro, como um ímã em barra.
Seu interior é simplesmente
quente demais para que os
átomos individuais de ferro
mantenham uma orientação
apropriada. Por causa do
grande tamanho da Terra, a
rapidez com que se movem
essas cargas precisa ser de
apenas um milímetro por
segundo para explicar o
valor do campo.
Seja qual for a explicação,
o campo magnético da Terra
não é estável; ele muda
através das eras geológicas.
Evidências são obtidas a
partir da análise das
propriedades dos estratos
rochosos. Houve mais de
vinte dessas inversões ao
longo dos últimos cinco
milhões de anos. A mais
recente aconteceu 700.000
anos atrás. As anteriores
ocorreram há 780.000 e
950.000 anos. Através de
medições mais recentes,
existe uma pista que revela
uma diminuição de cerca de
5% na intensidade do campo
magnético, ocorrida nos
últimos 100 anos. Se essa
variação se mantiver,
podemos ter outra inversão
dentro dos próximos 2.000
anos.
A inversão dos polos
magnéticos não se
dá exclusivamente na Terra.
O campo magnético do Sol
inverte-se regularmente, com
uma periodicidade de 22
anos. Esse ciclo magnético
de 22 anos tem sido
relacionado, por meio de
evidência encontrada em
anéis de árvores, aos
períodos de seca na Terra.
Curiosamente, o conhecido
ciclo de manchas solares, de
11 anos, dura exatamente a
metade do tempo durante o
qual o Sol gradualmente
inverte sua polaridade
magnética.
A variação dos ventos
solares, que sopram íons
sobre a atmosfera da Terra,
causa flutuações mais
rápidas, mas muito menores
no campo magnético
terrestre. Os ventos de íons
nessas regiões são
produzidos pelas interações
energéticas dos raios X e
ultravioleta, vindos do Sol,
com átomos da atmosfera. O
movimento desses íons produz
uma parte pequena, mas
importante, do campo
magnético terrestre. Como as
camadas mais baixas de ar, a
ionosfera é varrida
violentamente por ventos. As
variações desses ventos são
responsáveis por
aproximadamente todas as
flutuações rápidas do campo
magnético da Terra.”
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