Volta à
discussão, nesta
revista, o uso
da locução “em
que pese”.
Considere os
seguintes
textos:
1. Em que pese
a muitas
famílias de
Teresópolis, é
preciso
abandonar de
imediato suas
casas. Em que
pese à
família
Guimarães, sair
de casa é
preciso. Em que
pese ao
povo fluminense,
é preciso
começar tudo de
novo. Em que
pese aos
milhares de
moradores da
cidade, a
solução dos
problemas deve
demorar muito
tempo.
2. Em que pesem
as
enchentes, o
povo de
Teresópolis
continua
confiante. Em
que pese a
tristeza de
todos, a vida
exige que
continuemos a
luta. Em que
pese a
irresponsabilidade
de determinados
governos, a
extensão dos
prejuízos tem
outras causas.
Em que pesem
os gols
perdidos, ainda
assim a seleção
triunfou.
No primeiro
bloco aparece a
preposição “a”.
No segundo
bloco, ela
inexiste. A
letra "a" que
aparece aí é
artigo, não
preposição.
Por que isso
ocorre?
Eis as
explicações:
1.
Quando a locução
em que pese
se refere a
alguém, a alguma
pessoa
determinada, a
alguma
instituição, a
algum nome que
representa
pessoas, ela é invariável e
exige como
complemento a
preposição “a”
ou seu
derivativo “ao”:
-
Em que pese
a ela, não
farei o
negócio.
-
Em que pese
ao
presidente,
continuaremos
na oposição.
-
Em que pese
aos
palmeirenses,
o Santos é
no momento
mais forte.
-
Em que pese
ao Dr.
Setúbal, não
iremos à
festa.
-
Em que pese
a muitas
famílias de
Teresópolis,
é preciso
abandonar de
imediato
suas casas.
-
Em que pese
à família
Guimarães,
sair de casa
é preciso.
-
Em que pese
ao povo
fluminense,
é preciso
começar tudo
de novo.
-
Em que pese
aos milhares
de moradores
da cidade, a
solução dos
problemas
deve demorar
muito
tempo.
A locução nestes
casos é
invariável
porque está
subentendido na
frase o vocábulo
“isto” antes da
forma verbal
“pese”. É como
se
escrevêssemos:
-
Em que isto
pese a ela,
não farei o
negócio.
-
Em que isto
pese ao
presidente,
continuaremos
na oposição.
-
Em que isto
pese aos
palmeirenses,
o Santos é
no momento
mais forte.
-
Em que isto
pese ao Dr.
Setúbal, não
iremos à
festa.
-
Em que isto
pese a
muitas
famílias de
Teresópolis,
é preciso
abandonar de
imediato
suas casas.
-
Em que isto
pese à
família
Guimarães,
sair de casa
é preciso.
-
Em que isto
pese ao povo
fluminense,
é preciso
começar tudo
de novo.
-
Em que isto
pese aos
milhares de
moradores da
cidade, a
solução dos
problemas
deve demorar
muito
tempo.
2.
Quando se refere
a coisas, a
objetos, e não a
pessoas ou
instituições, a
locução é variável e
rejeita a
preposição “a”:
-
Em que pesem
os
argumentos
da defesa, o
réu se
encontra
perdido.
-
Em que pese
sua falta de
escrúpulos,
ele sempre
escapa de
punição.
-
Em que pesem
as críticas
recebidas, a
peça tem
sido um
sucesso.
-
Em que pesem
os esforços
dos
adversários,
o Brasil é o
favorito.
-
Em que pesem
as
enchentes, o
povo de
Teresópolis
continua
confiante.
-
Em que pese
a tristeza
de todos, a
vida exige
que
continuemos
a luta.
-
Em que pese
a
irresponsabilidade
de
determinados
governos, a
extensão dos
prejuízos
tem outras
causas.
-
Em que pesem
os gols
perdidos,
ainda assim
a seleção
triunfou.
O motivo da
rejeição à
preposição “a” é
simples: o
sujeito da
oração é o
substantivo que
aparece em
seguida à
locução.
No texto “Em que
pesem os gols
perdidos, ainda
assim a seleção
triunfou”, o
sujeito é: “os
gols perdidos”.
É como se
escrevêssemos:
“Em que os gols
perdidos pesem,
ainda assim a
seleção
triunfou”, ou
seja, apesar dos
gols perdidos, a
seleção
triunfou.
*
Com relação à
pronúncia
correta da
locução, é bom
lembrar que é
fechado o som do
“e” que forma as
palavras “pese”
e “pesem”.
Digamos então: “em
que pêse” e
“em que pêsem”.
Se o leitor se
recordar de
“pêsames” e de
“voto de pesar”
não terá
dificuldade em
acertar a
pronúncia.
Evitem-se, pois,
pronúncias do
tipo “em que
pése”, “em que
pésem” e esta
forma horrível
típica da região
sul de nosso
País: “no que
pésem”.