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Estudando as obras de Kardec
Ano 4 - N° 197 - 20 de Fevereiro de 2011

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1868

Allan Kardec 

(Parte 10)

Continuamos a apresentar o estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1868. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Em que época viveu Lao-Tseu?

Lao-Tseu, um dos maiores filósofos da Antiguidade, nasceu no ano 604 a.C., mais ou menos na época em que viveu Pitágoras e dois séculos antes de Sócrates e Platão. De origem humilde, Lao-Tseu não teve outros meios de se instruir senão a reflexão e numerosas viagens. Com a idade de cinquenta anos, escreveu o livro A razão suprema e virtude, obra considerada autêntica pelos historiadores chineses de todas as seitas. (Revue Spirite de 1868, pp. 297 e 298.) 

B. Que recado formulou Victor Hugo a propósito do falecimento de sua esposa?

Impedido de entrar em seu país, Victor Hugo pediu a seu amigo Paul Meurice: “Dizei a minha filha que, esperando, sempre lhe envio sua mãe”. Paul recordou esse pedido ao pronunciar, à beira do túmulo, palavras de adeus à falecida. O recado do grande escritor é comentado por Kardec em nota posta em seguida à notícia, na qual informa que a mulher de Victor Hugo foi sepultada ao lado do túmulo onde haviam sido enterrados 25 anos antes sua filha e seu genro, vítimas de um naufrágio. (Obra citada, pág. 302 a 304.)

C. A máxima “A gente é sempre punido por onde pecou” pode ser considerada uma ideia espírita?

Evidentemente. Essa ideia, observa Kardec, é puro Espiritismo porque não só é o princípio da pluralidade das existências, mas igualmente da expiação do passado, pela pena de Talião, nas existências sucessivas. (Obra citada, pág. 305.)

Texto para leitura

119. Após transcrever uma comunicação mediúnica publicada no jornal espírita Le Salut, de New Orléans, de junho de 1868, Kardec fez o seguinte comentário: “Pode ver-se que as instruções dadas na América sobre a caridade e a fraternidade não cedem em nada às que são dadas na Europa”. Esse é o elo que, segundo o Codificador, “unirá os habitantes dos dois mundos”. (Págs. 283 a 285.)

120. O número de setembro traz, fechando a edição, duas notas. A primeira refere-se à Liga Internacional da Paz, uma associação que tinha por objetivo eliminar da Terra o flagelo da guerra. A Revue fornece os endereços dos locais onde os interessados poderiam aderir à Liga. A nota seguinte anuncia a obra O Espiritismo na Bíblia, ensaio sobre as ideias psicológicas entre os antigos hebreus, de autoria de Henri Stecki, de São Petersburgo. (Pág. 285.)

121. Um artigo assinado por W. Foelkner, de São Petersburgo, analisa o livro Horas de Piedade, escrito por C. Tschokke, distinto escritor suíço e autor de várias obras literárias muito apreciadas na Alemanha. O livro objeto do artigo havia tido desde 1815 mais de quarenta edições e, embora escrito cinquenta e três anos atrás, apresenta ideias nitidamente espíritas sobre vários assuntos, como a reencarnação e o corpo espiritual ou perispírito. Na Revue são transcritas do livro citado a 141a. Meditação – que fala do nascimento e da morte – e a 143a. Meditação – que explica o que ocorre com as pessoas depois da morte corporal. (Págs. 287 a 290.)

122. Eis, de forma resumida, alguns trechos da 143a. Meditação: I – A doutrina da ressurreição dos corpos era uma das mais antigas da religião judaica. Mas eles interpretavam tal ideia de forma errônea imaginando que os corpos materiais já sepultados é que um dia deveriam ressuscitar. II – Paulo corrigiu esse equívoco, que era partilhado também pelos discípulos de Jesus, esclarecendo que, da mesma maneira que há um corpo animal, há também um corpo espiritual e é este que brilha e brilhará sempre. III – Diz-se muitas vezes que o sono é o irmão da morte, e assim o é. O sono é a retirada do Espírito ou alma, o abandono provisório feito por ela das partes mais grosseiras do corpo. A mesma coisa ocorre no momento da morte. IV – No sono, a vida vegetativa, abandonada a si mesma e deixada em repouso pelo Espírito, pode continuar a trabalhar sem entraves na sua restauração, conforme as leis de sua natureza. Eis por que, depois de um sono em estado de saúde, sentimos nosso corpo repousado, com que se alegra o nosso Espírito. V – O sono é o alimento da força vital. O estado de vigília é um consumo de força vital. VI – O sono compõe-se sempre de visões, de desejos e de sentimentos, que se formam de uma maneira independente dos sentidos exteriores do homem, que naquele momento se encontram inativos. É por isso que raramente deixam uma impressão viva e durável na memória. VII – Os sonhos são outras tantas provas da continuação da atividade do Espírito. Um outro estado que nos dá a prova dessa atividade é o estado de sonambulismo. VIII – Como explicar esse fenômeno? Como é que um homem que dorme pode ver e ouvir, mais perfeitamente do que em vigília? A resposta é simples: o corpo não é senão o envoltório da alma e sem ela nada pode experimentar, porque é a alma que sente, vê e ouve o que se passa ao seu redor. IX – Ao perder o corpo material com o fenômeno da morte, é fácil compreender que o Espírito imortal conserva a consciência e o sentimento de sua existência e  – por meio do corpo espiritual de que fala o apóstolo Paulo –   pode continuar a agir. (Págs. 290 a 297.)

123. Um dos correspondentes da Revue em Saigon, na Cochinchina (hoje Vietnã), enviou a Kardec um longo artigo sobre o pensamento de Lao-Tseu, um dos maiores filósofos da Antiguidade, que nasceu no ano 604 a.C., mais ou menos na época em que viveu Pitágoras e dois séculos antes de Sócrates e Platão. De origem humilde, Lao-Tseu não teve outros meios de se instruir senão a reflexão e numerosas viagens. Com a idade de cinquenta anos, escreveu o livro A razão suprema e virtude, obra considerada autêntica pelos historiadores chineses de todas as seitas. (Págs. 297 e 298.)

124. Eis, extraídos do artigo citado, algumas reflexões atribuídas ao grande filósofo: I – A natureza espiritual é a natureza perfeita; dela é que emanou o homem, e é a ela que ele deve voltar, desprendendo-se dos laços materiais do corpo. O aniquilamento de todas as paixões materiais e o afastamento dos prazeres mundanos são meios eficazes de se tornar digno de a ela retornar. II – Todos os seres aparecem na vida e realizam os seus destinos; contemplamos as suas renovações sucessivas. Esses seres materiais se mostram incessantemente com novas formas exteriores. III – Aquele que conhece os homens é instruído; aquele que conhece a si mesmo é verdadeiramente esclarecido. IV – Aquele que subjuga os homens é poderoso; aquele que domina a si mesmo é verdadeiramente forte. V – É preciso esforçar-se para chegar ao último degrau da incorporeidade, a fim de poder conservar a maior imutabilidade possível. VI – O homem virtuoso devemos tratá-lo como um homem virtuoso; o homem vicioso devemos igualmente tratá-lo como um homem virtuoso. Eis a sabedoria e a virtude. VII – Aquele que realiza obras difíceis e meritórias deixa uma lembrança durável na memória dos homens. VIII – Aquele que não dissipa a sua vida é imperecível; aquele que morre e não é esquecido tem uma vida eterna. (Págs. 298 a 300.)

125. Como observa o eminente tradutor da obra de Lao-Tseu, não encontramos na Grécia, antes de Aristóteles, uma série de sorites, isto é, silogismos tão logicamente encadeados. Quanto ao seu conteúdo, é fácil verificar que aí se enfileiram princípios semelhantes aos que servem de base ao Espiritismo, salvo um único ponto de inspiração panteísta em que Lao-Tseu parece identificar a criatura santificada com o Criador. (Págs. 301 e 302.)

126. A Revue noticia o sepultamento em Villèquiers, Seine-Inferieur, da esposa de Victor Hugo, morta em Bruxelas. Impedido de entrar em seu país, Victor Hugo acompanhou o corpo até a fronteira, onde pediu a seu amigo Paul Meurice: “Dizei a minha filha que, esperando, sempre lhe envio sua mãe”. Paul recordou esse pedido ao pronunciar, à beira do túmulo, palavras de adeus à falecida. O recado do grande escritor é comentado por Kardec em nota posta em seguida à notícia, na qual informa que a mulher de Victor Hugo foi sepultada ao lado do túmulo onde haviam sido enterrados 25 anos antes sua filha e seu genro, vítimas de um naufrágio. Ao dizer aquelas palavras, Victor Hugo demonstrava mais uma vez sua convicção imortalista e a certeza de que a filha, falecida em 1943, receberia sua mãe no seu retorno à pátria espiritual. (Págs. 302 a 304.)

127. Evocando as palavras do romancista e amigo, afirmou Allan Kardec: “Quem quer que tenha chegado a isto é espírita; porque, se quiser refletir seriamente, não pode escapar a todas as consequências lógicas do Espiritismo. Os que repelem essa classificação é que, não conhecendo do Espiritismo senão os quadros ridículos da crítica trocista, dele fazem uma ideia falsa. Se se dessem ao trabalho de o estudar, de o analisar, de sondar o seu alcance, ao contrário sentir-se-iam felizes por encontrar nas ideias que constituem a sua felicidade uma sanção capaz de firmar a sua fé”. (Pág. 304.)

128. O jornal Figaro de 5 de abril de 1868 publicou um artigo em que seu autor revelou que o compositor E... acreditava firmemente na doutrina da reencarnação e até mesmo dizia que em séculos anteriores tinha sido escravo na Grécia, depois um histrião e,  mais tarde, um célebre compositor italiano que, invejoso, impedia seus confrades de produzir. “Hoje sou punido por isto”, reconhecia ele; “é a minha vez de ser sacrificado aos outros e me ver barrados os caminhos.” (Págs. 304 e 305.)

129. Tal ideia, observa Kardec, é puro Espiritismo porque, não só é o princípio da pluralidade das existências, mas o da expiação do passado, pela pena de Talião, nas existências sucessivas, segundo a máxima: “A gente é sempre punido por onde pecou”. Essa crença é, portanto, uma causa poderosa e muito natural de moralização. Não há ninguém que não compreenda que se pode já ter vivido, e que, se já se viveu, pode-se reviver ainda. Ora, desde que não é o corpo que pode reviver, essa pensamento é a sanção mais patente da existência da alma, de sua individualidade e de sua imortalidade. (Pág. 305.) (Continua no próximo número.)


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita