A Revue Spirite
de 1868
Allan Kardec
(Parte
10)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1868. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Em que época viveu
Lao-Tseu?
Lao-Tseu, um dos maiores
filósofos da
Antiguidade, nasceu no
ano 604 a.C., mais ou
menos na época em que
viveu Pitágoras e dois
séculos antes de
Sócrates e Platão. De
origem humilde, Lao-Tseu
não teve outros meios de
se instruir senão a
reflexão e numerosas
viagens. Com a idade de
cinquenta anos, escreveu
o livro A razão
suprema e virtude,
obra considerada
autêntica pelos
historiadores chineses
de todas as seitas.
(Revue Spirite de 1868,
pp. 297 e 298.)
B. Que recado formulou
Victor Hugo a propósito
do falecimento de sua
esposa?
Impedido de entrar em
seu país, Victor Hugo
pediu a seu amigo Paul
Meurice: “Dizei a
minha filha que,
esperando, sempre lhe
envio sua mãe”. Paul
recordou esse pedido ao
pronunciar, à beira do
túmulo, palavras de
adeus à falecida. O
recado do grande
escritor é comentado por
Kardec em nota posta em
seguida à notícia, na
qual informa que a
mulher de Victor Hugo
foi sepultada ao lado do
túmulo onde haviam sido
enterrados 25 anos antes
sua filha e seu genro,
vítimas de um naufrágio.
(Obra citada, pág. 302 a
304.)
C. A máxima “A gente é
sempre punido por onde
pecou” pode ser
considerada uma ideia
espírita?
Evidentemente. Essa
ideia, observa Kardec, é
puro Espiritismo porque
não só é o princípio da
pluralidade das
existências, mas
igualmente da expiação
do passado, pela pena de
Talião, nas existências
sucessivas.
(Obra citada, pág. 305.)
Texto para leitura
119. Após transcrever
uma comunicação
mediúnica
publicada no jornal
espírita Le Salut,
de New Orléans, de junho
de 1868, Kardec fez o
seguinte comentário:
“Pode ver-se que as
instruções dadas na
América sobre a caridade
e a fraternidade não
cedem em nada às que são
dadas na Europa”. Esse é
o elo que, segundo o
Codificador, “unirá os
habitantes dos dois
mundos”. (Págs. 283 a
285.)
120. O número de
setembro traz, fechando
a edição, duas notas. A
primeira refere-se à
Liga Internacional da
Paz, uma associação
que tinha por objetivo
eliminar da Terra o
flagelo da guerra. A
Revue fornece os
endereços dos locais
onde os interessados
poderiam aderir à Liga.
A nota seguinte anuncia
a obra O Espiritismo
na Bíblia, ensaio
sobre as ideias
psicológicas entre os
antigos hebreus, de
autoria de Henri Stecki,
de São Petersburgo.
(Pág. 285.)
121. Um artigo assinado
por W. Foelkner, de São
Petersburgo, analisa o
livro Horas de
Piedade, escrito por
C. Tschokke, distinto
escritor suíço e autor
de várias obras
literárias muito
apreciadas na Alemanha.
O livro objeto do artigo
havia tido desde 1815
mais de quarenta edições
e, embora escrito
cinquenta e três anos
atrás, apresenta ideias
nitidamente espíritas
sobre vários assuntos,
como a reencarnação e o
corpo espiritual ou
perispírito. Na Revue
são transcritas do
livro citado a 141a.
Meditação – que fala do
nascimento e da morte –
e a 143a.
Meditação – que explica
o que ocorre com as
pessoas depois da morte
corporal. (Págs. 287
a 290.)
122. Eis, de forma
resumida, alguns trechos
da 143a.
Meditação: I – A
doutrina da ressurreição
dos corpos era uma das
mais antigas da religião
judaica. Mas eles
interpretavam tal ideia
de forma errônea
imaginando que os corpos
materiais já sepultados
é que um dia deveriam
ressuscitar. II – Paulo
corrigiu esse equívoco,
que era partilhado
também pelos discípulos
de Jesus, esclarecendo
que, da mesma maneira
que há um corpo animal,
há também um corpo
espiritual e é este que
brilha e brilhará
sempre. III – Diz-se
muitas vezes que o sono
é o irmão da morte, e
assim o é. O sono é a
retirada do Espírito ou
alma, o abandono
provisório feito por ela
das partes mais
grosseiras do corpo. A
mesma coisa ocorre no
momento da morte. IV –
No sono, a vida
vegetativa, abandonada a
si mesma e deixada em
repouso pelo Espírito,
pode continuar a
trabalhar sem entraves
na sua restauração,
conforme as leis de sua
natureza. Eis por que,
depois de um sono em
estado de saúde,
sentimos nosso corpo
repousado, com que se
alegra o nosso Espírito.
V – O sono é o alimento
da força vital. O estado
de vigília é um consumo
de força vital. VI – O
sono compõe-se sempre de
visões, de desejos e de
sentimentos, que se
formam de uma maneira
independente dos
sentidos exteriores do
homem, que naquele
momento se encontram
inativos. É por isso que
raramente deixam uma
impressão viva e durável
na memória. VII – Os
sonhos são outras tantas
provas da continuação da
atividade do Espírito.
Um outro estado que nos
dá a prova dessa
atividade é o estado de
sonambulismo. VIII –
Como explicar esse
fenômeno? Como é que um
homem que dorme pode ver
e ouvir, mais
perfeitamente do que em
vigília? A resposta é
simples: o corpo não é
senão o envoltório da
alma e sem ela nada pode
experimentar, porque é a
alma que sente, vê e
ouve o que se passa ao
seu redor. IX – Ao
perder o corpo material
com o fenômeno da morte,
é fácil compreender que
o Espírito imortal
conserva a consciência e
o sentimento de sua
existência e – por meio
do corpo espiritual de
que fala o apóstolo
Paulo – pode continuar
a agir. (Págs. 290 a
297.)
123. Um dos
correspondentes da
Revue em Saigon, na
Cochinchina (hoje
Vietnã), enviou a Kardec
um longo artigo sobre o
pensamento de Lao-Tseu,
um dos maiores filósofos
da Antiguidade, que
nasceu no ano 604 a.C.,
mais ou menos na época
em que viveu Pitágoras e
dois séculos antes de
Sócrates e Platão. De
origem humilde, Lao-Tseu
não teve outros meios de
se instruir senão a
reflexão e numerosas
viagens. Com a idade de
cinquenta anos, escreveu
o livro A razão
suprema e virtude,
obra considerada
autêntica pelos
historiadores chineses
de todas as seitas.
(Págs. 297 e 298.)
124. Eis, extraídos do
artigo citado, algumas
reflexões atribuídas ao
grande filósofo: I – A
natureza espiritual é a
natureza perfeita; dela
é que emanou o homem, e
é a ela que ele deve
voltar, desprendendo-se
dos laços materiais do
corpo. O aniquilamento
de todas as paixões
materiais e o
afastamento dos prazeres
mundanos são meios
eficazes de se tornar
digno de a ela retornar.
II – Todos os seres
aparecem na vida e
realizam os seus
destinos; contemplamos
as suas renovações
sucessivas. Esses seres
materiais se mostram
incessantemente com
novas formas exteriores.
III – Aquele que conhece
os homens é instruído;
aquele que conhece a si
mesmo é verdadeiramente
esclarecido. IV – Aquele
que subjuga os homens é
poderoso; aquele que
domina a si mesmo é
verdadeiramente forte. V
– É preciso esforçar-se
para chegar ao último
degrau da
incorporeidade, a fim de
poder conservar a maior
imutabilidade possível.
VI – O homem virtuoso
devemos tratá-lo como um
homem virtuoso; o homem
vicioso devemos
igualmente tratá-lo como
um homem virtuoso. Eis a
sabedoria e a virtude.
VII – Aquele que realiza
obras difíceis e
meritórias deixa uma
lembrança durável na
memória dos homens. VIII
– Aquele que não dissipa
a sua vida é
imperecível; aquele que
morre e não é esquecido
tem uma vida eterna.
(Págs. 298 a 300.)
125. Como observa o
eminente tradutor da
obra de Lao-Tseu, não
encontramos na Grécia,
antes de Aristóteles,
uma série de sorites,
isto é, silogismos tão
logicamente encadeados.
Quanto ao seu conteúdo,
é fácil verificar que aí
se enfileiram princípios
semelhantes aos que
servem de base ao
Espiritismo, salvo um
único ponto de
inspiração panteísta em
que Lao-Tseu parece
identificar a criatura
santificada com o
Criador. (Págs. 301 e
302.)
126. A Revue
noticia o sepultamento
em Villèquiers,
Seine-Inferieur, da
esposa de Victor Hugo,
morta em Bruxelas.
Impedido de entrar em
seu país, Victor Hugo
acompanhou o corpo até a
fronteira, onde pediu a
seu amigo Paul Meurice:
“Dizei a minha filha
que, esperando, sempre
lhe envio sua mãe”.
Paul recordou esse
pedido ao pronunciar, à
beira do túmulo,
palavras de adeus à
falecida. O recado do
grande escritor é
comentado por Kardec em
nota posta em seguida à
notícia, na qual informa
que a mulher de Victor
Hugo foi sepultada ao
lado do túmulo onde
haviam sido enterrados
25 anos antes sua filha
e seu genro, vítimas de
um naufrágio. Ao dizer
aquelas palavras, Victor
Hugo demonstrava mais
uma vez sua convicção
imortalista e a certeza
de que a filha, falecida
em 1943, receberia sua
mãe no seu retorno à
pátria espiritual.
(Págs. 302 a 304.)
127. Evocando as
palavras do romancista e
amigo, afirmou Allan
Kardec: “Quem quer que
tenha chegado a isto é
espírita; porque, se
quiser refletir
seriamente, não pode
escapar a todas as
consequências lógicas do
Espiritismo. Os que
repelem essa
classificação é que, não
conhecendo do
Espiritismo senão os
quadros ridículos da
crítica trocista, dele
fazem uma ideia falsa.
Se se dessem ao trabalho
de o estudar, de o
analisar, de sondar o
seu alcance, ao
contrário sentir-se-iam
felizes por encontrar
nas ideias que
constituem a sua
felicidade uma sanção
capaz de firmar a sua
fé”. (Pág. 304.)
128. O jornal Figaro
de 5 de abril de
1868 publicou um artigo
em que seu autor revelou
que o compositor E...
acreditava firmemente na
doutrina da reencarnação
e até mesmo dizia que em
séculos anteriores tinha
sido escravo na Grécia,
depois um histrião e,
mais tarde, um célebre
compositor italiano que,
invejoso, impedia seus
confrades de produzir.
“Hoje sou punido por
isto”, reconhecia ele;
“é a minha vez de ser
sacrificado aos outros e
me ver barrados os
caminhos.” (Págs. 304
e 305.)
129. Tal ideia, observa
Kardec, é puro
Espiritismo porque, não
só é o princípio da
pluralidade das
existências, mas o da
expiação do passado,
pela pena de Talião, nas
existências sucessivas,
segundo a máxima: “A
gente é sempre punido
por onde pecou”. Essa
crença é, portanto, uma
causa poderosa e muito
natural de moralização.
Não há ninguém que não
compreenda que se pode
já ter vivido, e que, se
já se viveu, pode-se
reviver ainda. Ora,
desde que não é o corpo
que pode reviver, essa
pensamento é a sanção
mais patente da
existência da alma, de
sua individualidade e de
sua imortalidade.
(Pág. 305.)
(Continua no próximo
número.)