GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
O demônio e a
reencarnação
“Nem
todos
os
que
me dizem: Senhor!
Senhor! entrarão no reino
dos céus,
mas
somente
aqueles que
fazem a
vontade
de
meu
Pai que
está
nos
céus.
Escutai essa
palavra
do
Mestre,
todos vós
que repelis a
Doutrina
Espírita como obra
do
demônio.
Abri os
ouvidos,
que é chegado
o
momento
de
ouvir.”
Simeão – O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
Cap. 28, it. 16.
“Outrora,
sacrificavam-se
vítimas
sangrentas
para
aplacar
os deuses
infernais,
que
não
eram
senão
os maus
Espíritos.
Aos
deuses
infernais
sucederam os
demônios,
que são
a
mesma
coisa.
O
Espiritismo
demonstra que
esses
demônios
mais não
são do que
as
almas
dos
homens
perversos (...).”
- O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
Cap. 12,
item
6.
– O
demônio
é
nosso
irmão.
–
Como? O senhor
está zombando?
–
Dentre as
divergências
fundamentais
que
vemos
entre
a
Doutrina
Espírita e as Igrejas
evangélicas, nas
suas
variadas
denominações,
destacam-se
duas:
não
cremos na
existência
do
demônio,
como
ser maligno
e
poderoso,
destinado ao
sofrimento
eterno;
por outro
lado, cremos na reencarnação. Estamos
em
desacordo na
crença
e na
descrença,
nesses
dois
particulares.
Não
compreendemos,
também,
por
que tanta
divisão
entre
evangélicos,
quando “haverá
um
rebanho e um
pastor”. (João
10:16.)
*
Eis, acima, o
diálogo
que
desenvolvíamos
com
o “irmão”,
pois assim
chamávamos
carinhosamente
o
pedreiro
que nos
auxiliava na
construção
do
muro
do
Centro
Espírita,
num
bairro
de Goiânia.
Por
sua crença,
até que
era liberal,
não só
dialogando,
mas
levantando
paredes
numa
casa
que,
para muitos
evangélicos, é do “demônio”.
Explicávamos a
ele
que
a
palavra
demônio, para
os
antigos,
designava
espírito,
bom ou
mau*.
Não concebemos
Deus,
que
é
Amor,
a
destinar
qualquer
criatura
ao sofrimento
eterno.
E
mais:
é
pela
reencarnação
que
Ele transforma, ao
longo
de
milênios,
Espíritos
endurecidos no
erro,
na
crueldade,
na
ignorância,
em
puros Espíritos,
ou anjos,
querubins,
serafins,
quaisquer
que
sejam as
denominações
que se lhes
deem.
São
criaturas
que necessitam,
como
nós, ser
evangelizadas,
amparadas,
para
que
se regenerem e
se transformem.
São,
pois,
nossos irmãos.
Não merecem
agressões,
nem serem “expulsos”.
Precisam, isso
sim, de ajuda,
de
esclarecimentos.
Ele,
educadamente,
ouvia
sem
contestar,
buscando
refletir,
tentando,
quem
sabe,
compreender
o
raciocínio,
para nós
tão
simples, tão
lógico e
conforme
à
misericórdia
do
Pai,
todo Amor
e
Bondade.
Antes do
almoço,
naqueles
mutirões
tão gratos
ao
nosso
coração,
líamos esta
ou
aquela
mensagem,
com breves
comentários, seguidos da
prece
feita por
um
dos
presentes,
até
mesmo pelo “irmão”,
que atendia ao
nosso
apelo, orando,
fervoroso,
naquele
estilo
característico
do
crente
sincero,
num
revezamento
ecumênico
e
salutar.
Finda a
refeição,
seguiam-se as
conversas,
as
histórias;
breve
descanso, e o
retorno
ao
trabalho.
Numa dessas
ocasiões,
o
próprio
“irmão”
nos
ofereceu
argumento
para
apoiar e comprovar o
raciocínio
acima descrito,
quanto
ao
demônio
e à
reencarnação.
Narrou-nos
que há poucos
dias ouvira
comovente
testemunho
de
um
irmão,
em sua
igreja:
Era
ele um
bandido, assaltante de
bancos.
Num deles,
enquanto
outros
companheiros de
quadrilha
entravam na
parte
interna
da
agência
bancária,
ficou
ele,
com
outro comparsa,
diante dos
caixas
e de
alguns
clientes,
de
armas
em
punho, ameaçadoramente.
Do
caixa, uma jovem
graciosa dirigiu-lhe o
olhar
e aquela
bela
frase
que nossos
irmãos
evangélicos
apregoam: “Jesus
te ama!”
Breve
e
eficiente
prece, a doutrinar
o
encarnado
e os
desencarnados
presentes!
Bem podemos
imaginar
a
sinceridade
de
sua
alma
crente, pulcra,
naquele
momento
que
para tantos
era de pânico,
mas que,
para ela,
era
do
exercício
da
fé,
da
confiança
no Mestre.
O
bandido foi “tocado” por
aquela
expressão
e
pela
mediunidade da
irmãzinha –
naquele
instante
instrumento do
amor
de Deus –,
para
renovar e
redirecionar
sua
vida
aparentemente
perdida.
Quanto
magnetismo,
quanta
compaixão,
em seu
olhar, em
sua
voz, naquele
breve
instante!
Ao ouvi-la,
sentiu
que
lhe
faltavam
forças
até
para segurar a
arma.
Tremia e suava.
Ao
final,
concluído o
assalto,
os
colegas,
após
gritar-lhe
inutilmente
que
os acompanhasse,
percebendo
que
algo
de
anormal
lhe
ocorrera,
puxaram-no
pelo
braço,
conduzindo-o
qual
enfermo,
alheio aos
perigos
que corria.
A
partir daí, mudou de cidade
e mudou
sua
vida:
abraçou a
fé.
Era
agora um
irmão em
Cristo.
–
Eis aí
um “demônio”
que se vai transformando
pouco
a
pouco,
evangelizando-se.
É
nosso
irmão. Um
dia, após
muitas
reencarnações,
será
puro
Espírito,
será
anjo.
A
verdade
o libertará,
como
a
nós
outros – dissemos.
Porque
uma
encarnação,
por
mais longa,
é
curta
para
tanto
aprendizado
e,
porque
somos
endurecidos na
ignorância
e nas
convicções
que
alimentamos,
são
necessárias
múltiplas
vindas
aos
planos
materiais,
sob a roupagem
de variados
corpos.
É o
mesmo
Espírito, “viajando”
por
muitos
corpos.
Vivemos uma
só
vez, sim;
pois que a
vida
do
Espírito
é
contínua,
quer na
condição
de
encarnado,
quer
na de
Espírito
fora
da
matéria,
ou
errante. Jesus é o
mesmo,
antes e após
o
Calvário.
Assim
é
para
qualquer
Espírito. A Lei é a mesma para todos.
Mais uma vez o
“irmão” ouviu
sem nos
contestar.
Também, não
havia como
fazê-lo!
* Demônio:
Demônio s.m.
Para os
antigos,
divindade, gênio
bom ou
mau que
presidia os
destinos
de
cada
homem, cidade
ou Estado.
/Para
os
modernos
e os
cristãos,
anjo
caído, diabo,
espírito
maligno,
gênio do mal.
(cf. Pequeno
Dicionário
Enciclopédico
Koogan Larousse,
Editoria
de Antônio
Houaiss.)