HUGO ALVARENGA NOVAES
hugo.an@uol.com.br
Santa Rita do Sapucaí, MG (Brasil)
Um
grande abismo
“E além disso, entre
nós e vós
está
posto
um
grande abismo...”
- (Lucas 16:26.)
Na
parábola
do
rico e
Lázaro
(Lucas 16,19-31), vemos
que não é apenas a diferença econômica
que separa os dois
personagens bíblicos. A nosso ver, tanto a riqueza quanto a pobreza,
que são
mencionadas
por
Jesus, podem ser entendidas igual
e
preferencialmente,
pelo
aspecto moral,
ao
material,
o
qual, na
maioria
das
vezes, é
compreendido. Essa
diferença
de entendimentos entre
duas
ou
mais
pessoas,
em
relação
a
um
determinado
fato ou
coisa, é confirmada na sexta
parte
introdutória
de “O
Livro dos
Espíritos”,
onde lemos que
estes pertencem a diversas categorias e não
são iguais,
nem em
poder, inteligência, saber ou moralidade.
Achamos que o homem
verdadeiramente
rico, é
aquele
que pode dizer-se
homem
de bem.
“O
Evangelho
Segundo o
Espiritismo”
no
capítulo
17, no
item
3, descreve
muito
bem
esse homem.
Vejamos
isso a
seguir:
“O
homem
de bem
O
verdadeiro
homem de bem
é o
que
cumpre a
lei
de
justiça,
de
amor
e de
caridade,
na
sua
maior pureza.
Se
ele
interroga a
consciência
sobre seus
próprios atos,
a
si
mesmo
perguntará se violou
essa
lei, se não praticou o mal,
se fez
todo o
bem
que podia, se desprezou voluntariamente
alguma
ocasião
de ser
útil, se ninguém
tem
qualquer
queixa
dele;
enfim, se
fez a outrem tudo o que desejara lhe
fizessem.
Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua
justiça e na Sua
sabedoria. Sabe
que
sem a Sua
permissão nada
acontece e se
Lhe
submete à vontade em
todas as
coisas.
Tem
fé
no
futuro,
razão
por que
coloca os
bens
espirituais
acima dos bens
temporais.
Sabe
que
todas as
vicissitudes
da vida, todas as dores,
todas as
decepções
são
provas ou
expiações e as aceita sem murmurar.
Possuído do sentimento de caridade
e de
amor ao
próximo, faz o
bem
pelo bem, sem esperar paga alguma;
retribui o
mal
com
o bem,
toma a
defesa do fraco
contra o forte,
e sacrifica
sempre
seus
interesses à
justiça.
Encontra
satisfação
nos benefícios
que espalha, nos
serviços que
presta, no
fazer
ditosos
os
outros,
nas
lágrimas
que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos.
Seu primeiro impulso é para
pensar
nos outros,
antes de pensar
em si,
é para
cuidar dos interesses dos outros
antes do seu
próprio interesse.
O egoísta, ao
contrário,
calcula os proventos e as perdas
decorrentes de
toda
ação
generosa.
O
homem
de bem
é
bom,
humano e benevolente
para
com todos,
sem distinção
de
raças,
nem
de
crenças,
porque
em todos
os
homens
vê
irmãos seus.
Respeita nos outros
todas as
convicções
sinceras e não lança anátema aos que
como ele
não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma
por guia
a
caridade,
tendo
como
certo que
aquele que
prejudica a
outrem
com
palavras malévolas,
que
fere
com o
seu
orgulho e o seu
desprezo a suscetibilidade
de
alguém,
que
não recua à ideia de
causar
um sofrimento, uma
contrariedade,
ainda que
ligeira, quando
a pode
evitar,
falta
ao
dever de
amar o próximo e não merece a
clemência
do
Senhor.
Não
alimenta
ódio, nem
rancor, nem
desejo de vingança;
a
exemplo
de Jesus, perdoa e
esquece as ofensas e só
dos
benefícios
se lembra, por saber que perdoado lhe
será
conforme
houver perdoado.
É
indulgente
para as fraquezas
alheias,
porque
sabe que também
necessita de
indulgência
e tem presente esta sentença
do
Cristo:
‘Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado’.
Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios,
nem, ainda,
em
evidenciá-los. Se a
isso
se
vê
obrigado,
procura sempre
o bem
que
possa
atenuar o
mal.
Estuda suas próprias imperfeições
e
trabalha
incessantemente
em combatê-las. Todos
os
esforços
emprega
para poder
dizer, no
dia
seguinte,
que alguma coisa
traz
em
si
de
melhor do
que
na
véspera.
Não
procura
dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas
de
outrem;
aproveita, ao
revés, todas as
ocasiões
para
fazer ressaltar o que seja proveitoso
aos
outros.
Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais,
por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.
Usa,
mas
não abusa
dos
bens
que
lhe são
concedidos,
porque
sabe que é um depósito de que
terá de
prestar
contas
e
que o
mais
prejudicial
emprego
que lhe
pode
dar é o de
aplicá-lo à
satisfação
de
suas
paixões.
Se a
ordem
social colocou
sob
o
seu
mando
outros homens,
trata-os
com
bondade
e
benevolência,
porque
são seus
iguais perante
Deus; usa
da
sua
autoridade
para lhes levantar o moral e não para os
esmagar
com o seu
orgulho. Evita
tudo
quanto lhes
possa
tornar
mais
penosa a posição
subalterna em
que se encontram.
O
subordinado,
de
sua
parte,
compreende os
deveres
da posição que
ocupa e se
empenha
em
cumpri-los
conscienciosamente.
(Cap. XVII, nº 9.)
Finalmente, o homem de bem respeita todos
os
direitos
que
aos
seus
semelhantes
dão as
leis da
Natureza,
como quer
que sejam respeitados os seus.
Não ficam assim enumeradas todas as
qualidades
que distinguem o
homem
de bem;
mas, aquele que se
esforce
por
possuir
as
que
acabamos de
mencionar, no
caminho
se
acha
que a todas as
demais
conduz.” (KARDEC, 1996,
pp. 272-274).
Visto
tudo isso,
não temos dúvidas
em afirmar que
existe
um
precipício
interpretativo
entre
os que, no
Evangelho,
praticam uma fé raciocinada e aqueles
que têm olhos
unicamente
para a
letra.
Referência
bibliográfica:
KARDEC, A. O
Evangelho
segundo
o
Espiritismo.
Rio de Janeiro:
FEB, 1996.