Carma
Antonio Félix de Bulhões
Jardim
E estou preso à memória
− horrendo pelourinho...
É o passado a bramir...
Emoções e lugares...
Ódio, aflição, amor...
Insano torvelinho...
Casam-se riso e pranto
em sonhos e avatares.
O tempo − velho tempo −,
o lúgubre adivinho,
Revolve-me no ser as
ânsias e os pesares...
Acusa-me feroz e
fere-me, escarninho,
Atando-me aos grilhões
de angústias invulgares.
Se guardo além da morte
a máscara serena,
Trago no coração a dor
que me condena,
Ante a sombra que fui,
tangendo a vida a esmo.
A consciência exuma as
transgressões remotas
E o clarim do dever
repete em largas notas:
− Ninguém foge do mal
que plantou por si
mesmo.
Antonio Félix de Bulhões
Jardim nasceu em Goiás
(GO) em 28 de agosto de
1845 e faleceu na mesma
cidade goiana em 29 de
março de 1887. O poeta e
jornalista foi também
magistrado no Estado de
Goiás. O soneto acima
integra o livro
Antologia dos Imortais,
obra psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.
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