Vilões e heróis
Ah, os vilões das
telenovelas! Já nos
primeiros capítulos
mostram toda sua
maldade. Depois, por
meses, vão aprontando
das suas! Revoltados,
torcemos contra eles o
tempo todo. Mas, só no
final, lá pelo penúltimo
capítulo, eles são
desmascarados. O pior é
que nem sempre o bem
vence o mal. Numa
novela, a psicopata,
depois de descoberta,
condenada e presa,
suborna o carcereiro e
foge jogando um sorriso
maroto ao telespectador.
Noutra, a vilã aparece,
nas cenas finais do
último capítulo, em uma
ilha do Caribe, a cuidar
de um milionário que, a
gente sabe muito bem,
vai ser envenenado por
ela que ficará com sua
fortuna.
Uma pessoa querida
lamentava esses finais,
dizendo: “A televisão
está estimulando a
impunidade”. “Talvez não
seja bem assim”,
disse-lhe eu. Um jeito
de mudar as coisas é
mostrar o que há de
errado. Noticiar ou
criar estórias com
finais injustos ajuda a
despertar consciências
contra as injustiças que
nos cercam. Quanto mais
desenvolvemos nossa
capacidade de indignação
contra o mal, mais
animados nos sentimos
para combatê-lo.
O importante é que não
existe impunidade no
grande cenário regido
pelas leis cósmicas.
Quem pratica o mal atrai
para si o sofrimento que
pensou impor aos outros.
A vida de cada um também
é uma novela de muitos
capítulos e diferentes
cenários. Quem julga que
o episódio derradeiro é
a morte está longe de
entender todo o enredo.
No grande espetáculo
chamado vida, entre
cenas trágicas e
cômicas, o amor é sempre
o argumento principal, e
a justiça, a trilha que
leva a um final
invariavelmente
feliz. Vilões são
personagens temporários
do show da vida. O erro
e a dor também são
caminhos para a virtude
que hoje parece
pertencer exclusivamente
aos heróis.