CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Carne aval - uma
visão espírita
"... A
palavra
"carnaval" está,
desse modo,
relacionada com
a ideia de
deleite dos
prazeres da
carne marcado
pela expressão "carnis
valles", que
acabou por
formar a palavra
"carnaval",
sendo que "carnis"
do grego
significa carne
e "valles"
significa
prazeres..." -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carnaval.
Carnaval
- A festa e a
palavra que a
intitula também
constam
relacionadas às
Saturnálias
romanas da
antiguidade,
festejos
caracterizados
por grande
liberalidade e
afrouxamento dos
costumes morais,
e também às
celebrações que
antecedem a
quaresma
católica.
Fato é que, com
características
diversificadas
de país para
país, o Carnaval
constitui
período durante
o qual os
foliões se
entregam sem
freios a toda
uma larga
azáfama de
excessos que, já
de há tempos se
sobrepondo de
muito aos
antigos festejos
inocentes dos
fantasiados com
confetes e
serpentinas,
deságuam em
inumeráveis
casos
deprimentes de
consequências
infelizes,
vitimizando
incontáveis
seres.
Indivíduos estes
que,
desavisados, se
abandonam a
práticas
responsáveis,
antes, por todo
um cortejo de
fatos
lastimáveis, do
que propriamente
por divertimento
sadio e isento
de sequelas
ruins.
Lembro-me do
último baile de
carnaval que
frequentei, em
matinê. Já
naqueles idos
dos anos
setenta, os
bailes nos
clubes - a
exemplo do que
buscam resgatar
agora, após
amplo período de
franca
decadência -
aconteciam em
horários
noturnos
voltados aos
adultos, e, nos
diuturnos,
durante a tarde,
nos quais iam
crianças ou
adolescentes.
Todos
fantasiados,
eram muitas
vezes divertidos
- enquanto se
resumiam a
bailes
realizados
assim, nestes
moldes
inofensivos.
No entanto, foi
bem num destes
que meu pai nos
acompanhou, a
mim e a uma
jovem amiga,
filha de
vizinhos nossos,
no Clube
América, situado
na zona norte do
Rio de Janeiro,
quando contava
por volta dos
meus quatorze
anos – para, no
final, a ocasião
se reverter num
basta definitivo
a qualquer
vontade de minha
parte de
retornar a algum
destes eventos!
Nunca vou me
esquecer da cena
espantosa,
deprimente,
depois de algum
tempo em que
brincamos no
salão do grande
clube tijucano
sem maiores
incidentes.
Pois, em dado
momento, tivemos
que sair
precipitadamente,
antes do
previsto -
praticamente
fugidos! -
devido a uma
briga que
rebentou de
supetão entre
aparentes grupos
de fantasiados
rivais que,
infiltrados no
evento,
completamente
embriagados,
aparentavam,
antes de
foliões,
componentes
brutais de
gangues, cujo
confronto fez
com que voassem
cadeiras e
garrafas que se
espatifavam para
todo lado do
clube!
Esta, pois, foi
a última vez em
que pus os pés
num baile!
Recordo, também,
de outra
ocasião, embora
esta não se
tratasse do
carnaval - mas
que bem serve
para justificar
a minha
progressiva
aversão por tais
situações de
tumulto, à
medida que, com
o decorrer dos
anos, fora me
sintonizando com
uma faixa de
preferências de
lazer mais
saneadas, do
ponto de vista
espiritual e
existencial.
Nesta, fora
conduzida pelo
meu então noivo,
atual marido, há
cerca de treze
anos atrás, a
conhecida
danceteria da
cidade paulista
de Taubaté, no
intuito
bem-intencionado
da parte dele de
nos divertimos
um pouco nos
dias em que ele
promovera comigo
um tour pelas
belas cidades
que margeiam, em
toda a sua
extensão, o Vale
do Paraíba.
Lembro-me de que
entramos. Era
uma casa enorme,
de ambientes
diferentes
localizados em
dois andares.
Uma sarabanda de
luzes
rodopiantes em
penumbra baça,
um tumulto
ensurdecedor,
dentre a
população
alvoroçada de
jovens que se
acotovelavam ou
dançavam,
comprimidos, em
grande
algazarra, em
todo o espaço do
andar térreo, a
música
estrondeando em
último volume na
aparelhagem de
som gigantesca.
Não demorou
quinze minutos,
e, em meio
àquela azáfama
desnorteadora,
passei mal.
A música em
volume
desesperador
doía-me
fisicamente, de
maneira literal,
atingindo-me os
ossos! Comecei a
sentir náuseas;
suava frio! E,
não aguentando,
houve meu noivo
que me arredar
rápido dali para
o ambiente mais
calmo do segundo
andar, uma
espécie de
restaurante com
música ao vivo,
mas em volume
racional, soando
em sessões de
karaokês.
Amigos;
situações tais
como esta, bem
como a que se
apresenta na
época do
carnaval, põe em
xeque nada menos
do que o uso de
nosso
livre-arbítrio,
exercido sempre
com base nas
nossas
compatibilidades.
Muita vez, os
que se entregam
aos festejos não
necessariamente
o fazem
intentando
incorrer em
excessos.
Todavia, há que
se precaver para
a realidade de
que o universo
das energias age
e se sobrepõe,
poderoso,
instantâneo e à
nossa revelia,
na medida da
invigilância de
nossas
sintonias. O
padrão
agressivo,
denso,
obsidiador das
energias
características
da data, a que
muitos se
expõem, sem que
se deem conta,
os arrasta a
iniciativas
inconscientes,
frutos de
irreflexão! E
esta irreflexão
flui fácil, ao
ritmo atordoador
do samba enredo,
ou nos eflúvios
entorpecedores
do uso
indiscriminado
de drogas ou da
bebida
alcoólica!
Inevitável que
mesmo almas
porventura mais
robustas, em
instantes de
desatenção, não
experimentem o
risco do seu
quinhão de
revés, na
intenção talvez
ingênua de
usufruir, nem
que
moderadamente,
de algo do
cardápio
grandemente
sedutor presente
nos eventos
característicos
desta data de
grande afluxo
turístico e
gigantesco
investimento
midiático nos
tempos que
correm.
Notícias nos
chegam. Há
pouco, e antes
mesmo da chegada
do Carnaval
deste ano,
muitos morreram
na descarga
elétrica
desencadeada por
acidente sobre o
trio elétrico
mineiro; no Rio
de Janeiro, por
sua vez, cai de
sobre outro trio
elétrico uma
foliã
desprevenida,
morrendo de
forma
lastimável, após
uma queda de
quatro metros de
altura.
Ao final dos
dias de tumulto
psicodélico
regado a
fantasias e
alegorias que
retratam
curiosamente, a
cada ano,
figuras
monstruosas do
imaginário
humano, como
bruxas e
dragões, a
contagem ingrata
das baixas nas
estradas, seja
por excesso de
velocidade, ou
nos inesgotáveis
casos de
embriaguez.
O termo Carnaval
também pode ser
lido de outro
modo: Carne
Aval - o
aval à carne, a
toda a pujança
que as atrações
mais pesadas da
festa da
materialidade
nos
proporcionam.
Todavia, e como
em tudo o que a
vida nos oferece
ao
discernimento,
há que se
atentar ao uso
do bom senso.
Se você, leitora
ou leitor amigo,
já conta entre
aqueles que se
reconhecem com o
perfil
espiritual
depurado, em
decorrência de
reconhecer a
felicidade
noutras fontes
de prazer e de
alegria mais
quintessenciadas,
mais
distanciadas do
que prevalece
nos padrões
grosseiros da
hora que passa,
vale questionar
de si mais de
uma vez, a fim
de não se
confundir um
momentâneo aval
aos alaridos
atordoadores da
festa da carne
com uma deixa, e
isto, sim, à
encarniçada
invasão de
forças
obsidiadoras ao
seu perfil
espiritual já
sutilizado
frente ao
supremo
desgoverno moral
vigente hoje em
dia.
Porque, sem
nenhuma dúvida,
e dada a carga
maciça de
influências
obsessoras do
astral umbralino
presentes nos
festejos destas
datas, o que a
seres que vibram
noutra dimensão
incorpórea e
diapasão
material talvez
não cause
alteração digna
de nota, nos
mais sensíveis
desencadeará, ao
fim de tudo,
mais do que a
esperada ressaca
passageira,
talvez que
lesões de ordem
espiritual,
física e cármica
difíceis de se
extirpar.
Um feriado de
harmonia e paz a
todos!
(*)
(*)
Este artigo foi
escrito antes do
carnaval de
março deste ano.