MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Ação e Reação
André Luiz
(Parte
1)
Iniciamos nesta edição o
estudo da obra
Ação e Reação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1957 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Como Emmanuel define
o inferno?
Segundo ele, o inferno
exterior nada mais é que
o reflexo de nós mesmos,
quando, pelo
relaxamento e pela
crueldade, nos
entregamos à prática de
ações deprimentes. O
Espiritismo revela-nos
que a criatura não se
encontra subordinada
simplesmente ao critério
dos penalogistas do
mundo, pois, quanto mais
esclarecida, tanto mais
responsável e entregue
aos arestos da própria
consciência, na Terra
ou fora dela, toda vez
que se envolve nos
espinheiros da culpa.
(Ação e Reação, prefácio
de Emmanuel, pp. 9 a
11.)
B. Como André Luiz
descreve a Mansão Paz?
Localizada nas regiões
inferiores, a Mansão Paz
é uma espécie de
mosteiro São Bernardo,
com a diferença de que,
em lugar da neve,
circunda-a uma sombra
espessa. Vinculada à
colônia "Nosso Lar", ela
fora fundada havia mais
de três séculos e se
dedica a receber
Espíritos infelizes ou
enfermos, decididos a
trabalhar pela própria
regeneração, elevando-se
uns a colônias de
aprimoramento na Vida
Superior, e retornando
outros à esfera dos
homens para a
reencarnação
retificadora.
(Obra citada, cap. 1,
pp. 13 e 14.)
C. Como ressarcir os
débitos da consciência?
Não basta a romagem de
purgação do Espírito
depois da morte, nos
lugares de treva e
padecimento, para que os
débitos da consciência
sejam ressarcidos. O
desespero vale por
demência a que as almas
se atiram nas explosões
de incontinência e
revolta, mas não serve
como pagamento nos
tribunais divinos. Druso
explicou: "Cessada a
febre de loucura e
rebelião, o Espírito
culpado volve ao remorso
e à penitência.
Acalma-se como a terra
que torna à serenidade e
à paciência, depois de
insultada pelo
terremoto, não obstante
amarfanhada e ferida.
Então, como o solo que
regressa ao serviço da
plantação proveitosa,
submete-se de novo à
sementeira renovadora
dos seus destinos".
(Obra citada, cap. 1,
pp. 16 a 18.)
Texto para leitura
1. Justiça
Divina - Emmanuel
nos diz que este livro
desvela uma nesga das
regiões inferiores a que
se projeta a consciência
culpada, além do corpo
físico, mostrando a
importância da
existência carnal, como
verdadeiro favor da
Divina Misericórdia, a
fim de que nos
adaptemos ao mecanismo
da Justiça Indefectível.
Asseverando que o
inferno exterior nada
mais é que o reflexo de
nós mesmos, quando, pelo
relaxamento e pela
crueldade, nos
entregamos à prática de
ações deprimentes,
Emmanuel observa que,
segundo o eminente
criminalista Von Liszt,
o Estado, em sua
expressão de organismo
superior, não prescinde
da pena, a fim de
sustentar a ordem
jurídica. "A necessidade
da conservação do
próprio Estado justifica
a pena", assevera Von
Liszt. André Luiz
faz-nos sentir, contudo,
que o Espiritismo revela
uma concepção de justiça
ainda mais ampla. A
criatura não se encontra
subordinada
simplesmente ao critério
dos penalogistas do
mundo: quanto mais
esclarecida, tanto mais
responsável e entregue
aos arestos da própria
consciência, na Terra
ou fora dela, toda vez
que se envolve nos
espinheiros da culpa.
André mostra, assim, que
os princípios
codificados por Allan
Kardec abrem uma nova
era para o Espírito
humano, compelindo-o à
auscultação de si mesmo,
no reajuste dos caminhos
traçados por Jesus ao
verdadeiro progresso da
alma, e explica que o
Espiritismo, por isso
mesmo, é o disciplinador
de nossa liberdade, não
apenas para que
tenhamos na Terra uma
vida social
dignificante, mas
também para que
mantenhamos, no campo do
espírito, uma vida
individual harmoniosa,
devidamente ajustada
aos impositivos da Vida
Universal Perfeita. Em
síntese, ele
demonstra-nos que as
nossas possibilidades de
hoje nos vinculam às
sombras de ontem,
exigindo-nos trabalho
infatigável no bem,
para a construção do
Amanhã, sobre as bases
redentoras do Cristo.
("Ante o Centenário",
pp. 9 a 11)
2. "Mansão Paz" -
Todas as civilizações
que antecederam a glória
ocidental nos tempos
modernos consagraram
especial atenção aos
problemas de
além-túmulo. O Egito
mantinha incessante
intercâmbio com os
trespassados e ensinava
que os mortos sofriam
rigoroso julgamento
entre Anúbis, o gênio
com a cabeça de chacal,
e Hórus, o gênio com
cabeça de gavião, diante
de Maât, a deusa da
justiça, que decidia se
as almas deveriam
ascender ao esplendor
solar ou voltar aos
labirintos da provação
na Terra, em corpos
deformados e vis. Os
hindus admitiam que os
desencarnados, conforme
as resoluções do Juiz
dos Mortos, subiriam ao
Paraíso ou desceriam aos
precipícios do reino de
Varuna, o gênio das
águas, para serem
insulados em câmaras de
tortura, amarrados uns
aos outros por serpentes
infernais. Hebreus,
gregos, gauleses e
romanos sustentavam
crenças mais ou menos
semelhantes, convictos
de que a elevação
celeste era reservada
aos Espíritos retos e
bons, puros e nobres,
guardando-se os
tormentos do inferno
para quantos se
rebaixavam na
perversidade e no crime,
nas regiões de suplício,
fora do mundo ou no
próprio mundo, através
da reencarnação em
formas envilecidas pela
expiação e pelo
sofrimento. Essas
palavras, ditas por
Druso, diretor da
"Mansão Paz", encantavam
André Luiz e Hilário,
que ali estavam em
visita. O
estabelecimento,
localizado nas regiões
inferiores, era uma
espécie de mosteiro São
Bernardo, com a
diferença de que, em
lugar da neve,
circundava-o uma sombra
espessa. Vinculado à
colônia "Nosso Lar", o
pouso fora fundado havia
mais de três séculos e
se dedicava a receber
Espíritos infelizes ou
enfermos, decididos a
trabalhar pela própria
regeneração, elevando-se
uns a colônias de
aprimoramento na Vida
Superior, e retornando
outros à esfera dos
homens para a
reencarnação
retificadora. (Capítulo
1, pp. 13 e 14)
3. A
tempestade
- O casario enorme que
forma a "Mansão Paz",
semelhante a vasta
cidadela instalada com
todos os recursos de
segurança e defesa,
mantém setores de
assistência e cursos de
instrução, nos quais
médicos e sacerdotes,
enfermeiros e
professores encontram,
depois da morte
terrestre, aprendizados
e quefazeres da mais
elevada importância. A
Terra é para nós –
asseverou Druso –
"valiosa arena de
serviço espiritual,
assim como um filtro em
que a alma se purifica,
pouco a pouco, no curso
dos milênios, acendrando
qualidades divinas para
a ascensão à glória
celeste". "Por isso, há
que sustentar a luz do
amor e do conhecimento,
no seio das trevas, como
é necessário manter o
remédio no foco da
enfermidade." Nesse
momento, André reparava,
através do material
transparente de larga
janela, a convulsão da
Natureza. Uma ventania
ululante, carreando
consigo uma substância
escura, semelhante à
lama aeriforme,
remoinhava com
violência, à maneira de
treva encachoeirada, e
do corpo monstruoso
daquele turbilhão
terrível surdiam rostos
humanos em esgares de
horror, vociferando
maldições e gemidos.
Apareciam de relance,
jungidos uns aos outros
como vastas correntes
de criaturas agarradas
entre si, em hora de
perigo, na ânsia
instintiva de dominar e
sobreviver. Hilário
indagou, então, ao
diretor do abrigo: "Por
que não descerrar as
portas aos que gritam lá
fora? Não é este um
posto de salvação?"
Sensibilizado, Druso
respondeu-lhe: "Sim, mas
a salvação só é
realmente importante
para aqueles que
desejam salvar-se". E
prosseguiu: "Para cá do
túmulo, a surpresa para
mim mais dolorosa foi
essa, o encontro com
feras humanas, que
habitavam o templo da
carne, à feição de
pessoas comuns. Se
acolhidas aqui, sem a
necessária preparação,
atacar-nos-iam de
pronto, arrasando-nos o
instituto de
assistência pacífica. E
não podemos esquecer que
a ordem é a base da
caridade". Logo após, o
Instrutor aduziu: "Somos
hoje defrontados por
grande tempestade
magnética, e muitos
caminheiros das regiões
inferiores são
arrebatados pelo furacão
como folhas secas no
vendaval". Druso
explicou então que raros
deles guardavam
consciência desse fato,
porque as criaturas que
se mantêm assim
desabrigadas, depois do
túmulo, são aquelas que
não se acomodam com o
refúgio moral de
qualquer princípio
nobre. (Capítulo 1, pp.
14 a 16)
4. Espíritos culpados
- Aqueles Espíritos
traziam o íntimo
turbilhonado e
tenebroso, qual a
própria tormenta, em
razão dos pensamentos
desgovernados e cruéis
de que se nutriam.
"Odeiam e aniquilam,
mordem e ferem",
informou o diretor.
Alojá-los ali seria o
mesmo que asilar tigres
desarvorados entre fiéis
a orar num templo.
Felizmente, essa fase de
desvario passa com o
tempo, eis que a alma,
batida pelo temporal das
provações, refunde-se
pouco a pouco,
tranquilizando-se para
abraçar, por fim, as
responsabilidades que
criou para si mesma.
André Luiz estava
intrigado. "Quer dizer,
então – disse ele – ,
que não basta a romagem
de purgação do Espírito
depois da morte, nos
lugares de treva e
padecimento, para que os
débitos da consciência
sejam ressarcidos..." O
Instrutor foi taxativo:
"Perfeitamente, o
desespero vale por
demência a que as almas
se atiram nas explosões
de incontinência e
revolta. Não serve como
pagamento nos tribunais
divinos". "Cessada a
febre de loucura e
rebelião, o Espírito
culpado volve ao remorso
e à penitência.
Acalma-se como a terra
que torna à serenidade e
à paciência, depois de
insultada pelo
terremoto, não obstante
amarfanhada e ferida.
Então, como o solo que
regressa ao serviço da
plantação proveitosa,
submete-se de novo à
sementeira renovadora
dos seus destinos."
Druso lembrou, então,
que a existência humana,
por mais longa, é
simples aprendizado em
que o Espírito reclama
benéficas restrições
para restaurar o seu
caminho. Usando novo
corpo entre os
semelhantes, deve ele
atender à renovação que
lhe diz respeito e isso
exige a centralização de
suas forças mentais na
experiência terrena a
que, transitoriamente,
se afeiçoa. André estava
curioso, e se
perguntava mentalmente:
"Que tipo de Espíritos
sofriam a pressão
daquela tormenta?" Druso
percebeu sua dúvida e,
de pronto, aclarou:
"Obrigado a pacientes e
laboriosas
investigações, por força
de meus deveres, posso
adiantar-lhes que às
densas trevas em torno
somente aportam as
consciências que se
entenebreceram nos
crimes deliberados,
apagando a luz do
equilíbrio em si
mesmas". (Capítulo 1,
pp. 16 a 18)
(Continua no próximo
número.)