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Estudando a série André Luiz
Ano 4 - N° 201 - 20 de Março de 2011

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Ação e Reação

André Luiz

(Parte 1)

Iniciamos nesta edição o estudo da obra Ação e Reação, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Como Emmanuel define o inferno?

Segundo ele, o inferno exterior nada mais é que o reflexo de nós mesmos, quando, pelo relaxa­mento e pela crueldade, nos entregamos à prática de ações depri­mentes. O Espiritismo revela-nos que a criatura não se encontra su­bordinada simplesmente ao critério dos penalogistas do mundo, pois, quanto mais esclare­cida, tanto mais responsável e entregue aos arestos da própria cons­ciência, na Ter­ra ou fora dela, toda vez que se envolve nos espi­nheiros da culpa. (Ação e Reação, prefácio de Emmanuel, pp. 9 a 11.) 

B. Como André Luiz descreve a Mansão Paz?

Localizada nas regiões inferiores, a Mansão Paz é uma espécie de mosteiro São Bernardo, com a diferença de que, em lugar da neve, circunda-a uma sombra espessa. Vinculada à colônia "Nosso Lar", ela fora fundada havia mais de três séculos e se dedica a receber Espíritos infelizes ou enfermos, decididos a trabalhar pela própria regeneração, elevando-se uns a colônias de aprimoramento na Vida Superior, e retornando outros à esfera dos homens para a reencarnação retificadora. (Obra citada, cap. 1, pp. 13 e 14.) 

C. Como ressarcir os débitos da consciência?

Não basta a romagem de purgação do Espírito depois da morte, nos luga­res de treva e padecimento, para que os débitos da consciência sejam ressarcidos. O desespero vale por demência a que as almas se atiram nas explosões de inconti­nência e revolta, mas não serve como pagamento nos tribunais divinos. Druso explicou: "Cessada a febre de loucura e rebelião, o Espírito culpado volve ao remorso e à penitência. Acalma-se como a terra que torna à serenidade e à paciência, depois de insultada pelo terremoto, não obstante amar­fanhada e ferida. Então, como o solo que regressa ao serviço da plan­tação proveitosa, submete-se de novo à sementeira renovadora dos seus destinos". (Obra citada, cap. 1, pp. 16 a 18.)

Texto para leitura 

1. Justiça Divina - Emmanuel nos diz que este livro des­vela uma nesga das regiões inferiores a que se projeta a consciência culpada, além do corpo físico, mostrando a importância da existência carnal, como verdadeiro favor da Divina Misericórdia, a fim de que nos adapte­mos ao mecanismo da Justiça Indefectível. Asseverando que o in­ferno exterior nada mais é que o reflexo de nós mesmos, quando, pelo relaxa­mento e pela crueldade, nos entregamos à prática de ações depri­mentes, Emmanuel observa que, segundo o eminente criminalista Von Liszt, o Es­tado, em sua expressão de organismo superior, não prescinde da pena, a fim de sustentar a ordem jurídica. "A necessidade da con­servação do próprio Estado justifica a pena", assevera Von Liszt. André Luiz faz-nos sentir, contudo, que o Espiritismo revela uma concepção de justiça ainda mais ampla. A criatura não se encontra su­bordinada simplesmente ao critério dos penalogistas do mundo: quanto mais esclare­cida, tanto mais responsável e entregue aos arestos da própria cons­ciência, na Ter­ra ou fora dela, toda vez que se envolve nos espi­nheiros da culpa. André mostra, assim, que os princípios codificados por Allan Kardec abrem uma nova era para o Espírito humano, compe­lindo-o à auscultação de si mesmo, no reajuste dos caminhos traçados por Jesus ao verdadeiro progresso da alma, e explica que o Espiri­tismo, por isso mesmo, é o disciplinador de nossa liberdade, não ape­nas para que tenhamos na Ter­ra uma vida social dignificante, mas tam­bém para que mantenhamos, no campo do espírito, uma vida individual harmoniosa, devidamente ajus­tada aos impositivos da Vida Universal Perfeita. Em síntese, ele de­monstra-nos que as nossas possibilidades de hoje nos vinculam às som­bras de ontem, exigindo-nos trabalho infa­tigável no bem, para a cons­trução do Amanhã, sobre as bases redentoras do Cristo. ("Ante o Cente­nário", pp. 9 a 11) 

2. "Mansão Paz" - Todas as civilizações que antecederam a glória ocidental nos tempos modernos consagraram especial atenção aos problemas de além-túmulo. O Egito mantinha incessante intercâmbio com os trespassados e ensinava que os mortos sofriam rigoroso julgamento entre Anúbis, o gênio com a cabeça de chacal, e Hórus, o gênio com cabeça de gavião, diante de Maât, a deusa da justiça, que decidia se as almas deveriam ascender ao esplendor solar ou voltar aos labirintos da provação na Terra, em corpos deformados e vis. Os hindus admitiam que os desencarnados, conforme as resoluções do Juiz dos Mortos, subiriam ao Paraíso ou desceriam aos precipícios do reino de Varuna, o gênio das águas, para serem insulados em câmaras de tortura, amarrados uns aos outros por serpentes infernais. Hebreus, gregos, gauleses e romanos sustentavam crenças mais ou menos semelhantes, convictos de que a elevação celeste era reservada aos Espíritos retos e bons, puros e nobres, guardando-se os tormentos do inferno para quantos se rebaixavam na perversidade e no crime, nas regiões de suplício, fora do mundo ou no próprio mundo, através da reencarnação em formas envilecidas pela expiação e pelo sofrimento. Essas palavras, ditas por Druso, diretor da "Mansão Paz", encantavam André Luiz e Hilário, que ali estavam em visita. O estabelecimento, localizado nas regiões inferiores, era uma espécie de mosteiro São Bernardo, com a diferença de que, em lugar da neve, circundava-o uma sombra espessa. Vinculado à colônia "Nosso Lar", o pouso fora fundado havia mais de três séculos e se dedicava a receber Espíritos infelizes ou enfermos, decididos a trabalhar pela própria regeneração, elevando-se uns a colônias de aprimoramento na Vida Superior, e retornando outros à esfera dos homens para a reencarnação retificadora. (Capítulo 1, pp. 13 e 14) 

3. A tempestade - O casario enorme que forma a "Mansão Paz", se­melhante a vasta cidadela instalada com todos os recursos de segurança e defesa, mantém setores de assistência e cursos de instrução, nos quais médicos e sacerdotes, enfermeiros e professores encontram, de­pois da morte terrestre, aprendizados e quefazeres da mais elevada im­portância. A Terra é para nós – asseverou Druso – "valiosa arena de serviço espiritual, assim como um filtro em que a alma se purifica, pouco a pouco, no curso dos milênios, acendrando qualidades divinas para a ascensão à glória celeste". "Por isso, há que sustentar a luz do amor e do conhecimento, no seio das trevas, como é necessário man­ter o remédio no foco da enfermidade." Nesse momento, André reparava, através do material transparente de larga janela, a convulsão da Natu­reza. Uma ventania ululante, carreando consigo uma substância escura, semelhante à lama aeriforme, remoinhava com violência, à maneira de treva encachoeirada, e do corpo monstruoso daquele turbilhão terrível surdiam rostos humanos em esgares de horror, vociferando maldições e gemidos. Apareciam de relance, jungidos uns aos outros como vastas cor­rentes de criaturas agarradas entre si, em hora de perigo, na ânsia instintiva de dominar e sobreviver. Hilário indagou, então, ao diretor do abrigo: "Por que não descerrar as portas aos que gritam lá fora? Não é este um posto de salvação?" Sensibilizado, Druso respondeu-lhe: "Sim, mas a salvação só é realmente importante para aqueles que dese­jam salvar-se". E prosseguiu: "Para cá do túmulo, a surpresa para mim mais dolorosa foi essa, o encontro com feras humanas, que habitavam o templo da carne, à feição de pessoas comuns. Se acolhidas aqui, sem a necessária preparação, atacar-nos-iam de pronto, arrasando-nos o ins­tituto de assistência pacífica. E não podemos esquecer que a ordem é a base da caridade". Logo após, o Instrutor aduziu: "Somos hoje defron­tados por grande tempestade magnética, e muitos caminheiros das re­giões inferiores são arrebatados pelo furacão como folhas secas no vendaval". Druso explicou então que raros deles guardavam consciência desse fato, porque as criaturas que se mantêm assim desabrigadas, de­pois do túmulo, são aquelas que não se acomodam com o refúgio moral de qualquer princípio nobre. (Capítulo 1, pp. 14 a 16) 

4. Espíritos culpados - Aqueles Espíritos traziam o íntimo turbilhonado e tenebroso, qual a própria tormenta, em razão dos pensamen­tos desgovernados e cruéis de que se nutriam. "Odeiam e aniquilam, mordem e ferem", informou o diretor. Alojá-los ali seria o mesmo que asilar tigres desarvorados entre fiéis a orar num templo. Felizmente, essa fase de desvario passa com o tempo, eis que a alma, batida pelo temporal das provações, refunde-se pouco a pouco, tranquilizando-se para abraçar, por fim, as responsabilidades que criou para si mesma. André Luiz estava intrigado. "Quer dizer, então –  disse ele – , que não basta a romagem de purgação do Espírito depois da morte, nos luga­res de treva e padecimento, para que os débitos da consciência sejam ressarcidos..." O Instrutor foi taxativo: "Perfeitamente, o desespero vale por demência a que as almas se atiram nas explosões de inconti­nência e revolta. Não serve como pagamento nos tribunais divinos". "Cessada a febre de loucura e rebelião, o Espírito culpado volve ao remorso e à penitência. Acalma-se como a terra que torna à serenidade e à paciência, depois de insultada pelo terremoto, não obstante amar­fanhada e ferida. Então, como o solo que regressa ao serviço da plan­tação proveitosa, submete-se de novo à sementeira renovadora dos seus destinos." Druso lembrou, então, que a existência humana, por mais longa, é simples aprendizado em que o Espírito reclama benéficas res­trições para restaurar o seu caminho. Usando novo corpo entre os se­melhantes, deve ele atender à renovação que lhe diz respeito e isso exige a centralização de suas forças mentais na experiência terrena a que, transitoriamente, se afeiçoa. André estava curioso, e se pergun­tava mentalmente: "Que tipo de Espíritos sofriam a pressão daquela tormenta?" Druso percebeu sua dúvida e, de pronto, aclarou: "Obrigado a pacientes e laboriosas investigações, por força de meus deveres, posso adiantar-lhes que às densas trevas em torno somente aportam as consciências que se entenebreceram nos crimes deliberados, apagando a luz do equilíbrio em si mesmas". (Capítulo 1, pp. 16 a 18)  (Continua no próximo número.)




 


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