Os leitores Cássia Inês
Beraldi (São Bernardo do
Campo, SP) e Jorge da Silva
Lima (Vila Nova da Gaia –
Portugal), conforme cartas
publicadas na edição 201
desta revista, propuseram à
Redação dúvidas relativas
aos temas gestação no mundo
espiritual e processos de
reprodução na
espiritualidade.
As
cartas foram motivadas pela
publicação nesta revista da
análise que o confrade José
Sola fez acerca do livro
Reencarnação no Mundo
Espiritual, que o médium
Carlos A. Baccelli
psicografou e cuja autoria
foi por ele atribuída ao
Espírito de Inácio Ferreira.
Haverá gestação no mundo espiritual? Os
desencarnados podem, de
fato, gerar filhos, como
expõe Baccelli no livro
citado?
Para compreender-se bem o assunto, é preciso
recordar aqui algumas
informações e conceitos bem
firmados no meio espírita,
que adiante resumiremos:
1) Os Espíritos são os seres inteligentes da
criação; povoam o Universo,
fora do mundo material.
(O Livro dos Espíritos, 76.)
2) O mundo corporal poderia deixar de existir,
ou nunca ter existido, sem
que isso alterasse a
essência do mundo espírita,
pois eles são independentes;
contudo, é incessante a
correlação entre ambos,
porquanto um sobre o outro
incessantemente reagem.
(L.E., 86.)
3) É lei da Natureza a reprodução dos seres
vivos, visto que sem a
reprodução o mundo corporal
pereceria. (L.E., 686.)
4) A substância do perispírito é a mesma em
todos os mundos? “Não; é
mais ou menos etérea.
Passando de um mundo a
outro, o Espírito se reveste
da matéria própria desse
outro, operando-se, porém,
essa mudança com a rapidez
do relâmpago.” (L.E., 187.)
5) O corpo espiritual não é, como se pensa,
reflexo do corpo físico,
porque, na realidade, é o
corpo físico que o reflete,
tanto quanto ele – o corpo
espiritual – retrata em si o
corpo mental, que lhe
preside à formação. Do ponto
de vista de sua constituição
e da função que realiza na
esfera imediata ao trabalho
do homem, após a morte, o
corpo espiritual é o veículo
físico por excelência, com
sua estrutura
eletromagnética, algo
modificado no que tange aos
fenômenos genésicos e
nutritivos, de acordo,
porém, com as aquisições da
mente que o maneja.
(Evolução em dois Mundos,
Primeira Parte, cap. II, pp.
25 e 26.)
6) O corpo espiritual ou psicossoma é ainda
corpo de duração variável,
segundo o equilíbrio emotivo
e o avanço cultural dos que
o governam, além do carro
fisiológico, apresentando
algumas transformações
fundamentais depois da morte
carnal, principalmente no
centro gástrico, pela
diferenciação dos alimentos
de que se provê, e no centro
genésico. (Evolução em
dois Mundos, Primeira Parte,
cap. II, pp. 29 e 30.)
7) O corpo espiritual evolve e se aprimora nas
experiências de ação e
reação, no plano terrestre e
nas regiões espirituais que
lhe são fronteiriças, e é,
assim, suscetível de sofrer
alterações múltiplas, com
alicerces na adinamia
proveniente da nossa queda
mental no remorso, ou na
hiperdinamia imposta pelos
delírios da imaginação, a se
responsabilizarem por
disfunções inúmeras da alma,
nascidas do estado de hipo e
hipertensão no movimento
circulatório das forças que
lhe mantêm o organismo
sutil, e pode também
desgastar-se, na esfera
imediata à esfera física,
para nesta se refazer,
através do renascimento,
segundo o molde mental
preexistente. (Evolução em
dois Mundos, Primeira Parte,
cap. II, pp. 29 e 30.)
8) Na moradia de
continuidade para a qual se
transfere, o homem encontra
as mesmas leis de gravitação
que controlam a Terra, com o
dia e as noites marcando a
conta do tempo, embora os
rigores das estações estejam
suprimidos pelos fatores de
ambiente que asseguram a
harmonia da Natureza,
estabelecendo clima quase
constante e uniforme, como
se os equinócios e
solstícios entrelaçassem as
próprias forças, retificando
automaticamente os excessos
de influenciação com que se
dividem. (Evolução em
dois Mundos, Primeira Parte,
cap. XIII, pp. 96 e 97.)
9) Plantas e animais
domesticados pela
inteligência humana, durante
milênios, podem ser aí
aclimatados e aprimorados,
por determinados períodos de
existência, ao fim dos quais
regressam aos seus núcleos
de origem no solo terrestre,
para que avancem na romagem
evolutiva, compensados com
valiosas aquisições de
acrisolamento, pelas quais
auxiliam a flora e a fauna
habituais à Terra com os
benefícios das chamadas
mutações espontâneas. (Evolução
em dois Mundos, Primeira
Parte, cap. XIII, pp. 96 e
97.)
10) As plantas, pela
configuração celular mais
simples, atendem, no plano
extrafísico, à reprodução
limitada, aí deixando
descendentes que, mais
tarde, volvem também à leira
do homem comum, favorecendo,
porém, de maneira
espontânea, a solução de
diferentes problemas que lhe
dizem respeito, sem exigir
maiores sacrifícios dos
habitantes em sua
conservação. (Evolução em
dois Mundos, Primeira Parte,
cap. XIII, pp. 96 e 97.)
11) Os Espíritos não têm
sexo; entretanto, como há
poucos dias ainda éreis
homem, tendes em vosso novo
estado antes a natureza
masculina do que a natureza
feminina? Ocorre o mesmo com
um Espírito que tivesse
deixado seu corpo há muito
tempo? Resposta: “Não temos
que ser de natureza
masculina ou feminina: os
Espíritos não se reproduzem.
Deus os cria à sua vontade,
e se, por seus objetivos
maravilhosos, quis que os
Espíritos se reencarnem
sobre a Terra, deveu
acrescentar a reprodução das
espécies para macho e a
fêmea. Mas o sentis, sem que
seja necessária nenhuma
explicação, os Espíritos não
podem ter sexo.” (Revista
Espírita, junho de 1862.
Diálogo entre Kardec e o
Espírito do Sr. Sanson em 2
de maio de 1862.)
12) Sempre foi dito que os
Espíritos não têm sexo; os
sexos não são necessários
senão para a reprodução dos
corpos; porque os Espíritos
não se reproduzem, os sexos
seriam inúteis para eles.
Nossa pergunta não tinha por
objetivo constatar o fato,
mas em razão da morte muito
recente do Sr. Sanson,
queríamos saber se lhe
restava uma impressão de seu
estado terrestre. Os
Espíritos depurados se dão
perfeitamente conta de sua
natureza, mas, entre os
Espíritos inferiores, não
desmaterializados, há muitos
deles que se creem ainda que
estão sobre a Terra, e
conservam as mesmas paixões
e os mesmos desejos; aqueles
se creem ainda homens ou
mulheres, e eis por que há
os que disseram que os
Espíritos têm sexos. É assim
que certas contradições
provêm do estado mais ou
menos avançado dos Espíritos
que se comunicam; o erro não
é dos Espíritos, mas
daqueles que os interrogam e
não se dão ao trabalho de
aprofundarem as perguntas.
(Revista Espírita, junho
de 1862. Nota de Kardec em
2 de maio de 1862.)
13) O
Espiritismo ensina que as
almas podem animar corpos de
homens e mulheres. As almas
ou Espíritos não têm sexo;
as afeições que os unem nada
têm de carnal; fundam-se
numa simpatia real e, por
isso, são mais duráveis.
(Revista Espírita de 1866,
págs. 2 e 3.)
14) Os
sexos só existem no
organismo; são necessários à
reprodução dos seres
materiais; mas os Espíritos
não se reproduzem uns pelos
outros, razão por que os
sexos seriam inúteis no
mundo espiritual. (Revista
Espírita de 1866, págs. 2 e
3.)
*
À vista das informações
acima, todas extraídas de
obras e autores confiáveis,
chamamos a atenção para o
contido nos itens 4 e 10. No
primeiro está dito que, de
acordo com a questão 187 d´O
Livro dos Espíritos, os
Espíritos substituem o seu
perispírito quando passam de
um mundo a outro, mas essa
mudança se faz “com a rapidez do relâmpago”.
No item 10 reproduz-se a revelação de André Luiz
segundo a qual ocorre no
plano espiritual reprodução
– embora limitada – somente
das plantas, dada a sua
configuração celular mais
simples. André Luiz não faz
referência nenhuma à
reprodução de aves e outros
animais e muito menos de
seres humanos ou de
Espíritos, assunto tratado
com clareza por Kardec em
sua obra, conforme mostram
os itens 11 a 14 do texto
acima.
Será interessante, enfim,
que os leitores releiam o
artigo Sexo nos
Espíritos: o pensamento de
Kardec, de Ricardo
Baesso de Oliveira,
publicado em 8/8/2010 na
edição 170 desta revista, o
qual pode ser visto
clicando-se no seguinte
link:
http://www.oconsolador.com.br/ano4/170/ricardo_baesso.html
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