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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 204 - 10 de Abril de 2011

LEDA MARIA FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)


Herdeiros da Terra
 

“Bem-Aventurados os mansos porque eles herdarão a Terra.” (Mt, 5:4.)

“Bem-Aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus.” (Mt, 5:9.) 

“O homem deve progredir. Sozinho, ele não pode porque não tem todas as faculdades; é-lhe preciso o contato dos outros homens. No isolamento, ele se embrutece e se debilita.” (O Livro dos Espíritos, questão 768.) 

 
Toda Criação divina, não importa qual seja ela, depende da colaboração do outro e até mesmo do sacrifício de uns para a sobrevivência dos outros.

É assim na Natureza, pois, entre as espécies, algumas precisam servir de alimento para que outras possam continuar. Uma árvore, por exemplo, precisa do Sol, do vento, da chuva para se desenvolver. A terra serve de recurso para que as formas que vivem sobre o solo e sob ele possam continuar existindo. Algumas espécies de animais são predadores de outras para que, nos dizem as Ciências, aconteça o equilíbrio entre elas.

Da mesma forma que existem recursos na Natureza para que o equilíbrio se faça, também entre nós eles existem. É sobre esses recursos que Jesus nos fala nessa bem-aventurança, convidando-nos a praticá-los em sua plenitude.

Percebemos, então, que em toda a Criação não existe isolamento entre seus indivíduos. Portanto, para progredir, crescer material e espiritualmente, o homem necessita viver em sociedade, e contar com a bondade e o carinho do outro. Assim é quando nascemos, enquanto estamos sobre o planeta e quando morremos.

Tantas vezes, enfermiços e aflitos, precisamos encontrar o equilíbrio para suportar as lutas diárias... E onde encontrá-lo senão junto das pessoas que estejam dispostas a nos ajudar?

Mas a quais recursos Jesus se refere nesse ensinamento? Fala-nos do recurso da simpatia que ajuda e compreende aquele que erra. Diz-nos da bondade que concede essa ajuda e perdoa, porque somos tão devedores quanto o que erra, amplia a misericórdia no mundo e fortalece a fraternidade entre todas as criaturas.

Quase sempre falamos em paz e não a praticamos; falamos em fraternidade e pouco a exercitamos; e quando nos predispomos a isso, não nos damos conta de que deve ser iniciada em nosso lar, através da bondade para com todos os que nos cercam, tratando os companheiros que nos acompanham, no cadinho doméstico, como tratamos nossos amigos ou convidados.

Muito falamos e pouco fazemos, e não conseguimos realizar quase nada daquilo que dizemos, porque nos falta paciência, virtude que é base de todas as outras. Falta-nos paciência para ensinar os outros, aprender com os outros, ouvir e compreender a todos que, assim como nós, caminham com as mesmas dificuldades e, às vezes, até maiores que as nossas, em direção ao Pai.

Nem sempre damos ao outro o direito de pensar, agir e experimentar as oportunidades que a vida oferece, de forma diferente de nós. Poucas vezes, respeitamos cada pessoa e cada coisa em seu tempo, lugar e condição, procurando equilibrar nosso corpo e alma.

Nesse ensinamento, convite amoroso à mansidão e à doçura, Jesus sintetiza todos os sentimentos contrários à violência e todo desejo do homem que luta pela paz.

Mas onde está essa paz tão desejada pelos homens de bem? Joanna de Ângelis lembra a todos nós que a paciência pode ser considerada a ciência da paz, porque ela representa a sua exteriorização e utiliza instrumentos não violentos para atingir seus objetivos. Assim, o homem que possui um coração manso traz essa paz dentro de si, porque a tem na sua consciência, pois sabe ser justo e tolerante com o justo e o injusto; com o bom e o mau; com quem acerta e com quem erra, pensando e agindo com coerência, procurando exercer a não violência no trato com os outros e com tudo aquilo que estiver ao seu redor.  Para esse homem, qualquer dificuldade que surja em sua vida é tolerável, pois sabe esperar com paciência a chegada da solução. Não fica inerte, ocioso, mas compreende que se estiver fazendo a sua parte, Deus também estará fazendo a Dele.

Entretanto, para que essa paz se instale, definitivamente, em nossos corações, é preciso ir buscá-la e revelá-la ao mundo através de atitudes de amor para com todos. Quando somos violentos com os outros ou com aquilo que nos cerca, estamos sendo violentos, certamente, conosco em primeiro lugar, e não conseguiremos a paz interior que tanto almejamos, como se fosse possível apenas ter desejo, sem lutar para conquistá-la.

Por que Jesus disse que “herdarão a Terra aqueles que forem mansos”? Porque os que hoje assim procedem, já estão vivendo nela.

Vivendo em plenitude os ensinamentos do Cristo, Suas promessas se cumprem ao herdarmos a Terra, agora transformada pelo sentimento de amor para com todos. 

“Do alto do monte, tomado de tristeza pelas desventuras humanas, o Senhor ensinava às multidões os meios de conquistar, com o trabalho por que passavam, o Reino de Deus. E a todos recomendava resignação na adversidade, mansidão nas lutas da vida, misericórdia no meio da tirania e higiene de coração para que pudessem ver Deus.” (5) 

                                                                                                        
Bibliografia:

1 - EMMANUEL (Espírito) – Palavras de Vida Eterna [psicografado por F.C. Xavier] – Edição CEC, 20ª ed., 1955, lições 55, 67 e 77.

2 - Espíritos diversos – O Espírito da Verdade – [psicografado por F.C. Xavier e Waldo Vieira], Editora FEB, 10ª ed., lições 4 e 80.

3 - KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo – Capítulo 9.

4 - Joanna de Ângelis (Espírito) – Jesus e o Evangelho - à luz da psicologia profunda, [psicografado por Divaldo P. Franco], LEAL Editora, 1ª ed., 2000, pág. 69.

5 - SCHUTEL, Cairbar – Parábolas e Ensinos de Jesus – Casa Editora O Clarim, 14ª ed., Segunda Parte, pág. 130.


 


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