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Estudando as obras de Kardec
Ano 4 - N° 204 - 10 de Abril de 2011

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1869

Allan Kardec 

(Parte 4)

Damos prosseguimento nesta edição ao estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1869. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Os órgãos cerebrais devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito?

Sim. Segundo Kardec, estava perfeitamente reconhecido que os órgãos cerebrais correspondentes às diversas aptidões devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito. Esse desenvolvimento é, assim, um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tenha a bossa da música, mas tem a bossa da música porque seu Espírito é músico. (Revue Spirite de 1869, pág. 63.)

B. A carne é fraca?

Não. Atribuir a fraqueza do indivíduo à carne é uma fuga, cujo objetivo é escapar à responsabilidade. A carne não é fraca, senão porque o Espírito é fraco. A responsabilidade moral dos atos da vida cabe ao indivíduo, mas diz a razão que as consequências dela se encontram na razão do desenvolvimento intelectual do Espírito. Quanto mais esclarecido, menos escusável, visto que, com a inteligência e o senso moral, nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto. (Obra citada, pp. 63 a 67.) 

C. Que é que determina o temperamento de uma pessoa?

O temperamento é, pelo menos em parte, determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito. Um Espírito irascível deve levar a um temperamento bilioso, do que se conclui que um homem não é colérico porque seja bilioso, mas é bilioso porque, como Espírito, é colérico. Há casos, porém, em que o físico influi indiscutivelmente sobre o moral: é quando um estado mórbido ou anormal é causado por uma ação externa, independente do Espírito, como a temperatura, o clima, os vícios hereditários, um mal-estar passageiro etc. O moral do Espírito pode, então, nesses casos, ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que sua natureza intrínseca seja modificada. (Obra citada, pp. 63 a 67.)  

Texto para leitura 

32. Na casa de um dos membros da Sociedade de Paris, onde se realizavam sessões espíritas, já fazia algum tempo que batiam à porta. Quando esta era aberta, não se via ninguém. Excluídas todas as possibilidades que pudessem explicar o fato, o dono da casa pediu ao visitante invisível que dissesse o que desejava. O Espírito comunicou-se, então, no dia 22 e no dia 29 de dezembro de 1868, convicto de que ainda pertencia ao mundo dos encarnados. Kardec lembra que esse Espírito estava na mesma situação que o anterior e ignorava a própria desencarnação. (Págs. 49 a 52)

33. A Revue reproduz um artigo de Ernest Le Nordez, publicado pelo Petit Moniteur de 12-12-1868, em que o autor relata os últimos momentos da existência do grande músico Pergolèse, que nasceu perto de Nápoles, na pequena cidade de Casoria, em 1704, e faleceu aos 33 anos, momentos depois de compor o canto que o imortalizou: o Stabat Mater, que o mundo cristão inteiro repete e admira. De acordo com o articulista, Pergolèse compôs essa peça em estado de êxtase dentro de uma igreja. (Págs. 52 a 55)

34. Na seção de livros, Kardec apresenta uma resenha da obra História dos Calvinistas das Cévennes, escrita por Eugène Bonnemère, que relata como foi a guerra empreendida sob o reinado de Luís XIV contra os calvinistas, um dos mais tristes episódios da História da França. Na obra há referências aos inumeráveis casos de sonambulismo, êxtase, dupla vista, previsões e fenômenos semelhantes que se produziram durante todo o curso dessa infeliz cruzada e que sustentaram a coragem dos calvinistas. (Págs. 55 a 62)

35. Os estranhos fenômenos referidos pelo sr. Bonnemère não buscavam, para se produzir, nem a sombra nem o mistério, e manifestavam-se ante os intendentes, os generais e os bispos, como ante os ignorantes e as pessoas mais simples. Em setembro de 1704, segundo Villars e Chamillard, as mulheres de uma cidade inteira pareciam possuídas do “diabo”. É que elas tremiam e profetizavam publicamente nas ruas, fato tido então como sobrenatural. (Pág. 57 e 58)

36. Eis, de forma resumida, alguns trechos extraídos da obra em apreço: I – O fluido é um ímã que atrai os mortos bem-amados para os que ficam: desprende-se abundantemente dos inspirados e vai despertar a atenção dos seres partidos antes e que lhes são simpáticos.  II – No século 18 esses intermediários eram chamados extáticos; hoje são médiuns. III – Conforme o Espiritismo, um ser invisível se põe em comunicação com outro, apto a receber os pensamentos dos que viveram e a escrevê-los, quer por um impulso mecânico inconsciente imprimido à mão, quer por transmissão direta à inteligência dos médiuns. IV – Crendo que o Espírito do Senhor estaria com eles e falaria pela boca das crianças e das mulheres, os protestantes perseguidos passaram a ver as mulheres e as crianças a profetizar. V – Um homem chamado Du Serre mantinha em casa, numa vidraria oculta na montanha de Peyrat, uma verdadeira escola de profecia. VI - Reunindo em casa rapazes e moças cuja natureza impressionável e nervosa havia observado, submetia-os previamente a jejuns austeros, agia sobre sua imaginação, estendia as mãos sobre eles, soprava sobre suas frontes e os fazia cair como inanimados à sua frente, tendo os olhos fechados e os membros tensos pela catalepsia. VII – Os jovens tornavam-se insensíveis à dor e não viam nem ouviam o que se passava ao seu redor, mas pareciam escutar vozes interiores, porque nesse estado falavam ou escreviam. VIII – Em 1701 houve nova explosão de profetas, que se contavam aos milhares, das montanhas de Lozère até as margens do Mediterrâneo. Os católicos haviam tomado os filhos dos calvinistas e Deus se serviu dos filhos para protestar contra essa iniquidade. IX – O governo real usou contra eles a violência: prendia em massa os profetas-meninos, açoitava impiedosamente os menores, e queimava as plantas dos pés dos maiores. X – Considerados “atingidos pelo fanatismo”, uma ordenação assinada por Bâville em setembro de 1701 tornou os pais responsáveis por esse fanatismo e os condenou a penas arbitrárias. XI – Vãos esforços! Prendiam, torturavam os corpos, mas sua alma continuava livre e os profetas se multiplicaram. XII – Bâville julgava os cativos, prendia alguns e enviava o resto para as galés; e, como nada disso parecia desencorajar os reformados, continuou a procurar as reuniões do deserto e a estrangular impiedosamente os que se rendiam, sem que estes pensassem em opor resistência mais séria aos seus carrascos. (Págs. 58 a 62)

37. Um estudo intitulado “A carne é fraca” abre o número de março de 1869. Nele, afirma Kardec que já estava perfeitamente reconhecido que os órgãos cerebrais correspondentes às diversas aptidões devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito. Esse desenvolvimento é, assim, um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tenha a bossa da música, mas tem a bossa da música porque seu Espírito é músico. (Pág. 63)

38. Eis outros pontos extraídos do estudo citado: I – O Espírito é o artífice do próprio corpo; a perfeição do corpo nos grupos étnicos adiantados seria o resultado do trabalho do Espírito, que aperfeiçoou o seu utensílio à medida que aumentam suas faculdades. II – Um Espírito irascível deve levar a um temperamento bilioso, do que se conclui que um homem não é colérico porque seja bilioso, mas que é bilioso porque ele, como Espírito, é colérico. III – A ação do Espírito sobre o físico é de tal modo evidente, que por vezes se veem graves desordens orgânicas produzidas por efeito de violentas comoções morais. IV – O temperamento é, dessa forma, pelo menos em parte, determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito. V – Há casos, porém, em que o físico influi indiscutivelmente sobre o moral: é quando um estado mórbido ou anormal é causado por uma ação externa, independente do Espírito, como a temperatura, o clima, os vícios hereditários, um mal-estar passageiro etc. O moral do Espírito pode, então, nesses casos, ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que sua natureza intrínseca seja modificada. VI – Atribuir, pois, a fraqueza do indivíduo à carne é uma fuga, cujo objetivo é escapar à responsabilidade. A carne não é fraca, senão porque o Espírito é fraco. VII – A responsabilidade moral dos atos da vida cabe ao indivíduo, mas diz a razão que as consequências dela se encontram na razão do desenvolvimento intelectual do Espírito. Quanto mais esclarecido, menos escusável, visto que, com a inteligência e o senso moral, nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto. VIII – Esta lei encontra sua aplicação na Medicina e dá a razão do seu insucesso em certos casos. Desde que o temperamento é um efeito, e não causa, os meios tentados para modificá-lo podem ser paralisados pelas disposições morais do Espírito, que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica. IX – É, pois, sobre a causa primeira que se deve agir, e o médico pode, em certos limites, fazer-se moralizador de seus doentes. O essencial no caso é aplicar o remédio moral com tato, prudência e a propósito. X – Como é difícil, em certa idade, conseguir a transformação do caráter de uma pessoa, incumbem à educação, sobretudo à primeira educação, os cuidados dessa natureza. XI – Quando a educação, desde o berço, for dirigida nesse sentido; quando se aplicar em abafar, em seus germes, as imperfeições morais, como faz com as imperfeições físicas, o médico não mais encontrará no temperamento das pessoas um obstáculo contra o qual sua ciência tem sido muitas vezes impotente. (Págs. 63 a 67)

39. A Revue transcreve carta datada de fevereiro de 1869 dirigida pelo confrade Manuel Gonzalez Soriano, da Espanha, a Kardec, na qual o missivista dá conta dos trabalhos de propagação da doutrina espírita que ele e seus companheiros vinham fazendo em diversas cidades espanholas, a exemplo de Leon, Sevilha, Salamanca etc. Comentando o assunto, Kardec diz que o devotamento à causa espírita não consiste em tomar o bastão de viagem e sair a pregar pelo mundo afora. Não; em qualquer lugar onde estejamos podemos ser úteis. “O verdadeiro devotamento – assevera o Codificador – consiste em tirar o melhor partido de sua posição, pondo a serviço da causa, o mais utilmente possível e com discernimento, as forças físicas e morais que a Providência concedeu a cada um.” (Págs. 67 a 69)

40. Anne Blackwell, correspondente da Revue, radicada em Londres, diz que o jornal inglês The Builder, órgão dos arquitetos, e a Revue Antropológica, de Londres, focalizaram em diversas oportunidades questões atinentes ao Espiritismo. A escola espírita inglesa não era, então, homogênea e coerente como a escola espírita francesa, mas – diz a correspondente – dela muito se aproximava. Se as obras da doutrina fossem traduzidas para o inglês, isso contribuiria para reunir numerosos partidários e fixar as ideias ainda incertas. (Págs. 69 e 70)

41. Duas notas sobre o pensamento e a obra de Charles Fourier mostram que esse respeitável pensador francês, além de ter tornado pública sua crença na reencarnação, previu já em 1826 o advento da fenomenologia espírita. Segundo Fourier, um mau rico “poderá voltar para mendigar à porta do castelo do qual foi proprietário”. (Págs. 70 a 72)  (Continua no próximo número.) 



 


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