A Revue Spirite
de 1869
Allan Kardec
(Parte
4)
Damos prosseguimento nesta edição
ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1869. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Os órgãos cerebrais
devem o seu
desenvolvimento à
atividade do Espírito?
Sim. Segundo Kardec,
estava perfeitamente
reconhecido que os
órgãos cerebrais
correspondentes às
diversas aptidões devem
o seu desenvolvimento à
atividade do Espírito.
Esse desenvolvimento é,
assim, um efeito e não
uma causa. Um homem não
é músico porque tenha a
bossa da música,
mas tem a bossa
da música porque seu
Espírito é músico.
(Revue Spirite de 1869,
pág. 63.)
B. A carne é fraca?
Não. Atribuir a fraqueza
do indivíduo à carne é
uma fuga, cujo objetivo
é escapar à
responsabilidade. A
carne não é fraca, senão
porque o Espírito é
fraco. A
responsabilidade moral
dos atos da vida cabe ao
indivíduo, mas diz a
razão que as
consequências dela se
encontram na razão do
desenvolvimento
intelectual do Espírito.
Quanto mais esclarecido,
menos escusável, visto
que, com a inteligência
e o senso moral, nascem
as noções do bem e do
mal, do justo e do
injusto.
(Obra citada, pp. 63 a
67.)
C. Que é que determina o
temperamento de uma
pessoa?
O temperamento é, pelo
menos em parte,
determinado pela
natureza do Espírito,
que é causa e não
efeito. Um Espírito
irascível deve levar a
um temperamento bilioso,
do que se conclui que um
homem não é colérico
porque seja bilioso, mas
é bilioso porque, como
Espírito, é colérico. Há
casos, porém, em que o
físico influi
indiscutivelmente sobre
o moral: é quando um
estado mórbido ou
anormal é causado por
uma ação externa,
independente do
Espírito, como a
temperatura, o clima, os
vícios hereditários, um
mal-estar passageiro
etc. O moral do Espírito
pode, então, nesses
casos, ser afetado em
suas manifestações pelo
estado patológico, sem
que sua natureza
intrínseca seja
modificada.
(Obra citada, pp. 63 a
67.)
Texto para leitura
32. Na casa de um dos
membros da Sociedade de
Paris, onde se
realizavam sessões
espíritas, já fazia
algum tempo que batiam à
porta. Quando esta era
aberta, não se via
ninguém. Excluídas todas
as possibilidades que
pudessem explicar o
fato, o dono da casa
pediu ao visitante
invisível que dissesse o
que desejava. O Espírito
comunicou-se, então, no
dia 22 e no dia 29 de
dezembro de 1868,
convicto de que ainda
pertencia ao mundo dos
encarnados. Kardec
lembra que esse Espírito
estava na mesma situação
que o anterior e
ignorava a própria
desencarnação. (Págs.
49 a 52)
33. A
Revue reproduz um
artigo de Ernest Le
Nordez, publicado pelo
Petit Moniteur de
12-12-1868, em que o
autor relata os últimos
momentos da existência
do grande músico
Pergolèse, que nasceu
perto de Nápoles, na
pequena cidade de
Casoria, em 1704, e
faleceu aos 33 anos,
momentos depois de
compor o canto que o
imortalizou: o Stabat
Mater, que o mundo
cristão inteiro repete e
admira. De acordo com o
articulista, Pergolèse
compôs essa peça em
estado de êxtase dentro
de uma igreja. (Págs.
52 a 55)
34. Na seção de livros,
Kardec apresenta uma
resenha da obra
História dos Calvinistas
das Cévennes,
escrita por Eugène
Bonnemère, que relata
como foi a guerra
empreendida sob o
reinado de Luís XIV
contra os calvinistas,
um dos mais tristes
episódios da História da
França. Na obra há
referências aos
inumeráveis casos de
sonambulismo, êxtase,
dupla vista, previsões e
fenômenos semelhantes
que se produziram
durante todo o curso
dessa infeliz cruzada e
que sustentaram a
coragem dos calvinistas.
(Págs. 55 a 62)
35. Os estranhos
fenômenos referidos pelo
sr. Bonnemère não
buscavam, para se
produzir, nem a sombra
nem o mistério, e
manifestavam-se ante os
intendentes, os generais
e os bispos, como ante
os ignorantes e as
pessoas mais simples. Em
setembro de 1704,
segundo Villars e
Chamillard, as mulheres
de uma cidade inteira
pareciam possuídas do
“diabo”. É que elas
tremiam e profetizavam
publicamente nas ruas,
fato tido então como
sobrenatural. (Pág.
57 e 58)
36. Eis, de forma
resumida, alguns trechos
extraídos da obra em
apreço: I – O fluido é
um ímã que atrai os
mortos bem-amados para
os que ficam:
desprende-se
abundantemente dos
inspirados e vai
despertar a atenção dos
seres partidos antes e
que lhes são
simpáticos. II – No
século 18 esses
intermediários eram
chamados extáticos; hoje
são médiuns. III –
Conforme o Espiritismo,
um ser invisível se põe
em comunicação com
outro, apto a receber os
pensamentos dos que
viveram e a escrevê-los,
quer por um impulso
mecânico inconsciente
imprimido à mão, quer
por transmissão direta à
inteligência dos
médiuns. IV – Crendo que
o Espírito do Senhor
estaria com eles e
falaria pela boca das
crianças e das mulheres,
os protestantes
perseguidos passaram a
ver as mulheres e as
crianças a profetizar. V
– Um homem chamado Du
Serre mantinha em casa,
numa vidraria oculta na
montanha de Peyrat, uma
verdadeira escola de
profecia. VI - Reunindo
em casa rapazes e moças
cuja natureza
impressionável e nervosa
havia observado,
submetia-os previamente
a jejuns austeros, agia
sobre sua imaginação,
estendia as mãos sobre
eles, soprava sobre suas
frontes e os fazia cair
como inanimados à sua
frente, tendo os olhos
fechados e os membros
tensos pela catalepsia.
VII – Os jovens
tornavam-se insensíveis
à dor e não viam nem
ouviam o que se passava
ao seu redor, mas
pareciam escutar vozes
interiores, porque nesse
estado falavam ou
escreviam. VIII – Em
1701 houve nova explosão
de profetas, que se
contavam aos milhares,
das montanhas de Lozère
até as margens do
Mediterrâneo. Os
católicos haviam tomado
os filhos dos
calvinistas e Deus se
serviu dos filhos para
protestar contra essa
iniquidade. IX – O
governo real usou contra
eles a violência:
prendia em massa os
profetas-meninos,
açoitava impiedosamente
os menores, e queimava
as plantas dos pés dos
maiores. X –
Considerados “atingidos
pelo fanatismo”, uma
ordenação assinada por
Bâville em setembro de
1701 tornou os pais
responsáveis por esse
fanatismo e os condenou
a penas arbitrárias. XI
– Vãos esforços!
Prendiam, torturavam os
corpos, mas sua alma
continuava livre e os
profetas se
multiplicaram. XII –
Bâville julgava os
cativos, prendia alguns
e enviava o resto para
as galés; e, como nada
disso parecia
desencorajar os
reformados, continuou a
procurar as reuniões do
deserto e a estrangular
impiedosamente os que se
rendiam, sem que estes
pensassem em opor
resistência mais séria
aos seus carrascos.
(Págs. 58 a 62)
37. Um estudo intitulado
“A carne é fraca” abre o
número de março de 1869.
Nele, afirma Kardec que
já estava perfeitamente
reconhecido que os
órgãos cerebrais
correspondentes às
diversas aptidões devem
o seu desenvolvimento à
atividade do Espírito.
Esse desenvolvimento é,
assim, um efeito e não
uma causa. Um homem não
é músico porque tenha a
bossa da música,
mas tem a bossa
da música porque seu
Espírito é músico.
(Pág. 63)
38. Eis outros pontos
extraídos do estudo
citado: I – O Espírito é
o artífice do próprio
corpo; a perfeição do
corpo nos grupos étnicos
adiantados seria o
resultado do trabalho do
Espírito, que
aperfeiçoou o seu
utensílio à medida que
aumentam suas
faculdades. II – Um
Espírito irascível deve
levar a um temperamento
bilioso, do que se
conclui que um homem não
é colérico porque seja
bilioso, mas que é
bilioso porque ele, como
Espírito, é colérico.
III – A ação do Espírito
sobre o físico é de tal
modo evidente, que por
vezes se veem graves
desordens orgânicas
produzidas por efeito de
violentas comoções
morais. IV – O
temperamento é, dessa
forma, pelo menos em
parte, determinado pela
natureza do Espírito,
que é causa e não
efeito. V – Há casos,
porém, em que o físico
influi indiscutivelmente
sobre o moral: é quando
um estado mórbido ou
anormal é causado por
uma ação externa,
independente do
Espírito, como a
temperatura, o clima, os
vícios hereditários, um
mal-estar passageiro
etc. O moral do Espírito
pode, então, nesses
casos, ser afetado em
suas manifestações pelo
estado patológico, sem
que sua natureza
intrínseca seja
modificada. VI –
Atribuir, pois, a
fraqueza do indivíduo à
carne é uma fuga, cujo
objetivo é escapar à
responsabilidade. A
carne não é fraca, senão
porque o Espírito é
fraco. VII – A
responsabilidade moral
dos atos da vida cabe ao
indivíduo, mas diz a
razão que as
consequências dela se
encontram na razão do
desenvolvimento
intelectual do Espírito.
Quanto mais esclarecido,
menos escusável, visto
que, com a inteligência
e o senso moral, nascem
as noções do bem e do
mal, do justo e do
injusto. VIII – Esta lei
encontra sua aplicação
na Medicina e dá a razão
do seu insucesso em
certos casos. Desde que
o temperamento é um
efeito, e não causa, os
meios tentados para
modificá-lo podem ser
paralisados pelas
disposições morais do
Espírito, que opõe uma
resistência inconsciente
e neutraliza a ação
terapêutica. IX – É,
pois, sobre a causa
primeira que se deve
agir, e o médico pode,
em certos limites,
fazer-se moralizador de
seus doentes. O
essencial no caso é
aplicar o remédio moral
com tato, prudência e a
propósito. X – Como é
difícil, em certa idade,
conseguir a
transformação do caráter
de uma pessoa, incumbem
à educação, sobretudo à
primeira educação, os
cuidados dessa natureza.
XI – Quando a educação,
desde o berço, for
dirigida nesse sentido;
quando se aplicar em
abafar, em seus germes,
as imperfeições morais,
como faz com as
imperfeições físicas, o
médico não mais
encontrará no
temperamento das pessoas
um obstáculo contra o
qual sua ciência tem
sido muitas vezes
impotente. (Págs. 63
a 67)
39. A
Revue transcreve
carta datada de
fevereiro de 1869
dirigida pelo confrade
Manuel Gonzalez Soriano,
da Espanha, a Kardec, na
qual o missivista dá
conta dos trabalhos de
propagação da doutrina
espírita que ele e seus
companheiros vinham
fazendo em diversas
cidades espanholas, a
exemplo de Leon,
Sevilha, Salamanca etc.
Comentando o assunto,
Kardec diz que o
devotamento à causa
espírita não consiste em
tomar o bastão de viagem
e sair a pregar pelo
mundo afora. Não; em
qualquer lugar onde
estejamos podemos ser
úteis. “O verdadeiro
devotamento – assevera o
Codificador – consiste
em tirar o melhor
partido de sua posição,
pondo a serviço da
causa, o mais utilmente
possível e com
discernimento, as forças
físicas e morais que a
Providência concedeu a
cada um.” (Págs. 67 a
69)
40. Anne Blackwell,
correspondente da
Revue, radicada em
Londres, diz que o
jornal inglês The
Builder, órgão dos
arquitetos, e a Revue
Antropológica, de
Londres, focalizaram em
diversas oportunidades
questões atinentes ao
Espiritismo. A escola
espírita inglesa não
era, então, homogênea e
coerente como a escola
espírita francesa, mas –
diz a correspondente –
dela muito se
aproximava. Se as obras
da doutrina fossem
traduzidas para o
inglês, isso
contribuiria para reunir
numerosos partidários e
fixar as ideias ainda
incertas. (Págs. 69 e
70)
41. Duas notas sobre o
pensamento e a obra de
Charles Fourier mostram
que esse respeitável
pensador francês, além
de ter tornado pública
sua crença na
reencarnação, previu já
em 1826 o advento da
fenomenologia espírita.
Segundo Fourier, um mau
rico “poderá voltar para
mendigar à porta do
castelo do qual foi
proprietário”. (Págs.
70 a 72)
(Continua no próximo
número.)