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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 204 - 10 de Abril de 2011

LUIS ROBERTO SCHOLL 
robertoscholl@terra.com.br
Santo Ângelo, Rio Grande do Sul (Brasil)
 

Filosofia, religião e ética


A Filosofia tem como objeto de estudo a moral e a ética, ou seja, estabelecer ideal de conduta do ser humano dentro de princípios de correção. O grave problema enfrentado é definir critérios para avaliar corretamente o que é certo e o que é errado. 

Percebe-se que essa é uma preocupação da humanidade desde os primórdios da civilização, pois jamais houve na história do homem sociedades sem critério algum, sem códigos de ética, mesmo que rudimentares.

No passado, os códigos se baseavam nas concepções religiosas vigentes, normalmente baseadas em lideranças ou personalidades especiais, dotadas de certas habilidades como os profetas, as pitonisas, os gurus, seres alegadamente portadores de dons especiais, sobrenaturais, que pretendiam ter contato com as divindades.

Na Idade Média, o comportamento dos indivíduos ficou tenazmente atrelado aos códigos religiosos. Nesse período começou o declínio do poder da religião, porque a conduta daqueles que deveriam ser os responsáveis pelo cumprimento das normas éticas - as lideranças político-religiosas - eram os que mais se comprometiam em fraudá-la (perseguições, torturas, corrupções, assassinatos e guerras patrocinadas pelas Igrejas...). A moral das religiões instituídas foi intimamente interligada a uma série de costumes externos como as liturgias, os rituais, os sacramentos, as hierarquias despropositadas, baseadas no mote “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Surge, então, o Renascimento através do movimento das artes, das ciências e das filosofias, procurando desconectar a cultura e a ética do obscuro caminho escolhido pelas religiões. Uma série de livre-pensadores procura imprimir “novos ares” ao pensamento humano. Sem as bases religiosas, removidas pelos intelectuais, criaram-se dificuldades para se restabelecer novos princípios éticos de conduta objetiva. Jogou-se fora toda a liturgia dogmática das Igrejas e, junto a ela, a moral irretocável do cristianismo, perdendo-se valiosa oportunidade de restabelecer a pureza dos ensinamentos do Cristo. Reaparecem inúmeras formas filosóficas de estudo do comportamento humano, algumas com graves comprometimentos em seus aspectos morais, muitas trazendo reflexos negativos até hoje na sociedade.

Aparece o relativismo ético, segundo o qual o que é certo e errado depende do indivíduo, da época, do grupo a que pertence e da situação. Essa forma de conduta moral traz desastrosas consequências, provocando verdadeiras distorções no comportamento humano. Nessa teoria não há a formação de uma base racional, pois tudo é justificável e qualquer atitude pode ser considerada certa ou errada de acordo com a situação. Ora, o que é errado hoje já era errado há centenas ou milhares de anos atrás. Não é a situação que diferencia o que é ético, do não-ético, mas a compreensão desta virtude que aumenta à medida que o ser humano evolui moral e intelectualmente. 

Outras filosofias surgiram com propostas opositoras ao relativismo moral, como a racionalista de I. Kant e o utilitarismo de J. Locke. Especialmente a segunda serviu de esteio para o estabelecimento de sistemas sociais mais justos e éticos, dando origem aos diversos códigos vigentes até hoje, como o dos direitos humanos, cartas magnas de diversos países, com ideais de justiça e liberdade. Mesmo nobres, esses sistemas filosóficos, a longo prazo, perderam importância por não terem uma base sólida de experimentação e também por dependerem do pensamento especulativo de seus criadores.

Em meados do século XIX, surge a Doutrina Espírita, trazendo uma valiosa contribuição para o panorama da ética humana. Construída através de uma pesquisa metodológica científica e não somente da mera especulação racional, comprovou, através da mediunidade, a existência e a sobrevivência do Espírito após a morte do corpo físico, trazendo elucidações, até então inéditas, das consequências das atitudes do ser humano para o futuro, não só no plano físico, mas também no extrafísico. Elucida que o indivíduo é responsável pela sua própria conduta, sofrendo as consequências agradáveis ou desagradáveis, de acordo com as suas ações. É a afirmativa de Jesus “a cada um segundo as suas obras”, explicada pela Doutrina Espírita como Lei de Causa e Efeito.

O Espiritismo fornece ao homem conhecimento seguro das regras do bem proceder e os porquês de assim se conduzir, indicando o caminho que o levará à harmonização interior, ao equilíbrio, tornando-o um potente colaborador na formação de uma sociedade mais justa e fraterna, fundamentada na observância da lei de Deus, que é a prática do bem em todas as suas formas, segundo um preceito infalível de Jesus (O Livro dos Espíritos, questão 632): “Vede o que gostaríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis”.

 

Fonte de consulta:  

Artigo de Silvio S. Chibeni, Religião Espírita, na Revista Reformador de setembro de 1999.




 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita