LUIS ROBERTO
SCHOLL
robertoscholl@terra.com.br
Santo Ângelo,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Filosofia, religião e
ética
A Filosofia tem como
objeto de estudo a moral
e a ética, ou seja,
estabelecer ideal de
conduta do ser humano
dentro de princípios de
correção. O grave
problema enfrentado é
definir critérios para
avaliar corretamente o
que é certo e o que é
errado.
Percebe-se que essa é
uma preocupação da
humanidade desde os
primórdios da
civilização, pois jamais
houve na história do
homem sociedades sem
critério algum, sem
códigos de ética, mesmo
que rudimentares.
No passado, os códigos
se baseavam nas
concepções religiosas
vigentes, normalmente
baseadas em lideranças
ou personalidades
especiais, dotadas de
certas habilidades como
os profetas, as
pitonisas, os gurus,
seres alegadamente
portadores de dons
especiais,
sobrenaturais, que
pretendiam ter contato
com as divindades.
Na Idade Média, o
comportamento dos
indivíduos ficou
tenazmente atrelado aos
códigos religiosos.
Nesse período começou o
declínio do poder da
religião, porque a
conduta daqueles que
deveriam ser os
responsáveis pelo
cumprimento das normas
éticas - as lideranças
político-religiosas -
eram os que mais se
comprometiam em
fraudá-la (perseguições,
torturas, corrupções,
assassinatos e guerras
patrocinadas pelas
Igrejas...). A moral das
religiões instituídas
foi intimamente
interligada a uma série
de costumes externos
como as liturgias, os
rituais, os sacramentos,
as hierarquias
despropositadas,
baseadas no mote “faça o
que eu digo, mas não
faça o que eu faço”.
Surge, então, o
Renascimento através do
movimento das artes, das
ciências e das
filosofias, procurando
desconectar a cultura e
a ética do obscuro
caminho escolhido pelas
religiões. Uma série de
livre-pensadores procura
imprimir “novos ares” ao
pensamento humano. Sem
as bases religiosas,
removidas pelos
intelectuais, criaram-se
dificuldades para se
restabelecer novos
princípios éticos de
conduta objetiva.
Jogou-se fora toda a
liturgia dogmática das
Igrejas e, junto a ela,
a moral irretocável do
cristianismo,
perdendo-se valiosa
oportunidade de
restabelecer a pureza
dos ensinamentos do
Cristo. Reaparecem
inúmeras formas
filosóficas de estudo do
comportamento humano,
algumas com graves
comprometimentos em seus
aspectos morais, muitas
trazendo reflexos
negativos até hoje na
sociedade.
Aparece o relativismo
ético, segundo o qual o
que é certo e errado
depende do indivíduo, da
época, do grupo a que
pertence e da situação.
Essa forma de conduta
moral traz desastrosas
consequências,
provocando verdadeiras
distorções no
comportamento humano.
Nessa teoria não há a
formação de uma base
racional, pois tudo é
justificável e qualquer
atitude pode ser
considerada certa ou
errada de acordo com a
situação. Ora, o que é
errado hoje já era
errado há centenas ou
milhares de anos atrás.
Não é a situação que
diferencia o que é
ético, do não-ético, mas
a compreensão desta
virtude que aumenta à
medida que o ser humano
evolui moral e
intelectualmente.
Outras filosofias
surgiram com propostas
opositoras ao
relativismo moral, como
a racionalista de I.
Kant e o utilitarismo de
J. Locke. Especialmente
a segunda serviu de
esteio para o
estabelecimento de
sistemas sociais mais
justos e éticos, dando
origem aos diversos
códigos vigentes até
hoje, como o dos
direitos humanos, cartas
magnas de diversos
países, com ideais de
justiça e liberdade.
Mesmo nobres, esses
sistemas filosóficos, a
longo prazo, perderam
importância por não
terem uma base sólida de
experimentação e também
por dependerem do
pensamento especulativo
de seus criadores.
Em meados do século XIX,
surge a Doutrina
Espírita, trazendo uma
valiosa contribuição
para o panorama da ética
humana. Construída
através de uma pesquisa
metodológica científica
e não somente da mera
especulação racional,
comprovou, através da
mediunidade, a
existência e a
sobrevivência do
Espírito após a morte do
corpo físico, trazendo
elucidações, até então
inéditas, das
consequências das
atitudes do ser humano
para o futuro, não só no
plano físico, mas também
no extrafísico. Elucida
que o indivíduo é
responsável pela sua
própria conduta,
sofrendo as
consequências agradáveis
ou desagradáveis, de
acordo com as suas
ações. É a afirmativa de
Jesus “a cada um segundo
as suas obras”,
explicada pela Doutrina
Espírita como
Lei de Causa e Efeito.
O Espiritismo fornece ao
homem conhecimento
seguro das regras do
bem proceder
e os porquês de assim se
conduzir, indicando o
caminho que o levará à
harmonização interior,
ao equilíbrio,
tornando-o um potente
colaborador na formação
de uma sociedade mais
justa e fraterna,
fundamentada na
observância da lei de
Deus, que é a prática do
bem em todas as suas
formas, segundo um
preceito infalível de
Jesus (O Livro dos
Espíritos, questão 632):
“Vede o que gostaríeis
que vos fizessem ou não
vos fizessem. Tudo se
resume nisso. Não vos
enganareis”.
Fonte de consulta:
Artigo de Silvio S.
Chibeni, Religião
Espírita, na Revista
Reformador de setembro
de 1999.