– Por que há tanto
mistério em torno de
Allan Kardec? Em «Obras
Póstumas», que não faz
parte da codificação,
diz que ele voltaria
para completar a sua
obra. Uns dizem que o
Allan Kardec poderia ter
sido o Chico, outros
dizem que podia ser o
Divaldo Franco porque
tem todo o perfil de
educador, a obra, outros
dizem que podia ser o
Raul, outros dizem que
ele estará no mundo
espiritual. Se está por
que é que ele não se
comunica, se ele se
comunica, se usa
pseudônimos ou não usa,
por que tanto mistério
quando as coisas são tão
simples?
Raul Teixeira:
Existem nessas suas
abordagens algumas
questões equivocadas. Há
muitos anos Chico
Xavier disse-me,
pessoalmente,
numa conversa que
tivemos em Uberaba, que
a mensagem mais
autêntica de Allan
Kardec que ele tinha
lido, tinha sido
recebida pela médium
brasileira D. Zilda
Gama, professora, que se
achava num livro chamado
«Diário dos
Invisíveis». Eu
procurei esse livro, que
está esgotado,
encontrei-o e estava lá
a mensagem de Allan
Kardec. Depois disso,
nós tivemos uma mensagem
de Allan Kardec recebida
por vários médiuns na
França e no Brasil. Como
é que nós podemos dizer
que o Chico Xavier é
Allan Kardec se ele
dizia que D. Zilda Gama
recebera a mais
autêntica mensagem? Se
enquanto Chico estava
encarnado outros médiuns
receberam mensagens de
Allan Kardec? O
«Reformador» publicou
essas mensagens. Então,
não é que nós queiramos
fazer complexidade, é
que as pessoas ficam
tirando proveito da
ignorância alheia.
Quanto menos o povo
sabe, eu posso dizer as
minhas tolices. Agora as
pessoas dizem isso,
alegam que era por ele
ser humilde; então ele
enganou-me, porque podia
ser humilde e não dizer
nada. Mas se ele me
disse aquela mensagem,
ele era merecedor de
crédito, eu não podia
duvidar do que falava.
Se ele diz a outras
pessoas a mesma coisa,
ele não podia estar a
fingir, senão eu perco o
crédito que eu dava à
mediunidade de Chico
Xavier e ao homem que
ele era. De modo que não
existe confusão, existem
exploradores. O Chico
estando desencarnado,
toda a gente fala dele o
que bem entende, o que
bem deseja, e ele não
está aí para
defender-se, de modo que
nós, os espíritas, é que
temos de ter bom-senso,
e bom-senso e água
fluidificada não nos
fazem mal jamais. Eu não
posso acreditar em tudo
o que dizem, eu tenho
que ver aquilo que tem
senso, que tem nexo, e
se Allan Kardec
estivesse aqui
reencarnado, qual seria
a vantagem disso para
nós? O nosso problema é
viver o Espiritismo e
não Allan Kardec. Porque
também já dizem que
Jesus Cristo está aqui
reencarnado, e no Brasil
há um que diz ser Jesus
Cristo.
Extraído de entrevista
concedida ao Jornal
de Espiritismo, da
ADEP, Portugal, quando
do 6º Congresso Espírita
Mundial realizado em
Valência, Espanha, em
outubro de 2010.
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